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O que esperar de Trump após o atentado?

O recente atentado contra Donald Trump pode mudar radicalmente o cenário político dos Estados Unidos. Trump, sempre hábil em dominar a mídia desde os anos setenta, agora tem a seu favor uma imagem que transcende o grotesco e o agressivo, passando para o patamar de herói improvável.

As imagens de Trump ensanguentado, recebendo um tiro e sendo protegido pelo serviço secreto, culminando no momento em que ele se levanta e ergue o punho, são poderosas e definidoras. Esse episódio fortalece sua imagem de resiliência e força, características muito valorizadas pelos norte-americanos.

O contraste entre Trump e Joe Biden não poderia ser mais marcante. Enquanto Biden luta para demonstrar sua saúde mental, frequentemente aparecendo de maneira que gera desconforto até entre seus apoiadores, Trump surge como a figura de resistência e capacidade de superação.

O Partido Democrata enfrenta agora um dilema: manter Biden, que parece cada vez mais frágil, ou substituí-lo por outro candidato que não tenha a mesma força política. Ambos os cenários apresentam riscos significativos para os democratas, que já estavam em uma posição delicada antes do atentado.

A reação da imprensa ao atentado também tem um papel crucial. Notícias falsas, como a de que Trump teria caído do palanque, apenas reforçam sua posição como herói. Para os norte-americanos, a capacidade de superar obstáculos e demonstrar força em momentos de crise é um valor fundamental, semelhante ao apreço que os brasileiros têm por figuras malandras e espertas.

Historicamente, presidentes dos Estados Unidos que sobreviveram a atentados ganharam um aumento significativo de apoio e prestígio, como foi o caso de Ronald Reagan. Para os eleitores americanos, a resiliência e a capacidade de superação são valores intrínsecos ao ideal de liderança.

O atentado contra Trump pode ser decisivo para as próximas eleições. Ele emerge desse episódio não apenas como uma figura política mais forte, mas também como um símbolo de resistência e heroísmo, o que pode consolidar ainda mais sua base de apoio e influenciar o cenário político dos Estados Unidos e, consequentemente, do mundo.

Drama Democrata

Desembarquei em Washington no dia seguinte ao atentado contra Donald Trump e a sensação entre os políticos com quem conversei era a mesma. A eleição está decidida e o republicano pode preparar o terno para a posse. Se a convenção que ocorreria em Milwaukee era apenas uma formalidade, tudo indica que a eleição que teremos pela frente pode seguir enredo similar.

Se a dificuldade dos democratas era apenas a desconfiança sobre a saúde e o vigor de Biden, a realidade se tornou ainda mais sombria. O Presidente não fornece sinais de que possa desistir, ao mesmo tempo que a eleição de seu adversário se torna algo que beira o inevitável e pode jogar o partido que atualmente está no poder em uma crise sem precedentes.

Além da Casa Branca estarão em disputa diversos cargos, como governos estaduais, a totalidade da Câmara de Representantes e 1/3 do Senado. Isto representa poder político. Sem um candidato a Presidente que impulsione estas candidaturas, as chances de os democratas perderem governos, enxergarem os republicanos dominar o Senado com folga e sofrerem uma surra de proporções épicas na Câmara é uma realidade.

A Casa Branca já é considerada uma causa perdida e o congelamento das doações para a campanha de Biden evidencia o tamanho do drama eleitoral. Resta aos democratas evitar o pior e brigar para manter sua dignidade, lutando de forma viável pelas vagas no Congresso e pelo controle de governos estaduais. Neste sentido, lideranças partidárias ainda tentam convencer Biden a desistir, abrindo caminho para Kamala Harris, que seria derrotada por Trump, porém, seria capaz de levar algum vigor para as campanhas e ajudar o partido a evitar o pior.

Neste sentido, os democratas trabalham com o calendário curto e fixaram agosto como o limite para uma decisão, quando ocorre sua convenção em Chicago. Se Biden surgir mais uma vez perdido ou cometer erros graves, o partido está disposto a se movimentar visando sua própria sobrevivência na arena política. Circula em Washington que já havia uma carta pronta dos líderes pedindo a troca do candidato democrata e que foi colocada de lado diante do atentado contra Donald Trump.

O drama dos democratas também passa por três estados voláteis eleitoralmente e por isso considerados seminais na eleição americana: Wisconsin, Ohio e Pennsylvania. Os republicanos escolheram o primeiro para sediar sua convenção. O segundo é a base eleitoral do vice de Trump, o senador J.D. Vance. O terceiro é o local onde ocorreu o atentado. Se os republicanos vencerem nestes locais, seus adversários não terão a menor chance e tudo indica que o quadro vai se desenhando desta forma.

Se os democratas não agirem de forma de firme e objetiva, Trump iniciará seu segundo mandato com a maioria dos governadores, vantagem plena na Câmara e confortável superioridade no Senado. Com uma Suprema Corte de maioria conservadora, que deve ser ampliada nos próximos anos, o trumpismo se consolidará de forma esmagadora na política norte-americana, um fenômeno que se apropriou do Partido Republicano e passará em pouco tempo a se confundir com a realidade política do país.