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Madeleine Lacsko

Sobre Madeleine Lacsko

Jornalista há 26 anos, especializada em Cidadania Digital, colunista do UOL e está à frente do projeto Cidadania Digital na Gazeta do Povo. Atuou como Consultora Internacional do Unicef Angola na campanha que erradicou a pólio no país, diretora de comunicação da Change.org para a América Latina, assessora no Supremo Tribunal Federal e do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp. Trabalhou na Jovem Pan e Antagonista.

Senado aprova voto de censura a chanceler alemão por falar a verdade sobre a COP 30

O Brasil conseguiu transformar um alerta internacional em farsa diplomática. Em vez de reconhecer falhas e aproveitar a oportunidade para preparar a COP 30 com o mínimo de seriedade, o governo Lula escolheu teatralizar indignação contra uma crítica que era verdadeira. Friedrich Merz, líder alemão, afirmou que os alemães que participaram da COP da Amazônia em Belém ficaram contentes ao ir embora. A frase parece ríspida, mas descreve com precisão o que qualquer participante do evento testemunhou. Belém não ofereceu estrutura mínima. E o pior ainda estava por vir.

A reação do governo brasileiro expôs mais do que sensibilidade ferida. Lula respondeu que Merz deveria ter visitado um boteco no Pará. Janja declarou que o alemão foi infeliz e insinuou que ele estava na cidade apenas a passeio. O curioso é que essa interpretação só faz sentido se presumirmos que a COP da Amazônia foi planejada como roteiro de turismo político. Talvez esse seja o problema de origem. O próprio discurso de Lula sobre a COP 30 tem sido o de um anfitrião que quer exibir a Amazônia como atração exótica. Janja reforça a mesma lógica em diversas entrevistas. Parece que o governo imagina que chefes de Estado viajam para contemplar cenários, não para participar de uma conferência decisiva sobre o futuro climático do planeta. A resposta que deram a Merz diz muito sobre o que Lula e Janja devem fazer nas viagens internacionais.

A situação degringolou quando o Senado brasileiro aprovou um voto de censura contra Merz. Não houve mentira, ofensa deliberada ou desinformação. Houve crítica. E houve verdade. Transformar essa crítica em ofensa nacional é o subdesenvolvimento convertido em coreografia oficial. O Brasil não se incomodou com o vexame que produziu, mas sim com o fato de alguém tê-lo notado. É como se a função do Estado fosse obrigar o mundo a participar da fantasia, nunca da realidade.

A verdade é que os relatos vindos de Belém não podiam ser mascarados. Calor insuportável, filas absurdas para conseguir água, falta de energia elétrica, ambientes improvisados, participantes passando mal. Vídeos mostram estandes que não resistiram à chuva. A estrutura que mais tarde pegaria fogo custou pelo menos 211 milhões de reais. Um montante que, na prática, só comprou risco. O ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que incêndio pode acontecer em qualquer lugar. É verdade. Acontece em qualquer lugar onde um evento internacional é entregue a pessoas que confundem logística com vitrine e responsabilidade com marketing governamental.

É aqui que entra o ponto central. A COP 30 já nasceu com uma herança tóxica produzida pelo próprio governo brasileiro. Em vez de compromisso, oferece cosmética. Em vez de planejamento, oferece performance. Em vez de autocrítica, oferece constrangimento alheio. O que queimou em Belém não foi apenas uma estrutura. Foi uma oportunidade de ajustar rumos antes que o mundo estivesse presente, olhando tudo de perto.

Deus é brasileiro e por isso a COP da Amazônia terminou apenas como fiasco. Não como tragédia. O evento já havia sido alvo de alertas da ONU quando manifestantes invadiram a estrutura, toda revestida de tecido e materiais inflamáveis. As autoridades sabiam dos riscos. Mesmo assim, insistiram na encenação. Se Deus não fosse brasileiro, estaríamos discutindo hoje vítimas fatais, não apenas o desempenho diplomático do governo.

A COP 30 é um retrato fiel do Brasil. A parte que Deus fez e cuida é deslumbrante. A parte que entregamos aos políticos é um acúmulo de improviso, vaidade e irresponsabilidade. Ainda assim, o governo preferiu reagir como quem foi afrontado por uma crítica injusta, quando a única injustiça real é com o próprio país. Belém não falhou porque foi criticada. Belém falhou porque foi mal administrada e porque o PT, no seu quinto mandato neste século, jamais cuidou como deveria do desenvolvimento da Amazônia.

TikTok vai entregar dados dos usuários para o governo?

A pergunta não saiu de um blog conspiratório, mas da Forbes. A revista revelou que o TikTok alterou discretamente sua política de atendimento a requisições governamentais nos Estados Unidos, ampliando a possibilidade de compartilhar dados de usuários não apenas com forças de segurança, mas também com “autoridades regulatórias, quando relevante”, e enfraquecendo a promessa de avisar o usuário quando seus dados forem entregues ao governo.

Questionada repetidas vezes se compartilha ou não informações com o Departamento de Segurança Interna e com a ICE, agência responsável pela imigração e alfândega, a empresa simplesmente se recusou a responder. Só depois da publicação da reportagem o TikTok enviou uma nota oficial à Forbes.

Disse o chefe de comunicação corporativa global, Nathaniel Brown: “Esta matéria enganosa distorce e sensacionaliza deliberadamente a forma como lidamos com solicitações legais, apenas para gerar cliques. O fato é que o TikTok avalia cuidadosamente esses pedidos com base em nossas diretrizes públicas para autoridades policiais e divulga informações de forma transparente e regular sobre como respondemos a eles”.

