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Madeleine Lacsko

Sobre Madeleine Lacsko

Jornalista há 26 anos, especializada em Cidadania Digital, colunista do UOL e está à frente do projeto Cidadania Digital na Gazeta do Povo. Atuou como Consultora Internacional do Unicef Angola na campanha que erradicou a pólio no país, diretora de comunicação da Change.org para a América Latina, assessora no Supremo Tribunal Federal e do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp. Trabalhou na Jovem Pan e Antagonista.

Os brasileiros progressistas que defendem os aiatolás do Irã

Não existe justificativa possível para uma pessoa que se diz democrata apoiar o regime iraniano. Nenhuma. O que se vê por aí é uma mistura de ignorância e irresponsabilidade. No debate público, opiniões sobre conflitos armados, alianças geopolíticas e regimes autoritários estão sendo tratadas como se fossem brigas de torcida. E isso diz muito sobre o nível a que chegamos.

As pessoas que mais opinam são, em geral, as que menos entendem. Nunca viveram uma guerra, nunca estiveram em áreas de conflito, nunca estudaram geopolítica ou sequer buscaram entender as forças em jogo.

No Brasil, o horror à guerra é compreensível. Nossa experiência com ela é distante. Quando vemos uma imagem de bombardeio, de criança ferida, entramos automaticamente no modo emocional. Mas isso, por si só, não dá a ninguém autoridade para tomar partido sem compreender as implicações.

Quem se dispõe a discutir esse tipo de tema precisa, no mínimo, saber reconhecer seus próprios limites. O problema é que o senso de limite desapareceu. Tem gente desmentindo voluntário de ajuda humanitária no campo de Gaza, como se quem lê manchete soubesse mais do que quem está na linha de frente. É uma idiotização coletiva. E uma que silencia os que realmente sabem  porque os ignorantes são barulhentos.

A questão central é simples: o Irã é uma ditadura brutal. Apoiá-lo não é ter posição política. É renunciar à noção mais básica de direitos humanos. O regime iraniano persegue mulheres, homossexuais e opositores. Impõe um apartheid de gênero. Promove linchamentos morais e físicos em nome da religião. A população iraniana vive sob um terror cotidiano. São pessoas comuns, como nós, que até os anos 70 viviam em cidades abertas. Hoje, qualquer coisa considerada deslize de costumes pode ser punida com prisão ou morte.

É esse regime que parte da esquerda ocidental resolveu apoiar, por puro antiamericanismo. Como são contra os Estados Unidos, são contra Israel. E, como são contra Israel, são a favor de tudo que combate Israel,  mesmo que seja um governo teocrático que assassina mulheres por causa de um véu mal colocado. Isso não é política. Isso é moralmente indefensável.

O debate sobre guerra, armamentos e geopolítica é complexo. Mas há questões que não são. Apoiar um regime que mata mulheres por não se cobrirem o suficiente não exige complexidade para ser condenado. Exige apenas caráter. E o que falta, nesse caso, não é informação. É decência.

Lula vai quebrar o Brasil por uma estratégia de campanha para 2026?

Esses dias li no X que o governo Lula 3 criou o novo tripé macroeconômico: imposto, censura e endividamento. O tripé macroeconômico clássico consiste  em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Agora temos, na economia uma foi engenharia de desequilíbrio: mais carga tributária, menos controle da informação e mais crédito para quem menos tem como pagar, com juros de constranger agiota.

O exemplo mais recente é a fala de Lula sobre conceder linha de crédito para motoristas de aplicativo. A maioria está endividada, sem emprego fixo, sem poupança. Em vez de pensar em soluções estruturais, o governo prefere distribuir crédito como se não houvesse amanhã. O objetivo? Garantir votos, criar vínculos de dependência, montar o palanque de 2026. Isso não é política social. É estratégia eleitoral.

A oferta desenfreada de bolsas e auxílios pode parecer uma resposta emergencial. Mas a quantidade, o ritmo e a falta de planejamento mostram que o foco não é resolver problemas reais, e sim fabricar fidelidade. O gasto com essas políticas subiu mais de 10 vezes com relação aos primeiros governos de Lula.

O PT sempre teve uma ideia muito particular de democracia: gosta de eleições, desde que ganhe todas. Quando perde, grita golpe. Quando ganha, demoniza a oposição. Alternância de poder? Só se for dos outros.

