As relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos datam do início do século XIX, mais precisamente de 1824, quando os EUA se tornaram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil, proclamada em 1822. Esse gesto foi importante e simbólico, marcando o início de uma longa relação bilateral.
De lá pra cá, com alguns percalços, os dois países seguiram por uma via de entendimento, mantendo relações cordiais e cooperativas de “amizade pragmática” ou “pragmatismo responsável.”
Pode-se afirmar que os Estados Unidos têm sido, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, um dos parceiros mais importantes para o Brasil, especialmente nas áreas de segurança, investimento e cooperação estratégica – ainda que essa primazia tenha sido relativizada nas últimas décadas com a ascensão de novos parceiros, principalmente a China.
A parceria Brasil-EUA, construída ao longo de décadas, com base em interesses estratégicos, afinidades políticas e cooperação econômica, sofreu um desgaste acelerado em poucas semanas, devido às atitudes desastradas de líderes políticos de ambos os lados.
Demolir é sempre mais fácil do que edificar. Gestos imprudentes, declarações hostis e falta de senso diplomático têm corroído, em ritmo preocupante, uma longa e relevante relação bilateral.
A afrontosa investida de Trump contra o Brasil – com a tarifa de 50% sobre nossos produtos, a intromissão em questões da Justiça brasileira e a revogação de visto de vários ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – foi levada a cabo sob a justificativa de proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro, denunciado pela PGR e investigado pela Polícia Federal (PF).
Essa justificativa ideológica teve o condão de animar, no Brasil, a massa “bolsotrumpista”, comandada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, que vem esticando a corda e trabalhando fervorosamente por um cenário de terra arrasada no seu país, do qual fugiu.
Apesar de Eduardo Bolsonaro se vangloriar de ter induzido Trump a tão contraproducente atitude, essa clara traição da Pátria não foi bem acolhida pela totalidade dos bolsonaristas.
Há entre eles mesmos uma percepção de que o tiro saiu pela culatra. Trump foi ao ponto de ameaçar o Pix e o comércio da Rua 25 de Março, duas paixões dos brasileiros; uma maluquice que claramente pode resultar em menos votos de patriotas para o time dos bolsonaros, em 2026.
Ruim para o bolsonarismo, bom para o lulopetismo. O governo Lula vinha mal e o presidente vinha com inclinação constantemente negativa nas pesquisas de opinião. O governo continua mal, porém, com a inesperada contribuição da estupidez bolsotrumpista, a popularidade do presidente melhorou.
Lula está se sentindo à vontade para radicalizar o mofado discurso “anti-imperialista” contra os EUA.
Pouco importa os impactos da persistência nesse confronto desigual: o importante é capitalizar demagogicamente a questão. Cego aos interesses do povo brasileiro que diz defender, Lula mira tão somente a eleição, em outubro de 2026.
Em artigo anterior, escrevi que Jair Bolsonaro era apenas pretexto para os ataques de Trump ao Brasil, sendo a atuação de Lula no Brics o motivo de fundo.
No Brics, Lula fala muito, mas manda pouco; mesmo assim, açulado pelo seu séquito de fanáticos, vislumbra ser alçado a uma liderança compartilhada com Xi Jinping e Putin.
Do ponto de vista da democracia – construção civilizatória de origem ocidental, espalhada beneficamente por outros continentes – o Brics não é coisa boa.
Para o Brasil, o clube dos autocratas antiocidentais prestou até agora apenas o desserviço de ensejar um confronto com o importante aliado de 200 anos.
Em editorial intitulado “Brasil paga a conta da imprudência de Lula”, o jornal O Estadão defendeu que o Brasil abandone o Brics; tendo, dentre outros severos alertas, afirmado o seguinte: “Sairá cara a decisão de Lula de alinhar o Brasil à China e à Rússia a pretexto de fortalecer o Brics contra os EUA de Trump”.
Lula está disposto a pagar o preço. Ou melhor, fazer o Brasil pagar. Sua decisão está tomada e ele há tempos atua como um agente das principais forças antiocidentais, antidemocráticas e anticivilizatórias da atualidade, a saber, Rússia, China e Irã.
Em reunião no Chile, com mais quatro presidentes de esquerda, Lula afirmou que “A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas”.
Feito o diagnóstico, ele insistiu na necessidade de “regulamentação das plataformas digitais”, “combate à desinformação” e uma “governança digital global”. Isso, claro, para garantir a defesa daquilo que ele entende por democracia.
Ocorre que a mais perigosa ofensiva antidemocrática em curso no mundo hoje é a ofensiva militar e ideológica contra o Ocidente que, além das ações bélicas efetivas da Rússia na Ucrânia, contam com o apoio do palavrório pérfido e malicioso do presidente brasileiro.