O Brasil conseguiu transformar um alerta internacional em farsa diplomática. Em vez de reconhecer falhas e aproveitar a oportunidade para preparar a COP 30 com o mínimo de seriedade, o governo Lula escolheu teatralizar indignação contra uma crítica que era verdadeira. Friedrich Merz, líder alemão, afirmou que os alemães que participaram da COP da Amazônia em Belém ficaram contentes ao ir embora. A frase parece ríspida, mas descreve com precisão o que qualquer participante do evento testemunhou. Belém não ofereceu estrutura mínima. E o pior ainda estava por vir.
A reação do governo brasileiro expôs mais do que sensibilidade ferida. Lula respondeu que Merz deveria ter visitado um boteco no Pará. Janja declarou que o alemão foi infeliz e insinuou que ele estava na cidade apenas a passeio. O curioso é que essa interpretação só faz sentido se presumirmos que a COP da Amazônia foi planejada como roteiro de turismo político. Talvez esse seja o problema de origem. O próprio discurso de Lula sobre a COP 30 tem sido o de um anfitrião que quer exibir a Amazônia como atração exótica. Janja reforça a mesma lógica em diversas entrevistas. Parece que o governo imagina que chefes de Estado viajam para contemplar cenários, não para participar de uma conferência decisiva sobre o futuro climático do planeta. A resposta que deram a Merz diz muito sobre o que Lula e Janja devem fazer nas viagens internacionais.
A situação degringolou quando o Senado brasileiro aprovou um voto de censura contra Merz. Não houve mentira, ofensa deliberada ou desinformação. Houve crítica. E houve verdade. Transformar essa crítica em ofensa nacional é o subdesenvolvimento convertido em coreografia oficial. O Brasil não se incomodou com o vexame que produziu, mas sim com o fato de alguém tê-lo notado. É como se a função do Estado fosse obrigar o mundo a participar da fantasia, nunca da realidade.
A verdade é que os relatos vindos de Belém não podiam ser mascarados. Calor insuportável, filas absurdas para conseguir água, falta de energia elétrica, ambientes improvisados, participantes passando mal. Vídeos mostram estandes que não resistiram à chuva. A estrutura que mais tarde pegaria fogo custou pelo menos 211 milhões de reais. Um montante que, na prática, só comprou risco. O ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que incêndio pode acontecer em qualquer lugar. É verdade. Acontece em qualquer lugar onde um evento internacional é entregue a pessoas que confundem logística com vitrine e responsabilidade com marketing governamental.
É aqui que entra o ponto central. A COP 30 já nasceu com uma herança tóxica produzida pelo próprio governo brasileiro. Em vez de compromisso, oferece cosmética. Em vez de planejamento, oferece performance. Em vez de autocrítica, oferece constrangimento alheio. O que queimou em Belém não foi apenas uma estrutura. Foi uma oportunidade de ajustar rumos antes que o mundo estivesse presente, olhando tudo de perto.
Deus é brasileiro e por isso a COP da Amazônia terminou apenas como fiasco. Não como tragédia. O evento já havia sido alvo de alertas da ONU quando manifestantes invadiram a estrutura, toda revestida de tecido e materiais inflamáveis. As autoridades sabiam dos riscos. Mesmo assim, insistiram na encenação. Se Deus não fosse brasileiro, estaríamos discutindo hoje vítimas fatais, não apenas o desempenho diplomático do governo.
A COP 30 é um retrato fiel do Brasil. A parte que Deus fez e cuida é deslumbrante. A parte que entregamos aos políticos é um acúmulo de improviso, vaidade e irresponsabilidade. Ainda assim, o governo preferiu reagir como quem foi afrontado por uma crítica injusta, quando a única injustiça real é com o próprio país. Belém não falhou porque foi criticada. Belém falhou porque foi mal administrada e porque o PT, no seu quinto mandato neste século, jamais cuidou como deveria do desenvolvimento da Amazônia.