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Madeleine Lacsko

Sobre Madeleine Lacsko

Jornalista há 26 anos, especializada em Cidadania Digital, colunista do UOL e está à frente do projeto Cidadania Digital na Gazeta do Povo. Atuou como Consultora Internacional do Unicef Angola na campanha que erradicou a pólio no país, diretora de comunicação da Change.org para a América Latina, assessora no Supremo Tribunal Federal e do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp. Trabalhou na Jovem Pan e Antagonista.

Entre o ridículo e o inaceitável: teatro dos repatriados é cortina de fumaça para a falência do governo Lula

É inadmissível ver políticos e parte da imprensa tratando como novidade um processo de deportação que ocorre há mais de 40 anos. Sim, há mais de 40 anos, brasileiros deportados dos Estados Unidos chegam algemados nos voos de repatriação. Isso não é algo novo, mas foi transformado em espetáculo político, numa tentativa clara de criar uma cortina de fumaça para desviar a atenção dos problemas reais do governo Lula.

Antes de mais nada, a deportação de brasileiros ilegais segue acordos internacionais. Quem está em situação irregular nos Estados Unidos pode ser enviado de volta ao Brasil, e isso acontece de forma rotineira. Não importa se a pendência é judicial ou apenas documental, os acordos entre os dois países permitem esse retorno. E, na prática, muitos que atravessaram fronteiras ilegalmente, enfrentando riscos com jornadas perigosas, acabam até no lucro ao evitar prisões nos EUA.

O grande destaque dessa discussão virou o uso das algemas. Para muitos brasileiros, a imagem de repatriados algemados nas mãos e nos pés é impactante e humilhante, mas isso ocorre porque estamos acostumados a uma realidade onde algemas são raramente usadas, mesmo em presídios de segurança máxima. Nos Estados Unidos, é diferente: algemas são protocolo em voos de deportação e têm como objetivo evitar brigas, tentativas de fuga ou autolesões. Ela faz parte de processos de repatriação dos EUA para todos os países.

O problema maior não é o uso das algemas, mas a forma como o governo Lula e a imprensa amiga tentaram transformar isso em um evento inédito. Jornalistas experientes já documentaram esse procedimento há décadas. Fernando Rodrigues, que foi correspondente da Folha em Nova Iorque, postou as reportagens que ele próprio fez nos anos 1980 sobre brasileiros repatriados dos Estados Unidos. Nada mudou de lá para cá. A deportação sempre foi feita dessa forma, sem grandes mudanças.

E é aqui que entra o teatro. O governo, que adora acusar os outros de espalhar fake news, criou sua própria fake news ao afirmar que o uso das algemas viola o tratado entre Brasil e Estados Unidos. Isso é falso. O tratado menciona condições dignas para os repatriados, mas não há qualquer menção específica ao uso de algemas. É uma questão cultural e protocolar, aceita pelo governo brasileiro em diversos mandatos, incluindo os 4 do PT e a metade do terceiro governo Lula, aquela em que os EUA eram governados por Biden.

Curiosamente, foi necessário surgir Donald Trump no cenário político para o PT demonstrar um súbito interesse pela dignidade dos repatriados brasileiros. Durante todos os outros governos, especialmente de democratas, não houve qualquer indignação pública do PT ou da imprensa amiga em relação ao tratamento dado a imigrantes ilegais. Chegam voos mensalmente, até dois por  mês. Pode-se até imaginar: se essas deportações estivessem ocorrendo em um governo democrata, o PT não diria uma palavra, e a esquerda que agora finge defender direitos humanos nem tocaria no assunto.

Arrisco dizer que, se Kamara Harris tivesse sido eleita, poderia até deportar os brasileiros algemados do lado de fora do avião. Lula, a imprensa amiga e os “todes” aplaudiriam.

A situação beira o ridículo. Fingir que algo corriqueiro é novidade para rivalizar com Trump revela a falta de coerência e seriedade do governo. Mais do que isso, reforça a percepção de que a indignação é seletiva e conveniente. No final, o que vemos é uma tentativa de criar um teatro político para esconder os reais problemas que o governo Lula enfrenta: crise econômica, falta de resultados e uma comunicação cada vez mais desconectada da realidade.

