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Madeleine Lacsko

Sobre Madeleine Lacsko

Jornalista há 26 anos, especializada em Cidadania Digital, colunista do UOL e está à frente do projeto Cidadania Digital na Gazeta do Povo. Atuou como Consultora Internacional do Unicef Angola na campanha que erradicou a pólio no país, diretora de comunicação da Change.org para a América Latina, assessora no Supremo Tribunal Federal e do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp. Trabalhou na Jovem Pan e Antagonista.

Foto: REUTERS/Orhan Qereman

A Queda de Assad, o ditador da Síria

Tiririca estava enganado. Pior do que está fica sim. E o brasileiro precisa aprender essa lição, ainda que ela se repita exaustivamente diante dos nossos olhos. É verdade que estamos longe das tragédias de proporções inimagináveis como as da Síria, um país que vive uma realidade de devastação completa. Mas será que aprendemos com a experiência? Ou continuamos na perigosa prática de querer “tirar tudo que está aí” sem refletir sobre o que colocar no lugar?

A Síria é um exemplo doloroso do que pode acontecer quando as mudanças são feitas sem rumo ou estratégia. Décadas de ditadura brutal dos Assad deixaram um legado de destruição, sofrimento e um fluxo migratório que supera os grandes desastres das últimas décadas, como o genocídio de Ruanda. Países vizinhos como o Líbano receberam tantos refugiados sírios que hoje uma em cada cinco pessoas no país é parte desse êxodo. No Brasil, as histórias dos refugiados que chegam são de cortar o coração, relatos de famílias destruídas, vidas desfeitas, um trauma humano que não se apaga.

Com a queda do regime de Assad, muitos celebram o fim de um ciclo de horror. Mas comemorar o fim não significa ter certeza de que o futuro será melhor. O que virá a seguir? Um grupo islâmico radical no poder? Uma guerra interna entre facções rebeldes? Talvez, na tentativa de sobreviver, o novo governo suavize seu discurso para manter alianças estratégicas com Rússia e China. A verdade é que ninguém sabe. Mesmo diante da barbárie, ainda pode haver um subsolo de terror, um degrau mais baixo no que a humanidade é capaz de fazer em crueldade e destruição.

E aqui no Brasil, o que temos? Não enfrentamos guerras ou terrorismo, mas convivemos com uma prática política desastrosa: trocar o ruim pelo pior. O brasileiro, cansado – e com razão – das mazelas do presente, frequentemente abraça soluções precipitadas e pensa pouco no que vem depois. O mantra de “tirar tudo o que está aí” tem sido recorrente, sem a preocupação de avaliar se o que será colocado no lugar resolverá, de fato, os problemas. E isso não é exclusividade de uma eleição ou de um partido. É um padrão.

O aprendizado que deveríamos tirar de exemplos como a Síria é simples, mas profundo: mudanças precisam de foco e planejamento. Não basta eliminar algo ruim, é preciso saber o que colocar no lugar. Nós não estamos em guerra nem lidamos com o terrorismo. Se realmente quisermos, conseguimos planejar mudanças.

Pense nisso. As escolhas de hoje determinam o futuro de 2026 e além. Se não formos cuidadosos, o Tiririca terá sua frase eternamente contestada pela nossa própria realidade. Pior do que está fica. E sempre pode ficar ainda mais.

Efeito Lula: Adivinhe de quem é a culpa pela alta do dólar

A militância petista tenta a todo custo emplacar a narrativa de que a alta do dólar é culpa do Banco Central ou, quem sabe, do “mercado que não quer que o pobre coma”. É uma tentativa patética de distorcer a realidade, especialmente em tempos de redes sociais, onde contradições são rapidamente expostas. Afinal, não faz muito tempo que a mesma militância responsabilizava diretamente Jair Bolsonaro pela valorização da moeda americana.

O curioso é como o mercado é transformado em um personagem quase mitológico, dotado de emoções e preconceitos. De acordo com essa visão, ele seria uma figura maligna, “surtando” com o emprego dos pobres ou conspirando para agravar a desigualdade social. Essa tentativa de personalizar o mercado não é apenas risível, mas também perigosa. Ela desvia o foco de análises racionais e simplifica um sistema complexo a uma caricatura que só serve para alimentar a polarização. O mercado não é um ser emocional; é um reflexo da confiança – ou falta dela – nos rumos de uma economia. Suas flutuações respondem a incentivos, políticas e expectativas, não a caprichos ou preconceitos.

