É ensurdecedor o silêncio de quem acusava o governo anterior de querer sucatear os Correios para privatizar. O PT parece ter aprendido bem a lição. A gestão atual dos Correios é tão desastrosa que não há como tratá-la apenas como incompetência. A impressão que dá é que estamos diante de um projeto não declarado de destruição por dentro. Digo isso porque me recuso a acreditar que exista tanta incompetência no mundo. É coisa para Guiness Book.
É possível que o governo só tenha colocado um nome do grupo Prerrogativas ali, alguém despreparado, e tudo seja só lambança mesmo. Mas há um ponto em que a lambança ultrapassa os limites do acaso. Não existe incompetência suficiente para justificar o que está acontecendo. Patrocínios milionários aumentam enquanto comerciantes pelo país inteiro entram em desespero com entregas que não chegam, contratos que se perdem, prejuízos acumulados.
O problema não é só a sua encomenda que atrasa. É a economia real. É o comércio quebrando. Desde a pandemia, o sistema de entregas se tornou pilar do varejo no Brasil. Qualquer colapso afeta de pequenas lojas de bairro a redes nacionais.
O mais grave: não há qualquer definição sobre o que se pretende com isso. O governo Lula não apresentou projeto para o setor. Nem para os Correios, nem para os grandes varejistas, nem para o sistema de entregas como um todo. Na eleição, a campanha se baseou em demonizar o adversário e vender uma imagem difusa de “defesa da democracia”. Nada sobre política industrial, nada sobre logística, nada sobre modelos sustentáveis de operação.
O caso da Shein e da Shopee ilustra bem a confusão. O governo ora falava em taxar, ora recuava. No final, taxou e favoreceu os grandes varejistas brasileiros. Não é só sobre imposto. É sobre política pública. Vai privilegiar o consumidor final ou os grandes intermediários nacionais? Quem vai lucrar com o modelo escolhido? O governo não responde. Apenas improvisa, reage, recua e insiste.
Com os Correios, o cenário é ainda mais nebuloso. Enquanto os serviços colapsam, o governo promove eventos com gigantes do setor de entregas internacionais. E nada de esclarecer qual o objetivo. Privatizar? Fortalecer a empresa pública? Parceria com grandes plataformas? Nenhuma sinalização concreta.
No governo passado, a proposta de privatizar tudo parecia um delírio. Não havia um modelo a seguir de país que tem os correios completamente privatizados. Os modelos citados pelos defensores da ideia não eram de privatização total, como eles afirmavam. Mas, ao menos, havia uma proposta. Hoje, temos o pior dos mundos: sucateamento sem explicação, decisões sem transparência, e nenhuma direção clara.
Político só se organiza sob pressão. E o Brasil virou refém de gente barulhenta mas pouco eficiente. É por isso que o desmonte continua. Talvez só o tempo nos diga quais as verdadeiras intenções de Lula com os Correios.