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Foto: Sebastian Kahnert/AP.

Islamização e Putinização

As eleições federais antecipadas na Alemanha, realizadas em 23 de fevereiro de 2025, comprovaram a percepção de uma significativa mudança de rumo na política do país.

Apesar de ter sido o partido mais votado, a coligação conservadora União Democrata-Cristã (CDU/CSU), de Friedrich Merz, passou longe do seu melhor desempenho histórico ao ficar com 28% dos votos (208 cadeiras).

O Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, caiu para a terceira posição, obtendo apenas 16,41 % dos votos (120 cadeiras).

Por outro lado, o partido de direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), alcançou um resultado inédito, posicionando-se como a segunda maior força política no Bundestag, com 20,8% dos votos (152 cadeiras).

Para analisar o contexto de crescimento desse partido convém responder a duas perguntas. 

Para além dos rótulos que lhe são comumente atribuídos, o que realmente a AfD tem de problemático? 

Qual é o problema social que a AfD confronta seriamente? Ou, dito numa linguagem cafona de marketing, qual é a dor dos alemães que a AfD propõe curar?

Uma reflexão equilibrada sobre esses dois pontos lançará luz não apenas sobre o contexto político alemão, mas também sobre o atual drama político da Europa e sobre a atual tensão política mundial.

A história da AfD 

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) defende posições nacionalistas e revisionistas em relação à história alemã. 

Fundado em 2013 como um partido crítico à União Europeia, a AfD adota discursos que frequentemente se aproximam de ideias da extrema-direita histórica.

Apesar de não trazerem mensagens claramente nazistas — o que é proibido pela legislação alemã — seus integrantes costumam caminhar em uma zona perigosa.

É comum, por exemplo, que eles digam que os alemães não devem ficar se culpando pelos crimes do passado.

Foi seguindo nessa linha que Alexander Gauland, em 2017, afirmou que tinha orgulho pelo desempenho dos soldados alemãs nas duas guerras mundiais. 

Não é mais necessário nos repreender por esses doze anos (de regime nazista)“, disse Gauland. “Se os franceses, e com razão, têm orgulho de seus imperadores, e os britânicos, de Nelson e Churchill, então nós temos o direito de ter orgulho do desempenho de nossos soldados nas duas guerras mundiais.”

No mesmo ano, Bjorn Hocke criticou a existência do Memorial do Holocausto em Berlim.

Somos as únicas pessoas no mundo que colocaram um memorial da vergonha no coração de sua capital“, afirmou. 

A sigla rejeita políticas de inclusão e diversidade, argumentando contra direitos LGBTQ+ e políticas de igualdade racial. 

Discursos depreciativos contra minorias são comuns entre seus membros.

Todos esses pontos são relevantes e problemáticos, embora muitas vezes exagerados pela mídia.

Tendo em vista, porém, a complexa conjuntura geopolítica atual, o ponto mais problemático do partido parece-me ser a aberta simpatia que seus membros nutrem por Vladimir Putin.

AfD e Rússia

O programa da AfD traz como objetivo explícito estabelecer melhores relações com a Rússia.

A Guerra Fria acabou. Os EUA continuam sendo nossos parceiros. Deveria ser a Rússia. A AfD está, portanto, comprometida com o fim das sanções e com a melhoria das relações com a Rússia”, diz o documento.

A recente eleição alemã sofreu forte interferência externa, tanto americana — por intermédio de Elon Musk, que escreveu o polêmico artigo “Apenas a AfD pode salvar a Alemanha” e participou de uma live com Alice Weidel — quanto russa.

O filósofo, geopolítico e estrategista político russo conhecido por suas ideias ultranacionalistas e eurasianistas, Alexander Dugin, escreveu um panfleto em tom apocalíptico e delirante em apoio ao partido, que dizia:

O voto na AfD é a resposta ao ser ou não ser para a Alemanha. Sem a AfD, não haverá mais Alemanha. Se você, sendo alemão, vota em Merz, você vota na destruição nuclear acelerada da Alemanha, da Europa e talvez do mundo inteiro. Assuma a responsabilidade e esteja atento.

