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O Brasil do jeito que o Hamas gosta

Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko

O Hamas elogiou uma fala do presidente do Brasil, que pretende ser uma democracia. Caso essa pretensão seja mantida, é um momento trágico para o país.

Na Etiópia, o presidente Lula declarou o seguinte: “O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.” Fazer essa declaração em solo etíope é escalar ainda mais um degrau na provocação.

Lula e qualquer um têm todo o direito de criticar a reação de Israel ao ataque terrorista do Hamas bem como de criticar o governo do país. Não foi isso o que ele fez.

O presidente do Brasil caiu em um discurso indecente e muito comum em grupos neonazistas em ascensão nos últimos anos pela internet. Ao comparar tudo o que ocorre no Oriente Médio ao Holocausto, duas coisas são feitas ao mesmo tempo. A primeira é minimizar o Holocausto. A segunda é colocar os judeus como nazistas, portanto contra eles se pode tudo.

Não é à toa que o caldo começou a desandar entre apoiadores de Lula. Oscilam entre apoiar um discurso aplaudido publicamente pelo Hamas e degenerar para pedidos de morte aos judeus e a todos os que criticaram o presidente. O nível de violência muda, mas o chiqueiro moral é o mesmo.

Falar isso justamente na Etiópia é ainda mais perverso. Pouca gente sabe aqui no Brasil, mas os judeus foram vítimas de uma limpeza étnica no território etíope na década de 1980. O então ditador Mengistu Haile Mariam resolveu perseguir a minoria judia, que começou a fugir para outros países. Nem todos conseguiam.

Muitos tentaram fugir a pé da Etiópia a Israel e acabavam morrendo pelo caminho. Em maio de 1991, Israel utilizou aviões em operações secretas do Exército para resgatar mais de 14 mil judeus etíopes em barcos e aviões.

Foi uma operação secreta da Mossad que parece filme. Os agentes se hospedaram em resorts, utilizaram barcos para resgate clandestino e depois colocaram as pessoas dentro de aviões pousados no deserto para conseguir levar a Israel.

Eu estive no início deste mês dentro dos aviões usados para esse resgate, ainda preservados em bases aéreas e utilizados em outras operações. Contei o que vi na minha viagem no podcast Democracia em Foco, feito pelo Instituto Monitor da Democracia.

Escolher o solo Etíope para sugerir que judeus são os novos nazistas é definitivamente um novo patamar de baixeza. Aliás, nem autoridades do Irã, o maior inimigo de Israel na região, fazem declarações do tipo. Entre os países árabes também não há declarações semelhantes vindas de mandatários.

Por isso o Hamas aplaudiu, porque é algo do nível dele. Pouca gente sabe, mas o Conselho Islâmico da Fatwa, entidade que controla a lei islâmica no Oriente Médio, condenou publicamente o Hamas antes mesmo do ataque terrorista de 7 de outubro.

O colegiado com sede no Iraque foi fundado pelo Ayatollah Shaikh Fadhil al-Budairi e une sunitas e xiitas. Ele emite “fatwas”, que são pronunciamentos de clérigos muçulmanos esclarecendo como agir de acordo com a lei islâmica em determinadas situações.

Esse conselho emitiu uma fatwa condenando o Hamas por corrupção e pelo terror contra a população palestina de Gaza. Vejam bem, não é só contra Israel, é de antes. Um conselho teocrático islâmico disse que o Hamas faz terror contra os palestinos.

A fatwa, que você pode ver nesse vídeo gravado pelo porta-voz do Conselho Islâmico da Fatwa, Sheikh Muhammad Ali al-Maqdisi, proíbe de orar pelo Hamas, se juntar a ele, apoiar, financiar ou brigar pelo Hamas.

Muitos democratas já se preocupavam com o explícito alinhamento do governo Lula ao crescente bloco autocrático do planeta, liderado por Rússia, China e Irã. Ao conseguir ser aplaudido publicamente pelo Hamas, o presidente deu um passo significativo.

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