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Lula foi machista com Gleisi ou não foi porque é de esquerda?

De todas as declarações machistas que Lula já fez e continua fazendo com uma frequência absurda, essa sobre a beleza de Gleisi Hoffmann é, de longe, a menos ofensiva. Mas, curiosamente, foi a que mais causou frisson entre aqueles que fingiram não ver o machismo do presidente até agora.

A indignação tem duas razões. A primeira é que os ratos estão desembarcando. A mesma turma da “carta pela democracia” e do “governo do amor”, que endossou com entusiasmo a farsa da “primeira-dama feminista” — algo que nunca existiu e nunca existirá —, agora percebeu que o governo naufragou e precisa de uma desculpa para abandonar o barco. O preço dos alimentos disparou, a popularidade de Lula despencou e a estratégia de jogar a culpa nos outros já não cola mais. O machismo de Lula, convenientemente ignorado até agora, virou o pretexto perfeito para essa turma fingir que nunca apoiou nada disso.

Até ontem, essa gente passou pano para Lula dizendo que era “amante da democracia” porque “homem gosta mais da amante do que da mulher”. Fingiu que não viu a misoginia explícita no episódio das “feministas do grelo duro”. Fechou os olhos para a quantidade de mulheres demitidas no governo e substituídas por homens. Mas agora, de repente, um elogio à aparência de Gleisi virou motivo de escândalo. Por quê? Porque a conveniência política mandou.

E aí vem o outro motivo do frisson: o recalque. Muita gente se doeu porque Lula chamou Gleisi de bonita. Mas ele mentiu? Gleisi Hoffmann, objetivamente, é bonita. Aliás, mais bonita hoje do que quando era jovem. Isso, convenhamos, é uma sorte para poucos.

Agora aparece um monte de gente dizendo que ela é feia. Alguns homens parecem muito empenhados em afirmar isso. Se você é um deles, sinto dizer: isso diz mais sobre você do que sobre Gleisi. É como profetizou Ronnie Von, significa. Esforço demais para não gostar de mulher, amigos.

Homem de verdade não liga para vertente política ao olhar beleza de mulher. Aliás, conheço vários que fingem ser esquerdomachos para pegar mulher. Tenho até um amigo que pode ser definido como esquerdomacho de direita, um eterno apaixonado pelo gênero feminino. Obviamente não darei nomes.

O caso é que muita feia ficou ofendida e não foi pela declaração machista. Foi porque jamais serão reduzidas à própria beleza simplesmente porque essa possibilidade não existe. Agora ficam gritando que foi machismo, mas é puro fingimento. Até agora não diziam nada sobre declarações machistas muito mais ofensivas. Foi Lula botar a beleza em pauta que ficaram ofendidas.

Cá entre nós, a política brasileira não tem gente feia, tem gente que não foi passada a limpo. Olhar um palanque político brasileiro é meio como olhar um trem fantasma. Dizer que a beleza de Gleisi é uma vantagem nesse cenário não passa de pura constatação do óbvio.

Foi machista? Foi. E não foi uma escorregada. Mas estou rindo muito ao ver a súbita indignação de quem passou pano para machismo durante anos. Confesso que chego a gargalhar quando o caso em questão é de alguém que jamais será subestimada intelectualmente por ser bonita.

Bolsonaro ganharia de Lula se a eleição fosse hoje

Uma cena descreve a situação atual do governo Lula: frango descendo ladeira. A situação econômica não melhora, os aliados começam a desembarcar, a base no Congresso se torna mais difícil de controlar e, pior, o governo não apresenta nenhuma solução concreta para sair do buraco em que se enfiou.

Diante desse cenário, a velha tática de distribuir programas sociais já não funciona mais como antes. A população que depende desses auxílios não vê mais aquilo como um presente do governo, mas sim como um direito adquirido. Ou seja, Lula pode inflar o Bolsa Família e criar novas bolsas, mas isso não garante que os eleitores vão continuar votando nele. Ainda mais quando os preços seguem nas alturas e a inflação corrói o poder de compra das pessoas.

A resposta do governo? Uma estratégia de comunicação desastrosa e uma tentativa de criar narrativas para desviar a culpa. O episódio mais ridículo foi a ação coordenada de influencers e parlamentares governistas para tentar responsabilizar os produtores rurais pela alta dos alimentos.

Os aliados do governo se mobilizaram para espalhar a tese de que os preços altos não são culpa da política econômica desastrosa de Lula, mas sim dos próprios produtores, que “jogam comida fora”. O ápice do absurdo foi um vídeo em que um influencer queridinho do governo reage à cena de uma uma mulher descartando dois chuchus. Influenciadores repetiram a narrativa, políticos embarcaram e até parte da imprensa governista tentou dar algum verniz de credibilidade à história.

Só que a tese não se sustenta e a operação de mídia teve pouco ou nenhum efeito sobre quem acha os preços altos no supermercado.

Lula está mais isolado do que nunca. E, diferente dos seus primeiros governos, não tem mais estrategistas competentes ao seu redor. No passado, ele contava com Antônio Palocci, Luiz Gushiken, Gilberto Carvalho e José Dirceu, que, goste-se ou não, sabiam articular politicamente. Agora, ele tem Gleisi Hoffmann e Janja.

O cenário eleitoral também não traz boas notícias. A pesquisa da Paraná Pesquisas aponta um quadro preocupante para o PT: em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro, Lula já aparece numericamente bem atrás, com 40,2% contra 45,1% do ex-presidente. Perdeu nas urnas por um dedinho, agora perde uma mão cheia, cinco pontos. Também perde contra Michelle Bolsonaro e toma um suor do governador Tarcísio de Freitas.

Os aliados começaram a abandonar o barco. O advogado Kakay escreveu uma carta alertando que Lula está cercado por bajuladores. Paulinho da Força já reclamou. Kassab já criticou. E até Luísa Mell, ativista da causa animal e historicamente alinhada com pautas progressistas, se afastou.

Luísa Mell nunca foi uma figura ligada à política partidária, mas sempre teve trânsito no campo progressista, é uma referência na defesa mais estridente dos pets. Sua crítica a Lula veio após o presidente criticar o Ibama. Se até ela, que normalmente evita disputas ideológicas, fez questão de expor sua frustração, significa que o desgaste do governo extrapolou o campo da política tradicional.

A questão agora é: quem mais vai pular fora? E mais importante: quanto tempo até Lula decidir que precisa encontrar um bode expiatório dentro de casa? Quando ele perceber que sua popularidade não melhora, será que a culpa vai cair sobre Janja?

O tempo dirá, mas o cenário não é nada animador para o presidente. Lula já enfrentou crises antes, mas desta vez, ao contrário de outras ocasiões, ele não tem mais controle sobre a narrativa. O desgaste só aumenta e os próximos dois anos prometem ser difíceis.