Se você gosta de Trump, Musk e Bannon, vote na AfD. Se você gosta de Putin (por que não?), vote na AfD. Se você gosta da Alemanha, vote na AfD. Se você gosta da Europa, vote na AfD. Se admira Meister Eckhart, Leibniz, Kant, Hegel, Husserl, Nietzsche, Heidegger, vote na AfD. Se você não gosta de nenhum deles, vote na AfD.

Vote na AfD se você é niilista, socialista, nacionalista, cristão, muçulmano, pagão, budista, agnóstico, ateu.

Vote na AfD e verá como a realidade pode ser maravilhosa. Alguns dizem que o Kali-Yuga acabou. Isso depende de nós. Vamos terminar. Agora. Ragnarök está marcado para amanhã.

Vote na AfD. Obrigado pelo lembrete: se você aprecia Bach, Mozart, Wagner, Mendelssohn e Tchaikovsky, ou Emerson, Lake e Palmer, vote na AfD.

Se você tem algum problema psicológico ou fisiológico, vote na AfD e encontrará alívio, mais do que isso, uma cura!

Pare de fingir, saia – AfD é você mesmo, seu inconsciente. Seja você mesmo; vote AfD!”

Sabemos o quão importante para o fim da Segunda Guerra Mundial foi o rompimento do pacto entre Hitler e Stálin. 

Agora, imaginem o cenário catastrófico se, daqui a quatro anos, uma Rússia fortalecida contar com o apoio de uma chanceler alemã para anexar a Ucrânia e seguir adiante, sob o olhar cúmplice dos Estados Unidos…

Tragicamente, esse é um cenário bastante provável.

Mas, uma vez elencados os pontos mais problemáticos da AfD e enfatizando a proximidade com a Rússia como o aspecto mais preocupante, devido ao contexto bélico atual, tentemos agora entender por que esse partido tornou-se a segunda maior força política na Alemanha, com grande potencial de crescimento para se tornar a força maior em 2029.

Imigrantes e refugiados

No livro The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam, David Murray, tenta explicar o processo que levou a Europa à beira do suicídio. 

Para tanto, o autor nos remete ao pós-guerra, quando o continente procurava restabelecer-se economicamente preenchendo a lacuna do mercado de trabalho.

Países como Alemanha, Holanda, Inglaterra e França promoveram a Europa enquanto destino de trabalho, recebendo milhares de migrantes. 

Mas o poder de atração da Europa, com o seu estado de bem-estar social, era muito grande e o que deveria ser uma política provisória de trabalho transformou-se numa crise migratória, um problema que foi negligenciado por décadas.

Em 2015, um incidente comovente teve o condão de abrir ainda mais as portas da Europa, dessa vez para um enorme contingente de refugiados: a morte de Aylan Kurdi.

A imagem do corpo do garotinho sírio de 3 anos, estendido em uma praia turca, percorreu o mundo, provavelmente sensibilizando também a chanceler alemã Angela Merkel que fez, então, um apelo à Europa para abrir as fronteiras.

Merkel é bastante criticada por pessoas do espectro político mais à direita por essa atitude, mas convenhamos que a líder de um partido norteado por princípios cristãos não poderia simplesmente fechar as fronteiras para os refugiados.

Uma coisa são os migrantes, outra coisa são os refugiados. 

Todo refugiado é um migrante, mas nem todo migrante é um refugiado. 

Enquanto o imigrante se desloca por vontade própria, o refugiado foge para salvar sua vida ou assegurar sua liberdade.

Convém lembrar que o deslocamento de milhares de refugiados em 2015 foi causado principalmente pela guerra civil na Síria, que começou em 2011. 

O conflito envolveu o governo do ditador Bashar Assad (apoiado pela Rússia), grupos rebeldes e organizações terroristas como o Estado Islâmico (EI).

O direito internacional prevê, especialmente pela Convenção de 1951 sobre Refugiados, o acolhimento, a garantia de proteção e o impedimento de deportação para as pessoas em tal condição.

Como a Europa poderia fazer jus aos seus melhores valores cristãos negando-se a executar algo tão básico quanto a proteção à vida humana já respaldada pelo direito internacional?

