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Arte da Estratégia

Márcio Coimbra

Márcio Coimbra

Sun Tzu foi um general, estrategista e filósofo oriental, mais conhecido por seu tratado “A Arte da Guerra”, que representa uma filosofia para gerir conflitos e vencer batalhas. É aceita como obra-prima em estratégia frequentemente citada e referida por teóricos e generais. Traduzida e distribuída por todo o mundo, influenciou diversos movimentos e nações, porém foi em Taiwan que encontrou múltiplas aplicações de longo prazo que merecem análise mais detalhada.

Taiwan emergiu, em poucas décadas, de uma economia agrária, para atingir os mais avançados patamares tecnológicos conhecidos. Hoje, o país é conhecido como “escudo de silício”, diante de sua seminal posição geopolítica estratégica na economia mundial. Ao contrário dos escudos reais, como aqueles utilizados por Israel, a terminologia se refere à importância da ilha na fabricação de chips semicondutores, que usam o silício como matéria-prima. Preservar este ativo, essencial para a nova economia, se tornou uma prioridade para diversas nações que dependem diretamente de suas aplicações.

A estratégia está na essência do desenvolvimento do país, como em qualquer grande nação, porém, mais do que em qualquer outro local, vemos a influência direta das lições de Sun Tzu. Taiwan entendeu primeiramente que o título de propriedade sobre terras poderia ser um ativo valioso para a economia. Assim, realizou uma reforma agrária profunda ainda na década de 1950. O incentivo de possuir terras próprias levou os novos proprietários a investirem em sistemas de irrigação, equipamentos mecanizados e fertilizantes. Uma década depois, o valor da produção agrícola duplicou, tornando a ilha importante exportador de arroz, açúcar, bananas e chá. Na sequência vieram a industrialização, investimento estrangeiro e as zonas de processamento de exportação.

O próximo ponto a ser atacado foi a educação, direcionada para os rumos tomados pela economia, com foco especial em áreas científicas e técnicas com o objetivo de promover o desenvolvimento agrário e industrial. Isso deu origem a novas gerações de cientistas e engenheiros que ajudaram em um salto industrial e tecnológico, permitindo ao país subir na cadeia de valor da indústria transformadora global. Atualmente são 146 universidades e 97% da população possui formação superior.

Assim, a tecnologia passou a assumir cada vez mais importância na economia. O surgimento, na década de 1970, do Instituto de Pesquisa de Tecnologia Industrial funcionou como uma incubadora que atraiu cientistas e engenheiros talentosos para o país, levando à criação do Hsinchu Science Park, o Vale do Silício taiwanês. Uma atmosfera que produziu a maior fabricante de chips do mundo: a TSMC.

A democracia surgiu como um pilar natural de uma nação desenvolvida e com alto grau de educação. O país vive sem qualquer abalo institucional, com um sistema de liberdades, garantias e direitos que se tornou um exemplo para a Ásia.

Assim como preconizou Sun Tzu, “as oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas”. O caminho percorrido por Taiwan é o melhor exemplo desta máxima. O país agarrou todas as oportunidades que estavam diante de si, ensinando que para vencer qualquer guerra, antes é preciso dominar a arte da estratégia. Não há dúvida de que o “escudo de silício” da Ásia aplicou com sabedoria estes ensinamentos.

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