A frase é um primor do discurso padrão das Big Techs: acusa a reportagem de ser enganosa e sensacionalista, fala em diretrizes públicas, transparência e relatórios regulares. Mas não responde à pergunta central. A empresa não nega ter mudado a política, não explica por que ampliou a margem de compartilhamento com o governo e, principalmente, não diz se entrega ou não dados de usuários à ICE. Quando uma plataforma de alcance global responde assim, o problema já não é tecnológico. É político.

Essa não é a primeira vez que o TikTok se vê no centro de um incêndio geopolítico. Em 2022, ao analisar o avanço da tecnologia chinesa, mostrei como a China passou a usar sua infraestrutura digital como um Cavalo de Troia do século XXI. O Estado chinês prevê a presença de representantes do Partido Comunista dentro das empresas, inclusive privadas. Nunca houve democracia na China. Não se discute liberdade individual como valor central. O que importa é coletivismo, paz social e progresso econômico. Nesse modelo, dados não são apenas insumo de negócios. São ferramenta de poder.

Naquela coluna, lembrei que o Parlamento britânico decidiu desativar sua conta oficial no TikTok por temor de que o governo chinês pudesse acessar os dados. Não era paranoia. Era a consequência lógica de uma investigação sobre violações de direitos humanos contra a minoria uigur e o uso de tecnologia como instrumento de pressão política. Mais tarde, o governo Biden reforçou sanções a empresas como Huawei e ZTE, reconhecendo que a tecnologia chinesa é parte de uma disputa de poder global.

Em 2023, outro capítulo. O TikTok teve de admitir publicamente que funcionários da ByteDance espionaram jornalistas nos Estados Unidos, rastreando localização e acessos de profissionais que investigavam a empresa. O que antes era tratado como teoria conspiratória virou fato: a plataforma foi usada para vigiar quem fiscalizava seu comportamento. Ali ficou impossível sustentar a narrativa inocente de “rede de vídeos divertidos”.

Agora, a reportagem da Forbes não fala da China, mas dos Estados Unidos. Mostra que o aplicativo ajustou sua política para facilitar a cooperação com o governo americano, especialmente após negociações para continuar operando no país. A discussão deixa de ser apenas “China espionando o Ocidente” e passa a ser algo mais desconfortável: qualquer grande plataforma, em qualquer lugar do mundo, tende a ceder quando um governo poderoso bate à porta pedindo dados de usuários.

Ele foi processado pelo MPF por chamar Lula, que já foi presidiário, de ex-presidiário

O caso é simples, público e, ainda assim, sintomático. O advogado pernambucano Thomas Crisóstomo foi denunciado pelo Ministério Público Federal por ter escrito em uma rede social que “a EBC virou um cabide de emprego para a mulher do ex-presidiário Lula”.

O MPF afirma que a expressão ofenderia a honra do presidente. A denúncia não questiona o fato em si, apenas o direito de dizê-lo. Lula foi condenado em segunda instância, preso por 580 dias e depois beneficiado pela anulação dos processos por questões processuais, sem revisão de mérito. O dado histórico é objetivo: Lula foi preso, então é, literalmente, um ex-presidiário. Ainda assim, o Estado decidiu transformar a frase em delito.

O MPF chegou a oferecer um acordo de não persecução penal a Thomas Crisóstomo. Ele recusou. Disse que não admitiria reconhecer culpa por algo que é fato público, sustentado documentalmente e inserido no debate político. A recusa é o ponto mais importante dessa história. Quantos outros, com medo, tempo curto, recursos escassos ou filhos pequenos para sustentar, aceitaram calar? Quantos assinaram acordos para não enfrentar um processo, admitindo uma culpa que não existia em troca de alívio imediato? Quantos sentiram o peso do Estado e escolheram a sobrevivência ao invés da liberdade de expressão? Esse caso, público, transparente, rastreável, nos conduz à pergunta que a Gazeta do Povo tem insistido em fazer e que continua sem resposta: quantas vozes o Supremo já calou?

Não estamos falando de processos públicos como o de Thomas Crisóstomo. Estamos falando dos inquéritos sigilosos, das investigações sem réu definido, dos pedidos de quebra de sigilo que não chegam a ser tornados públicos, das medidas de restrição de fala que nunca foram sequer apresentadas ao debate democrático. Estamos falando do silêncio que não aparece no noticiário. Do silêncio sem rosto, sem nome, sem registro.

O que se vê é um Estado que se tornou minucioso na vigilância do discurso político e, ao mesmo tempo, displicente com crimes concretos. É como se a frase fosse mais relevante do que o fato que ela descreve. Como se a sensibilidade de determinadas pessoas importasse mais do que a legitimidade da crítica. A distorção é evidente: o sistema penal, que deveria proteger a sociedade contra violências reais, está sendo usado para proteger autoridades contra desconforto.

Quando o Estado deixa de punir crimes para punir palavras, ele desloca o centro moral da lei. O problema deixa de ser a conduta e passa a ser a opinião sobre a conduta. E, nesse ponto, a democracia é desfigurada. Porque a democracia exige fricção, conflito, ironia, provocação, confronto de interpretações. Não existe vida política adulta sem o direito de chamar as coisas pelo nome que os fatos sustentam.

O episódio também expõe a contradição mais profunda do discurso institucional brasileiro. A retórica oficial insiste em dizer que vivemos uma era de defesa da democracia. Mas democracia não é apenas manter eleições. Democracia é garantir que o cidadão possa criticar o governante. Mesmo quando exagera. Mesmo quando é duro. Mesmo quando fere sensibilidades. Soberania popular significa que o presidente não está acima do povo e muito menos acima da linguagem.

