O cenário político brasileiro vive um dos seus momentos mais tensos e reveladores. A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, baseada em um processo amplamente contestado, escancarou uma tentativa de retirá-lo do jogo até as eleições de 2026. Para muitos, trata-se de uma medida com claro impacto eleitoral, tomada com uma naturalidade preocupante por parte de quem deveria zelar pela estabilidade institucional.
Enquanto isso, setores do centro político e do mercado já tinham uma estratégia pronta: construir Tarcísio de Freitas como o candidato de consenso. A pressão sobre Bolsonaro era evidente. O recado era simples e direto: se ele apoiasse Tarcísio, a pauta da anistia poderia avançar — uma anistia que envolve dezenas de pessoas presas em processos considerados desproporcionais, além do próprio ex-presidente.
O erro do centro foi presumir que Bolsonaro estava politicamente imobilizado. Acreditaram que ele aceitaria o roteiro imposto. Mas a reação veio de forma inesperada: em vez de se alinhar à construção prevista, Bolsonaro lançou o nome de Flávio Bolsonaro como alternativa para 2026. E isso alterou completamente o tabuleiro.
Com esse movimento, Bolsonaro deixou de ser pressionado e passou a ser o agente que pressiona. Se a anistia não avançar, Flávio permanece na disputa. Isso divide o campo da direita, o que fortalece Lula e projeta um cenário que o mercado enxerga como negativo. O centro, antes confortável, agora precisa escolher entre negociar ou enfrentar a possibilidade de mais quatro anos de governo petista.
Há ainda um componente adicional: o STF, hoje aliado do governo, conduz investigações que atingem diretamente partidos do próprio centro, como o União Brasil. Ou seja, a disputa não é apenas eleitoral, mas de sobrevivência política.
Flávio Bolsonaro já declarou estar aberto ao diálogo, mas estabeleceu um ponto de partida: a anistia. A mensagem é óbvia. O eleitorado bolsonarista continua sendo determinante — e sem ele, ninguém vence eleição nenhuma. Esses votos não serão entregues sem contrapartida. A exigência é a liberdade de pessoas que, segundo grande parte da direita, jamais deveriam estar presas.
O fato é claro: quem acreditou que o bolsonarismo estava derrotado subestimou a força desse grupo. Bolsonaro saiu de alvo passivo para protagonista da negociação. E quem não entender essa dinâmica estará lendo o cenário pela metade.
O jogo virou — e, agora, a próxima jogada não pertence ao centro, mas ao próprio bolsonarismo.