Mas o fato é que a coisa desandou, saiu dos trilhos. 

Ao abrir as portas para mais de 1 milhão de “refugiados”, a Alemanha deixou entrar não apenas aqueles que careciam efetivamente de acolhimento humanitário, mas também aqueles que, disfarçados de refugiados, vieram com a intenção de perpetrar o terror no seio da Europa, em nome da jihad islâmica.

A chegada em massa de muçulmanos na Europa, aliada à permissividade com que os governos europeus os receberam, em nome de uma falácia chamada multiculturalismo, elevou o problema migratório a um ápice de tensão, que hoje já não é apenas uma crise política localizada, mas algo muito mais abrangente.

Multiculturalismo e islamismo

Embora tenha permitido o relaxamento das fronteiras, em 2015, devido à crise de refugiados na Síria, Angela Merkel também deveria ser lembrada pelo discurso feito em 16 de outubro de 2010, durante um encontro da União Democrata-Cristã (CDU) com jovens da ala conservadora do partido, em Potsdam.

Na ocasião, Merkel declarou: “O multiculturalismo falhou completamente” (“Der Ansatz für Multikulti ist absolut gescheitert“).

Ela se referia à falência da ideia de que diferentes culturas poderiam viver lado a lado sem a necessidade de integração

Merkel argumentou que os imigrantes na Alemanha deveriam se esforçar mais para se integrar, aprender o idioma e compartilhar os valores do país.

Esse não foi, porém, o rumo que as coisas tomaram. 

Estupidificados por doutrinas antiocidentais como o decolonialismo, jovens ocidentais de esquerda passaram a odiar cada vez mais seus próprios valores e sua própria cultura.

Interessados em capitalizar politicamente os votos dessa juventude meio perdida, políticos de esquerda cederam ao politicamente correto, ao progressismo, tornando intocáveis aqueles que eram acolhidos em suas próprias terras.

O principal contingente acolhido, sabemos, foram os muçulmanos. E todo o aparato do Estado de bem-estar social europeu passou a beneficiá-los e protegê-los sem exigir nada em troca, sem esperar a integração.

Muito à vontade, os muçulmanos passaram a construir mesquitas, radicalizar pessoas, dominar bairros, impor regras e, vez ou outra, esfaquear, aos gritos de Allahu Akbar, transeuntes distraídos, padres em celebração, meninas em festas, crianças em passeios escolares ou judeus visitando o Museu do Holocausto.

Ultimamente, passaram a achar mais prático acelerar veículos contra pessoas que se aglomeram nas ruas, em feiras de Natal ou Carnaval.

Os cidadãos alemães temem, e têm motivos de sobra para isso, que um cidadão recém-naturalizado irá esfaqueá-lo e matá-lo após ser radicalizado. 

Mas os políticos juram que o Islã é uma religião de paz e que encontrar um exemplar do Alcorão na mochila junto à faca que cortou uma garganta é só mera coincidência.

Aqueles que dizem o óbvio e que tentam alertar para a incompatibilidade do islamismo com as democracias ocidentais são rotulados de extremistas, de preconceituosos, de xenófobos e dessa palavra mágica tirada da cartola para criminalizá-los: islamofóbicos.

Alternativa para a Alemanha

É aí que entra a AfD. Qual é o seu ponto forte? 

O partido se opõe à imigração, especialmente de países muçulmanos, promovendo a ideia de que a cultura alemã está sob ameaça frente à cultura islâmica.

Os líderes do partido defendem medidas como o fechamento de fronteiras, de mesquitas e deportações em massa e, com isso, respondem a um premente anseio da população.

É verdade que populistas de direita têm lucrado com o tema da imigração. Mas isso ocorre porque, principalmente na Europa, a imigração muçulmana é efetivamente um grande problema.

Dificilmente passa-se uma semana sem relatos de ataques islâmicos. O jihadismo não pode mais ser ignorado na Alemanha, nem em lugar nenhum da Europa.

No fim de janeiro, em Aschaffenburg, Baviera, um afegão que foi obrigado a deixar o país atacou um menino de 2 anos com uma faca de cozinha. 

Morreu o menino e o transeunte que tentou salvá-lo.

