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Uma força maligna do ponto de vista da democracia

O PT se converteu em uma força maligna do ponto de vista da democracia. Não que as pessoas que o compõem sejam malignas, longe disso. São pessoas normais, com virtudes e limitações como todos nós. Mas o organismo que foi se engendrando desenvolveu de modo negativo os traços militantes da primeira guerra fria (o atávico anti-imperialismo norte-americano do PT vem daí) e da luta contra a ditadura militar em condições desumanas, que impuseram extremo sofrimento aos (futuros dirigentes partidários) que se opuseram àquele regime.

Isso tudo foi racionalizado, a partir de uma visão marxista, como crença de que a história vai para algum lugar que pode ser conhecido de antemão pelos que têm a teoria verdadeira e o método correto de interpretação da realidade (o próprio marxismo), de que a luta de classes é o motor da história e de que o sentido da política é a ordem (ou seja, de que a política é guerra para implantar uma ordem mais justa) e não a liberdade (que seria a própria definição de democracia). Adquiriu assim características de uma espécie de “Irmandade Muçulmana” (de uma religião laica).

Infelizmente, o PT não conseguiu se desvencilhar dessa herança e os seus militantes mais jovens foram contaminados pelos mais velhos com o vírus de uma cultura adversarial que vê e aponta culpados ou inimigos em vez de identificar e tentar resolver problemas. A luta interna incessante entre as diversas tendências foi o campo de treinamento para produzir um tipo de agente partidário avesso à democracia como modo de vida, em que derrotar o outro tornou-se mais importante do que se comprazer na convivência com ele.

O ambiente antissocial que se configurou internamente ficou então marcado, no plano do emocionar, por ressentimento e desejo de vingança; no plano político, por hegemonismo, antipluralismo e política praticada como continuação da guerra por outros meios, quer dizer, construção continuada de inimigos (na base do “nós contra eles”); no plano moral, pela convicção de que “nós” estamos sempre do lado certo da história e que somos (moralmente) superiores a “eles” – ou seja, a todos os demais atores.

Isso tudo gerou um organismo intrinsecamente antidemocrático, embora proclame defender (e até querer salvar) a democracia, tomada, porém, como adesão sôfrega à disputa eleitoral (a guerra por votos), como promoção da igualdade (socioeconômica) como precondição para a liberdade (política), como cidadania para todos ofertada pelo Estado comandado pelo líder populista e como soberania (nacional) alçada à qualidade equiparável, se não superior, à democracia como valor (universal).


Muitos analistas, sobretudo acadêmicos, discordarão dessa apreciação. Em primeiro lugar porque são, em sua maioria, marxistas (por profissão de fé ou por profissão mesmo, conquanto alguns neguem). Em segundo lugar porque pensam que sabem o que é o PT, seja porque leram teses universitárias sobre o partido, seja porque militaram perifericamente no “partido externo” (e até hoje acreditam que são uma tendência externa capaz de influir na direção do “partido interno”). O que posso dizer? Fui dirigente nacional do partido nos seus primeiros dez anos de vida (do qual me afastei em 1994) e presenciei os movimentos iniciais de geração desse organismo que se tornou maligno do ponto de vista da democracia. A evidência mais contundente do desfecho dessa trajetória antidemocrática, trinta anos depois, é o alinhamento atual do PT ao eixo autocrático, composto pelas maiores ditaduras do planeta (Rússia, China, Irã etc.) em guerra contra as democracias liberais.ch

Democratas, populistas e autocratas

Boric (do Chile) é de esquerda, eu apoio Boric. Lacalle Pou (do Uruguai) é de direita, eu apoiava Pou. Agora Orsi (que sucedeu Boric no Uruguai) é de esquerda, eu apoio Orsi. Úrsula (da União Europeia) é dita de direita, eu apoio Úrsula. Por quê? Porque não são populistas nem autocratas. Estou pouco ligando se se dizem ou são ditos de esquerda ou de direita.

Lula (do Brasil) é de esquerda, eu não apoio Lula. Bolsonaro (do Brasil) se diz de direita, eu não apoio Bolsonaro. Petro (da Colômbia) é de esquerda, eu não apoio Petro. Trump (dos EUA) se diz de direita, eu não apoio Trump. E não apoio nenhum desses não porque sejam de esquerda ou de direita e sim porque são populistas.

Também não apoio Xi Jinping (da China), Canel (de Cuba) e Kim Jong-un (da Coreia do Norte) não porque sejam de esquerda e sim porque são autocratas. E não apoio igualmente Orbán (da Hungria), Erdogan (da Turquia) e Bukele (de El Salvador) não porque sejam de direita e sim porque são autocratas.