O voto raramente vem pelo que o candidato promete. Vem pelo medo de perder o que já tem. O medo de perder a bolsa, o direito, a escola, o benefício. É com isso que o PT trabalha. O partido sabe que voto é emocional e o medo é um motor potente. Por isso, o discurso é sempre o mesmo: se o outro ganhar, você perde tudo. E, por enquanto, vai concedendo tudo o que puder.

O que está em jogo é maior. A estrutura que o governo está montando não se sustenta. O nível de gasto atual é muito superior até mesmo aos picos dos governos anteriores do próprio PT. Não há como manter isso nem no médio prazo. E quando a conta chegar, o mesmo governo que disse estar colocando o pobre no orçamento vai tirá-lo de lá à força.

A pergunta que fica é: a oposição vai enfrentar esse modelo ou vai continuar no debate raso, ideológico, periférico? A campanha de 2026 já começou. Ao que tudo indica, vai ser bem mais cara que as outras. Seria Lula capaz de quebrar o Brasil para se manter no poder?

Lula está sucateando os Correios para privatizar? Ou tudo aquilo é incompetência?

É ensurdecedor o silêncio de quem acusava o governo anterior de querer sucatear os Correios para privatizar. O PT parece ter aprendido bem a lição. A gestão atual dos Correios é tão desastrosa que não há como tratá-la apenas como incompetência. A impressão que dá é que estamos diante de um projeto não declarado de destruição por dentro. Digo isso porque me recuso a acreditar que exista tanta incompetência no mundo. É coisa para Guiness Book.

É possível que o governo só tenha colocado um nome do grupo Prerrogativas ali, alguém despreparado, e tudo seja só lambança mesmo. Mas há um ponto em que a lambança ultrapassa os limites do acaso. Não existe incompetência suficiente para justificar o que está acontecendo. Patrocínios milionários aumentam enquanto comerciantes pelo país inteiro entram em desespero com entregas que não chegam, contratos que se perdem, prejuízos acumulados.

O problema não é só a sua encomenda que atrasa. É a economia real. É o comércio quebrando. Desde a pandemia, o sistema de entregas se tornou pilar do varejo no Brasil. Qualquer colapso afeta de pequenas lojas de bairro a redes nacionais.

O mais grave: não há qualquer definição sobre o que se pretende com isso. O governo Lula não apresentou projeto para o setor. Nem para os Correios, nem para os grandes varejistas, nem para o sistema de entregas como um todo. Na eleição, a campanha se baseou em demonizar o adversário e vender uma imagem difusa de “defesa da democracia”. Nada sobre política industrial, nada sobre logística, nada sobre modelos sustentáveis de operação.

O caso da Shein e da Shopee ilustra bem a confusão. O governo ora falava em taxar, ora recuava. No final, taxou e favoreceu os grandes varejistas brasileiros. Não é só sobre imposto. É sobre política pública. Vai privilegiar o consumidor final ou os grandes intermediários nacionais? Quem vai lucrar com o modelo escolhido? O governo não responde. Apenas improvisa, reage, recua e insiste.

Com os Correios, o cenário é ainda mais nebuloso. Enquanto os serviços colapsam, o governo promove eventos com gigantes do setor de entregas internacionais. E nada de esclarecer qual o objetivo. Privatizar? Fortalecer a empresa pública? Parceria com grandes plataformas? Nenhuma sinalização concreta.

No governo passado, a proposta de privatizar tudo parecia um delírio. Não havia um modelo a seguir de país que tem os correios completamente privatizados. Os modelos citados pelos defensores da ideia não eram de privatização total, como eles afirmavam. Mas, ao menos, havia uma proposta. Hoje, temos o pior dos mundos: sucateamento sem explicação, decisões sem transparência, e nenhuma direção clara.

Político só se organiza sob pressão. E o Brasil virou refém de gente barulhenta mas pouco eficiente. É por isso que o desmonte continua. Talvez só o tempo nos diga quais as verdadeiras intenções de Lula com os Correios.

O que podemos aprender com a vida e a obra de Carla Zambelli

Esse é mais um caso clássico da política brasileira: todo mundo está errado, mas cada grupo só enxerga o erro do outro. Não há inocentes na história. E talvez essa seja a lição mais importante.

