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Juego Político

Márcio Coimbra

Márcio Coimbra

Desde as eleições primárias realizadas na Argentina poucos meses atrás, ficou claro que não caminhávamos para eleição resolvida no primeiro turno e que certamente os dois mais votados teriam um segundo encontro com o eleitorado. Se a sensação naqueles dias era Javier Milei, o nome do momento passou a ser Sérgio Massa, que entra nesta etapa mais fortalecido, porém, sem uma clara perspectiva de vitória. O jogo está aberto.

Milei representa um voto de reação, enquanto Massa recebe um voto de ação e isto explica o salto alcançado pelo atual Ministro da Economia nos últimos dias. Massa é o candidato dos peronistas, que há décadas estão enraizados em praticamente todos os setores da sociedade civil argentina. Pense em qualquer setor civil organizado, desde associações de bairro, entidades de classe, sindicatos patronais ou de trabalhadores, conselhos e até organizações esportivas – todos possuem representantes ou dirigentes ligados do peronismo.

O peronismo consiste em uma máquina muito bem calibrada que funciona como motor de seu partido em períodos eleitorais, mas que também atua como catalizador popular para manifestações contra o governo, como aconteceu com Macri e De la Rúa, mas também a favor, como nos anos Duhalde, Kirchner e agora Fernandez. Vencer o peronismo nas urnas é trabalho difícil, talvez apenas um desafio menor do que manter-se no poder diante de sua oposição forte, virulenta e bem articulada.

Isto explica a vitória de Massa nas eleições deste domingo. Nas semanas pré-eleitorais e especialmente no dia da eleição, a máquina peronista começa a funcionar somando votos mediante sua mobilização. A oposição precisa estar muito bem organizada para vencer a estrutura robusta do peronismo ou precisa estar com vantagem confortável para não ser surpreendida.

Javier Milei tem a seu favor o ímpeto de reação, afinal comanda uma campanha baseada no antagonismo e de cunho emocional que se baseia na estratégia de ruptura com as práticas peronistas. Seus 30%, somados ao eleitorado de Patrícia Bullrich, podem lhe entregar a vitória. Conta a seu favor que este eleitorado é frontalmente contrário aos governistas, logo, se Milei se movimentar com habilidade, tem a vitória diante de si.

Em termos de governo, Milei, que elegeu 38 deputados e oito senadores, precisaria dos votos e apoios da coalizão de Bullrich, que elegeu 94, atingindo uma soma que fornece maioria no parlamento para governar. No Senado, juntos não chegam a ter maioria, mas podem chegar perto das 37 cadeiras necessárias. Como vemos, uma aliança que faz sentido não apenas em sentido eleitoral, mas também em termos de governabilidade.

Sergio Massa certamente carregará consigo os votos dos outros dois candidatos de esquerda, Juan Schiaretti e Myriam Bregman, que somados chegam perto de 10%. Porém, para vencer, Massa precisará ir além destes apoios. O peronismo precisará operar sua mágica e impulsionar sua musculatura para virar o jogo. Será a partida da ação peronista contra a reação ao sistema político impulsionado por Milei. Será uma eleição disputada e o vencedor, seja quem for, assume (além da crise) um país dividido.

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