A verdade é que o impacto da alta do dólar vai muito além do turismo internacional. Ele está presente na mesa das famílias brasileiras, nas prateleiras dos supermercados e no orçamento apertado de uma população endividada. Mais de 70% das famílias brasileiras já enfrentam dívidas, e a desvalorização da moeda só agrava essa realidade. Quem faz compras percebe: as pessoas conversam sobre não conseguir levar tudo o que precisam. Planejar o futuro ou sonhar virou um luxo inalcançável para a maioria.

Se isso não bastasse, o governo parece incapaz de propor saídas reais. Lula lidera um governo politicamente encalacrado, incapaz de aprovar cortes necessários e focado em compensações financeiras que só aumentam a desconfiança no mercado. Em vez de tocar reformas estruturais, como a administrativa, que poderiam trazer estabilidade a longo prazo, prefere sacrificar quem mais precisa. Exemplos não faltam: corte de isenções fiscais para portadores de doenças graves, aumento de impostos sobre bens básicos e, é claro, a incapacidade de mexer nos privilégios de uma elite do funcionalismo público.

Reformas são urgentes, mas ninguém quer pagar o preço político de implementá-las. O resultado é um país que continua afundado em contradições, onde o discurso populista ignora a realidade econômica. Enquanto isso, o brasileiro vive entre a satisfação de ter razão ao prever um governo desastroso e a tristeza de não ver saída.

Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

O governo Lula encontra-se em uma encruzilhada perigosa: a promessa de cortar gastos paira no ar como um mantra político, mas a ação parece eternamente adiada. A popularidade do presidente está em queda, conforme indicam as pesquisas, e o prazo para lidar com a crise econômica está se esgotando. Com um governo fragilizado, sem poder de barganha e refém de um Congresso pouco cooperativo, a pergunta central é clara: como será feito esse corte?

Os desafios são imensos. De um lado, há um funcionalismo público abarrotado de privilégios e salários desproporcionais, ironicamente defendidos por um Judiciário que consome uma fatia considerável do orçamento e exige ainda mais aumentos. Do outro, uma economia debilitada, onde as famílias brasileiras estão atoladas em dívidas enquanto o governo parece mais preocupado em ampliar benefícios para quem já tem demais.

Enquanto isso, a única ação concreta do governo foi escancarar a lista de empresas e influenciadores que usufruem de incentivos fiscais questionáveis. Nomes como Felipe Neto, Virgínia e gigantes empresariais figuram nessa lista, expondo isenções que somam centenas de milhões de reais. Esses privilégios fiscais, justificados originalmente pela pandemia, seguem sendo renovados como se fossem indispensáveis. É um deboche com o cidadão comum, que luta para comprar itens básicos enquanto assiste ao governo patrocinar luxos desnecessários.

A questão mais amarga é que, mesmo diante dessa pressão, o governo parece incapaz de enfrentar os problemas estruturais do país. Prometer reforma administrativa é quase um esporte olímpico entre os políticos brasileiros, mas tirá-la do papel significa mexer com interesses instalados em todas as esferas do poder. Quem está “mamando” nas benesses do Estado dificilmente abrirá mão de seus privilégios. Assim, a reforma administrativa segue sendo uma ideia platônica: admirada, mas jamais realizada.

O problema vai além da inação. Existe uma narrativa conveniente de que cortar gastos equivale, automaticamente, a retirar recursos dos mais pobres. Esse discurso, embora popular, é utilizado para mascarar a incapacidade de mexer nas estruturas que realmente consomem o orçamento público. Não é uma questão de prejudicar programas sociais, mas de enfrentar privilégios profundamente enraizados. No entanto, essa tarefa hercúlea parece estar fora da agenda do governo Lula.

Enquanto isso, a economia cobra seu preço. A avaliação de um presidente é inevitavelmente atrelada ao bolso do povo. Quando os brasileiros estão viajando, comprando eletrodomésticos ou fazendo churrasco, o governante é visto como um sucesso, mesmo que ele tenha pouco a ver com essa prosperidade. Mas quando os preços disparam e até o iogurte vira item de luxo no carrinho de compras, o cenário muda rapidamente. O atual governo está sentindo esse impacto: a promessa de picanha e cerveja na mesa se transformou em um símbolo de decepção.