O teatro dos repatriados não passa de mais uma cortina de fumaça. Enquanto isso, o brasileiro segue pagando o preço pela falência de um governo que tenta transformar banalidades em escândalos para desviar o foco de suas próprias crises.

Foto: REUTERS/Adriano Machado

Governo Lula e uma estranha obsessão por fake news e redes sociais

O governo Lula parece obcecado com as redes sociais e o que chama de “fake news”. O objetivo, no entanto, não parece ser combater desinformação mas silenciar quem não se submete ao discurso da esquerda. Essa obsessão não é novidade, o PT sempre teve o sonho de regular a mídia. Quem não se lembra de Lula tentando expulsar do Brasil um repórter do New York Times por publicar algo que ele não gostou?

A diferença agora é que o contexto mudou. Sem prosperidade econômica para sustentar sua popularidade, o governo tenta compensar com controle de narrativa. Muitos que votaram em Lula o fizeram com a memória das geladeiras compradas e das viagens feitas no passado. Só que a realidade atual é muito diferente e o governo não consegue esconder isso. Quando o cidadão vai ao mercado, sente no bolso o peso da inflação e a carestia. Não há rede social ou discurso que transforme um carrinho vazio em fartura.

E o que o governo faz diante desse cenário? Insiste em narrativas desconectadas da realidade. Declarações como “não vamos taxar as blusinhas” ou “não haverá imposto sindical” são rapidamente desmentidas pelos próprios atos do governo. Com a regulamentação do PIX, da qual o governo desistiu, virou uma lambança. Tomaram um 7 x 1 do deputado Nikolas Ferreira nas redes e agora prometem sair processando quem promoveu “desordem informacional”. O que seria isso? Não sei. Maldosos diriam que falar mal do governo entra no escopo. Não creio.

A falta de coerência também aparece em questões como o sigilo. Enquanto planejava vigiar movimentações financeiras da população, os gastos e visitas de Janja e Lula são protegidos por sigilo de cem anos. Como o governo pode pedir confiança do povo quando pratica essa disparidade?

O foco nas redes sociais também é revelador. O PT quer calar vozes contrárias, algo que sempre esteve em sua agenda. Hoje, porém, essa censura tenta maquiar a realidade de um governo que não entrega o que prometeu. Na segurança pública, o cenário é de crime desenfreado e discursos vazios. Na economia, promessas de não aumentar impostos são quebradas constantemente. A cada nova mentira, a confiança no governo se dissolve.

E o que o governo faz? Tenta culpar as redes sociais e os críticos. Mas quanto mais o Lula aperta essa história de controle, pior fica para ele. A realidade não se esconde com mordaças. Não há narrativa que supere a sensação de insegurança nas ruas, os preços altos no mercado ou a desconfiança no governo.

No final, o governo Lula colhe o que plantou. Apostar em censura e controle não vai melhorar sua imagem. E, sinceramente? Eu acho é pouco.

Lula não desmente fake news de Maduro

O episódio envolvendo Nicolás Maduro deixa claro que a luta do governo Lula contra a desinformação não passa de um pretexto. O que o governo quer, na verdade, é calar quem não se submete à cartilha da esquerda. E a prova está aí: enquanto memes são investigados pela Polícia Federal, uma declaração internacionalmente absurda do ditador venezuelano foi recebida com silêncio pela diplomacia brasileira.

Maduro, que há anos governa a Venezuela por meio de repressão, prisões políticas e desaparecimentos forçados, soltou uma declaração bizarra: afirmou que o exército brasileiro seria seu aliado em um ataque a Porto Rico. A reação do governo brasileiro? Nenhuma. Nem uma nota para desmentir, nenhum comentário que afastasse o Brasil dessa declaração surreal.

“Mas é tão absurdo que nem precisa desmentir”, dizem alguns. Discordo. Se o governo se dá ao trabalho de investigar memes criados com inteligência artificial, vídeos humorísticos e piadas de grupos de WhatsApp, por que ignorar uma declaração feita por um chefe de Estado? Essa omissão diz muito mais do que qualquer comunicado oficial. Quem cala consente.