O que se está tutelando aqui não é a honra, mas a narrativa. E quando o Estado passa a tutelar narrativas, o resultado não é estabilidade, é medo. O cidadão começa a se perguntar o que pode ou não dizer, a medir palavras, a calcular cada vírgula antes de postar um comentário banal. A esfera pública, nesse ambiente, deixa de ser local de debate e se torna campo minado. A autocensura se torna hábito. O silêncio se torna prudência.

E é aí que a pergunta da Gazeta do Povo volta a ecoar. Se este é o tratamento dado a um caso público, registrado, conhecido, acompanhado pela imprensa, o que acontece nos casos que não chegam ao noticiário? Quantos processos, quantos inquéritos, quantas notificações foram aceitos sem questionamento para não “ter problema”? Quantos se calaram antes mesmo de falar?

O mais grave não é o que se vê. O mais grave é o que não se ouve. O processo contra Thomas Crisóstomo, no fim das contas, não é sobre a frase que ele escreveu. É sobre quem pode descrever a realidade e quem pode proibi-la. Quando o Estado decide que um fato se torna ofensivo ao ser mencionado, não estamos diante de proteção da honra, mas de controle da narrativa. E controlar a narrativa é controlar o imaginário, o horizonte das possibilidades, o próprio limite do que pode existir como pensamento público.

Por isso essa história não termina no episódio individual. Ela interpela o país. Porque uma sociedade que cala os que a descrevem se torna refém de sua própria mentira. E mentira de Estado tem consequências práticas: ela modela consensos artificiais, produz medo difuso, enfraquece a confiança social e, pouco a pouco, apaga a noção de cidadania. Não há democracia em que o cidadão precise pedir permissão para dizer o óbvio.

A pergunta volta, então, mais grave, mais urgente, mais profunda: se um comentário público, baseado em registros oficiais, pode se tornar crime, o que exatamente ainda podemos dizer? Até onde vai o perímetro do permitido? E quem o delimita?

É aqui que a questão proposta pela Gazeta do Povo ganha sua dimensão verdadeira. O caso de Thomas Crisóstomo é visível, rastreável, contestável. Mas há uma zona inteira de silêncio que se estende por inquéritos sigilosos, decisões sem publicidade, acordos aceitos por medo, autocensuras que nunca chegam às notícias. Ali está o campo mais perigoso. Não o grito reprimido, mas a voz que nunca chegou a nascer.

Se o Supremo e o sistema de Justiça não responderem claramente a essa pergunta, se não delimitarem com precisão o que é direito de crítica e o que é ataque real, se não devolverem ao debate público a coragem da divergência, o país não estará apenas cerceando palavras. Estará diminuindo a consciência e atrofiando a própria liberdade. Porque quando a sociedade se acostuma a calar, ela não cala apenas o que pensa. Cala também o que é. Uma democracia que cala o que é já deixou de existir.

Elite do Leblon critica, mas quase 90% dos moradores de favelas do Rio aprovam operação da polícia

Partido dos Trabalhadores é praticamente o único a ter governado o Brasil neste século. Foram quatro mandatos presidenciais e um quinto já no final. Nesse período, o crime organizado, que surgiu nos anos 1990, se tornou uma potência internacional. Hoje, segundo levantamentos oficiais, cerca de 26% do território nacional, incluindo parte do Rio de Janeiro, está sob domínio de facções criminosas. Só a título de comparação, na Colômbia e Nicarágua o percentual de território do crime não chega a 10%. É o retrato de um país onde o Estado foi sendo substituído por organizações armadas que impõem leis próprias, arrecadam “impostos” via extorsão, controlam o território e desafiam abertamente a autoridade pública.

A megaoperação realizada nos Complexos da Penha e do Alemão foi a mais letal da história do Rio de Janeiro. O saldo de 117 mortos expôs uma realidade que há anos vinha sendo ignorada. De acordo com a Polícia Civil, 109 corpos já foram identificados, e 78 dos mortos tinham histórico de crimes graves, incluindo homicídios e tráfico de drogas. Mais da metade dos suspeitos era de outros estados, confirmando que as favelas cariocas se tornaram o quartel-general do Comando Vermelho. Ali, as facções realizavam treinamentos de tiro e recrutamento de novos integrantes, que depois eram enviados para expandir o domínio da organização.

Pela primeira vez, os policiais foram recebidos por criminosos armados com drones que lançavam explosivos. A cena simboliza a nova escala de poder do crime organizado no Rio e reacende um debate urgente: até quando será possível tratar essas facções como simples organizações criminosas e não como grupos terroristas? Quatro policiais morreram.

Mesmo diante da violência e da tragédia, a população mais afetada demonstrou apoio à ação. Segundo pesquisa AtlasIntel, 87,6% dos moradores de favelas do Rio aprovaram a operação. São pessoas que vivem diariamente sob o medo imposto por criminosos e que sabem o custo real da ausência do Estado. Enquanto isso, parte da elite progressista do Rio, especialmente nos bairros do Leblon, da Gávea e de Ipanema, reagiu com indignação moralista.

É uma elite que gosta de posar como consciência crítica do país, mas que não tem coragem de enfrentar a realidade. Do alto de seus apartamentos, multiplica discursos sobre “genocídio” e “violência policial”, sem jamais pisar num beco dominado por fuzis. Defendem o povo, mas condenam qualquer tentativa de garantir o direito mais básico: viver sem medo. Falam de empatia, mas se recusam a ouvir quem realmente sofre com o domínio das facções.