A grande ironia é que o governo Lula conta com um escudo poderoso: o silêncio de boa parte da imprensa. Se fosse Bolsonaro, certamente haveria um massacre midiático diário. Dois anos prometendo cortes que não chegam seriam motivo de editoriais inflamados e críticas incessantes. Para Lula, entretanto, a paciência parece infinita. Essa blindagem, no entanto, não engana o povo, que sente na pele os efeitos da falta de ação.

Resta saber se o corte de gastos sairá do campo das promessas antes que a conta chegue. E ela sempre chega. Caso contrário, não será apenas a popularidade de Lula a desabar. Será o brasileiro comum que pagará, mais uma vez, pelos erros de um governo que insiste em adiar o inevitável.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

O Brasil, sob o governo Lula, já escolheu de qual lado ficará na disputa geopolítica mundial entre democracias e autocracias. E a resposta é clara: estamos alinhados ao eixo autocrático. A decisão foi consolidada com uma série de acordos que colocam o país em sinergia com o projeto global da China, mesmo que isso seja convenientemente disfarçado por discursos sobre interesses meramente comerciais.

A nova dinâmica foi celebrada pela embaixada chinesa, que não perdeu tempo em anunciar que as relações entre Brasil e China atingiram “um novo patamar”. Isso inclui a formação de um grupo de trabalho para alinhar as políticas de desenvolvimento brasileiras à Nova Rota da Seda, o plano de expansão econômica e política do governo chinês. A adesão oficial não foi anunciada, mas os mais de 40 acordos assinados, incluindo áreas sensíveis como inteligência e satélites, já indicam o caminho.

O discurso público do governo brasileiro, no entanto, joga com a ambiguidade. A narrativa oficial tenta afastar preocupações, enfatizando a natureza “comercial” da parceria. É a típica estratégia de soft power usada pelo governo chinês: sugerir um afastamento para não alarmar, enquanto os fatos mostram o contrário. Quem questiona esse alinhamento é rapidamente taxado de exagerado ou bolsonarista, como se fosse impossível criticar a aproximação com uma ditadura sem cair em extremos ideológicos.

O que muda?

Mas o que realmente muda com esse novo alinhamento? Não é apenas uma questão de acordos econômicos. É sobre os valores que o Brasil está disposto a endossar.

A China é uma autocracia que reprime dissidentes, proíbe religiões, mantém campos de concentração para a minoria Uigur e censura qualquer oposição. Essa postura ficou evidente durante o G20, realizado em território brasileiro, quando seguranças chineses foram rápidos ao intervir com manifestantes e jornalistas. E o governo brasileiro? Permaneceu calado.

Essa omissão não é apenas simbólica, ela reflete o novo posicionamento estratégico do Brasil. Ao ignorar ações antidemocráticas em seu próprio território, o país dá um recado claro sobre suas prioridades. Não se trata apenas de pragmatismo econômico, mas de uma escolha ideológica: sacrificar a transparência e os valores democráticos em nome de benefícios comerciais e alianças políticas convenientes.

“Anti-patriotismo”?

E quem critica essa aproximação com autocracias? Os apoiadores do governo rapidamente transformam qualquer crítica em uma afronta ao Brasil. A estratégia é conhecida: alinhar discordâncias a um discurso de “anti-patriotismo”, como se questionar relações com ditaduras fosse um ataque ao país e não uma defesa de seus princípios.

Paralelamente, a oposição política parece incapaz de formular uma resposta eficiente. Em vez de um discurso claro e fundamentado, opta por uma retórica do “eu avisei”, que mais parece birra de quinta série do que uma defesa séria da democracia.

O alinhamento do Brasil com a China de Xi Jinping não é um fato isolado, mas parte de um movimento maior que redefine o papel do país no cenário global. A questão não é apenas econômica, mas moral e estratégica. O governo Lula deve ser transparente sobre o custo dessa escolha porque os impactos não se limitam a balanças comerciais ou parcerias de infraestrutura. Eles dizem respeito ao tipo de nação que o Brasil deseja ser.

Democracia não se defende com boas intenções ou discursos genéricos. Ela exige ação consistente, clareza e coragem para enfrentar as consequências de escolhas difíceis. O tempo dirá se o Brasil optará por isso ou se contentará com a conveniência de alianças que comprometem os valores que uma democracia deveria sustentar.

O retorno triunfal de Trump e a humilhação da militância woke

Há algo de fascinante, quase tragicômico, na forma como as elites progressistas dos últimos anos se posicionam como sinônimos de democracia, virtude e justiça social. “Nós somos a democracia”, proclamam. Mas qualquer força política que se autointitule dona desse conceito está, na verdade, cavando sua própria cova. Democracia não aceita monopólios, nem mesmo o da virtude.