Não é como se o Brasil fosse um mero espectador no cenário internacional. Fomos um dos poucos países a enviar representantes à posse recente de Maduro, consolidando o apoio a uma eleição amplamente considerada fraudulenta. Esse gesto, aliado ao silêncio diplomático diante da fala sobre o ataque a Porto Rico, transmite ao mundo a mensagem de que o Brasil está alinhado às ações do ditador venezuelano.

O que temos aqui é uma contradição gritante. Enquanto o governo Lula alega liderar uma aliança internacional contra a desinformação, ignora desinformações graves e internacionais como a de Maduro. Esse comportamento expõe uma estratégia antiga: usar o discurso contra fake news como uma desculpa para controlar o que se diz internamente, sufocando qualquer voz que não se alinhe ao PT.

Isso não é novidade. Desde que o partido chegou ao poder, a desinformação foi usada como ferramenta política. Assassinatos de reputação, narrativas distorcidas e rotulações estão no manual de operação. Quem não elogia Janja e quem não celebra Lula é automaticamente rotulado como extremista, bolsonarista, ou qualquer outro termo conveniente para deslegitimar o adversário.

Enquanto isso, a narrativa de que o governo luta contra a desinformação desmorona quando se observa sua seletividade. É prioritário investigar um meme de quinta série, mas não desmentir uma declaração que implica o Brasil em uma guerra internacional. Isso demonstra que a preocupação não é com a verdade, mas com o controle do discurso.

No final, fica claro que a estratégia do governo não está funcionando. Cada vez que tenta calar vozes críticas internamente mas se ajoelha diante de ditadores lá fora, o governo Lula perde ainda mais legitimidade. E o brasileiro já percebeu: não há como liderar uma luta pela verdade enquanto se ignora as mentiras que realmente importam.

Governo Lula passa da metade sem ter descido do palanque

Estamos na metade do governo Lula 3, mas a sensação é de estar assistindo a um daqueles filmes intermináveis. Você pensa estar nos cinco minutos finais mas descobre que a história mal começou. O problema é que, enquanto o tempo passa, o governo parece mais perdido do que cego em tiroteio. É um espetáculo de promessas, discursos e palanque. Ação mesmo, pouquíssima coisa. O Lula 3 está sendo descrito por muitos como pior do que o Dilma 2. E o motivo é claro: ele nem começou a governar.

O Brasil vive um governo que ainda não desceu do palanque. Lula continua falando, prometendo e não fazendo. Enquanto isso, o país segue com uma economia fragilizada, um dólar fora de controle, e um Executivo que simplesmente não se encontra.

Para piorar, estamos passando vergonha internacional com uma figura que não tem cargo, função ou responsabilidade, mas aparece em eventos oficiais porque casou com o presidente. Janja, ao invés de simbolizar algo novo, apenas reforça uma lógica machista: a mulher que é enfiada em espaços de poder por causa do marido. E aí vem o discurso de ressignificação do papel de primeira-dama, como se isso fosse algo positivo. Ressignificar o quê? A falta de vergonha na cara?

O grande problema do governo Lula não é apenas a inércia, mas o fato de ser liderado por uma figura que sempre evitou sucessores. Lula é a clássica liderança pé de manga: onde ele está, nada cresce à sua sombra. Ao longo dos anos, o PT foi perdendo quadros capacitados, muitos deles envolvidos em escândalos como o Mensalão e o Petrolão. E o que sobrou? Um partido sem novas lideranças e um país que entregou o poder de volta a um político que tem vivido de fazer campanha permanente.

Olhando para frente, o cenário não é mais animador. Lula vai continuar no palanque. Sem um sucessor à vista, o plano parece ser repetir a fórmula em 2026. Mesmo que isso signifique o país afundar mais dois anos no caos e na estagnação.

Enquanto isso, a estratégia será transformar qualquer crítico em extremista. Já começou: se você não apoia Lula ou Janja, é automaticamente jogado no rótulo de “extrema-direita”. Reputações estão sendo atacadas, como no caso de Ângela Gandra, recém-nomeada para uma secretaria em São Paulo, que foi alvo de críticas absurdas, pintada pela esquerda psiquiátrica como se fosse uma extremista.