A distância entre quem diz defender o povo e o que o povo quer é abissal. O brasileiro comum, inclusive o morador das comunidades, quer trabalhar, estudar, criar os filhos em paz e andar na rua com segurança. Quer ver o Estado recuperar o controle. Mas a elite militante insiste em enxergar cada ação policial como opressão e cada criminoso como vítima. O discurso serve para sinalizar virtude, não para enfrentar o problema.

O fenômeno é político e cultural. Durante décadas, o PT e seus aliados sustentaram a ideia de que combater o crime com firmeza seria autoritarismo. Essa visão contaminou as universidades, as redações e o debate público. Criou-se a fantasia de que o Estado deve compreender o criminoso, não reprimi-lo. O resultado é um país onde o tráfico financia campanhas, compra autoridades e dita regras em um quarto do território nacional.

A megaoperação no Rio expôs o que os brasileiros já sabiam: a paciência acabou. As pessoas estão cansadas de ser usadas como biombo moral por quem vive em segurança e lucra com a narrativa da desigualdade. Cansaram da elite que se comporta como flanelinha de minoria, oferecendo indignação sob demanda para manter prestígio entre os pares.

A segurança pública será o calcanhar de Aquiles da esquerda nas eleições do próximo ano. Porque, enquanto essa elite performa virtude, o povo real, que mora onde o Estado se ausentou, sabe que a paz só virá quando a lei voltar a valer para todos.

Político palestino critica ativistas como Greta, que ficam em silêncio sobre execuções do Hamas

Os mesmos ativistas que, durante meses, gritaram “Palestina livre” nas ruas e nas redes, desapareceram quando a paz chegou. Nenhum gesto de celebração, nenhuma palavra de alívio. A conquista que deveria representar o triunfo da causa se tornou um constrangimento. A paz desarma não apenas os fuzis, mas também as narrativas. Quando o Hamas rompeu o próprio acordo e voltou a executar palestinos em público, os que se diziam defensores da liberdade simplesmente calaram. O silêncio não foi neutralidade, foi revelação.

Enquanto o Ocidente fazia de conta que não via, uma voz palestina expôs o absurdo. Ahmed Al Khalidi, político nascido em Jerusalém, advogado e professor universitário, publicou um artigo contundente sobre a hipocrisia dos ativistas ocidentais que dizem lutar por justiça, mas terminam servindo à tirania. “Eu me sinto profundamente intrigado por um certo fenômeno ocidental: os ativistas climáticos, defensores dos direitos humanos e autoproclamados progressistas que, de alguma forma, acabam repetindo as falas do Hamas”, escreveu.

Al Khalidi desmonta o que chama de modelo mental da confusão moral ocidental. Ele explica que boa parte desses militantes precisa de uma história simples, com mocinhos e vilões. É mais fácil viver num mundo dividido entre oprimidos e opressores do que lidar com a complexidade das tragédias humanas. Para eles, os palestinos são automaticamente as vítimas, e o Hamas, a resistência. “Eles não precisam de fatos, precisam de clareza moral, mesmo que seja falsa.”

O segundo ponto de sua análise é o mais incômodo: a projeção de culpa. O Ocidente, carregado de remorso por séculos de colonialismo e racismo, transforma causas “anti-imperialistas” em rituais de absolvição. “Eles se veem como aliados dos oprimidos, mas, na verdade, não estão nos ajudando, estão lavando a própria consciência.” É uma caridade estética, feita para exibição.

Mas há algo ainda mais profundo, e Al Khalidi toca na ferida: a atração pela intensidade emocional. Para jovens que cresceram em vidas fáceis, sem frustração real, o sofrimento alheio virou palco de experimentação moral. “Eles anseiam por luta moral como outros anseiam por aventura. Confundem destruição com profundidade.” É o mesmo narcisismo que transforma causas em acessórios, slogans em identidade e o drama de povos inteiros em espetáculo.

A geração que se diz rebelde confunde exibicionismo com luta, operações de marketing com ações de libertação, palavras com ação. Criados na era do elogio automático, acostumados a nunca ouvir “não” e a receber aplausos de pais frágeis e uma imprensa deslumbrada, acreditam que postar frases, fazer dancinhas ou usar um keffieh os torna parte de uma revolução. Querem aventura, mas não sabem nem lavar um copo.

Foram jovens da mesma idade que, em 1944, desembarcaram na Normandia para libertar a Europa do nazismo. Eram meninos que enfrentaram metralhadoras, lama e medo para restaurar a dignidade humana. No século XXI, os descendentes dessa coragem acreditam estar libertando povos enquanto repetem o discurso dos opressores. É o triunfo da pose sobre a consciência.

Al Khalidi conclui: “Quando vejo esses ativistas marchando com slogans que defendem o Hamas, não vejo solidariedade. Vejo confusão psicológica disfarçada de moralidade”, A frase resume um tempo em que a empatia virou performance e o sofrimento, matéria-prima para autopromoção.

A esquerda internacional, que se diz defensora dos oprimidos, ignora que o principal inimigo dos palestinos é o próprio Hamas. E o Ocidente, em seu conforto culpado, prefere a ilusão de pureza à responsabilidade moral de enxergar o real. O artigo de Ahmed Al Khalidi é mais que uma crítica: é um espelho incômodo. O Ocidente criou uma geração de supostos defensores dos direitos humanos incapazes de qualquer tipo de empatia com vítimas reais.