Contra autocratas, como é óbvio, só temos a democracia. Mas contra populistas, o que já não é tão óbvio, também só temos a democracia. Os novos populismos do século 21 são adversários da democracia, ainda que a parasitem. Não são propriamente ideologias e sim comportamentos políticos baseados na divisão da sociedade em uma única clivagem (povo x elites), no encorajamento de uma polarização política a partir dessa divisão (a política praticada como guerra do “nós contra eles”) e na ideia (majoritarista) de que é preciso fazer maioria em todo lugar, acumulando forças para conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido (ou de um grupo ideológico que faz as vezes de partido). Em alguns casos, não todos, os populismos são mais rudes e querem chegar ao governo pelo voto para, em seguida, acabar com o regime político democrático, seja erodindo progressivamente a democracia – desativando seus mecanismos de freios e contrapesos, seja, até, desferindo um golpe de Estado (ou auto-golpe) a partir do governo. Não é relevante que os populistas que se comportam assim se digam ou sejam ditos de esquerda ou de direita.

Os populistas vicejam em regimes eleitorais – chamados ainda de democracias, mesmo que não sejam liberais – porque esses regimes têm falhas “genéticas”: não têm proteção eficaz contra o discurso inverídido, não têm proteção eficaz contra o uso da democracia (notadamente das eleições) contra a própria democracia, não têm proteção eficaz contra a destruição das normas não escritas que estão abaixo do sistema legal-institucional e o sustentam e não têm proteção eficaz contra a falsificação da opinião pública a partir da manipulação das mídias sociais, que desabilita qualquer razão comunicativa, destruindo o espaço discursivo de interação de opiniões. Pouco importa se os populistas que penetram por essas brechas se declarem ou sejam considerados de esquerda ou de direita.

Então vamos simplificar tudo. Passou da hora de jogar fora no lixo esse papo de esquerda e direita. Os líderes e suas forças políticas podem ser classificados hoje basicamente em três tipos: democratas, populistas e autocratas.

A diagram of the political party

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Democratas (como Frederiksen, da Dinamarca e Merz, da Alemanha) não são populistas, nem autocratas. Não importa se a primeira é dita de esquerda (ou progressista) e o segundo é dito de direita (ou conservador).

Populistas podem ser autocratas (como Maduro, da Venezuela e Bukele, de El Salvador) – e não importa se o primeiro se diz de esquerda e o segundo é dito de direita. Mas populistas podem também não ser autocratas (como Xiomara, de Honduras e Fico, da Eslováquia) – e não importa se a primeira se identifica com a esquerda e o segundo com a direita.

Autocratas podem não ser populistas (como Chính, do Vietnam e Min Aung Hlaing, de Mianmar) – e não importa se o primeiro se diz de esquerda (e socialista) e o segundo é considerado de direita (um ditador militar).

Note-se que, nos pares citados acima como exemplos, sempre um é dito de esquerda e o outro de direita. Isso é para mostrar que não há diferença relevante entre eles em termos de comportamento político.

É claro que se pode detalhar a classificação proposta aqui para revelar as diferenças entre dois tipos de democratas, dois tipos de populistas e dois tipos de autocratas, como na imagem abaixo:

A diagram of different colors of circles

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Entre os democratas, temos os democratas liberais (como Rodrigo, da Costa Rica) e os democratas apenas eleitorais (como Plenkovic, da Croácia).

Entre os populistas, temos os neopopulistas (como Arce, da Bolívia) e os populistas-autoritários ou nacional-populistas (como Modi, da Índia).

Entre os autocratas, temos os autocratas eleitorais (como Putin, da Rússia) e os autocratas não-eleitorais (como bin Salman, da Arábia Saudita).

Claro que, como já foi dito, há uma interseção entre populistas e autocratas (no caso, autocratas eleitorais). O neopopulista Ortega (da Nicarágua) e o nacional-populista Erdogan (da Turquia) são também autocratas eleitorais.

Mas essas subclassificações não alteram a divisão básica entre democratas, populistas e autocratas.

Também não ajuda classificar as forças políticas em conservadores, liberais e socialistas – colocando os dois últimos como progressistas (quando muitos que se declaram socialistas são regressistas). Além disso, essa classificação ideológica exclui a possibilidade da existência de liberal-conservadores. As forças políticas não podem ser classificadas pelas ideologias confessadas por seus líderes e sim pelo comportamento político do conjunto de seus agentes.

Regulamentação das redes sociais

Há uma sanha de regulamentação das chamadas redes sociais. Neste artigo mostro por que está tudo (ou quase tudo) errado. 