Essa narrativa já está desgastada. A popularidade de Janja, por exemplo, segue em queda livre. Quanto mais ela aparece, mais rejeição enfrenta. E o governo, que mal conseguiu vencer a última eleição, está repetindo os erros que levaram à desconfiança popular. O foco continua em atacar opositores enquanto o Brasil aguarda ações concretas.

Os próximos dois anos prometem ser complicados. Depois de dois anos de incerteza, podemos estar à beira de dois anos de inferno político. Um governo sem direção, somado à militância mais barulhenta tentando coagir o debate público e direcionar as próximas eleições, forma uma combinação perigosa. A pergunta que fica é: até quando o Brasil vai aceitar essa lógica de palanque eterno? 2026 está chegando, e é hora de começar a pensar em como evitar que essa história se repita.

Só a matemática e o antidoping salvarão o Brasil

Só a matemática e o antidoping, juntos, podem ser a salvação do Brasil. Não há outra explicação para as discussões que estamos vendo em torno da reforma tributária. Ou a pessoa não entende matemática básica, ou está dopada. Aliás, em muitos casos devem ser as duas coisas ao mesmo tempo.

A prova disso é a bagunça geral. Até sites de fofoca, que normalmente se dedicam a flagrar traições de famosos ou criar polêmicas sobre a vida alheia, resolveram entrar no tema da reforma tributária. Para quê? Para bater no deputado Nikolas Ferreira, que está contra a proposta. Dá pra acreditar?

Fico pensando: será que não tem uma separação de casal para noticiar? Nenhuma atriz resolveu falar que faz algo ousado no sexo só pra chamar atenção? Nenhum famoso foi flagrado traindo? Não. O jeito foi recorrer à reforma tributária e ao Nikolas Ferreira. Jamais sugeriria que o PT estaria instrumentalizando artistas e sites de fofoca para reforçar sua narrativa, né? Nunca. Só parece que tá faltando fofoca no Brasil mesmo.

Voltemos ao problema da reforma tributária: o mais grave de tudo é que estamos a caminho de pagar o maior imposto do mundo. O Brasil aceita isso como se fosse normal. E pra quê? Pagar o maior imposto do mundo deveria significar viver em um país onde o serviço público funciona impecavelmente. Mas o que temos em troca? A segurança pública é uma tragédia, saúde e educação básicas precisam ser pagas no setor privado, e andar com celular na rua virou risco de vida. Qual o retorno? O que justifica pagar tanto?

Ainda assim, é importante saber que há um outro lado da questão. Alguns dizem: “não é o que a gente queria, mas é melhor do que nada.” A reforma é mais ou menos como uma Novalgina para alguém atropelado por uma betoneira. Não resolve o problema, não coloca o paciente de pé, mas é melhor do que nada. E, no Brasil, onde o caos tributário é a regra, só a perspectiva de saber exatamente quanto imposto estamos pagando já é um avanço. Hoje, a maioria das pessoas não faz ideia de quanto paga. Isso só é possível porque o país não ensina matemática de forma eficiente. Se soubéssemos calcular, talvez houvesse protestos diários nas ruas.

O que a reforma traz, de fato, é mais clareza. Muitos dizem que, ao verem com mais nitidez o tamanho da carga tributária, as pessoas talvez comecem a reagir. Mas será que isso basta?

Lula não cansa de falar que sempre sonhou com uma reforma tributária que tire dos ricos para dar aos pobres. Mas uma coisa é certa: a reforma Robin Hood, redistributiva, nunca vai chegar com o PT. Lula é quem mais governou o país neste milênio, três vezes. O PT teve outros dois mandatos. Se não fez a tal reforma quando a economia estava em alta, não vai fazer bem agora, quando está arrastando o país para o buraco.

