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Bolsonaro ganharia de Lula se a eleição fosse hoje

Uma cena descreve a situação atual do governo Lula: frango descendo ladeira. A situação econômica não melhora, os aliados começam a desembarcar, a base no Congresso se torna mais difícil de controlar e, pior, o governo não apresenta nenhuma solução concreta para sair do buraco em que se enfiou.

Diante desse cenário, a velha tática de distribuir programas sociais já não funciona mais como antes. A população que depende desses auxílios não vê mais aquilo como um presente do governo, mas sim como um direito adquirido. Ou seja, Lula pode inflar o Bolsa Família e criar novas bolsas, mas isso não garante que os eleitores vão continuar votando nele. Ainda mais quando os preços seguem nas alturas e a inflação corrói o poder de compra das pessoas.

A resposta do governo? Uma estratégia de comunicação desastrosa e uma tentativa de criar narrativas para desviar a culpa. O episódio mais ridículo foi a ação coordenada de influencers e parlamentares governistas para tentar responsabilizar os produtores rurais pela alta dos alimentos.

Os aliados do governo se mobilizaram para espalhar a tese de que os preços altos não são culpa da política econômica desastrosa de Lula, mas sim dos próprios produtores, que “jogam comida fora”. O ápice do absurdo foi um vídeo em que um influencer queridinho do governo reage à cena de uma uma mulher descartando dois chuchus. Influenciadores repetiram a narrativa, políticos embarcaram e até parte da imprensa governista tentou dar algum verniz de credibilidade à história.

Só que a tese não se sustenta e a operação de mídia teve pouco ou nenhum efeito sobre quem acha os preços altos no supermercado.

Lula está mais isolado do que nunca. E, diferente dos seus primeiros governos, não tem mais estrategistas competentes ao seu redor. No passado, ele contava com Antônio Palocci, Luiz Gushiken, Gilberto Carvalho e José Dirceu, que, goste-se ou não, sabiam articular politicamente. Agora, ele tem Gleisi Hoffmann e Janja.

O cenário eleitoral também não traz boas notícias. A pesquisa da Paraná Pesquisas aponta um quadro preocupante para o PT: em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro, Lula já aparece numericamente bem atrás, com 40,2% contra 45,1% do ex-presidente. Perdeu nas urnas por um dedinho, agora perde uma mão cheia, cinco pontos. Também perde contra Michelle Bolsonaro e toma um suor do governador Tarcísio de Freitas.

Os aliados começaram a abandonar o barco. O advogado Kakay escreveu uma carta alertando que Lula está cercado por bajuladores. Paulinho da Força já reclamou. Kassab já criticou. E até Luísa Mell, ativista da causa animal e historicamente alinhada com pautas progressistas, se afastou.

Luísa Mell nunca foi uma figura ligada à política partidária, mas sempre teve trânsito no campo progressista, é uma referência na defesa mais estridente dos pets. Sua crítica a Lula veio após o presidente criticar o Ibama. Se até ela, que normalmente evita disputas ideológicas, fez questão de expor sua frustração, significa que o desgaste do governo extrapolou o campo da política tradicional.

A questão agora é: quem mais vai pular fora? E mais importante: quanto tempo até Lula decidir que precisa encontrar um bode expiatório dentro de casa? Quando ele perceber que sua popularidade não melhora, será que a culpa vai cair sobre Janja?

O tempo dirá, mas o cenário não é nada animador para o presidente. Lula já enfrentou crises antes, mas desta vez, ao contrário de outras ocasiões, ele não tem mais controle sobre a narrativa. O desgaste só aumenta e os próximos dois anos prometem ser difíceis.

Governo Lula passa da metade sem ter descido do palanque

Estamos na metade do governo Lula 3, mas a sensação é de estar assistindo a um daqueles filmes intermináveis. Você pensa estar nos cinco minutos finais mas descobre que a história mal começou. O problema é que, enquanto o tempo passa, o governo parece mais perdido do que cego em tiroteio. É um espetáculo de promessas, discursos e palanque. Ação mesmo, pouquíssima coisa. O Lula 3 está sendo descrito por muitos como pior do que o Dilma 2. E o motivo é claro: ele nem começou a governar.

O Brasil vive um governo que ainda não desceu do palanque. Lula continua falando, prometendo e não fazendo. Enquanto isso, o país segue com uma economia fragilizada, um dólar fora de controle, e um Executivo que simplesmente não se encontra.

Para piorar, estamos passando vergonha internacional com uma figura que não tem cargo, função ou responsabilidade, mas aparece em eventos oficiais porque casou com o presidente. Janja, ao invés de simbolizar algo novo, apenas reforça uma lógica machista: a mulher que é enfiada em espaços de poder por causa do marido. E aí vem o discurso de ressignificação do papel de primeira-dama, como se isso fosse algo positivo. Ressignificar o quê? A falta de vergonha na cara?

O grande problema do governo Lula não é apenas a inércia, mas o fato de ser liderado por uma figura que sempre evitou sucessores. Lula é a clássica liderança pé de manga: onde ele está, nada cresce à sua sombra. Ao longo dos anos, o PT foi perdendo quadros capacitados, muitos deles envolvidos em escândalos como o Mensalão e o Petrolão. E o que sobrou? Um partido sem novas lideranças e um país que entregou o poder de volta a um político que tem vivido de fazer campanha permanente.