1 – Em primeiro lugar, não são redes sociais (social networks) e sim mídias sociais (social media). Só no Brasil se confunde tanto as duas coisas. Redes sociais são pessoas interagindo por qualquer meio, não plataformas, aplicativos, programas, tecnologias. Redes sociais não são um nome para um novo tipo de organização e sim um padrão de organização (caracterizado por topologias mais distribuídas do que centralizadas). Você quer entender essas diferenças? Vai aqui uma bibliografia básica (1).

2 – Em segundo lugar, as regulamentações propostas pelos que querem estabelecer, desde o século passado, o “controle social da mídia”, não afetam apenas as mídias sociais e sim toda a internet. E o controle social que preconizam acaba sendo, na prática, um controle partidário-governamental (na medida em que qualquer órgão regulador inventado será vulnerável ao processo de conquista de hegemonia efetivado por parte de militantes e simpatizantes de partidos ou movimentos que praticam a política como guerra, quer dizer, como construção contínua de inimigos, na base do “nós contra eles”). Você quer entender por que a internet como um todo será afetada e não apenas as mídias sociais? Acompanhe os posts do @ayubio, que entende do assunto (2). Vale a pena ler também a avaliação do Ronaldo Lemos sobre a regulamentação aprovada pelo STF (3).

3 – Em terceiro lugar, as mídias sociais poderiam ser excelentes instrumentos de netweaving (ou seja, de articulação e animação de verdadeiras redes sociais), mas infelizmente não são. Seus algoritmos caixa preta acabam induzindo o broadcasting, a disseminação de mensagens um-para-muitos que estimula seus usuários a adquirir cada mais seguidores – em vez de interagir (que é aceitar ser modificado pelo outro-imprevisível, na interação fortuita) – ficando sujeitos à doença da rede que chamamos de fama e não leva à formação de redes humanas, redes de pessoas interagindo em um padrão mais distribuído do que centralizado (que são as verdadeiras redes sociais). Se você quiser saber mais sobre netweaving, pesquise (4). 

4 – Em quarto lugar, os modelos de negócios das grandes plataformas de mídias sociais estimulam a discórdia e não a concórdia, o dissenso e não o consenso, a desavença e não o encontro, configurando ambientes favoráveis à luta de facções e tribos pelo predomínio ou pela supremacia no novo espaço público digital e não à busca coletiva de soluções compartilhadas para seus problemas, à realização de projetos comuns que partam da congruência de seus desejos; ou, mesmo, à simples convivência amistosa (ou não-adversarial). A preocupação com isso é legítima, ou seja, não está errada. O que está errado aqui são as soluções repressivas frequentemente apresentadas por motivos políticos.

5 – Em quinto lugar, toda regulamentação marcada pelo imperativo de alterar a correlação de forças a favor de um projeto político de poder acaba desaguando no processo eleitoral. Na conjuntura atual brasileira os promotores de regulamentações autoritárias estão preocupados precipuamente em reeleger Lula da Silva em 2026 e então estão procurando um meio de usar algum tipo especioso de regulamentação para proibir que as campanhas de oposição: a) falem da história de corrupção do PT; b) associem a corrupção do INSS e outros escândalos ao incumbente e seus aliados ou seguidores; c) tragam à tona a aliança histórica de Lula e do PT com ditaduras (como Cuba, Venezuela, Nicarágua, Angola) e denunciem a aproximação de Lula com Putin, sua admiração por Xi Jinping e sua simpatia pelos teocratas iranianos e por outros autocratas ou populistas alinhados no propósito de destruir as democracias liberais. É improvável que essa manobra suja – “eu fico com as TVs e vocês ficam sem as mídias sociais” – funcione eleitoralmente, pelos motivos apresentados no tópico abaixo.

6 – Em sexto lugar, é uma ilusão pensar que coibindo o uso das mídias sociais por parte dos nacional-populistas, o problema da existência de uma extrema-direita com ampla base eleitoral (e social) será resolvido. O emprego abusivo e destrutivo das mídias sociais é parte de um movimento de caráter revolucionário (ainda que para trás, quer dizer, reacionário) que está presente no mundo todo. Não adianta demonizar os trilionários malvadões das bigtechs e seus algoritmos malignos, pois a apropriação e o uso político desses meios não obedece a nenhuma coordenação centralizada: é um movimento difuso ou distribuído que acaba arrastando todos aqueles que não estão satisfeitos com “o sistema”, com a maneira como esse sistema (seja o que entendam por isso) está organizado e funciona. Ademais os tecnofeudalistas provedores da infraestrutura e dos algoritmos das grandes plataformas não vão se abalar muito com um traque soltado pela suprema corte brasileira: continuarão funcionando e será impossível proibir o uso de VPNs e outros meios de desobedecer e burlar as proibições a não ser que o país esteja disposto a se transformar em uma ditadura. Tais proibições só aumentarão e espalharão a revolta. No Brasil, em particular, o bolsonarismo tem de ser enfrentado pela democracia. Não por medidas antidemocráticas (como uma regulamentação autoritária que vise impedir a paridade de armas em disputas eleitorais e outras). Nossa democracia deve ser capaz de resistir ao nacional-populismo (bolsonarista) e ao neopopulismo (lulopetista) com mais democracia, não com menos. Do contrário, o regime político brasileiro se autocratizará.