Os chamados woke, que dominam o debate público nas elites progressistas, não são apenas autoritários, são insuportáveis. A tentativa de encapsular as minorias numa “senzala ideológica” onde todos devem marchar no mesmo ritmo e repetir o mesmo discurso não só é um fracasso estratégico como uma traição à própria ideia de diversidade.

Negros, latinos, mulheres, gays e trans precisam pensar igual. Quem define como pensar? A panelinha de sempre. O clube do “todEs”, liderado por militantes que se comportam como meninas más de colégio rico, armadas com seus gritos de “racista!”, “fascista!”, “homofóbico!”. Quem ousa desviar minimamente do script é cancelado sem piedade.

E foi precisamente essa postura que levou o woke ao chão – humilhado, debochado e ignorado – nas eleições mais recentes dos Estados Unidos. Donald Trump não só sobreviveu ao apocalipse moral que previram, como expandiu seu eleitorado em minorias que, ironicamente, os progressistas juravam representar. O aumento do voto latino para Trump é um tapa na cara de quem achava que podia determinar o que cada grupo deveria pensar.

E as elites não entenderam nada. “Como pode alguém votar no Trump?” Essa pergunta, repetida em tom de indignação por muitos, revela mais sobre a incapacidade cognitiva de quem a formula do que sobre as escolhas do eleitorado.

Eis o ponto: você pode não gostar de Trump, mas precisa ser intelectualmente honesto para entender por que alguém vota nele. Se você não consegue, é porque está tão preso à sua bolha de virtude que prefere acreditar que o mundo é burro ou manipulado. É mais fácil culpar fake news ou a “maldade inerente” das pessoas do que encarar o fato de que, talvez, o problema seja você.

A obsessão identitária que contaminou o progressismo fez com que minorias fossem vistas não como indivíduos com vozes próprias, mas como blocos homogêneos que devem seguir o dogma imposto pelos iluminados do woke. É um projeto autoritário disfarçado de empatia. E o mais irônico? Quem mais odeia os woke são as próprias minorias que eles dizem defender.

O partido democrata deu espaço demais para essa maluquice e agora paga o preço. A Kamala Harris até que tentou, manteve distância do todEs na campanha. Mas a torcida, ah, a torcida é um desastre. Os woke funcionam como aquele fã-clube tóxico que arruína a imagem de qualquer famoso. Eles acham que estão salvando o mundo, mas estão apenas arrancando a soco espontaneidade das pessoas em nome de uma suposta virtude coletiva.

E, quando os resultados vêm, a surpresa é inevitável. Eles não percebem que são odiados. Que suas posturas são vistas como arrogantes, condescendentes e absolutamente insuportáveis. A resposta para o desastre? Trocar o povo. Se o povo não concorda com eles, o problema é o povo. Eles nunca têm culpa. Afinal, possuem o monopólio da virtude. Se estão sendo rejeitados, só pode ser por fake news, manipulação ou pela maldade intrínseca do outro.

E então devemos cancelar o woke? Não defendo que sejam cancelados, eles têm o direito de falar e de viver segundo seu sistema de crenças como qualquer seita. Defendo que sejam reconhecidos pelo que são: uma seita radical de filhinhos de papai que confundem militância com bullying. Eles podem existir, podem gritar seus “todEs” à vontade. Só não podem ser levados a sério. Não mais.

O que vimos nos Estados Unidos não foi só uma vitória de Donald Trump. Foi o maior tombo do woke. Uma humilhação pública. Quem sabe, um marco para uma mudança de ventos. Ninguém aguenta mais ser julgado por meninas más de colégio rico fantasiadas de militantes.

Lula é Kamala. Bolsonaro é Trump. E daí?

Se há algo que parece passar despercebido no calor das discussões políticas no Brasil, é a irrelevância absoluta das opiniões de Lula e Bolsonaro sobre as eleições dos Estados Unidos. Sim, isso mesmo: o que eles acham de Kamala Harris ou Donald Trump não tem impacto algum em Washington. Nenhum.

Vejamos o cenário atual. Lula, o presidente da República, declara seu apoio a Kamala como se isso fosse mover algum ponteiro na eleição norte-americana. Bolsonaro, fiel ao seu estilo, expressa abertamente seu apreço por Trump, como se os eleitores americanos estivessem ansiosos para saber o que ele pensa. Mas, honestamente, e daí? Não importa se o presidente do Brasil é fã de Kamala, Trump, ou até do Pato Donald. Lá nos Estados Unidos, isso é só ruído.