Pouco tempo depois, em Munique, um requerente de asilo afegão acelerou seu carro contra uma manifestação organizada pelo sindicato Verdi, matando uma jovem mãe e sua filha de dois anos e ferindo gravemente pelo menos outras 37 pessoas.

A Europa está diante de duas ameças sérias: Vladimir Putin e o jihadismo islâmico. 

A direita reacionária fala grosso com os muçulmanos, mas fala muito fino com Putin.

Se os alemães de modo específico, e os europeus, de modo geral, quiserem continuar altivos na defesa da Ucrânia e de seus próprios valores de democracia e liberdade precisam reconhecer o perigo representado pelo islamismo e expressar isso claramente, a fim de que a direita populista nacionalista e identitária não seja a única voz a ecoar essa realidade.

UNRWA: educação para morte e financiamento do mal

Após o escândalo do envolvimento direto de doze funcionários da UNRWA no massacre de 7 de outubro, o seu diretor, Philippe Lazzarini, anunciou, em comunicado de imprensa, que tinha rescindido o contrato desses funcionários. Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, por sua vez, confirmou que doze pessoas são alvo de investigação e nove foram despedidas.

Pronto? A demissão dos funcionários que estavam diretamente envolvidos com o Hamas por acaso reverte todo a teia de relações indiretas da UNRWA com o terror? Não. Por isso é preciso que todo o mundo livre pare imediatamente de financiar essa organização cúmplice do terrorismo islâmico.

Finalmente, após a divulgação do dossiê que mostra que doze funcionários com folha de pagamento na ONU estavam envolvidos no massacre perpetrado pelo Hamas, catorze países anunciaram que suspenderiam os seus pagamentos à essa organização que se diz humanitária. Entre esses países estão Alemanha, Canadá, Grã-Bretanha, Itália, Estados Unidos, Japão, etc.

Diga-me quem financias

E o Brasil? Desconfio que não faça mais parte do tal mundo livre, dada a sua escancarada simpatia por ditaduras e teocracias. Vide suas companhias no Brics. Diga-me com quem andas e quem financias, e eu te direi que tipo de regime és.

Nosso país já doou, desde 2008, o equivalente a 20 milhões de dólares para UNRWA (conforme informação dada pelo Itamaraty, em resposta a um pedido de Crusoé). O Ministério de Relações Exteriores afirmou ainda que o governo brasileiro mantém o compromisso histórico de apoio a essa organização da ONU.

Não surpreende que o Brasil vá na contramão dos países que decidiram fechar a torneira do dinheiro ante a cumplicidade escancarada dessa organização com o terror. Conforme nota da Crusoé, um dia depois que a ONG UN Watch divulgou um relatório mostrando que vinte funcionários da UNRWA comemoraram o massacre de 7 de outubro em suas redes sociais, Celso Amorim, assessor da Presidência da República declarou:

Uma contribuição financeira simbólica à UNRWA está sendo feita imediatamente. Uma contribuição mais substancial está sendo preparada e será anunciada em breve.

UNRWA é pior do que você pensa

Brendan O´Neill publicou, em 29 de janeiro, na revista Spiked, um artigo intitulado A UNRWA é pior do que você pensa, no qual expõe a hipocrisia e a perversão daqueles que passaram “o Dia Memorial do Holocausto aplaudindo uma organização cujos membros são acusados de massacrar judeus”.

Enquanto toda a gente acendia velas para os seis milhões de judeus assassinados pelos nazis, os militantes de woke faziam campanhas na internet “para elogiar e até angariar fundos para um grupo cujos funcionários são suspeitos de massacrar judeus”, escreveu O´Neill, referindo-se ao movimento da classe ativista que recorreu ao X para angariar apoio para a UNRWA em resposta à suspensão das doações por parte da Grã-Bretanha e de outras nações, fato que coincidiu com o dia internacional da lembrança do Holocausto, 27 de Janeiro.

A atitude dos EUA, Reino Unido, Austrália e outros países de suspenderem o fluxo de dinheiro para a UNRWA enquanto as autoridades investigam o envolvimento do seu pessoal com um grupo terrorista que massacrou milhares de pessoas é bastante racional, justificável e legítima. A esquerda woke, porém, não pensa assim. Eles berram que a UNRWA é ótima e essencial para o bem-estar dos palestinos.