A começar por quem elege esse tipo de figura. Depois do primeiro mandato de Carla Zambelli, qualquer adulto que tenha assistido à atuação dela e decidido reconduzi-la ao cargo merece, no mínimo, uma temporada de reflexão. A instabilidade emocional, a inexperiência e a completa falta de decoro estavam todas lá. A escolha foi consciente.

A política brasileira não chegou ao fundo do poço só por causa de políticos oportunistas. Chegou porque o eleitor insiste em dar palco ao pior tipo de performance. É como em um relacionamento abusivo: quanto maior a palhaçada, mais a vítima se apega. O sujeito mente, grita, trai, humilha. E o outro responde com mais defesa, mais amor, mais justificativa. Na política, o roteiro é o mesmo.

O eleitor brasileiro se comporta como quem saiu de um relacionamento com alguém decente, educado, trabalhador, mas se frustrou. Foi traído, foi enganado, sofreu. E então decide que agora só vai se envolver com o chefe do tráfico. Porque “esse aí pelo menos é verdadeiro”. Acha que gritar é sinceridade, que humilhar é autenticidade, que ser ignorante é uma forma de pureza. É uma inversão completa dos critérios de valor.

Depois de se decepcionar com a política institucional, seja a esquerda engomada ou a direita de gabinete, o brasileiro médio passou a acreditar que a solução viria de gente sem filtro, sem preparo e sem freio. Elege figuras histriônicas, descontroladas, violentas, achando que assim finalmente será respeitado. Não será. Mas repete o padrão como quem insiste em relacionamentos ruins esperando um final feliz.

Aí surge o caso Zambelli. Um enredo que mistura roteiro de série ruim com delírio institucional. A deputada se envolve com o hacker da Vaza Jato, o mesmo que implodiu a Lava Jato, e vira protagonista de mais uma crise mal explicada. Paga com dinheiro público para que ele invada sistemas do Judiciário. Arriscou causar instabilidade em processos, que são só eletrônicos agora, envolvendo todos os brasileiros. O dever dela, como deputada, seria reportar qualquer risco de invasão.

O caso de Zambelli também levanta uma questão institucional importante. Ela foi julgada por uma turma do Supremo, e não pelo plenário. Isso está errado. Zambelli é deputada federal em exercício, com mandato vigente. Um julgamento com esse impacto político e institucional não pode acontecer fora do pleno. Essa distorção precisa ser debatida politicamente. O problema não está na figura da parlamentar, mas no precedente que se abre quando o rito é atropelado. Quando a regra deixa de valer para quem está errado, ela deixa de valer para todo mundo.

Não se trata de defender Zambelli. Trata-se de defender a institucionalidade. Quando o processo se adapta ao réu, e não o contrário, o risco é de que as regras deixem de valer para todos.

Esse caso é um retrato do nosso tempo. A política virou uma guerra de torcida organizada, movida a gritos e reações emocionais. E do emocionado na política já se sabe duas coisas: não entende nada de política e os frutos daquela árvore costumam ser podres. Quem topa comer, que arque com as consequências.

A política brasileira virou isso. Um espetáculo em que os protagonistas não sabem atuar e o público aplaude a pior cena.

Cenas dos próximos capítulos virão. Zambelli pode ser cassada. Pode continuar no cargo. Pode sair do país para dar curso sobre democracia. Nada disso surpreende mais.

Mas o que fica, para quem quiser aprender, é o seguinte: se você continua defendendo o que já te fez mal, o problema não é mais do outro. É seu.

Lula, Trump, Israel e a Faixa de Gaza

A última fala de Lula sobre o conflito em Gaza não é só uma mentira grotesca. É também uma das declarações mais perversas já feitas por um presidente brasileiro em política externa. Ao dizer que Israel está promovendo um genocídio sob pretexto de combater terroristas, Lula repete um dos mais antigos e abjetos libelos antissemitas: o de que judeus matam crianças deliberadamente.

Lula estava na Rússia, foi questionado sobre o conflito na Ucrânia, e resolveu por conta própria inserir Israel e Gaza na conversa. Disse que é um genocídio porque não são dois exércitos, é um exército muito preparado do lado de Israel, matando mulheres e crianças sob o pretexto de matar terroristas. Não mencionou o Hamas. Não falou dos reféns. Não trouxe uma única palavra sobre o ataque de 7 de outubro. Nada. Silêncio total.