A questão é que o público brasileiro, ou pelo menos parte dele, parece incapaz de entender essa desconexão. Importamos o embate Lula versus Bolsonaro para dentro de temas internacionais como se isso fosse relevante para o eleitor norte-americano. A ilusão é de que, se um dos nossos líderes manifesta apoio a um candidato estrangeiro, ele realmente acredita estar influenciando alguma coisa. Não está. Essa dinâmica seria diferente se estivéssemos falando de um país vizinho, na América Latina. Um comentário do Brasil sobre a eleição argentina, ou mesmo paraguaia, poderia ter ressonância. Mas sobre uma potência como os Estados Unidos? É um jogo de aparências. E quem se ilude com ele é só o brasileiro.

Para ilustrar a inutilidade desse jogo, imagine se estivéssemos falando das eleições no Brasil, mas o apoio viesse de Angola. Digamos que o presidente angolano, João Lourenço, publicasse um vídeo apoiando Lula em nossa eleição presidencial. Isso mudaria o seu voto? É óbvio que não. E é óbvio que a opinião de Lula ou Bolsonaro sobre Trump ou Kamala não muda um único voto americano.

Ainda assim, seguimos nessa. Como se o mundo fosse acabar dependendo de quem ocupa a Casa Branca. “Kamala vai confiscar direitos, Trump vai erguer o muro”. Mas, vamos ser francos, o que realmente mudou quando Trump foi presidente? Ele tentou muita coisa, mas os guardrails da democracia americana, construídos e mantidos ao longo de duzentos anos, seguram qualquer um – até mesmo quem queira ou finja querer explodir o sistema. Nos EUA, o sistema é maior que o presidente. O Congresso, a Suprema Corte e as leis se mantêm intactos, segurando as rédeas da democracia. Algo que, convenhamos, não temos por aqui.

Aqui, no Brasil, a nossa democracia é frágil. Mudamos de Constituição como quem troca de roupa, o que coloca em perspectiva o quanto somos inconstantes em nossas “aventuras democráticas”. Nos EUA, há segurança estrutural. Lá, quem passa da linha, seja presidente ou peão, paga. O caso do Capitólio mostrou isso. Quem ousou desrespeitar o sistema foi punido e não foi um teatro para mostrar ao mundo “ficha limpa”. A punição foi para valer, sem essa história de salvar peixe grande e fazer show com os pequenos.

Mas, ainda assim, muitos aqui insistem em romantizar a eleição americana, como se tivéssemos que escolher lados e como se qualquer um dos lados fosse, de fato, nos representar. Sinto muito desapontá-los, mas o próximo presidente americano será irrelevante para nós. E não porque a política externa dos Estados Unidos é uma fantasia, mas porque, para eles, o que importa é o próprio sistema. Seja Trump, Kamala ou quem for, a democracia americana segue firme. Ela não precisa de salvadores; ela precisa de respeito ao que foi construído.

Então, meu conselho? Acompanhemos o show de camarote, mas sem apego emocional. No Brasil, há quem se emocione com tudo isso, com cada palavra de Lula ou Bolsonaro sobre política americana .Mas emoção, em política, nunca deu certo. E, para ser sincera, essa importação de brigas estrangeiras só serve para distrair do que realmente importa aqui.

É preciso ouvir com atenção os cineastas que se manifestaram contra a cultura woke

Chegou a hora de botar o pé na porta da cultura woke, que vem tentando calar quem ousa discordar de seus preceitos. Sim, eles vão te acusar de racista, homofóbico, transfóbico, fascista, extrema-direita e vão tentar te cancelar. Vão querer que você perca seu emprego, seu espaço. Mas a verdade é que esse movimento identitário já foi longe demais. É um movimento de mercado, de publicidade, que não atende aos interesses do povo brasileiro. Na verdade, quando essa galera woke entra pela porta, os direitos das minorias saem pela janela.

Os cineastas Newton Cannito e Josias Teófilo, que escreve na Crusoé, lançaram um manifesto sobre o tema. É preciso ler, compreender e tomar posição.