Para eles todos todos os governos que suspenderam as doações são agora cúmplices do “genocídio” de Israel. Eis “as profundezas obscuras do duplo discurso em que a esquerda agora mergulhou: expressar preocupação sobre as possíveis ligações de um grupo ao terrorismo genocida é “genocida”; tentar manter o seu dinheiro fora dos bolsos de pessoas que supostamente ajudaram a coordenar o pior ato de violência racista do século XXI é “racista”. Guerra é paz, liberdade é escravidão, não querer que os judeus sejam massacrados é fascismo. O contorcionismo moral é doloroso”, escreve o analista político britânico.

23% dos funcionários

A verdade, exposta não apenas nesse artigo da Spiked, mas denunciada também aqui em muitos artigos publicados em O Antagonista, é que a UNRWA está há muito comprometida moral e politicamente. 

Conforme noticiou a Crusoé, o jornal americano Wall Street Journal publicou nesta segunda, 29 de janeiro, uma reportagem afirmando que 23% dos funcionários homens da UNRWA têm conexões com terroristas do Hamas ou da Jihad Islâmica.

A Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados da Palestina se vende como parte da solução para a guerra no Oriente Médio quando, na verdade, ela é um dos grandes problemas.

Criada em 1949 com o pretexto de ajudar os refugiados palestinos gerenciando o acesso à educação, saúde e ajuda alimentar, a UNRWA se tornou uma hidra que supervisiona vastas áreas da vida social em Gaza, centralizando a distribuição da assistência humanitária, mas que atua principalmente na área educacional, gerenciando 715 escolas para mais de meio milhão de meninos e meninas em Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental, na Síria, no Líbano e na Jordânia.

Parece um trabalho bonito não é? A fachada de humanitarismo, porém, recobre a gravidade de uma doutrinação nefasta que retroalimenta no coração dos palestinos o ódio contra os judeus, inclinando jovens, geração após geração, a um fundamentalismo que inviabiliza qualquer projeto de paz naquela região.

Doutrinação e terror

Além das acusações específicas contra os 12 referidos funcionários que teriam participado ativamente do ataque de 7 de outubro de 2023, as autoridades israelenses também acusam a agência da ONU de distribuir livros escolares a crianças palestinas contendo incitamento à violência e ao ódio contra os judeus. Segundo a ONG Impact-SE, os livros contêm inúmeras frases como “Sionistas são terroristas” ou “como cortar o pescoço do inimigo”.

Essas denúncias, porém, não são novas. Quando o antigo presidente dos EUA, Donald Trump, cortou o financiamento dos EUA à UNRWA, em 2018, já havia uma série de indicações de que a instituição não evitava a propagação do radicalismo islâmico.

Tanto é assim que, quando o presidente Joe Biden renovou o financiamento em 2021, assinou-se um documento de Cooperação no qual foi estabelecido que o financiamento contínuo dos EUA exigia que a UNRWA implementasse várias reformas, incluindo o combate ao incitamento ao ódio e ao antissemitismo no seu currículo educacional, exigindo a neutralidade do seu pessoal e garantindo que as instalações da UNRWA não seriam utilizados por organizações terroristas e o seu pessoal não estaria afiliado a elas. Temos a certeza agora de que essa reforma não foi efetivada.

Em matéria publicada em 2021 na revista americana Foreign Policy, lemos o seguinte:

Quase 60 por cento do orçamento anual de cerca de 1 bilhão de dólares da UNRWA é atribuído a programas educativos que pretendem ensinar às crianças valores de paz, tolerância e resolução não violenta de conflitos. No entanto, de acordo com vários estudos sobre o currículo palestino, ministrado pela UNRWA nos territórios palestinos, a agência está muito aquém desse objetivo. Os manuais retratam os judeus como inimigos do Islã, glorificam os chamados mártires que morreram enquanto cometiam ataques terroristas e promovem a jihad para a libertação da Palestina histórica, incluindo áreas firmemente dentro das fronteiras de Israel anteriores a 1967, como Jaffa e Haifa. Os mapas da região não incluem o estado de Israel, que em todo o currículo é referido como “a Ocupação Sionista”.

