INSTITUTO DEMOCRACIA LOGO COMPLETO

Extrema direita ou extrema esquerda? Qual ameaça mais o Brasil?

Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte

Ao participar de um café da manhã com jornalistas, em 23 de abril, o presidente da República antecipou uma possível pergunta sobre a última manifestação de apoiadores de Bolsonaro, realizada em Copacabana, e afirmou que não viu o ato, porque não lhe importava “o ato dos fascistas”.

De minha parte, tenho pouco apreço e até mesmo um pouco de repulsa com relação a manifestações bolsonaristas, mas é preciso convir que chamar os manifestantes de fascistas é uma generalização despropositada que não ajuda em nada o Brasil e que escamoteia o fato de que Bolsonaro só consegue mobilizar ainda tanta gente porque há uma insatisfação generalizada com o atual governo petista, com o ativismo político do Supremo Tribunal Federal e com o sistema político brasileiro como um todo.

Acredito que, do ponto de vista da pesquisa acadêmica, é até razoável investigar quão próximo o bolsonarismo estaria ou não de uma tendência fascista. Há artigos sobre o assunto pululando por aí, embora sejam, na maioria, análises desonestas, rasgadamente parciais e ideologicamente apaixonadas. De todo modo, analisar características fascistas do bolsonarismo enquanto fenômeno político é diferente de xingar todos os manifestantes de fascistas.

O uso aleatório e irresponsável desse conceito no debate público é perigoso. Já faz tempo que “fascismo” não significa nada mais do que um xingamento verbalizado contra pessoas à direita no espectro político ou um rótulo colado por políticos de extrema esquerda em seus adversários.

Eu mesma já processei a universidade estadual na qual lecionava, em 2018, por ter sofrido perseguição ideológica e assédio moral. Segundo alguns colegas professores e alunos, eu precisava de uma resposta à altura por ser alegadamente apoiadora de uma “corja fascista.”

Relembro esse caso pessoal por julgá-lo sintomático dos nossos dias e porque, tanto no Brasil, quanto no restante do mundo, a intolerância da extrema esquerda, fantasiada com a sua retórica de falsas virtudes, tem se tornado cada vez mais ostensiva e agressiva, saindo do assédio, da perseguição tácita e da agressão verbal, para o incitamento da violência física, quando não para a violência física propriamente dita.

Aniquilamento de liberais e apoio ao Hamas

No dia 17 de abril, um integrante de um movimento político liberal (MBL) foi expulso da Câmara Federal aos empurrões e pontapés por um deputado do Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Após a agressão, o deputado discursou em uma audiência pública sobre a greve nas universidades e defendeu uma mobilização contínua contra os “fascistas”; mobilização essa que deveria ser, em suas palavras, “traduzida no aniquilamento daqueles que querem destruir os institutos federais e as universidades públicas brasileiras: os liberais e fascistasde plantão.

No dia 24 de abril, esse mesmo deputado, Glauber Braga (Psol), presidiu a audiência pública “Crise humanitária na faixa de Gaza”, por ocasião da qual um homem vestido com uma camisa do grupo terrorista islâmico Hamas distribuiu panfletos tranquilamente, sem ser sequer admoestado, como se fosse a coisa mais natural do mundo alguém ostentar, dentro de um Parlamento, o slogan de um grupo que prega o extermínio do povo judeu e que cometeu recentemente um dos ataques mais bárbaros, cruéis e bestiais de que se tem notícia, assassinando covardemente, além de homens inocentes, mulheres, idosos, crianças e bebês.

A hipocrisia do ódio do bem

Por mais que haja hoje, no Brasil, uma extrema direita radicalizada, fanatizada, reacionária e agressiva, há de se convir que ela é muito mais confrontada e menos tolerada do que a extrema esquerda radicalizada, fanatizada, revolucionária e agressiva.

Jornalistas de grandes emissoras e seus especialistas convidados costumam tomar ares de muita seriedade, expressando grande preocupação ao analisarem a movimentação da direita brasileira no âmbito internacional, mas pouco analisam – e muitas vezes sequer noticiam – a articulação cada vez maior do Brasil com Rússia, China, Irã e ditaduras menores, que vem transformando o nosso país em uma espécie de satélite que orbita em torno do novo Eixo do mal.

No mesmo café da manhã para jornalistas, no qual chamou os manifestantes de Copacabana de fascistas, o presidente Lula defendeu uma estratégia internacional para enfrentar o crescimento de movimentos de extrema-direita no mundo. Lula citou casos de violência e intolerância no Brasil e disse que há um ódio estabelecido que não existia no país e agora virou uma coisa corriqueira. Na sua retórica, esse ódio só existe na direita.

Para ficarmos só em um caso, suficiente para desmascarar a hipocrisia da sua fala, relembremos, à guisa de exemplo, o caso do empresário Carlos Alberto Bettoni, que foi agredido anos atrás em frente ao Instituto Lula por Maninho do PT e teve traumatismo craniano.

O fato por si só já sugere até onde pode ir a violência de um militante de extrema esquerda, mas a fala de Lula sobre o caso, em 2022, mostra que não se trata da violência isolada de um militante maluco, mas de uma violência respaldada pelo maior líder da esquerda no Brasil.

Lula simplesmente agradeceu ao petista que empurrou contra um caminhão o homem que o criticava: “Esse companheiro Maninho, por me defender, ficou preso sete meses, porque resolveu não permitir que um cara ficasse me xingando na porta do Instituto”, discursou Lula.

Tempos extremos e sombrios

A ideia de uma esquerda pacífica, defensora dos direitos humanos, tolerante, moderada e humanista é normalmente uma falácia. Essa esquerda até existe e precisa ser valorizada e distinguida da extrema esquerda. Mas ela é minoritária no Brasil e definitivamente não é representada pelo presidente Lula e seu partido.

Vivemos tempos extremos e sombrios. A tolerância, princípio liberal por excelência, tem sido negligenciada até mesmo por aqueles que se dizem liberais. Há uma tentativa contínua, à direita e à esquerda, de manipular a linguagem para estabelecer um discurso único, homogêneo e hegemônico.

O que defendemos, porém, é uma democracia real, com pluralismo enriquecedor e debates honestos. Em uma democracia, os adversários políticos não são inimigos a serem “aniquilados”; em um Estado democrático de direito, o juiz não pode ser um tirano.

Está tudo fora de ordem no Brasil. E, em meio ao caos, há quem queira vencer pela força ou pela perfídia.

Você também vai gostar:

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

colunistas

Pesquisar

REDES SOCIAIS

Artigo mais lido

youtube

twitter

instagram