É impossível aceitar que um chefe de Estado se refira a um conflito tão complexo com essa simplificação criminosa. Há civis em risco dos dois lados. Há reféns sendo mantidos em cativeiro há meses. Há uma população palestina que sofre, inclusive, sob opressão do Hamas, como mostram os relatos de tortura e repressão dentro de Gaza contra civis que ousam criticar o grupo terrorista. Lula escolheu ignorar tudo isso.

A Conib, Confederação Israelita do Brasil, classificou a fala como antissemita e irresponsável. Em nota oficial, disse: “Acusar judeus de matar crianças é uma das formas mais antigas e deploráveis de antissemitismo, e é lamentável e perturbador que o presidente do nosso país siga promovendo este libelo antissemita pelo mundo”.

O Brasil historicamente sempre se orgulhou de ser um país onde judeus e árabes convivem em paz. Sinagogas e mesquitas dividem quarteirões. Comerciantes judeus e árabes são sócios em empresas e parceiros em causas comunitárias. Lula, ao importar essa guerra para cá e ao adotar um discurso tão parcial, tão desonesto e tão violento, rompe com uma tradição de equilíbrio da diplomacia brasileira.

E não é só isso. Lula tem feito do Brasil um pária diplomático. Enquanto líderes democráticos se afastam, ele prefere posar ao lado de ditadores e sanguinários. No último convescote internacional na Rússia, estava cercado de líderes autoritários e ainda ousou dizer que a Europa “deveria estar ali”.

O resultado? Nenhuma influência real. Nenhuma capacidade de mediação. Nenhuma contribuição concreta para a paz. Enquanto o Brasil perde relevância, outros países, como os Estados Unidos, seguem fazendo o que Lula prometeu e nunca entregou. Donald Trump anuncia uma viagem ao Catar e, no mesmo dia, um refém é libertado. Lula, há meses, diz que vai falar com o Hamas. Não adiantou nada.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que é crítico feroz de Israel, já pediu a libertação dos reféns e chegou a chamar os líderes do Hamas de “filhos de cachorro”. Contrasta com a fala de Lula.

O Brasil está sendo arrastado para a irrelevância internacional por um presidente que não entende o que diz e, pior, não mede as consequências do que fala. Um presidente que joga sua biografia e a reputação do país no lixo em nome de um discurso ideológico tosco, raso e perigoso. E, no final, a pergunta que fica é: Lula está levando o Brasil para onde? A resposta dá medo.

Conheça o novo submundo do crime digital: você sabe o que seu filho faz na internet?

É hora de uma reflexão honesta: você sabe mesmo o que seu filho faz na internet? A pergunta pode parecer exagerada, mas não é. O submundo do crime digital está dentro de casa, nos fones de ouvido dos adolescentes, nas telas dos jogos e nas conversas em grupos fechados. E a maioria dos adultos não faz ideia do que acontece ali.

O episódio recente da ameaça de bomba no show da Lady Gaga é um exemplo. A primeira reação foi pensar em crime de ódio, terrorismo, fanatismo. Mas não. O responsável fazia parte de um dos muitos grupos que se organizam online, não por ideologia, mas por pura perversão. Outro caso recente envolveu um grupo que planejava uma live no Discord durante o domingo de Páscoa para transmitir a tortura de um morador de rua e a morte de um coelho. Isso mesmo: live. Como se fosse entretenimento.

Esses grupos são transnacionais. Em uma aula sobre o tema para autoridades, que ministrei recentemente com um delegado da Polícia Federal, vimos o caso de um grupo brasileiro coordenado por um rapaz de 17 anos, preso em Portugal. Aqui, ele não poderia ser preso. Lá, foi. Aliás, nossas polícias têm tido um trabalho incrível prevenindo tragédias e punindo culpados.

Há outros casos. Tem o que alicia meninas em chats de games, que conquista pela conversa e pela promessa de pertencimento. Em posse de nudes ou senhas delas, elas viram o espetáculo macabro para os outros integrantes da panela. Geralmente são espetáculos de automutilação ou exibição sexual, às vezes com meninas de 12 ou 13 anos.

O nome disso? Paneleiro. Se você nunca ouviu essa palavra nesse contexto, é porque você não tem a menor ideia do que seu filho faz na internet. E isso é grave.