Livros didáticos

A referida matéria aborda um relatório divulgado em Junho de 2021, financiado pela União Europeia e conduzido pelo Instituto Georg Eckert para a Investigação Internacional de Livros Didáticos, que examinou 172 livros escolares palestinos utilizados nas escolas da UNRWA.

O relatório mostra que uma aula de educação islâmica do 5º ano, por exemplo, pede aos alunos que discutam as “repetidas tentativas dos judeus de matar o Profeta” e depois pede-lhes que pensem em “outros inimigos do Islã”.

Outra lição do 5º ano é sobre Dalal Mughrabi, autora do massacre da Estrada Costeira de 1978, um dos piores ataques terroristas da história de Israel, que matou 38 civis israelenses, incluindo 13 crianças. A lição sobre ela diz: “Nossa história palestina está repleta de muitos nomes de shuhada (mártires) que sacrificaram suas vidas pela pátria, incluindo a shahida (mártir) Dalal Mughrabi, cuja luta assumiu a forma de desafio e heroísmo, o que tornou sua memória imortal em nossos corações e mentes”.

O relatório concluiu que “não são apresentados mais retratos de figuras femininas significativas na história palestina”, pelo que “o caminho da violência parece implicitamente ser a única opção para as mulheres demonstrarem um compromisso notável para com o seu povo e o seu país”.

As pedras

Já o livro de estudos sociais do 7º ano propaga a teoria da conspiração de que Israel removeu pedras de locais antigos em Jerusalém e substituiu-as por pedras com desenhos e formas sionistas. Um livro de educação islâmica do 9º ano apresenta passagens sobre a jihad e “a sabedoria por trás da luta os infiéis”,

O currículo fora das ciências sociais também é preenchido com linguagem violenta e glorificação dos militantes. Uma aula de gramática do 6º ano, por exemplo, inclui a frase “defenderemos a pátria com sangue”. Uma lição da 8ª série ensina aos alunos que “a Jihad é uma das portas para o Paraíso”.

Desde 2021 já se sabia que vários funcionários da UNRWA faziam parte do Hamas e que muitos deles publicavam conteúdos violentos e antissemitas nas redes sociais, com alguns elogiando Adolf Hitler.

Em uma infeliz declaração, após o massacre de 7 de outubro, o secretário-geral da ONU, o socialista António Guterres, afirmou: “É importante reconhecer também que os ataques do Hamas não aconteceram no vácuo”. Ele tem razão. Não aconteceram no vácuo. O mundo deu tempo e dinheiro demais para que o fundamentalismo se incrustasse nas mentes infantis e o mal fermentasse sob o olhar hipócrita e cúmplice da organização que ele representa.

“Allahu Akbar ”: o grito macabro que amedronta o mundo

“Em _____, um grupo de ____homens fortemente armados e vestidos de preto entrou em um _____ em _______ e matou _____ pessoas. Os atacantes foram filmados gritando “Allahu akbar!”. Em entrevista coletiva à imprensa, o presidente _____ disse: “Condenamos esse ato criminoso de extremistas e sua tentativa de justificar seus atos violentos em nome de uma religião pacífica não terá êxito. Condenamos igualmente aqueles que queiram usar essa atrocidade como pretexto para crimes de ódio islamofóbicos”.

É assim que começa o livro Herege: Por que o Islã precisa de uma reforma imediata, da ex-muçulmana, ex-ateia e agora cristã, Ayaan Hirsi Ali. A lacuna no nome do lugar, no número de assassinos e no de vítimas deve-se à grande quantidade de casos semelhantes. O leitor pode preencher as lacunas com o caso mais recente do noticiário.

Após relembrar alguns atentados, a autora escreve que há mais de treze anos vem defendendo um argumento simples em resposta a atos terroristas como estes: “Afirmo que é tolice insistir, como fazem habitualmente nossos líderes, que os atos violentos dos islamitas radicais podem ser dissociados dos ideais religiosos que os inspiram. Temos de reconhecer que eles são movidos por uma ideologia política, uma ideologia com raízes no próprio islã, no livro santo do Alcorão e na vida e ensinamentos do profeta Maomé descritos no hadith.”