Estamos em guerra

Nesta terceira década do século 21 o mundo está imerso numa terceira grande guerra. E não é possível escapar dela.

A guerra mundial atual é uma guerra fria. Guerra fria é guerra. Estamos numa segunda guerra fria movida pelo eixo autocrático contra as democracias liberais – e não apenas uma guerra EUA x China, como se fosse um repeteco da primeira guerra fria EUA (e Ocidente) x URSS.

A guerra atual é uma netwar: não apenas uma ciberguerra, mas uma guerra social, que atravessa todas as fronteiras e divide as sociedades nacionais.

A netwar já é a terceira guerra mundial – que também não é um repeteco da primeira e da segunda guerras quentes mundiais.

Teremos ainda muitos episódios de guerras quentes regionais, mas o evento mais importante é a guerra global que já se instalou. É por isso, por exemplo, que a guerra de Gaza não é em Gaza, mas no mundo todo. Em Gaza, Israel vai vencendo. No mundo, o Hamas já venceu.

As guerras quentes regionais cumprem um papel alimentador e detonador da netwar global. Assim ocorre com a guerra do Irã (integrante do eixo autocrático) contra Israel (que era uma democracia liberal), seja via uma dúzia de grupos terroristas (Hamas, Jihad Islâmica, Hezbollah, Houthis etc.), seja, agora, diretamente. Em todas as sociedades ditaduras e democracias parasitadas por governos populistas se levantam contra Israel (e, mais do que isso, espalham o antissemitismo).

Assim ocorre com a guerra da Rússia (integrante do eixo autocrático e na vanguarda da netwar) contra a Ucrânia, na verdade, contra as democracias europeias, ameaçando imediatamente a Moldávia, a Estônia, a Letônia, a Lituânia, a Finlândia, a Geórgia e até a Suécia e a Polônia. Novamente, se colocam a favor da Rússia as ditaduras e setores das democracias parasitadas por governos populistas.

Assim também ocorrerá, em breve, na guerra da China (integrante do eixo autocrático) contra Taiwan (uma democracia liberal).

A polarização e a consequente divisão que a netwar instala nas sociedades de todos os países é parte da netwar global que, para todos os efeitos práticos, é uma campanha de exterminação das cerca de três dezenas de democracias liberais que ainda restam no mundo. Além disso, uma vez entrando em guerra quente regional, atacadas por algum integrante do eixo autocrático, as democracias liberais decaem. Segundo o V-Dem, depois do ataque terrorista e do início da guerra contra o Hamas, Israel deixou de ser uma democracia liberal e passou a ser uma democracia apenas eleitoral (um regime não-liberal). A Ucrânia deixou de ser uma democracia eleitoral e passou a ser uma autocracia eleitoral. O mesmo ocorrerá com Taiwan, quando a China começar a invadí-la.

Países com regimes democráticos não entram em guerra entre si. Mas uma vez atacados por países com regimes autocráticos, os países com regimes democráticos decaem: ou deixam de ser liberais ou, pior, passam a ser autocracias. Tudo isso acontece porque não é que países autocráticos façam guerra (entre si e contra países democráticos) e sim porque a guerra é a autocracia.

A guerra é o modo de ser da autocracia. Em outras palavras: o que chamamos de autocracia é um modo guerreiro de regulação de conflitos. Em geral há dificuldade de entender isso porque as pessoas acham que guerra é apenas guerra quente (com derramamento de sangue) e não veem que guerra fria também é guerra e que a política praticada como continuação da guerra por outros meios (na base do “nós contra eles”, como fazem todos os populismos, ditos de direita ou de esquerda) também é guerra. Não veem que guerra não é destruição violenta de inimigos e sim construção de inimigos, o que pode acontecer, inclusive, de forma não violenta.

