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Nicarágua Despedaçada

Márcio Coimbra

Márcio Coimbra

A deterioração democrática pela qual passa a Nicarágua é preocupante e disparou um alerta externo que tem mobilizado a comunidade internacional. O recrudescimento do regime é real, com perseguições políticas, religiosas e acadêmicas, seguindo o mesmo padrão clássico de ditaduras latino-americanas. Uma situação que joga o novo governo brasileiro em frente delicada, uma vez que sandinismo e petismo são aliados históricos.

O sandinismo, apesar de ser um movimento de esquerda, possuía um corte diferente dos regimes alinhados a Cuba e União Soviética e era exatamente isso que aproximava o movimento do petismo, pois tentava aliar métodos do socialismo com certo grau de liberdade. Os sandinistas deixam o poder pela via eleitoral, sendo derrotados por Violeta Chamorro nas eleições de 1990.

Quando retornou ao poder em 2007, Ortega representava no imaginário popular um retorno do sandinismo ao governo. Porém, a dinâmica já não era a mesma e aos poucos, os sandinistas históricos se afastaram e passaram a questionar a nova leitura, longe das ideias originais de um sandinismo que já estava fora do poder por quase duas décadas.    

A mudança radical de Ortega o afastou dos antigos aliados e das redes tradicionais de apoio ao movimento, em especial a Igreja Católica, que passou a abrigar os dissidentes do regime e perseguidos políticos. O governo colocou na cadeia nomes históricos do sandinismo. Duas universidades católicas foram fechadas. Clérigos foram presos e a comunidade internacional percebeu a preocupante guinada autoritária do país.

Nesta esteira, atualmente além de membros da oposição política e líderes religiosos perseguidos, organizações de Direitos Humanos passaram a ser ameaçadas e seus registros jurídicos encerrados. Acadêmicos foram expulsos das universidades e todos os partidos de oposição foram fechados acabando com a liberdade política. A imprensa independente foi fechada e teve bens confiscados. O governo proibiu a importação de papéis para impressão de jornais e hoje o país não possui mais periódicos impressos. Os organismos internacionais que estavam denunciando esta situação foram expulsos.

Diante de mais uma eleição presidencial e ciente de que perderia a corrida, Ortega prendeu todos os candidatos presidenciais, retirando sua cidadania, e ainda proibiu que os partidos apresentassem candidatos substitutos. Há um claro estado de exceção.

Um grupo de especialistas apontados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas apontou a responsabilidade de Ortega e sua esposa, atual vice-presidente, como comandantes de uma estrutura repressiva de perseguição política, apontando crimes contra a humanidade. O Brasil foi o único dos oito países responsáveis a propor soluções para a Nicarágua a se abster de condenar o regime.

Estamos diante de um processo de transição autoritária. O governo brasileiro precisa mostrar que seu compromisso democrático está acima de qualquer relação pessoal, especialmente depois dos ataques contra a democracia brasileira no último janeiro. Lula chegou ao terceiro mandato diante de uma frente ampla, colocando-se na arena internacional como fiador da democracia brasileira. Chegou o momento de o Brasil exercer sua liderança externa e o petismo entender que Ortega há tempos deixou de representar o sandinismo. É apenas mais um caricato e perigoso ditador latino-americano que ameaça a democracia de seu país.

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