Donald Trump contra o consenso de Washington

Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

Foto: Julia Nikhinson/AP.
Foto: Julia Nikhinson/AP.

O partido Republicano de Donald Trump não é, definitivamente, o partido Republicano tradicional. Aquele de Abraham Lincoln, de Theodore Roosevelt e de Ronald Reagan ficou no passado distante, substituído por outro, que preservou o nome, mas mudou de estandartes. Ao invés do primado liberal das instituições, o populismo, ao invés da abertura de mercados, o isolacionismo, ao invés da globalização, a guerra tarifária

O novo presidente americano vai na contramão do chamado “Consenso de Washington”, ideário econômico que simbolizou o triunfo da economia de mercado sobre o planejamento central e, portanto, a vitória americana na Guerra Fria. Ao longo dos anos que se seguirem ao colapso da União Soviética, os EUA fizeram da globalização um verdadeiro imperativo categórico das relações comerciais internacionais.

Em 1987, Ronald Reagan, ciente da vantagem dos Estados Unidos, fez um discurso histórico na comemoração do 750º aniversário de Berlim diante do Portão de Brandemburgo: “Secretário Geral Gorbachev, se você procurar paz, se você procurar a prosperidade para a União Soviética e Europa Oriental, se você procurar liberalização, venha aqui a este portão. Sr. Gorbachev, abra o portão. Sr. Gorbachev, derrube este muro!”, disse. Fazia referência a abertura soviética e ao modelo americano. Vaticinou a queda do muro e o colapso do regime bolchevique, que caiu de podre.

É bem provável que o conservadorismo dourado de Reagan, e sua defesa pungente de uma economia integrada fosse amplamente repudiados pela nova elite dirigente do partido Republicano, convertido agora na imagem e semelhança de Donald Trump. Ele e seus militantes mais fanáticos, ironicamente, encamparam exatamente os mesmos discursos antiglobalizantes de socialistas mundo afora.

A guerra tarifária de Trump não será boa para ninguém. Coloca em cheque as relações dos Estados Unidos com aliados históricos, alimenta a inflação global, acarreta prejuízo aos consumidores americanos, que pagarão o custo dela com alta dos preços internos, e, por fim, abre o espaço para o aumento da presença chinesa no comércio internacional. Após 38 anos da fala de Reagan em Berlim, é curioso notar que agora são os EUA que parecem se esconder atrás de um muro: o muro do protecionismo.

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