Pais e autoridades não estão de braços cruzados, estão preocupados. Mas talvez errando o alvo. Os pais, em geral, estão mais preocupados com o discurso do influencer no Instagram ou nas outras redes. As autoridades, quando se manifestam, vão atrás do vídeo de discurso de ódio, ou discutem se um conteúdo deve ser derrubado.

Não é disso que se trata. Não é o convencimento que recruta esses adolescentes. É o vínculo social. É a rede. E esses criminosos estão infiltrados em grupos de debate político, fingindo que são militantes. Estão em grupo de dica de livro, em grupo de coach, em fórum de vulneráveis emocionais. E de lá, vão levando os jovens a grupos em que eles se sintam acolhidos. Alguns revelarão suas perversões, outros serão feitos de vítimas.

Muitos desses jovens agem como se estivessem em um jogo. Não têm empatia. E quando são presos parecem inofensivos. São chorões. Estudam. Falam línguas. Têm aparência cuidada. É a nova cara do crime.Um dos envolvidos na ameaça do show da Lady Gaga já está solto.

E enquanto isso, os pais continuam acreditando que os perigos estão na rua. Mas, hoje, a rua está dentro de casa. E se chama internet.

Na infância, nossos pais nos preparavam para os perigos da rua: cuidado com desconhecidos, não aceite carona, desconfie de estranhos. Hoje, a criança não sai mais de casa, só que os perigos entraram pela porta e os pais não sabem reconhecê-los. Proibir um adolescente de estar na internet é como proibir alguém de sair de casa em 1980. Não funciona. Vai fazer com permissão ou sem, são jovens. O que funciona é informação, conversa e vigilância real. Os tempos mudaram. A criminalidade também. Os pais e autoridades precisam acordar. A conscientização é urgente.

O que Lula fará com Lupi e Frei Chico?

Sabe o que o Lula vai fazer com Carlos Lupi, ministro da Previdência, e com o Frei Chico, irmão dele, depois do escândalo dos descontos ilegais em aposentadorias? Nada. E sabe por quê? Porque ele não precisa. Pode até trocar o ministro, mas a aliança política permanece. Não vai faltar espaço no governo para os envolvidos.

Lula não precisa punir ninguém porque, para o lulofetivo, ele pode tudo. O lulofetivo é assim: não precisa de argumento, só de uma desculpa. E a desculpa que encontraram já está circulando. Dizem que na época do Bolsonaro roubaram mais. Mentira. Metade do rombo de seis bilhões de reais aconteceu só no ano passado, no governo do PT. A fraude começou em 2016.

O escândalo é tão baixo que nem os petistas conseguem defender de forma direta. Estamos falando de dinheiro tirado de velhinhos, de aposentados, de pensionista. É o tipo de crime que mexe até com quem já se acostumou com escândalo. Os petistas saem correndo para achar alguma narrativa que possa funcionar, mas não cola porque este é um daqueles escândalos que atingem o fundo moral de qualquer sociedade.

E o mais revoltante é que quem comandava o INSS até a semana passada não era político indicado. Era funcionário de carreira, há mais de vinte anos no órgão. Ganhava bem. Tinha estabilidade. Era alguém que conhecia o sistema por dentro e mesmo assim se envolveu ou permitiu que o esquema acontecesse.

Isso já aconteceu antes. A geração dos anos 1990 lembra da Jorgina de Freitas, que deu o maior golpe da história do INSS até então. Foi presa, solta, e ainda teve a coragem de reclamar da cobertura do caso na imprensa. E mesmo com aquele escândalo enorme, ninguém aprendeu. Ou, pior: quem aprendeu entendeu que compensava delinquir.

É esse o país que a gente tem. Um país em que ser honesto parece coisa de trouxa. Em que funcionário concursado, com salário garantido, resolve roubar porque sabe que dificilmente será punido. E, mesmo se for, não terá a vida destruída como tem qualquer cidadão comum que comete um deslize.

Mas o mais revoltante deste caso é que agora querem que cada aposentado lesado entre sozinho na Justiça para tentar reaver o valor perdido. Não existe uma devolução automática. O aposentado vai ficar na fila. Vai morrer na fila. E o dinheiro não vai voltar.