A ex-muçulmana diz, com todas as letras, aquilo que os progressistas ocidentais e seus líderes insistem em negar: “Deixo claro o meu ponto de vista nos termos mais simples possíveis: o islamismo não é uma religião pacífica.”

Na contramão das susceptibilidades multiculturalistas que se melindram com esse tipo de argumento “insensível”, Hirsi Ali expõe em seu livro “a ideia de que a violência islâmica não tem raízes em condições sociais, econômicas ou políticas — e nem mesmo em erro teológico —, e sim nos textos fundamentais do próprio islamismo.” Por defender isso, ela foi silenciada, execrada e humilhada não só por muçulmanos, mas também por alguns militantes progressistas e apologistas ocidentais do Islã.

Por inúmeras razões, parte do Ocidente está mais preparado para ser subjugado pelo Islã e padecer sob a espada de Maomé do que para aceitar essa afirmação. Prova disso é que as declarações de Hirsi Ali suscitaram críticas tão veementes que parecia ter sido ela a autora de atos de violência: “pois hoje parece ser crime falar a verdade sobre o islã”, explica Ali. “´Discurso de ódio´é o termo moderno para heresia. E no clima atual, qualquer coisa que faça os muçulmanos se sentirem incomodados é rotulada de ódio.”

Não cabe aqui nesse contexto fazer uma resenha do referido livro, o qual indico como uma leitura atual e importante. Apenas citei a sua tese inicial à guisa de introdução para comentar o último atentado que ocorreu em Paris, em 02 de dezembro, nas proximidades da torre Eiffel.

Um homem de 26 anos matou com uma faca um jovem turista germano-filipino e depois atacou mais duas pessoas com um martelo. Assim como os terroristas do Hamas ao metralharem os jovens da festa rave em Israel e assim como tantos outros terroristas, o assassino Armand Rajabpour-Miyandoab gritou Allahu Akbar antes de esfaquear sua vítima. 

Mas o nome verdadeiro do assassino não é Armand. Um documento, apresentado como extrato do diário oficial de 22 de março de 2002, contendo o decreto de naturalização de membros da família do agressor, circulou amplamente no X (antigo Twitter). Neste documento, o homem é referido como Iman Rajabpour-Miyandoab. Uma fonte policial confirmou à imprensa que o primeiro nome do terrorista foi mudado em 2003, quando ele tinha seis anos.

Iman ou Armand, é filho de iranianos, converteu-se ao Islã na juventude e já planejou um ataque terrorista em 2016, pelo qual foi condenado a cinco anos de prisão. O agressor francês de origem iraniana estava ligado a vários terroristas, incluindo os assassinos de Samuel Paty (um professor morto em 16 de outubro de 2020 perto do colégio Conflans-Sainte) e de Jacques Hamel (padre que teve a garganta cortada no dia 26 de julho de 2016, ao final de uma missa diante de três freiras e um casal de paroquianos). 

Armand também manteve contacto com um jihadista francês que partiu para a Síria e era antigo membro do grupo Forsane Alizza, célula terrorista dissolvida em 2012, que defendia a jihad armada e queria “estabelecer um califado” na França.

Nesse último atentado insere-se também o contexto da guerra Israel-Hamas. Segundo o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, além de gritar “Allahu akbar”, o assassino disse à polícia não tolerar mortes de muçulmanos em Gaza.

Uma reportagem do jornal Le Figaro fez um levantamento: o turista alemão morto em Paris é a 274ª vítima de um ataque islâmico, desde 2012 na França, período no qual ocorreram 26 ataques islâmicos fatais, oito deles após 2020. 