Nobel para María Corina expõe para o mundo a farsa lulista de defesa da democracia

Há ironias que a história se encarrega de narrar com perfeição. O Prêmio Nobel da Paz de 2025, concedido à venezuelana María Corina Machado, é uma delas. A líder liberal, cassada e perseguida pelo regime chavista, foi reconhecida por sua luta pela restauração da democracia na Venezuela. O gesto do comitê norueguês tem peso simbólico: o prêmio mais prestigiado do mundo foi entregue a uma mulher que enfrentou o ditador Nicolás Maduro, o mesmo homem que Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a sustentar e continua a defender.

María Corina dedicou o prêmio a Donald Trump, gesto que escancarou um ponto incômodo para o progressismo internacional. O ex-presidente americano, que durante anos foi retratado como símbolo da polarização e do autoritarismo, conseguiu um feito diplomático que parecia impossível: negociar o fim da guerra na Faixa de Gaza com a devolução de todos os reféns israelenses. O acordo, mediado com o Egito e os Emirados Árabes, encerrou meses de terror e de impasse humanitário. María Corina fez questão de sublinhar isso em sua fala: “A paz real só existe quando a liberdade vence o medo”.

O gesto não foi apenas gratidão. Foi uma mensagem política clara: a coragem de enfrentar ditadores e negociar a paz exige princípios, não slogans. A atuação de Trump na resolução do conflito no Oriente Médio e na pressão direta sobre a ditadura de Maduro, incluindo novas sanções e congelamento de ativos da elite chavista, foi decisiva para enfraquecer o regime e abrir espaço para a resistência democrática venezuelana. Foi, portanto, também um reconhecimento indireto de que a liberdade na América Latina não virá dos discursos de esquerda, mas de quem ousa desafiar a tirania com resultados concretos.

O constrangimento para Lula foi inevitável. O presidente brasileiro é um dos principais aliados de Nicolás Maduro no Ocidente. Fez campanha pública por ele, aparecendo em anúncios de televisão na Venezuela. Parte dos presos da Lava Jato delatou que recursos desviados pelo PT no Brasil foram usados para financiar campanhas do chavismo. Os marqueteiros Mônica Moura e João Santana admitiram, em delação premiada, que receberam dinheiro de corrupção do Partido dos Trabalhadores para atuar na campanha de Nicolás Maduro. Em outras palavras, Lula não é apenas cúmplice político da ditadura venezuelana, ele contribuiu diretamente para instalá-la.

Enquanto María Corina Machado arriscava a própria vida para enfrentar um regime que persegue, prende e tortura opositores, Lula ironizava sua cassação. Em 2023, afirmou que o episódio era um “problema interno da Venezuela”, expressão usada há décadas por autocratas para justificar repressões. Também foi irônico e machista ao tirar sarro, dizendo que ela estava chorando demais, deveria escolher outro candidato quando Maduro impediu sua candidatura. A mulher que ele desprezou tornou-se agora símbolo mundial de coragem e democracia.

Há anos circula em Brasília um rumor persistente: o grande sonho de Lula é ganhar o Nobel da Paz. Organizações e movimentos ligados ao PT insistem nessa indicação e ele se envaidece com a ideia. Quer ser visto como o mediador universal, o estadista do diálogo, o líder que pacifica o mundo com discursos. Mas os fatos teimam em contradizê-lo. Desde que voltou ao poder, duas mulheres que enfrentaram ditadores amigos de Lula ganharam o prêmio. Em 2023, a iraniana Narges Mohammadi, presa por denunciar a opressão dos aiatolás. Em 2025, María Corina Machado, vítima do chavismo que ele ajudou a financiar.

O Nobel, neste caso, é mais que um prêmio. É um veredito. Mostra ao mundo que a verdadeira defesa da democracia não vem de cúpulas governamentais nem de líderes que se proclamam pacificadores enquanto aplaudem tiranos. Vem de quem paga o preço da liberdade com a própria vida.

A esquerda adora repetir que está do lado certo da história. O problema é que a história, de vez em quando, decide responder. E quando o faz é implacável. O Nobel da Paz de 2025 mostrou o que o marketing lulista tenta esconder: enquanto Lula cultiva a fantasia de pacificador global, são as vítimas de seus aliados que conquistam o reconhecimento moral do mundo. A história, afinal, tem um senso de justiça que nenhum comitê partidário é capaz de manipular.

Por que a mídia não fala do genocídio cristão na Nigéria?

Bill Maher não é conhecido por suavizar opiniões. Comediante, roteirista e apresentador de televisão, há décadas provoca polêmica em seu programa Real Time with Bill Maher na HBO. Frequentemente ácido em relação à fé cristã, surpreendeu parte da audiência ao destacar, em setembro, uma tragédia que raramente ocupa espaço no noticiário internacional: o massacre de cristãos na Nigéria.

“Não sou cristão, mas eles estão matando sistematicamente os cristãos na Nigéria”, afirmou Maher. “Eles já mataram mais de 100 mil desde 2009. Já queimaram 18 mil igrejas. Isso é muito mais uma tentativa de genocídio do que o que está acontecendo em Gaza. Eles estão literalmente tentando exterminar a população cristã de um país inteiro. Onde estão os jovens protestando contra isso?”

A contundência da fala quebrou o silêncio ensurdecedor da grande imprensa. E a pergunta se espalhou rapidamente pelas redes sociais: por que uma crise humanitária dessa magnitude só veio ganhar visibilidade porque um comediante ateu a mencionou na televisão? Onde estão os correspondentes internacionais, os repórteres investigativos e as manchetes indignadas que surgem quando o tema interessa às agendas de poder?