Por que os sindicatos, muitos deles envolvidos na origem dos desvios, não se organizam para devolver esse dinheiro? Ganharam de volta o imposto sindical no governo do PT. Muitos se beneficiaram diretamente desse esquema. Se ainda existe algum sindicato sério no Brasil, agora é a hora de mostrar. Organizem a devolução. Criem um fundo. Corram atrás dos responsáveis. Se algum sindicato fizer isso, sou capaz de passar a defender sindicato.

O truco das tarifas de Trump: coloque seus filhos para estudar Mandarim

Trump chamou de Liberation Day, mas o tarifaço que ele propôs contra a China pode muito bem ser chamado de Make China Great Again. Ainda não está claro para ninguém o que exatamente vai sair disso. Eu recomendo matricular os filhos em aulas de Mandarim.

Quem está dizendo que já entendeu tudo são os doidinhos de sempre, os fugitivos do CAPS da política. Aquela turma que não estuda o tema, não trabalha com o tema, não trabalha com política mas acha que sabe tudo. Estão no mesmo nível de quem assiste futebol e se acha técnico.

Quem realmente acompanha política com seriedade ainda está tentando entender as motivações e, principalmente, as consequências das tarifas. As bolsas do mundo inteiro estão em pânico. Isso porque ninguém conseguiu calcular ainda o prejuízo, nem as maiores empresas americanas.

Hoje, para fazer um lápis, o grafite vem de um lugar, a madeira de outro, a tinta de outro, a montagem de outro. A cadeia produtiva é mundial. Serviços também. Tem empresa americana com atendimento ao consumidor feito por call centers na Índia. Isso vai ser tributado como? Vai ser tarifado como Índia ou como Estados Unidos? A conta está sendo refeita. E ninguém sabe ainda o tamanho do estrago.

Aqui no Brasil, como sempre, temos políticos sem o menor respeito pela população. E o brasileiro aceita. Vive num relacionamento abusivo com a classe política. Sabe aquela situação em que a pessoa te maltrata, você vai cobrar, e no final é você que sai pedindo desculpa? É assim.

Tem político que finge que nada está acontecendo. E tem os que dizem: “Vamos retaliar!”. É risível. É como se, numa briga de rua, um brutamontes de 1,90 m sacasse um estilete, e você entregasse um estilete para sua filha de 3 anos dizendo: “Vai lá, enfrenta ele!”. Essa é a ideia do Brasil “retaliar” os EUA. Mesmo instrumento, nenhuma chance.

E, no meio disso tudo, o Lula aparece com aquele tom de sempre: “tá tudo certo, tá tudo bem”. Vi um pronunciamento do primeiro-ministro de Singapura. Ele disse, com serenidade: “Ainda não sabemos o tamanho do impacto. Mas a ordem mundial está mudando. Aquela estabilidade criada após a Segunda Guerra está ruindo”. Mesmo que revogue todas as tarifas, Donald Trump já queimou um ativo valioso dos Estados Unidos: previsibilidade.

Em Singapura explicaram com calma e transparência ao povo, dizendo que os impactos negativos e também positivos acontecerão e ainda não podem ser previstos. Aqui? Nada. Não teremos esse tipo de esclarecimento. E, pior, ninguém vai cobrar. Porque o brasileiro já aceita tanto absurdo de político que nem exige mais que eles se comportem feito gente grande.

Agora eles roubaram as manifestações do povo

Político brasileiro rouba tanto que agora roubou até a manifestação do povo. Quem lembra das passeatas de 2013 a 2016 sabe do que estou falando. Aquelas sim eram do povo. Político tentava entrar e era escorraçado. Teve até cena famosa: Aécio Neves sendo expulso da passeata pelo impeachment da Dilma. Era espontâneo, era indignação real. E teve efeito.

Político tem medo de povo na rua. E povo só bota medo se não tiver político liderando. Passeata com político na frente não mete medo em ninguém. A manifestação do Boulos não bota medo na direita. E a do Bolsonaro, mesmo cheia, também não bota medo na esquerda. Por quê? Porque político não tem medo de outro político. Medo eles têm é do povo sozinho. O povo que não aceita ser comandado, que não aceita ser paquita de político.