Foto: REUTERS/Orhan Qereman

A Queda de Assad, o ditador da Síria

Tiririca estava enganado. Pior do que está fica sim. E o brasileiro precisa aprender essa lição, ainda que ela se repita exaustivamente diante dos nossos olhos. É verdade que estamos longe das tragédias de proporções inimagináveis como as da Síria, um país que vive uma realidade de devastação completa. Mas será que aprendemos com a experiência? Ou continuamos na perigosa prática de querer “tirar tudo que está aí” sem refletir sobre o que colocar no lugar?

A Síria é um exemplo doloroso do que pode acontecer quando as mudanças são feitas sem rumo ou estratégia. Décadas de ditadura brutal dos Assad deixaram um legado de destruição, sofrimento e um fluxo migratório que supera os grandes desastres das últimas décadas, como o genocídio de Ruanda. Países vizinhos como o Líbano receberam tantos refugiados sírios que hoje uma em cada cinco pessoas no país é parte desse êxodo. No Brasil, as histórias dos refugiados que chegam são de cortar o coração, relatos de famílias destruídas, vidas desfeitas, um trauma humano que não se apaga.

Com a queda do regime de Assad, muitos celebram o fim de um ciclo de horror. Mas comemorar o fim não significa ter certeza de que o futuro será melhor. O que virá a seguir? Um grupo islâmico radical no poder? Uma guerra interna entre facções rebeldes? Talvez, na tentativa de sobreviver, o novo governo suavize seu discurso para manter alianças estratégicas com Rússia e China. A verdade é que ninguém sabe. Mesmo diante da barbárie, ainda pode haver um subsolo de terror, um degrau mais baixo no que a humanidade é capaz de fazer em crueldade e destruição.

E aqui no Brasil, o que temos? Não enfrentamos guerras ou terrorismo, mas convivemos com uma prática política desastrosa: trocar o ruim pelo pior. O brasileiro, cansado – e com razão – das mazelas do presente, frequentemente abraça soluções precipitadas e pensa pouco no que vem depois. O mantra de “tirar tudo o que está aí” tem sido recorrente, sem a preocupação de avaliar se o que será colocado no lugar resolverá, de fato, os problemas. E isso não é exclusividade de uma eleição ou de um partido. É um padrão.

O aprendizado que deveríamos tirar de exemplos como a Síria é simples, mas profundo: mudanças precisam de foco e planejamento. Não basta eliminar algo ruim, é preciso saber o que colocar no lugar. Nós não estamos em guerra nem lidamos com o terrorismo. Se realmente quisermos, conseguimos planejar mudanças.

Pense nisso. As escolhas de hoje determinam o futuro de 2026 e além. Se não formos cuidadosos, o Tiririca terá sua frase eternamente contestada pela nossa própria realidade. Pior do que está fica. E sempre pode ficar ainda mais.

Efeito Lula: Adivinhe de quem é a culpa pela alta do dólar

A militância petista tenta a todo custo emplacar a narrativa de que a alta do dólar é culpa do Banco Central ou, quem sabe, do “mercado que não quer que o pobre coma”. É uma tentativa patética de distorcer a realidade, especialmente em tempos de redes sociais, onde contradições são rapidamente expostas. Afinal, não faz muito tempo que a mesma militância responsabilizava diretamente Jair Bolsonaro pela valorização da moeda americana.

O curioso é como o mercado é transformado em um personagem quase mitológico, dotado de emoções e preconceitos. De acordo com essa visão, ele seria uma figura maligna, “surtando” com o emprego dos pobres ou conspirando para agravar a desigualdade social. Essa tentativa de personalizar o mercado não é apenas risível, mas também perigosa. Ela desvia o foco de análises racionais e simplifica um sistema complexo a uma caricatura que só serve para alimentar a polarização. O mercado não é um ser emocional; é um reflexo da confiança – ou falta dela – nos rumos de uma economia. Suas flutuações respondem a incentivos, políticas e expectativas, não a caprichos ou preconceitos.

A verdade é que o impacto da alta do dólar vai muito além do turismo internacional. Ele está presente na mesa das famílias brasileiras, nas prateleiras dos supermercados e no orçamento apertado de uma população endividada. Mais de 70% das famílias brasileiras já enfrentam dívidas, e a desvalorização da moeda só agrava essa realidade. Quem faz compras percebe: as pessoas conversam sobre não conseguir levar tudo o que precisam. Planejar o futuro ou sonhar virou um luxo inalcançável para a maioria.

