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Do Palanque ao Prejuízo

A relação entre Brasil e Estados Unidos atravessa sua pior crise em décadas, resultado direto da política de confronto adotada por Lula contra Donald Trump. Desde a eleição norte-americana de 2024, Lula transformou fóruns internacionais em palanques de hostilidade, rompendo padrões diplomáticos. Chamou Trump de “criminoso que deveria estar na cadeia” (ONU, setembro/2024), “monstro que ameaça a humanidade” (Planalto, novembro/2024) e “símbolo do fascismo moderno” (Deutsche Welle Brasil, março/2025). O ponto crítico, porém, foi sua ofensiva contra o dólar, propondo nos BRICS criar uma nova ordem financeira “sem hegemonia do dólar americano”, iniciativa que sequer encontrou endosso da Rússia: “Esta é uma ideia exclusiva de Lula”, disse Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores de Putin.

A resposta veio em maio de 2025: tarifas de 50% sobre produtos estratégicos brasileiros, como etanol, celulose e grãos – afetando US$ 10 bilhões em exportações. Ao contrário do discurso oficial que fala em “agressão à soberania”, trata-se de uma retaliação previsível à hostilidade sistemática de Lula, que misturou ataques pessoais a Trump, desprezo às instituições dos EUA e iniciativas geopolíticas antagônicas.

Pela primeira vez, os EUA reagiram às bravatas de um presidente latino-americano com força comercial. E Lula, acostumado a discursos sem consequências, agora enfrenta perdas reais. Após o tarifaço, dobrou a aposta: “Trump usa o comércio como arma porque não tem moral para negociar com democracias verdadeiras”, disse. Mas essas falas apenas reforçam o isolamento diplomático do Brasil. Washington interpretou a declaração como provocação frontal e o USTR iniciou investigação sobre o Brasil com base na Seção 301 do Trade Act de 1974, que analisa práticas comerciais consideradas injustas, discriminatórias ou restritivas.

Ao invés do confronto, outros países buscaram o diálogo: a França negociou quando ameaçada por tarifas e a China manteve canais abertos mesmo sob sanções bilionárias. Já o Brasil, por escolha política, se absteve de qualquer contato com o governo Trump. O Itamaraty ignorou o diálogo e transformou a diplomacia em trincheira ideológica.

Com suas próprias palavras, Lula isolou o país e fragilizou setores chave da economia. Produtores de etanol relatam perdas imediatas e exportadores de celulose veem contratos suspensos. “Isso é culpa do protecionismo dos ricos”, alega Lula, mas o custo recai sobre trabalhadores, não sobre os autores da retórica.

A soberania não se fortalece com discursos inflamados em cúpulas ideológicas, mas com diplomacia técnica e pragmática. O governo Lula apostou na retórica e ignorou o risco real de retaliações comerciais. O resultado não é apenas econômico – é político. Pela primeira vez, os EUA trataram o Brasil não como um parceiro complicado, mas como adversário estratégico. As tarifas de 50% são mais do que uma medida econômica: são o custo de uma política externa construída sobre confronto, bravatas e isolamento.

Para além de Bolsonaro, Moraes e STF, a imposição de tarifas contra o Brasil é resultado daquilo construído pela verborragia lulista. Trata-se de retaliação direta e calculada ao ambiente de instabilidade e beligerância verbal cultivada de forma irresponsável pelo Presidente brasileiro. Uma conta que será paga com desemprego, inflação e isolamento.

Foto: picture alliance / ASSOCIATED PRESS | Vyacheslav Prokofyev

Convescote Autocrático

Kazan foi o palco escolhido por Vladimir Putin para reafirmar sua presença internacional, mesmo que em meio a um grupo de países autocráticos. Ao hospedar a atual reunião de cúpula dos Brics às margens do rio Volga, Putin consegue driblar o mandado emitido pelo Tribunal Penal Internacional que ordena sua prisão e posa de líder ao lado de outros presidentes também polêmicos, como Xi Jinping da China e Masoud Pezeshkian do Irã.

O Brics substitui aquilo que era chamado no passado de países não alinhados, uma vez que o bloco não é uma instituição, mas apenas um grupo político que atualmente gira em torno da China, defendendo sua agenda e interesses, contrapondo-se ao G7.  Moscou e Pequim, os reais líderes, usam a oportunidade de palco informal para apoio ao chamado “Sul Global”, designação que na cartilha de seus membros substitui a antiga expressão “Terceiro Mundo” ou “países em desenvolvimento”.

O bloco recentemente passou por uma ampliação, recebendo Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã como membros plenos. Este será o 1º encontro com os chefes de governo dos novos participantes, que se integram aos fundadores, Brasil, Rússia, Índia, China e (depois) África do Sul, que se reúnem desde 2009.

Vladimir Putin usa o evento como forma de demonstrar alguma liderança internacional desde que sua imagem foi atingida com a invasão da Ucrânia. Atualmente ele está banido de reuniões nos Estados Unidos e em países europeus e busca mostrar liderança entre o chamado Sul Global, mas também na Ásia Central, onde estão localizadas as antigas repúblicas soviéticas e em regiões da África, onde divide seu imperialismo político com o domínio econômico chinês.  

Com o objetivo de diminuir o impacto das sanções internacionais contra o Kremlin, Putin aposta na redução das transações em dólares. Para isso pretende usar o Brics e seu banco, o NDB, atualmente sob comando formal do Brasil. O objetivo é forçar com que a moeda dos EUA, o dólar, deixe de ser referência no comércio e finanças globais e, assim, perca a relevância como reserva de valor. Tudo, claro, combinado com os chineses.

Liderado pela China, o palco de Putin foi montado também para mostrar a musculatura e potencial de influência das autocracias que comandam o grupo. Como forma de ampliar seu poder, porém sem perder controle decisório, o bloco procura implementar uma nova modalidade de membros associados. Participariam de reuniões, mas sem votar. Assim, a reunião decidiu receber líderes de 24 nações, como Bahrein, Belarus, Bolívia, Nicarágua, Síria, Cuba, Argélia, Venezuela, entre outros, ou seja, nenhuma que navegue de forma calma pelas águas de um regime democrático. Um movimento que deixa claro o caminho trilhado pelo Brics: um clube autocrático em ampliação.

Ao fim da celebração russa, a presidência rotativa do bloco será transferida para o Brasil, que sediará a 17ª reunião de cúpula. Seria uma oportunidade para nosso país falar de temas importantes que passam ao largo da agenda do bloco, ignorados solenemente pelos países que lideram as discussões. Ao optar pelo silêncio, democracias como o Brasil apenas chancelam a cruzada autoritária de seus membros. Na verdade, o Brics se tornou um convescote autocrático financiado por ditaduras que oprimem suas populações. Já passou da hora de repensarmos nossa presença neste clube.