A contaminação é visível: a universidade já foi tomada, o meio artístico também. E o que temos como resultado? Uma cultura brasileira afetada, enfraquecida, e desprezada por aqueles que dizem defendê-la. Para essa turma, tudo o que o povo gosta é cafona. Eles se colocam como defensores das minorias, mas a realidade é que suas causas são desconectadas das necessidades reais do brasileiro. Enquanto eles tentam impor uma visão idealizada e elitista, o verdadeiro Brasil é desprezado.

E os judeus?

Veja o exemplo que trouxe no Narrativas Antagonista, contado por Patty Silva. Ela fala de uma professora negra, responsável por organizar um calendário de datas comemorativas inclusivas em seu departamento. Ela fez questão de incluir todos os grupos étnicos, religiosos e sociais, garantindo representatividade. Mas quando colocou um feriado judaico na lista, a turminha woke, que já mostrou sua face antissemita, a acusou de supremacismo branco. Conseguiram demitir a professora. E esse é o ponto crucial: o movimento identitário não busca inclusão, busca dominação. Quem discorda é eliminado.

O problema é que as pessoas estão levando esse discurso a sério. O exemplo que dou aqui do calendário de datas é só um entre tantos. Vejam o que aconteceu hoje: a Advocacia-Geral da União organizou um seminário sobre religiosidade africana, mas deixou de fora o cristianismo e o islamismo, seguidos por quase 90% do continente africano. Preferiram focar no que o imaginário de uma elite branca, urbana, acha que é a África. Essa versão idealizada e racista de África, que só existe na cabeça dessa gente.

Muita gente acredita que basta ignorar esses militantes woke, e que, se não dermos atenção, eles vão desaparecer. Mas isso é ingenuidade. Eles já tomaram conta da máquina pública, dos editais de cultura, das decisões políticas que afetam nosso cotidiano. E estão mudando tudo para um sistema autoritário.

E os cristãos?

Os editais de filmes, por exemplo, já não são mais decididos com base no mérito do roteiro ou na conexão com a cultura brasileira. Como Newton Cannito bem apontou, não há chance de um filme com temática cristã passar nesses editais, apesar de a maioria da população brasileira ser cristã. Mas se o filme for sobre religiões de matriz africana – ou pelo menos o que essa elite acha que é matriz africana – ele passa com louvor. Não estamos em um estado laico? Não deveríamos dar espaço para todas as religiões? Pois é. Mas a regra parece não valer para todos.

Isso já contaminou o teatro, o cinema, a música. A qualidade da arte despenca, porque o foco deixou de ser a arte pela arte. O que vemos agora são seminários disfarçados de arte, com um discurso panfletário que só interessa a uma elite que prega inclusão da maneira que só serve a eles mesmos.

O movimento woke não é militância. Ele é uma estratégia de marketing, um produto da publicidade que tomou o lugar da verdadeira luta por direitos. Em vez de incluir, esse movimento busca aniquilar todos que discordam de suas ideias que, convenhamos, são baseadas em uma visão elitista e descolada da realidade do brasileiro comum.

Passou da hora de começarmos a nos posicionar. Se você trabalha em uma empresa que tem um desses programas de diversidade, você já sabe do que estou falando. A verdadeira inclusão não passa por seguir cegamente uma agenda ditada por uma elite, mas por respeitar a pluralidade real do povo brasileiro.

Foto: Reuters/David 'Dee' Delgado

Esquerda defende e glorifica Sinwar, líder do Hamas

Estamos cometendo um erro grave ao subestimar o potencial de radicalização que um grupo como o PCO pode trazer à sociedade. Sempre que surge a questão – seja exaltando terroristas, seja organizando passeatas com suásticas – a resposta é previsível: “Ah, mas é o PCO. Quem vai levar isso a sério?” O problema é que essa visão de que se trata de uma extrema esquerda caricata, quase folclórica, impede de enxergar o verdadeiro perigo.

Existe uma crença popular que se tornou quase um mantra: “Não vou bater palma para maluco dançar.” A ideia é que, se você ignora o comportamento absurdo, ele simplesmente desaparece. Mas o que poucos percebem é que, nesse caso, o “maluco” dança com ou sem palma. Se você não interrompe o espetáculo, mais “malucos” começam a dançar. E chegamos ao ponto em que a indiferença da sociedade pode se tornar fatal.

Pequenos grupos radicais têm o poder de radicalizar. E não estamos falando de teorias. Casos concretos de terrorismo no Brasil, como aqueles planejados por dois indivíduos radicalizados pelo Hezbollah, surgem exatamente de ambientes onde grupos minoritários ganham terreno. Eles não fazem parte de grandes partidos, não têm o mesmo alcance, mas operam nas sombras, radicalizando o suficiente para causar tragédias. Estamos subestimando o impacto desses movimentos.