Os dados estão disponíveis há anos. A Open Doors, organização internacional dedicada a apoiar cristãos perseguidos, coloca a Nigéria como o sétimo pior país do mundo para quem professa a fé em Cristo. Não é um ranking simbólico: ali morrem mais cristãos do que em qualquer outro lugar do planeta. O último relatório da entidade afirma que os ataques não são episódios isolados, mas parte de uma campanha sistemática de extermínio religioso. Boko Haram, ISWAP e milícias de pastores Fulani seguem um roteiro conhecido: homens executados em praça pública, mulheres sequestradas e violentadas, aldeias inteiras queimadas, igrejas demolidas. O saldo é um país com milhões de deslocados internos, famílias vivendo em campos improvisados, sem comida, sem abrigo e sem perspectivas.

Em junho, o massacre no Estado de Benue escancarou mais uma vez essa realidade. Milicianos armados atacaram comunidades cristãs durante a noite e deixaram mais de duzentos mortos. “Eles mataram muitos do nosso povo, incluindo vários da família do meu marido”, relatou Imma, sobrevivente que perdeu parentes diante de seus olhos. Outro sobrevivente, chamado Simon, descreveu como os militantes incendiaram armazéns onde mulheres e crianças dormiam. O fogo consumiu tudo. O terror, porém, não se limita a esses números: cada ataque deixa comunidades inteiras deslocadas, aterrorizadas e sem condições de recomeçar.

Nada disso é um acidente histórico. Desde a independência, a Nigéria viveu como uma república costurada às pressas. Em 1914, os britânicos unificaram territórios que até pouco antes compunham o império islâmico do Califado de Sokoto. Após a Primeira Guerra Mundial, a incorporação do norte dos Camarões aumentou ainda mais a população muçulmana do país. Essas linhas de tensão nunca foram resolvidas. Quando, em 1999, o retorno da democracia permitiu que doze estados do norte instituíssem a sharia, a perseguição religiosa tornou-se política de Estado. Blasfêmia e apostasia passaram a ser crimes punidos com violência, criando terreno fértil para que grupos terroristas atuassem com a complacência ou a omissão das autoridades.

O resultado é o que se convencionou chamar de genocídio silencioso. Dezenas de milhares de cristãos foram assassinados na Nigéria apenas neste século por causa da fé. As cifras são brutais e contínuas. A cada semana, igrejas são atacadas, missas interrompidas por explosões, aldeias invadidas. A cada mês, centenas de viúvas e órfãos engrossam um êxodo invisível aos olhos do noticiário global.

E aqui entra a contradição mais gritante. O Reino Unido, os Estados Unidos e a União Europeia, que fazem discursos inflamados sobre a defesa de minorias, mantêm-se praticamente em silêncio sobre a perseguição de cristãos na África. As mesmas vozes que se levantam para denunciar o antissemitismo, a islamofobia ou a homofobia não parecem se comover com a realidade de cristãos negros assassinados em massa. A indignação é seletiva. O discurso da inclusão, que deveria ser universal, se dobra diante de interesses geopolíticos e narrativas convenientes.

Por que a imprensa brasileira também escolheu ignorar essa realidade? Se não há Israel ou judeus no meio, não interessa? Ou será que, no imaginário das redações, negros cristãos na África não se encaixam na categoria de minoria digna de proteção? Seriam os “defensores de minorias” racistas enrustidos? São perguntas incômodas mas inevitáveis. Porque, enquanto editoriais discutem hashtags e causas passageiras, homens e mulheres são executados na Nigéria apenas por professar a fé em Jesus.

O genocídio cristão na Nigéria não é uma nota de rodapé, é um dos maiores dramas humanitários do século XXI. Expõe a hipocrisia de quem se apresenta como guardião da diversidade, mas fecha os olhos para o massacre de uma comunidade inteira. Silenciar diante disso é, no mínimo, cumplicidade. Afinal, quantos corpos precisam se acumular para que a palavra “genocídio” seja usada com a mesma veemência que já se aplica a outras causas? Até quando a vida dos cristãos africanos será considerada descartável na lógica seletiva da indignação ocidental?

O escândalo do vazamento de conversas privadas do Grok e do ChatGPT

O vazamento de dados envolvendo o chatbot Grok, da empresa xAI de Elon Musk, e a indexação de conversas do ChatGPT pelo Google trouxe à tona uma das discussões mais importantes sobre inteligência artificial: a segurança das informações que compartilhamos com sistemas desse tipo. A diferença entre os dois episódios é significativa, mas ambos revelam o grau de exposição a que estamos sujeitos ao usar essas ferramentas.

No caso do Grok, todas as conversas de usuários ficaram disponíveis em resultados de pesquisa do Google, o que significa que conteúdos trocados em um ambiente que deveria ser privado foram completamente expostos. O ChatGPT, por sua vez, não teve um vazamento de dados sigilosos, mas enfrentou críticas ao permitir que chats compartilhados voluntariamente pelos usuários fossem indexados pelos mecanismos de busca. Embora não seja uma falha de segurança no mesmo nível do Grok, o episódio reforça como a noção de privacidade nesse tipo de tecnologia é mais frágil do que imaginamos.

Para entender o impacto disso, é importante diferenciar o que significa indexação. Trata-se do processo pelo qual buscadores como o Google organizam e classificam páginas e conteúdos públicos para que apareçam em resultados de pesquisa. Quando uma conversa no ChatGPT é compartilhada por um link, esse conteúdo pode se tornar acessível publicamente e, portanto, indexado.