As pessoas não veem que toda guerra é interna. Que o objetivo da guerra é instalar um estado de guerra que justifique a reorganização dos cosmos sociais para erigir padrões hierárquicos de organização regidos por modos autocráticos de regulação.

Como disse Larry Diamond (2020), ventos malignos (Ill Winds) estão soprando. E podem soprar ainda por muito tempo nesta terceira onda de autocratização que nos assola. Não há como se esconder deles.

O que é um comportamento democrático

Enquanto não pararmos de querer classificar as forças políticas pelas ideologias confessadas por seus integrantes em vez de pelo comportamento praticado por eles, não esclareceremos nada. Para a democracia, não importa se alguém se diz conservador, liberal ou socialista. Importa muito, entretanto, se o seu comportamento é democrático ou populista, antipluralista e, consequentemente, iliberal.

Enquanto não pararmos de querer classificar as forças políticas pelas suas posições nos lados em confronto da política praticada como continuação de guerra por outros meios, não esclareceremos nada. Para a democracia, não importa se alguém se diz de esquerda ou de direita. Importa muito, entretanto, se o seu comportamento é democrático ou populista, antipluralista e, consequentemente, iliberal.

Enquanto não pararmos de querer classificar as forças políticas pelos rótulos de suas crenças ou visões de mundo, não esclareceremos nada. Para a democracia, não importa se alguém se diz social-democrata de esquerda ou centro-esquerda ou social-liberal de centro, centro-direita ou de direita. Importa muito, entretanto, se o seu comportamento é democrático ou populista, antipluralista e, consequentemente, iliberal.

Piora tudo, é claro, se quisermos dividir as forças políticas em progressistas x fascistas ou em comunistas globalistas x patriotas nacionalistas. É nesse lugar escuro, nesse pátio fétido da polarização, em que, infelizmente, nos encontramos.

Chegamos então ao centro da questão. O que é um comportamento democrático? Em primeiro lugar é um comportamento não-populista, pluralista e liberal (no sentido político do termo). Isso resumo (quase) tudo, mas precisa ser debulhado.

Democratas defendem – não importa se ditos conservadores, liberais ou socialistas; de esquerda (como Boric) ou de direita (como Lacalle Pou); social-democratas ou social-liberais – as seguintes ideias:

Liberdade de associação, liberdade de expressão e liberdade de imprensa (existência de fontes alternativas de informação).

Proteção dos direitos individuais e das minorias contra a tirania do Estado e a tirania da maioria (e, portanto, recusam o majoritarismo e o hegemonismo).

Eleições limpas e periódicas, sufrágio universal, governos e parlamentos eleitos.

Rotatividade ou alternância no governo (não apenas de pessoas, mas também de partidos ou forças políticas).

Cultura política pluralista, oposições políticas democráticas reconhecidas e valorizadas como players legítimos e fundamentais para o bom funcionamento do regime.

Publicidade ou transparência nos atos do governo (capaz de ensejar uma efetiva accountability).

Instituições estáveis, equilíbrio entre os poderes e sistemas atuantes e efetivos de freios e contrapesos.

Império da lei e judiciário independente (e auto contido em suas atribuições).

Forças armadas subordinadas ao poder civil.

A sociedade controla o governo e não o contrário (pois avaliam que a qualidade da democracia é medida pelos limites e condicionamentos impostos pela sociedade às instituições do Estado – o que pressupõe recusa ao estatismo).

Tudo bem como ideário. Mas como democratas se comportam, na prática?

Democratas se opõem e resistem a qualquer tirania (ditadura ou autocracia), seja dita de esquerda ou de direita, religiosa ou laica.

Democratas se opõem a governos antidemocráticos (mesmo quando governando em regimes democráticos) e a oposições antidemocráticas (que queiram não apenas mudar o governo, o que é legítimo, mas alterar a natureza do regime democrático ou substituí-lo por regimes não democráticos).

Democratas se opõem a governos, mesmo democráticos, dos quais discordam (pois sabem que a democracia funciona com situação democrática e oposição democrática e que, por isso, as oposições democráticas devem ser reconhecidas e valorizadas como fundamentais para o bom funcionamento de regime).

Democratas recusam a guerra (ou não praticam a política como continuação da guerra por outros meios): repudiam o antipluralismo, o majoritarismo, o hegemonismo e o “nós contra eles”, pois avaliam que política não é guerra e sim evitar a guerra.