Se isso não bastasse, o governo parece incapaz de propor saídas reais. Lula lidera um governo politicamente encalacrado, incapaz de aprovar cortes necessários e focado em compensações financeiras que só aumentam a desconfiança no mercado. Em vez de tocar reformas estruturais, como a administrativa, que poderiam trazer estabilidade a longo prazo, prefere sacrificar quem mais precisa. Exemplos não faltam: corte de isenções fiscais para portadores de doenças graves, aumento de impostos sobre bens básicos e, é claro, a incapacidade de mexer nos privilégios de uma elite do funcionalismo público.

Reformas são urgentes, mas ninguém quer pagar o preço político de implementá-las. O resultado é um país que continua afundado em contradições, onde o discurso populista ignora a realidade econômica. Enquanto isso, o brasileiro vive entre a satisfação de ter razão ao prever um governo desastroso e a tristeza de não ver saída.

Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

O governo Lula encontra-se em uma encruzilhada perigosa: a promessa de cortar gastos paira no ar como um mantra político, mas a ação parece eternamente adiada. A popularidade do presidente está em queda, conforme indicam as pesquisas, e o prazo para lidar com a crise econômica está se esgotando. Com um governo fragilizado, sem poder de barganha e refém de um Congresso pouco cooperativo, a pergunta central é clara: como será feito esse corte?

Os desafios são imensos. De um lado, há um funcionalismo público abarrotado de privilégios e salários desproporcionais, ironicamente defendidos por um Judiciário que consome uma fatia considerável do orçamento e exige ainda mais aumentos. Do outro, uma economia debilitada, onde as famílias brasileiras estão atoladas em dívidas enquanto o governo parece mais preocupado em ampliar benefícios para quem já tem demais.

Enquanto isso, a única ação concreta do governo foi escancarar a lista de empresas e influenciadores que usufruem de incentivos fiscais questionáveis. Nomes como Felipe Neto, Virgínia e gigantes empresariais figuram nessa lista, expondo isenções que somam centenas de milhões de reais. Esses privilégios fiscais, justificados originalmente pela pandemia, seguem sendo renovados como se fossem indispensáveis. É um deboche com o cidadão comum, que luta para comprar itens básicos enquanto assiste ao governo patrocinar luxos desnecessários.

A questão mais amarga é que, mesmo diante dessa pressão, o governo parece incapaz de enfrentar os problemas estruturais do país. Prometer reforma administrativa é quase um esporte olímpico entre os políticos brasileiros, mas tirá-la do papel significa mexer com interesses instalados em todas as esferas do poder. Quem está “mamando” nas benesses do Estado dificilmente abrirá mão de seus privilégios. Assim, a reforma administrativa segue sendo uma ideia platônica: admirada, mas jamais realizada.

O problema vai além da inação. Existe uma narrativa conveniente de que cortar gastos equivale, automaticamente, a retirar recursos dos mais pobres. Esse discurso, embora popular, é utilizado para mascarar a incapacidade de mexer nas estruturas que realmente consomem o orçamento público. Não é uma questão de prejudicar programas sociais, mas de enfrentar privilégios profundamente enraizados. No entanto, essa tarefa hercúlea parece estar fora da agenda do governo Lula.

Enquanto isso, a economia cobra seu preço. A avaliação de um presidente é inevitavelmente atrelada ao bolso do povo. Quando os brasileiros estão viajando, comprando eletrodomésticos ou fazendo churrasco, o governante é visto como um sucesso, mesmo que ele tenha pouco a ver com essa prosperidade. Mas quando os preços disparam e até o iogurte vira item de luxo no carrinho de compras, o cenário muda rapidamente. O atual governo está sentindo esse impacto: a promessa de picanha e cerveja na mesa se transformou em um símbolo de decepção.