A OpenAI já lançou atualizações para permitir que os usuários impeçam a indexação desses links, mas centenas de conversas foram expostas. O episódio serve de alerta sobre o quanto a configuração padrão e a falta de clareza em políticas de uso podem colocar dados em exposição. Já no Grok, o problema não foi uma funcionalidade mal interpretada, mas uma falha grave de segurança: conversas privadas foram parar em páginas que o Google rastreou como qualquer outra, expondo dados pessoais e interações sem consentimento.

Esses dois incidentes escancaram a quantidade de informações que essas empresas armazenam sobre os usuários e como isso pode ser transformado em um ponto de vulnerabilidade. A promessa de que a inteligência artificial tornará a vida mais prática, com assistentes virtuais cada vez mais sofisticados, vem acompanhada do risco de que esses sistemas se tornem mecanismos de vigilância em massa, seja por descuido corporativo, seja por uso mal-intencionado de governos autoritários. O que hoje parece apenas uma falha técnica pode, em outros contextos, ser a chave para perseguições políticas, manipulação social e censura.

O paradoxo é evidente: nunca tivemos tanta tecnologia para melhorar a qualidade de vida e ampliar a liberdade individual, mas essa mesma tecnologia cria ferramentas poderosas para limitar direitos. A história mostra que regimes totalitários se apoiam em meios de controle, e as inteligências artificiais levam esse controle a um nível sem precedentes.

No Brasil, o governo tem investido em mudanças na governança da internet que podem concentrar ainda mais poder. A proposta de transferir para a Autoridade Nacional de Proteção de Dados funções que hoje são exercidas pelo NIC.br e pelo Comitê Gestor da Internet segue o modelo de centralização estatal usado pela China. Essas duas entidades mantêm um sistema de governança multissetorial reconhecido internacionalmente, no qual governo, empresas, academia e sociedade civil têm voz equilibrada na definição de diretrizes para a rede. Substituir esse modelo por uma estrutura controlada por Brasília enfraquece a proteção de dados e facilita o controle político sobre a tecnologia.

A recente tentativa de regulamentação das redes sociais com base no episódio envolvendo o influenciador Felca é um exemplo. A exposição feita por ele revelou um problema real e grave de exploração infantil nas redes, mas o governo usou o caso como justificativa para avançar em projetos de controle da internet que já vinham sendo rejeitados. Essa estratégia, de se aproveitar de comoções sociais para aprovar legislações autoritárias, não é nova, mas ganha uma dimensão perigosa quando aplicada ao universo digital, onde a velocidade de disseminação de dados e a concentração de poder em poucas empresas tornam a privacidade um bem cada vez mais raro.

O que está em jogo vai muito além de preferências tecnológicas ou conveniências. É a capacidade de manter uma sociedade livre diante de corporações que lucram com nossos dados e governos que enxergam na tecnologia um meio de vigiar e punir. A revolução digital trouxe benefícios incontestáveis, mas, sem um debate sério sobre governança, privacidade e limites éticos, podemos acabar trocando liberdade por uma ilusão de segurança. O futuro da inteligência artificial não será definido apenas pelo avanço da ciência, mas pela coragem de estabelecer barreiras contra abusos de poder.

A tecnologia capaz de ler seus pensamentos já existe em Stanford

Pesquisadores da Universidade de Stanford criaram uma tecnologia que transforma atividade cerebral em palavras audíveis. O dispositivo, descrito no artigo Dispositivo cerebral que lê pensamentos internos em voz alta inspira estratégias para proteger a privacidade mental, publicado na revista Science, decodifica sinais neurais associados à fala e os projeta em frases compreensíveis por meio de inteligência artificial.

O avanço é um milagre da ciência que abre caminho para devolver voz a pessoas que perderam a fala. No mundo em que vivemos, também inaugura uma fronteira sensível: a privacidade mental. O texto alerta que “a privacidade mental pode se tornar um dos debates mais importantes sobre direitos humanos nas próximas décadas” e observa que “uma vez que a tecnologia existe, é quase impossível controlar quem a usa e para qual finalidade”.

A pergunta inevitável é como proteger aquilo que antes parecia inviolável. A privacidade de dados já era um desafio mesmo antes, quando a preocupação se limitava a cliques, histórico de navegação e metadados. A possibilidade de inferir conteúdo mental eleva o debate a outro patamar. Em democracias robustas, o mínimo é combinar salvaguardas legais claras com barreiras técnicas, como criptografia forte, limitação de coleta e protocolos verificáveis de consentimento. Em regimes autoritários, a mesma capacidade pode virar instrumento de coerção. O risco não é teórico. Sempre que novas tecnologias mudam o eixo da informação, o primeiro impulso do poder é centralizar o controle.

Esse ponto importa diretamente para o Brasil. Na última semana, após o vídeo do influenciador Felca expor a exploração digital e a sexualização de crianças com a conivência de pais em redes sociais e canais fechados, o governo apresentou a proposta de transferir, para a Autoridade Nacional de Proteção de Dados, funções hoje exercidas pelo NIC.br e pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. O NIC.br é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que administra o domínio .br, distribui endereço IP e produz estatísticas de uso da rede. O CGI.br é um colegiado multissetorial que define diretrizes para o desenvolvimento da internet no país, com assentos para governo, setor privado, academia e sociedade civil.