Democratas atuam, fundamentalmente, no sentido de fermentar o processo de formação de uma opinião pública democrática; ou seja, não se dedicam a tentar converter todos os indivíduos de uma população em democratas – pois sabem que isso é impossível: nunca aconteceu no passado, não acontece hoje e não acontecerá no futuro, até porque não faz sentido – e sim a criar condições para que a interação das opiniões diversas e plurais que existem na sociedade tenha como resultante, por emergência, uma opinião pública (que não é a mesma coisa que a soma das opiniões privadas dos indivíduos) democrática. Nesse sentido, pode-se dizer que não são a massa, mas o fermento na massa.

Corrupção, ditaduras e dois canos fumegantes

O pior problema do lulopetismo não é que ele tenha a mais extensa folha corrida de corrupção da história universal em democracias. Muito mais grave do que isso é que Lula, o PT e seu governo se aliam às maiores ditaduras do planeta contra as democracias liberais.

Há um problema histórico de corrupção. Mas o mensalão e o petrolão não levaram a um arrependimento do PT. Os lulopetistas achavam que tinham direito de fazer o que fizeram pois o objetivo final era nobre: financiar seu projeto de poder que tinha como propósito acabar com a desigualdade. Era “a revolução pela corrupção”, como cunhou o saudoso Ferreira Gullar.

Para remover essa mancha do seu caráter teria de haver arrependimento, autocrítica, correção de rumos e afastamento dos dirigentes envolvidos. O PT fez o contrário: negou tudo e manteve os implicados em posições de destaque no partido (e alguns até no governo).

Com esse comportamento é mesmo impossível se desvencilhar da dependência da trajetória. É o que estamos vendo agora com o caso do roubo dos aposentados. O governo do PT sabia há tempos do roubo dos aposentados. Não fez nada porque, entre os ladrões, estavam vários apaniguados da patota sindicalista. Agora, que o escândalo veio a público, está mentindo que foi ele que revelou o assalto. Pode-se dizer que isso é o batom na cueca. Não, por certo, o batom da Débora, condenada a quase 15 anos de prisão por ter pichado uma estátua. Mas a cueca lembra, com certeza, a daquele assessor do José Guimarães, líder do governo na Câmara.

O Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), que tem como vice-presidente “Frei Chico”, irmão de Lula, chegou a incluir 3,2 mil novos filiados por dia. Dados da CGU mostram que, em julho de 2023, o sindicato do irmão do Lula incluiu 67,2 mil novos aposentados em seus sistemas de descontos e em junho do ano passado foram outras 63,1 mil novas inclusões potencialmente ilegais. Impossível não levantar a hipótese de que esse tipo de sindicalismo (lulopetista) é uma forma de banditismo.

O governo Lula III – seguindo a tradição dos governos Lula I, Lula II, Dilma I e Dilma II – compactua com esse tipo de comportamento. Diz que vai investigar e punir os responsáveis, doa a quem doer. Mas as evidências não confirmam tal vontade. A AGU de Lula deixou de fora dos pedidos de bloqueio de recursos e quebra de sigilo as entidades aparelhadas pelo PT. Livrou a CONTAG que recebeu R$ 426 milhões em 2023 porque sua presidente é petista. Livrou o SINDNAPI (“sindicato dos aposentados”) que tem como diretor Frei Chico, o irmão de Lula. Livrou o CONAFER (agricultores familiares) cuja receita superou os R$ 202,3 milhões em 2023. É o que leio na imprensa. Não sou da Polícia Federal, nem do FBI ou da CIA.

Sim, o PT tem um imenso histórico de corrupção. Mas pouca gente entendeu (sobretudo os lavajatistas) que:

1) O PT praticou a corrupção tradicional do sistema político (simbolizado pelo famoso “caixa 2”, aquele que se faz para eleger representantes e, com as sobras, para enriquecer e se dar bem na vida) e a corrupção com motivos estratégicos de poder (o “caixa 3”, desviando recursos para financiar um Estado paralelo que tinha como objetivo delongar a presença do partido no governo até tomar o poder).

2) O problema principal do PT não é a corrupção e sim o populismo, o antipluralismo e o hegemonismo que são contra-liberais e, quando praticados por tempo suficiente, autocratizam o regime democrático alterando por dentro o seu DNA.

Mas pouca gente percebeu tudo isso porque o PT escondeu sua corrupção estratégica dentro da corrupção tradicional, depositando seus ovos na carcaça podre do velho sistema político. Assim, ficou parecendo que Lula era a mesma coisa que Cabral, que Dirceu era mais ou menos igual a Cunha, que Vaccari era uma espécie de Geddel. Nunca foram. Não são. Nunca serão.

Esse caráter autocrático ou autocratizante do PT, entretanto, não é em geral tão percebido, a despeito da montanha de evidências. Vejamos algumas.