A radicalização pode parecer distante, coisa de um grupo pequeno, mas isso não impede que eles causem grandes estragos. Recentemente, houve casos em que jovens brasileiros foram mentorados por um ano, por criminosos no exterior, para planejar ataques em escolas. E fizeram o ataque. Grupos pequenos, com discursos violentos, podem ser altamente eficazes em radicalizar.

O PCO, a extrema esquerda, não está fora desse jogo. Tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita se alimentam de discursos violentos, sectários, e o PCO está evoluindo rapidamente nessa direção. Desde outubro do ano passado, o grupo passou de relativizar ataques terroristas para glorificar terroristas como mártires, exigindo mais mártires. Estão nas ruas com suásticas e, incrivelmente, nada aconteceu. O problema não é só o PCO. O que vemos é uma normalização desse discurso violento.

Há uma parte da militância que, até pouco tempo atrás, era composta por “Che Guevaras de apartamento.” Mas hoje, essas mesmas pessoas estão à beira de fazerem discursos neonazistas, se não o fizeram ainda. O que escrevem, o que dizem, como se comportam em relação aos judeus, nada disso parece mais pertencer a uma sociedade civilizada. Estamos vivendo algo que vai além dos limites do aceitável, mesmo dentro da precariedade de nosso sistema.

Por outro lado, temos o governo Lula. Ele se aproxima cada vez mais de regimes ditatoriais, normalizando o que deveria ser inaceitável. A situação chega ao ponto de o Talibã querer se juntar ao BRICS. E o que vemos? A primeira-dama, “empoderada,” sentada no Catar, conversando com a terceira mulher de um sheik de um país que não respeita os direitos das mulheres. O silêncio das feministas é ensurdecedor.

Estamos falando de uma mudança estrutural. O Brasil, que sempre foi neutro e um grande mediador em conflitos internacionais, agora toma partido de regimes que oprimem mulheres, minorias, e que glorificam a violência. O PCO é apenas a ponta de lança. Eles talvez digam o que outras alas da esquerda não podem dizer abertamente. É uma possibilidade. Nesse raciocínio, aos poucos, o discurso vai se tornando normal, até o ponto em que o radicalismo deixa de ser algo marginal e passa a ser aceito dentro da esquerda.

O problema é que, uma vez que essa porta estiver arrombada, colocar um trinco será impossível. Não estamos mais no momento de “abrir os olhos”, esse tempo já passou. E cada dia que ignoramos o PCO e a crescente radicalização de uma parte da militância, mais profundo será o buraco que cavamos para nossa própria sociedade.

O governo Lula está boicotando negócios de judeus? É urgente uma explicação clara

As declarações do ministro José Múcio Monteiro sobre o desrespeito aos resultados de licitações por questões ideológicas são, sem exagero, das mais graves que já ouvi em toda a minha trajetória na cobertura política. O que ele descreveu em seu desabafo contra interferência ideológica em licitações não é apenas uma irregularidade, é uma afronta direta aos princípios básicos de qualquer democracia.

Primeiro, temos a burla da licitação em si. Depois, a justificativa. Em um dos casos, da venda de equipamentos que não necessitamos e são de manutenção cara, há o medo de que os equipamentos vendidos à Alemanha possam acabar nas mãos da Ucrânia e sejam usados contra a Rússia. Putin virou parceiro estratégico do Brasil sob o governo do PT. O comércio com a Rússia foi elevado a um novo patamar após a invasão da Ucrânia, mostrando uma aliança que vai muito além de interesses econômicos, é ideológica.

Mas o problema é ainda mais profundo e toca em uma questão explosiva: o antissemitismo. Quando o ministro fala sobre Israel ganhando a licitação e o governo barrando por “questões ideológicas,” o que ele realmente está insinuando? Que os judeus não podem vencer porque isso poderia desagradar seus aliados ou chocar sua narrativa pró-Hamas? É uma lógica perigosa que ecoa um histórico sombrio.

Lula já fez várias declarações que beiram o antissemitismo desde o início do conflito no Oriente Médio. Se ele pessoalmente acredita ou não nessas ideias, pouco importa. O que importa é que, como líder de uma nação, suas palavras e ações têm consequências reais para a comunidade judaica no Brasil. Historicamente, sabemos que discursos assim são os primeiros passos para isolar e perseguir uma minoria. Quem acha que não tem nada com isso lembre-se: começa com os judeus, termina em você.