Eis a lista macabra: 


2012: 3 ataques fatais (7 mortos)
2015: 6 ataques fatais (150 mortos)
2016: 3 ataques fatais (89 mortos)
2017: 2 ataques fatais (3 mortes)
2018: 3 ataques fatais (10 mortos)
2019: 1 ataque fatal (4 mortos)
2020: 4 ataques fatais (7 mortes)
2021: 1 ataque fatal (1 morte)
2022: 1 ataque fatal (1 morte)
2023: 2 ataques fatais (2 mortes)

A mídia francesa vem, compreensivelmente, dando grande repercussão ao ocorrido. O diretor de redação do jornal Le figaro, Vincent Trémolent de Villers, escreveuem editorial de 03 de dezembro: 

“A França é um país onde existe o risco de morrer por uma facada a qualquer hora, a qualquer hora, em qualquer lugar. […] A frouxidão migratória, a desintegração cultural, a delinquência sistêmica, o jihadismo atmosférico e a fraqueza judicial estão interligados. Nesta França, o carrasco lamenta-se como vítima e a vítima, dano colateral do grande projeto multicultural, é rapidamente esquecida. Quem se lembra das jovens cujas gargantas foram cortadas há seis anos na estação Saint Charles? Ou do homem assassinado por um refugiado sudanês enquanto abria a janela em total confinamento?” 

A preocupação, porém, do coordenador do partido de extrema esquerda, La France insoumise, Manuel Bompard, não é evitar novos atentados terroristas islâmicos, mas evitar que se dê uma interpretação inadequada a eles: “Vejo claramente que, por exemplo, a questão da loucura deste indivíduo parece estar completamente retirada de questão e, no entanto, parece-me que este é um dos assuntos que terá de ser examinado após esta tragédia”, registrou o coordenador insoumise.

Para Bompard, o ataque com faca que custou a vida a um turista alemão em Paris foi apenas o ato de “uma pessoa claramente desequilibrada” para o qual não se pode “dar significado político geral.” 

Jean-Luc Mélenchon, líder do La France insoumise, também manteve suas considerações limitadas ao perfil psiquiátrico do assassino, sem mencionar as suas motivações terroristas. Tratar-se ia apenas de um homem com distúrbios psiquiátricos que interrompeu seu tratamento medicamentoso: “É hora de percebermos as consequências do colapso do sistema psiquiátrico! Cuidados, monitoramento e confinamento médico são urgentes para diminuir o dano deste tipo de pessoa”, acrescentou o três vezes candidato presidencial. 

Pouco antes do ataque o agressor, que consta na lista policial de radicalização islâmica, assumiu a responsabilidade pelo ataque evocando em um vídeo as notícias, o governo e o assassinato de muçulmanos inocentes. Na hora do assassinato ele gritou “Allahu Akbar”. Mesmo assim, uma vertente política tenta desconectar o crime da questão islâmica. 

Voltemos ao livro de Ayaan Hirsi Ali, escrito em 2015. Deixarei que ela, que conhece o islamismo muito melhor do que eu, conclua esse artigo:

“Já faz quase uma década e meia que temos políticas e pronunciamentos baseados na suposição de que o terrorismo e o extremismo podem e devem ser diferenciados do islã. Sempre na esteira de ataques terroristas em todo o mundo, líderes ocidentais apressam-se a declarar que o problema nada tem a ver com o islã propriamente dito. Porque o islamismo é uma religião pacífica. 

Mas e se essa premissa for totalmente errada? Porque não são apenas a Al-Qaeda e o EI que mostram a face violenta da fé e da prática islâmica. É também o Paquistão, onde qualquer declaração que critique o Profeta ou o islã é considerada blasfêmia e punível com a morte. É a Arábia Saudita, onde igrejas e sinagogas são proibidas, e onde a decapitação é uma forma legítima de punição, tanto assim que em agosto de 2014 houve quase uma decapitação por dia. É o Irã, onde o apedrejamento é uma punição aceitável, e os homossexuais são enforcados por seu “crime”. É Brunei, onde o sultão está reinstituindo a lei islâmica da sharia e a pena capital para a homossexualidade. […]

Atualmente ainda tentamos argumentar que a violência é obra de um punhado de extremistas lunáticos. Recorremos a metáforas médicas, tentando definir o fenômeno como algum tipo de corpo estranho no meio religioso em que ele se propaga. E fingimos acreditar que temos extremistas tão perversos quanto os jihadistas.”