1 – Lula, o PT e o governo se proclamam democratas e até mesmo salvadores da democracia. Se é assim, por que o Brasil não se articula com as democracias plenas ou liberais das Américas (como Canadá, Costa Rica, Uruguai e Chile)? Por que prefere se aproximar dos regimes eleitorais parasitados por governos populistas que se dizem de esquerda (como México, Honduras, Colômbia, Bolívia)? Pior. Por que o Brasil se aproxima de ditaduras de esquerda (como Cuba, Venezuela e Nicarágua)?

2 – Lula, o PT e o governo e seus esbirros na imprensa se autoelogiam por estarem empenhados em articular o BRICS. Mas entre os 10 membros plenos do BRICS, 80% são ditaduras. Entre os 9 membros parceiros do BRICS, 78% são ditaduras. Nas duas categorias, 79% são ditaduras. Nelas não há nenhuma democracia liberal ou plena. O que o Brasil – se quer ser uma democracia plena – está fazendo no BRICS?

3 – Lula, o PT e o governo e seus esbirros na imprensa, dizem que a democracia liberal está ameaçada pelo crescimento da extrema-direita e aí citam Trump, Le Pen, Orbán, Bukele, Milei, Bolsonaro, Weidel (AfD), Ventura, Abascal, Farage, Wilders etc. É engraçado que não citam Putin, Xi Jinping, Kim Jong-un, Lukashenko, Cuòng (Vietnam), Sisoulith (Laos), Khamenei (Irã e seus braços terroristas Hamas, Hezbollah, Houthis), Lourenço, Canel, Maduro, Ortega. Esses ditadores da segunda lista (alguns declaradamente de esquerda ou socialistas) não ameaçam a democracia?

Existem mais evidências.

4 – Neste exato momento Lula está na Rússia, representando o Brasil na Parada da Vitória promovida pelo ditador Putin. Não estará presente no convescote nenhuma democracia liberal ou plena. Não estará presente nenhuma democracia formal, mesmo defeituosa, com exceção do Brasil (e dos países satélites da Rússia, como a Eslováquia e a Sérvia). Cerca de 90% dos convidados presentes são ditadores que foram a Moscou ajudar a recuperar a imagem de Putin e aplaudir o desfile de tropas que invadiram ou invadirão a Ucrânia. O que o Brasil está fazendo nessa caterva? O que justifica tal comportamento a não ser dar uma demonstração clara para o mundo de que o Brasil se aliou ao eixo autocrático contra as democracias liberais?

Corrupção, ditaduras e dois canos fumegantes. Uma história de dependência e amor bandido.

Democracia: não estamos falando da mesma coisa

Quando falamos de democracia é bom ver se estamos falando da mesma coisa. Vamos ver alguns exemplos.

Alguém pode pensar que é democrata porque lutou contra a ditadura militar.

Alguém pode pensar que é democrata porque é antifascista.

Alguém pode pensar que é democrata porque é contra o bolsonarismo.

Alguém pode pensar que é democrata porque é contra o populismo de direita e as ditaduras de extrema-direita.

Nada disso, porém, basta para qualificar um ator ou força política como democratas.

Alguém pode ter lutado contra a ditadura militar para implantar outra ditadura (por exemplo, a ditadura do proletariado).

Ser antifascista não garante nada em termos democráticos (os ditadores Canel, Maduro, Ortega, Xi Jinping e Putin são declaradamente antifascistas).

Ser contra o bolsonarismo, o populismo de direita e as ditaduras de extrema-direita também não atesta conversão à democracia, a qual exige uma posição contrária a qualquer populismo, inclusive contra os populismos de esquerda e contra as ditaduras de esquerda.

Como resolver o problema de saber quais são os requisitos para caracterizar um ator ou força política como democratas? É preciso observar os critérios democráticos.

Os dez critérios para caracterizar um regime democrático em sua plenitude (liberal) são:

1 – Liberdade de associação, liberdade de expressão e liberdade de imprensa (existência de fontes alternativas de informação).

2 – Proteção dos direitos individuais e das minorias contra a tirania do Estado e a tirania da maioria (recusa ao majoritarismo e ao hegemonismo).

3 – Eleições limpas e periódicas, sufrágio universal, governos e parlamentos eleitos.

4 – Rotatividade ou alternância no governo (não apenas de pessoas, mas também de partidos ou forças políticas).

5 – Cultura política pluralista, oposições políticas democráticas reconhecidas e valorizadas como players legítimos e fundamentais para o bom funcionamento do regime.

6 – Publicidade ou transparência nos atos do governo (capaz de ensejar uma efetiva accountability).