O ministro José Múcio foi claro ao dizer que o governo estava disposto a boicotar os negócios de judeus, seguindo uma lógica ideológica perversa. A história é testemunha de que atitudes como essas foram a porta de entrada para atrocidades inimagináveis. A perseguição econômica aos judeus foi o início do caminho para o Holocausto na Alemanha nazista. Não estou dizendo que Lula é nazista nem copia o nazismo. Estou dizendo que, quando um governo opta por práticas discriminatórias, ele brinca com o fogo mais perigoso.

O que é mais assustador do que as declarações em si é o silêncio cúmplice de parte da mídia, dos parlamentares e de quem deveria levantar a voz contra essa insanidade. A mesma esquerda que se diz defensora dos direitos humanos parece fazer vista grossa para o antissemitismo quando ele se encaixa nas suas agendas políticas. Como justificar esse apoio a regimes que reprimem mulheres e minorias, enquanto aqui fingem ser os paladinos da justiça e igualdade?

Não é de hoje que a esquerda identitária flerta com ideias antissemitas. Eles jogam judeus na caixinha dos “opressores” porque são brancos, ricos e colonialistas. Não importa que não sejam, a pauta identitária é divorciada da realidade dos fatos. Em nome dessa narrativa, qualquer ataque aos judeus parece ser justificado, o que é uma aberração moral e política.

Esse antissemitismo que permeia a base ideológica de alguns grupos não deveria jamais ter sido tolerado. Agora, porém, ele parece estar enraizado no coração do governo, e isso é perigosíssimo. O Congresso Nacional precisa acordar, agir com urgência, antes que o silêncio se torne cúmplice desse absurdo. Estamos diante de um desafio moral que não pode ser ignorado.

Resta saber: quem terá coragem de tomar uma atitude?

Bolsonaro teve medo de peitar Marçal, e Malafaia decidiu atacar os dois

A disputa entre Silas Malafaia, Pablo Marçal e Jair Bolsonaro é muito mais do que um simples confronto de personalidades, é uma manobra estratégica de poder. No mesmo culto em que assumiu a “missão dada pelo Espírito Santo” de derrubar Marçal, Malafaia expôs uma realidade política que muitos ignoram: ele sabe que o cenário mudou e que tanto Bolsonaro quanto Lula já não são os reis indiscutíveis do jogo político.

Malafaia, há muito calejado na política, percebeu que os líderes populistas não têm mais o mesmo impacto que antes. Eles não garantem automaticamente vitórias para seus apoiados mas, ao mesmo tempo, os candidatos não podem se dar ao luxo de falar mal deles. Em São Paulo, Bolsonaro ficou em cima do muro, com “um pé em cada canoa”, enquanto Lula ficou praticamente ausente da campanha de Boulos, mas o efeito foi o mesmo: os candidatos caminharam sozinhos.

Bolsonaro hesitou em apoiar Marçal abertamente, temendo perder apoio de sua base fiel. O presidente preferiu manter distância em várias disputas, como em Curitiba, onde Cristina Graeml concorria e ele não quis tomar partido claro para não prejudicar alianças com outros grupos políticos. Malafaia, experiente em detectar fraquezas, viu essa hesitação como um sinal claro de que Bolsonaro não está disposto a sacrificar nada pelo seu apoio incondicional.

O que ficou evidente para Malafaia é que o verdadeiro peso político dos líderes populistas, como Lula e Bolsonaro, mudou. Seus nomes continuam importantes, mas sua influência direta nas urnas está em declínio. Basta aos candidatos de direita não criticar abertamente Bolsonaro, e o mesmo vale para os de esquerda em relação a Lula. Ninguém quer brigar com eles, mas também não precisam desesperadamente de seu endosso público.

Ao perceber essa mudança, Malafaia se reposiciona de forma contundente, tentando reivindicar um espaço de poder que, segundo ele, é seu por direito. Ele entende que, para muitos, a simples ausência de crítica já basta, e que a era em que o apoio explícito de Bolsonaro ou Lula era essencial pode estar acabando.

Seu ataque calculado a Marçal e sua crítica a Bolsonaro revelam um movimento estratégico para reafirmar sua relevância no cenário político. Malafaia tenta deixar claro que, mesmo em um campo onde todos hesitam, ele está disposto a fazer o jogo pesado.