A grande ironia é que o governo Lula conta com um escudo poderoso: o silêncio de boa parte da imprensa. Se fosse Bolsonaro, certamente haveria um massacre midiático diário. Dois anos prometendo cortes que não chegam seriam motivo de editoriais inflamados e críticas incessantes. Para Lula, entretanto, a paciência parece infinita. Essa blindagem, no entanto, não engana o povo, que sente na pele os efeitos da falta de ação.

Resta saber se o corte de gastos sairá do campo das promessas antes que a conta chegue. E ela sempre chega. Caso contrário, não será apenas a popularidade de Lula a desabar. Será o brasileiro comum que pagará, mais uma vez, pelos erros de um governo que insiste em adiar o inevitável.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

O Brasil, sob o governo Lula, já escolheu de qual lado ficará na disputa geopolítica mundial entre democracias e autocracias. E a resposta é clara: estamos alinhados ao eixo autocrático. A decisão foi consolidada com uma série de acordos que colocam o país em sinergia com o projeto global da China, mesmo que isso seja convenientemente disfarçado por discursos sobre interesses meramente comerciais.

A nova dinâmica foi celebrada pela embaixada chinesa, que não perdeu tempo em anunciar que as relações entre Brasil e China atingiram “um novo patamar”. Isso inclui a formação de um grupo de trabalho para alinhar as políticas de desenvolvimento brasileiras à Nova Rota da Seda, o plano de expansão econômica e política do governo chinês. A adesão oficial não foi anunciada, mas os mais de 40 acordos assinados, incluindo áreas sensíveis como inteligência e satélites, já indicam o caminho.

O discurso público do governo brasileiro, no entanto, joga com a ambiguidade. A narrativa oficial tenta afastar preocupações, enfatizando a natureza “comercial” da parceria. É a típica estratégia de soft power usada pelo governo chinês: sugerir um afastamento para não alarmar, enquanto os fatos mostram o contrário. Quem questiona esse alinhamento é rapidamente taxado de exagerado ou bolsonarista, como se fosse impossível criticar a aproximação com uma ditadura sem cair em extremos ideológicos.

O que muda?

Mas o que realmente muda com esse novo alinhamento? Não é apenas uma questão de acordos econômicos. É sobre os valores que o Brasil está disposto a endossar.

A China é uma autocracia que reprime dissidentes, proíbe religiões, mantém campos de concentração para a minoria Uigur e censura qualquer oposição. Essa postura ficou evidente durante o G20, realizado em território brasileiro, quando seguranças chineses foram rápidos ao intervir com manifestantes e jornalistas. E o governo brasileiro? Permaneceu calado.

Essa omissão não é apenas simbólica, ela reflete o novo posicionamento estratégico do Brasil. Ao ignorar ações antidemocráticas em seu próprio território, o país dá um recado claro sobre suas prioridades. Não se trata apenas de pragmatismo econômico, mas de uma escolha ideológica: sacrificar a transparência e os valores democráticos em nome de benefícios comerciais e alianças políticas convenientes.

“Anti-patriotismo”?

E quem critica essa aproximação com autocracias? Os apoiadores do governo rapidamente transformam qualquer crítica em uma afronta ao Brasil. A estratégia é conhecida: alinhar discordâncias a um discurso de “anti-patriotismo”, como se questionar relações com ditaduras fosse um ataque ao país e não uma defesa de seus princípios.

Paralelamente, a oposição política parece incapaz de formular uma resposta eficiente. Em vez de um discurso claro e fundamentado, opta por uma retórica do “eu avisei”, que mais parece birra de quinta série do que uma defesa séria da democracia.

O alinhamento do Brasil com a China de Xi Jinping não é um fato isolado, mas parte de um movimento maior que redefine o papel do país no cenário global. A questão não é apenas econômica, mas moral e estratégica. O governo Lula deve ser transparente sobre o custo dessa escolha porque os impactos não se limitam a balanças comerciais ou parcerias de infraestrutura. Eles dizem respeito ao tipo de nação que o Brasil deseja ser.

Democracia não se defende com boas intenções ou discursos genéricos. Ela exige ação consistente, clareza e coragem para enfrentar as consequências de escolhas difíceis. O tempo dirá se o Brasil optará por isso ou se contentará com a conveniência de alianças que comprometem os valores que uma democracia deveria sustentar.