Olhando para frente, o cenário não é mais animador. Lula vai continuar no palanque. Sem um sucessor à vista, o plano parece ser repetir a fórmula em 2026. Mesmo que isso signifique o país afundar mais dois anos no caos e na estagnação.

Enquanto isso, a estratégia será transformar qualquer crítico em extremista. Já começou: se você não apoia Lula ou Janja, é automaticamente jogado no rótulo de “extrema-direita”. Reputações estão sendo atacadas, como no caso de Ângela Gandra, recém-nomeada para uma secretaria em São Paulo, que foi alvo de críticas absurdas, pintada pela esquerda psiquiátrica como se fosse uma extremista.

Essa narrativa já está desgastada. A popularidade de Janja, por exemplo, segue em queda livre. Quanto mais ela aparece, mais rejeição enfrenta. E o governo, que mal conseguiu vencer a última eleição, está repetindo os erros que levaram à desconfiança popular. O foco continua em atacar opositores enquanto o Brasil aguarda ações concretas.

Os próximos dois anos prometem ser complicados. Depois de dois anos de incerteza, podemos estar à beira de dois anos de inferno político. Um governo sem direção, somado à militância mais barulhenta tentando coagir o debate público e direcionar as próximas eleições, forma uma combinação perigosa. A pergunta que fica é: até quando o Brasil vai aceitar essa lógica de palanque eterno? 2026 está chegando, e é hora de começar a pensar em como evitar que essa história se repita.

Foto: Bruno Peres / Agência Brasil.

Não haverá nenhum golpe de Estado no Brasil

Atenção! Uma farsa está em curso. Querem transformar uma tentativa de golpe de 2022 em uma espécie de ameaça presente. Que os culpados sejam punidos. Mas não podemos polarizar ainda mais a sociedade insinuando que há ameaça atual de golpe de Estado no Brasil quando não há.

A manipulação das notícias sobre o atentado meia-bomba do suicida Tiü França em Brasília e as tentativas de dizer que as articulações de um golpe militar tramado durante o governo Bolsonaro continuam ocorrendo, são tão grosseiras, as versões divulgadas por uma mídia chapa branca tão combinadas e as interpretações de seus analistas tão enviesadas, que só alguém muito idiotizado ou polarizado não percebe uma clara intenção de instrumentalização política do ocorrido.

Não há nenhum risco de golpe no Brasil atual. Nenhuma ameaça crível de abolição do nosso Estado democrático de direito. Atos tresloucados de fanáticos, frustrados com as promessas vãs e as tentativas mal-sucedidas de golpes passados, não são mais uma ameaça real ao regime democrático. A maioria da população, a maioria dos parlamentos e governos e das demais instituições, do Estado e da sociedade, em todos os níveis, não querem isso. Por exemplo, os partidos de centro (como o PSD e o MDB) que venceram as eleições de 2024 – navegando por fora da polarização – não querem isso. Nem o chamado “centrão” quer isso, pois acabaria com seu ganha-pão.

O que pode haver é uma derrota eleitoral do atual governo, como vimos em 2024 e poderemos ver novamente em 2026. Mas isso faz parte da democracia. Tirar o PT dos governos e derrotá-lo nos parlamentos, por meios legais e eleitorais, não é golpe.

Claro que os que, no passado, tentaram dar um golpe de Estado, devem ser processados pela justiça, observado o devido processo legal – o que, infelizmente, parece não estar ocorrendo. Transplantar para o presente uma ameaça passada parece ter o objetivo de justificar procedimentos judiciais de exceção, como decretar sigilo e adotar medidas de força. Além disso, um ministro da suprema corte que teria sido vítima de uma articulação passada não pode ser juiz do caso, sobretudo se não há ninguém com foro privilegiado envolvido.

O que não se pode é criar um clima de resistência com base na hipótese de que há um golpe em curso. Houve, embora muito desarticulada. Não há mais. Os que deveriam resistir naquela época, não o fizeram. Não aderiram nem a um movimento pelo impeachment de Bolsonaro, preferindo correr o risco de mantê-lo para derrotá-lo mais facilmente nas urnas – o que conseguiram, mas com altíssimo risco, por apenas 1,8% de vantagem. Sem a ajuda dos eleitores situados no centro do espectro político, fora da polarização, não teriam conseguido.

Repetindo. Não haverá nenhum golpe de Estado no Brasil, vindo da direita ou da esquerda. O que haverá é um investimento continuado na polarização e um desgaste crescente até 2026. O governo Lula e o PT sabem que é grande o risco de uma derrota eleitoral nas próximas eleições. Então têm que manter viva a “defesa da democracia” contra os golpistas que “ainda estão aí” – e que vêm a ser todos aqueles que não votarão em Lula ou em quem ele mandar. Eles não hesitarão em continuar usando os veículos profissionais de comunicação como assessoria de imprensa e tentarão aprovar uma regulamentação das mídias sociais que corte o oxigênio de quem discorde. Isso poderá acelerar o processo de autocratização do nosso regime democrático, mas não será um golpe em termos clássicos.

Desgraçadamente, porém, estaremos cada vez mais longe de ser uma democracia liberal ou plena.