O que a gente vê hoje é que o brasileiro cansou. As ruas agora são das torcidas organizadas de político. É gente que sempre quis ser cadelinha de alguém. Que sempre precisou de um dono. Porque, se não fosse assim, o Brasil não estava na lama em que está. A verdade é essa.

Muita gente fala que é pelos presos do 8 de janeiro. Porque as penas foram desproporcionais, porque aquilo foi um absurdo. E eu digo: se você acreditou nisso, te fizeram de otária. A manifestação é para salvar a pele dos políticos, que estão virando réus agora. Passaram dois anos e ninguém foi pra rua pedir anistia. Justo agora que os políticos estão no alvo é que virou urgência? Coincidência não é.

E ainda tem outra: anistia não é para pessoa. Não existe anistia para os presos do 8 de janeiro. O que existe é anistiar a conduta. Ou seja, dizer que tudo aquilo pelo que foram condenados não é mais crime. E por que agora? Porque agora os políticos vão ser julgados pelas mesmas coisas. Eles não estão nem aí para o povo que foi preso. Estão se protegendo.

Se quisessem justiça para o povo do 8 de janeiro, fariam outra coisa. Lembrariam que esses processos têm que ser julgados na primeira instância. Que cada um deve responder pelo que fez. Que o STF não é o foro adequado pra julgar esses casos. Isso seria o certo. Isso seria o que o cidadão de bem quer. Mas isso não atende aos interesses dos políticos.

E é por isso que eu digo: manifestação puxada por político é perda de tempo. Reivindicação se faz com povo organizado e demandas claras, sem tutela política. Estão confundindo isso com micareta de homenagem a populista.

Luladay ou #Bolsonaroday? Na política brasileira, todo dia é primeiro de abril

O Brasil caminha a passos largos para oficializar o primeiro de abril como feriado político nacional. A cada dia, a mentira é tratada como narrativa legítima. A verdade, como afronta. E o mais assustador é o quanto isso se naturalizou. Tornou-se regra. Tornou-se método. Quem diz a verdade é perseguido. Quem inventa versões convenientes, aplaudido.

Essa inversão começa com a figura mais nociva da política recente: o fã de político. Uma legião de aduladores que decidiu tratar Lula e Bolsonaro como santos modernos. Acordam e dormem defendendo seus líderes, sem jamais questionar. E se alguém ousa criticar qualquer um dos dois, recebe na hora o rótulo. Gado, traidor, isentão, fascista. Não importa o conteúdo do que foi dito. Importa apenas se favorece ou não o político promovido a santo.

Houve um tempo em que criticar governo era esporte nacional. E nem estamos falando de democracia consolidada. Na ditadura militar, falar mal do governo em casa era hábito de gente de todos os matizes políticos. Hoje, basta discordar de um político para ser tratado como ameaça. A crítica virou heresia. E quem critica é punido com difamação.

A apoteose da imbecilidade também criou a ideia de que quem votou em alguém não pode reclamar da pessoa. Também não pode se arrepender. Como se mudar de opinião fosse falha de caráter. Como se errar em uma eleição obrigasse o sujeito a manter o erro pra sempre, só pra não dar o braço a torcer. O resultado disso é uma população que prefere perder, mas ter razão. Que não quer melhorar o país, só confirmar que estava certa. Se ninguém mudar de opinião, não precisa mais de eleição, o resultado sempre será o mesmo.

Enquanto isso, políticos mentem. E mentem com tranquilidade. Sabem que têm uma base fiel que vai repetir qualquer coisa. Mentiras são justificadas. Verdades, editadas. E, se nada funcionar, inventa-se um ataque contra o crítico, só pra desviar o assunto. Funciona. Sempre funcionou.

O que muda agora é que essa dinâmica virou padrão. Todo mundo entrou no jogo. Quem não aceita esse teatro é tratado como alienado. Ou vendido. Ou “isentão”, o novo xingamento favorito dos fanáticos. Como se não querer ser trouxa fosse motivo de vergonha. Como se o cidadão que rejeita ser manipulado por político fosse o problema.

A verdade é simples: o brasileiro não ficou mais politizado. Ficou mais histérico. O debate político virou fofoca de novela. É baseado em print, vídeo editado, conversa de grupo e xingamento. E é nessa lama que os políticos prosperam. Porque quanto menos gente pensa, mais fácil é mentir. Enquanto houver torcida organizada de político, todo dia será primeiro de abril.