O problema exposto no vídeo é real e exige resposta imediata. O caminho correto envolve investigação policial, atuação do Ministério Público, cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, responsabilização de plataformas nos casos previstos em lei e educação digital de famílias e escolas. Em vez disso, o governo tenta acoplar ao clamor por proteção infantil uma mudança estrutural de governança que já defendia antes. A ideia é substituir o arranjo multissetorial por um desenho centralizado no Executivo. Na prática, isso altera freios e contrapesos e aproxima o país de um modelo de controle em que decisões críticas sobre infraestrutura, padrões e fluxos de dados passam a ser feitas só pelo governo da vez.

Essa inflexão tem efeitos concretos sobre tecnologias emergentes. Em inteligência artificial, aumenta o risco de regras nebulosas que incentivam remoção preventiva, desestimulam pesquisa aberta e criam incerteza jurídica para pequenas empresas. Em neurotecnologia, a centralização pode transformar requisitos técnicos em barreiras regulatórias, inclusive com demandas de acesso compulsório a dados altamente sensíveis. Quando o Estado concentra alavancas de governança digital, cresce a possibilidade de vigilância ampliada, inclusive por meio de integrações entre bancos de dados, sensores e sistemas de identificação.

A discussão volta ao ponto de partida. Se uma tecnologia de leitura de pensamentos começa a se tornar possível, quem deve decidir limites, salvaguardas e auditorias? O modelo multissetorial do CGI.br nasceu para equilibrar visões e impedir que um único ator capture a agenda da internet. Enfraquecê-lo em nome de uma bandeira urgente, como a proteção de crianças, é trocar soluções específicas por um cheque em branco regulatório. O resultado provável é menos transparência, mais poder discricionário e mais vulnerabilidade a usos políticos de ferramentas digitais.

Há um consenso mínimo que pode nos guiar: crimes contra crianças devem ser investigados e punidos com rigor. Plataformas precisam cumprir deveres objetivos já previstos na lei, inclusive com mecanismos de denúncia, preservação de provas e cooperação com autoridades. Famílias e escolas devem ser capacitadas em segurança digital. Nada disso exige desmontar a governança multissetorial da internet no Brasil.

Enquanto a ciência avança sobre a decodificação da fala a partir do cérebro, cabe ao país decidir que arcabouço institucional quer construir: um que proteja a última fronteira da privacidade ou um que a torne administrável por decreto. Em um mundo no qual pensamentos podem ser inferidos, a liberdade depende menos de promessas e mais de instituições que limitem o poder de quem quer que esteja no comando.

PT não tem gabinete do ódio, é gabinete do amor

O governo Lula parece querer repetir uma tática que deu certo no passado: destruir reputações. Em 2014, o alvo foi Marina Silva, e a estratégia deu a vitória a Dilma Rousseff. Mas agora o cenário é outro. Depois de mais de uma década convivendo com campanhas difamatórias, tanto no campo político quanto na indústria de “influencers” e perfis de fofoca, o público aprendeu a reconhecer esse tipo de manobra.

A tentativa da vez é contra o deputado Hugo Motta. A máquina foi acionada: perfis aliados, “jornalistas” que operam como assessores e blogueiros amigos se uniram para fazer o serviço sujo. Resultado? O nome de Hugo Motta cresceu. A ofensiva teve o efeito oposto ao planejado.

Não é nem uma avaliação moral. É uma constatação prática: não colou. E não vai colar. Não há campanha de rede social que convença o brasileiro a ir pra rua pedir mais imposto.

Ainda mais depois de ver a Controladoria-Geral da União abrir mão de bilhões em multas de empreiteiras envolvidas na Lava Jato ou o perdão dado a parte da dívida das Lojas Americanas. Se o governo não tivesse perdoado essas dívidas de bilionários e amigos, não estaria tão desesperado por arrecadação. Mas é mais fácil atacar adversários do que rever prioridades.

O ridículo chegou ao ponto de fundar o “gabinete do amor” dentro da Fundação Perseu Abramo, a fundação partidária do PT. Uma rede de comunicação paralela, bancada com verba pública e partido, que imita o que diz combater: ataques coordenados, slogans vazios, manipulação de pauta. Entenda como o PT entra nisso lendo o artigo de Wilson Lima. “Congresso inimigo do povo” virou mote, como se fosse possível reeditar a vibe AI-5 com lacração progressista.

Érika Hilton propaga fake news dizendo que Lula aprovou um benefício que ele mesmo vetou. Boulos solta frases desconectadas da realidade sobre “povo invadindo banco”. E os influenciadores repassam. Uma narrativa mal feita e que subestima a inteligência da população. A tal taxação dos “super-ricos” virou apelido para qualquer aumento de imposto.

E isso não é porque a direita opera ataquer melhor que a esquerda. Nem bolsonaristas conseguem mais fazer esse tipo de campanha funcionar. Carlos Bolsonaro, por exemplo, tentou me atacar de novo semana passada. Em 2019, isso escalava. Gente seguindo minha família na rua, ameaças reais, recado no para-brisa do carro. Hoje, a mesma tática não passa de xingamento patético nas redes. A máquina perdeu a força. Nem a direita radical está conseguindo produzir o efeito que produzia anos atrás.

E Lula? Lula está ainda mais fraco. O Lula de 2003 ou 2007 teria reagido rápido à derrota do IOF. No dia seguinte almoçaria com os presidentes da Câmara e do Senado, realinhado a base. O de agora demorou, vacilou, e quando finalmente se moveu, já era tarde. O estrago estava feito. E pior: foi causado pelo próprio governo. O ataque contra Hugo Motta saiu pela culatra. Lula saiu menor do que entrou.

Se esse é o “marketing” pró-governo, a oposição pode tirar férias. O próprio governo já está fazendo o trabalho dela.