Método Putin

Márcio Coimbra

Márcio Coimbra

Ao mesmo tempo que a agressão russa contra a Ucrânia completa dois anos, o Kremlin se prepara para mais uma eleição presidencial, aquela que pode entregar mais um mandato presidencial para Vladimir Putin, no comando desde 1999. Ele já ocupa o poder por 25 anos e em breve deve se tornar o líder com mais tempo na condução do país, ultrapassando a marca de Josef Stalin, que esteve no Kremlin de 1922 até 1953.

O ex-diretor da FSB, Serviço Federal de Segurança, assumiu o cargo de Primeiro-Ministro aos 47 anos, em 1999, sendo eleito em sequência para a presidência da Rússia. Reeleito em 2004, ficou no comando do país até 2008, quando voltou a ser Primeiro-Ministro. Retornou para presidência em 2012 e renovou o mandato em 2018. Em 2021 sancionou emendas constitucionais que permitem uma extensão de sua presidência até 2036, quando terá 84 anos. Um verdadeiro czar.

Sob seu comando, a Rússia iniciou aproximação com o ocidente, especialmente com europeus e americanos, trabalhando para transformar a imagem de seu país ao redor do mundo. Apesar de todos saberem dos métodos e práticas usadas para sua manutenção no poder, os canais que tornavam a Rússia parte da estabilidade do cenário exterior sempre foram mais fortes, atraindo inclusive eventos esportivos de altíssima envergadura, como Jogos Olímpicos de inverno, corridas de Fórmula 1, torneios de tênis e uma Copa do Mundo.

Porém, a Rússia possuía várias faces. O regime levava antigos líderes ocidentais para sua área de influência com altos salários nas empresas de oligarcas, ao mesmo tempo que fortalecia sua tutela em antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central. Ainda exercia influência nos conflitos da África e Oriente Médio, como no caso da Síria. Entretanto, nada que colocasse os interesses do Kremlin em colisão direta com o ocidente.

Porém, tudo indica que ali havia um método calculado e a invasão da Ucrânia jogou luz sobre o tabuleiro. O Kremlin acreditava que a reação seria similar aquela ocorrida diante da invasão da Criméia, ou seja, praticamente nula e que a capital ucraniana cairia em pouco tempo. A guerra, entretanto, se arrasta por dois longos anos, sem sinais de término, que além de destruir a Ucrânia, arrasou com a imagem da Rússia no exterior.

Isto fez com que Putin se aproximasse ainda mais da esfera autocrática e totalitária, cortando os vínculos com o ocidente a passando a cerrar fileiras com países como China, Irã, Coreia do Norte e demais nações do seu âmbito de influência, especialmente no BRICS, que se tornou o novo fórum onde orbitam nações que vivem ou flertam com regimes autoritários. Isolado do ocidente, o Kremlin sentiu-se livre para romper com qualquer traço de democracia ou liberdade que ainda restava em seu território.

O resultado será mais uma eleição vencida por ampla maioria. O método é conhecido, ou seja, manter amplo controle dos meios de comunicação, passando pela restrição de protestos, prisões e chegando à perseguição e morte de críticos ao regime, bem como o impedimento de candidaturas oposicionistas. A Rússia, que flertou com a liberdade e a democracia, vem retrocedendo de forma consistente e preocupante. Tudo indica que para ultrapassar o período de Stalin no Kremlin, Vladimir Putin continuará a recrudescer o regime e seguirá se inspirando nos infelizes métodos do seu mais longevo antecessor.

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