O retorno triunfal de Trump e a humilhação da militância woke

Há algo de fascinante, quase tragicômico, na forma como as elites progressistas dos últimos anos se posicionam como sinônimos de democracia, virtude e justiça social. “Nós somos a democracia”, proclamam. Mas qualquer força política que se autointitule dona desse conceito está, na verdade, cavando sua própria cova. Democracia não aceita monopólios, nem mesmo o da virtude.

Os chamados woke, que dominam o debate público nas elites progressistas, não são apenas autoritários, são insuportáveis. A tentativa de encapsular as minorias numa “senzala ideológica” onde todos devem marchar no mesmo ritmo e repetir o mesmo discurso não só é um fracasso estratégico como uma traição à própria ideia de diversidade.

Negros, latinos, mulheres, gays e trans precisam pensar igual. Quem define como pensar? A panelinha de sempre. O clube do “todEs”, liderado por militantes que se comportam como meninas más de colégio rico, armadas com seus gritos de “racista!”, “fascista!”, “homofóbico!”. Quem ousa desviar minimamente do script é cancelado sem piedade.

E foi precisamente essa postura que levou o woke ao chão – humilhado, debochado e ignorado – nas eleições mais recentes dos Estados Unidos. Donald Trump não só sobreviveu ao apocalipse moral que previram, como expandiu seu eleitorado em minorias que, ironicamente, os progressistas juravam representar. O aumento do voto latino para Trump é um tapa na cara de quem achava que podia determinar o que cada grupo deveria pensar.

E as elites não entenderam nada. “Como pode alguém votar no Trump?” Essa pergunta, repetida em tom de indignação por muitos, revela mais sobre a incapacidade cognitiva de quem a formula do que sobre as escolhas do eleitorado.

Eis o ponto: você pode não gostar de Trump, mas precisa ser intelectualmente honesto para entender por que alguém vota nele. Se você não consegue, é porque está tão preso à sua bolha de virtude que prefere acreditar que o mundo é burro ou manipulado. É mais fácil culpar fake news ou a “maldade inerente” das pessoas do que encarar o fato de que, talvez, o problema seja você.

A obsessão identitária que contaminou o progressismo fez com que minorias fossem vistas não como indivíduos com vozes próprias, mas como blocos homogêneos que devem seguir o dogma imposto pelos iluminados do woke. É um projeto autoritário disfarçado de empatia. E o mais irônico? Quem mais odeia os woke são as próprias minorias que eles dizem defender.

O partido democrata deu espaço demais para essa maluquice e agora paga o preço. A Kamala Harris até que tentou, manteve distância do todEs na campanha. Mas a torcida, ah, a torcida é um desastre. Os woke funcionam como aquele fã-clube tóxico que arruína a imagem de qualquer famoso. Eles acham que estão salvando o mundo, mas estão apenas arrancando a soco espontaneidade das pessoas em nome de uma suposta virtude coletiva.

E, quando os resultados vêm, a surpresa é inevitável. Eles não percebem que são odiados. Que suas posturas são vistas como arrogantes, condescendentes e absolutamente insuportáveis. A resposta para o desastre? Trocar o povo. Se o povo não concorda com eles, o problema é o povo. Eles nunca têm culpa. Afinal, possuem o monopólio da virtude. Se estão sendo rejeitados, só pode ser por fake news, manipulação ou pela maldade intrínseca do outro.

E então devemos cancelar o woke? Não defendo que sejam cancelados, eles têm o direito de falar e de viver segundo seu sistema de crenças como qualquer seita. Defendo que sejam reconhecidos pelo que são: uma seita radical de filhinhos de papai que confundem militância com bullying. Eles podem existir, podem gritar seus “todEs” à vontade. Só não podem ser levados a sério. Não mais.

O que vimos nos Estados Unidos não foi só uma vitória de Donald Trump. Foi o maior tombo do woke. Uma humilhação pública. Quem sabe, um marco para uma mudança de ventos. Ninguém aguenta mais ser julgado por meninas más de colégio rico fantasiadas de militantes.