7 – Instituições estáveis, equilíbrio entre os poderes e sistemas atuantes e efetivos de freios e contrapesos.

8 – Império da lei e judiciário independente.

9 – Forças armadas subordinadas ao poder civil.

10 – A sociedade controla o governo e não o contrário (a qualidade da democracia é medida pelos limites e condicionamentos impostos pela sociedade às instituições do Estado – o que pressupõe recusa ao estatismo).

Considerando o que se expôs acima podemos ver que muitas pessoas e forças políticas que se apresentam como estando no campo da democracia na verdade não estão. A não ser que tenham outro conceito de democracia, um conceito não-liberal.

É muito comum forças políticas se apresentarem como democráticas confundindo o conceito de democracia com o conceito de cidadania. Em geral, falam de cidadania para todos ofertada pelo Estado, quando “nas mãos certas”, quer dizer, comandado por forças políticas ditas progressistas. Cidadania universalizada é um bom propósito, é desejável, mas não é a mesma coisa que democracia. Isso pode ser ofertado por regimes não-democráticos, quer dizer, por autocracias.

Singapura, uma autocracia eleitoral (segundo o V-Dem), está fazendo isso. A China, uma autocracia fechada, diz que está fazendo isso a partir do seu próprio conceito de democracia: a chamada “democracia popular de processo integral”. Mas essa “democracia” chinesa não atende aos critérios acima.

Cuba, outra autocracia fechada, segundo Lula, faz isso. Para ele “o único país [na América Latina] que conseguiu dar um salto foi Cuba… eles resolveram o problema da cidadania”.

Certamente, em muitos casos não estamos falando da mesma coisa quando usamos a palavra democracia. Por isso os critérios acima são tão importantes. Deveriam ser impressos, emoldurados e pendurados, pelos democratas, nas paredes das instituições públicas e privadas, nas residências, nas escolas, nas igrejas, nas organizações da sociedade civil, nas empresas, em todo lugar.


P.S. É quase inútil discutir com lulopetistas sobre democracia. Eles capturaram a palavra democracia para designar outra coisa. O que Lula e o PT chamam de democracia não é o que se entende por democracia na Austrália, Áustria, Barbados, Bélgica, Canadá, Chequia, Chile, Costa Rica, Dinamarca, Espanha, Estônia, EUA, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália, Jamaica, Japão, Letônia, Luxemburgo, Maurício, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido, Seicheles, Suécia, Suíça, Taiwan e Uruguai – ou seja, as democracias liberais (V-Dem) ou plenas (EIU). Para alguns petistas democracia é o que a China chama de “democracia popular de processo integral”. Para outros é o regime vigente em Angola e Cuba. Há até quem chame de democracia o regime da República Popular Democrática da Coreia (do Norte). É difícil conversar quando as mesmas palavras não significam as mesmas coisas.

É uma vergonha democratas não criticarem o BRICS 

É inacreditável – e inaceitável – que não haja uma oposição democrática no Brasil criticando o governo Lula por participar e querer até liderar o BRICS.

O BRICS, originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China em 2009 (com a adesão da África do Sul em 2010), expandiu-se significativamente em 2024 e 2025. Deixou de lado o disfarce de bloco econômico e assumiu seu objetivo político de aumentar a influência do Sul Global (uma espécie de terceiro-mundismo requentado) no combate ao imperialismo norte-americano e o neocolonialismo europeu, quer dizer, em oposição à ordem internacional liberal e às democracias liberais.

QUEM SÃO OS PAÍSES BRICS

Em 2025, o BRICS é composto por membros plenos e países parceiros, conforme detalhado abaixo, com base em informações recentes e confiáveis:

Membros Plenos do BRICS

Os países que atualmente são membros plenos do BRICS, com direito a participar de todas as reuniões e tomar decisões por consenso, são:

Brasil – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed, parasitada por governo neopopulista.

Rússia – Autocracia eleitoral.

Índia – Autocracia eleitoral.

China – Autocracia fechada.

África do Sul – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed, parasitada por governo neopopulista. (Por erro ou vezo ideológico o V-Dem promoveu a África do Sul à democracia liberal no seu relatório de 2025, mas é melhor ignorar esse percalço).

Egito (aderiu em 2024) – Autocracia eleitoral.

Etiópia (aderiu em 2024) – Autocracia eleitoral.

Irã (aderiu em 2024) – Autocracia fechada.

Emirados Árabes Unidos (aderiu em 2024) – Autocracia fechada.

Indonésia (aderiu em janeiro de 2025) – Autocracia eleitoral.

Nota: A Arábia Saudita (Autocracia fechada) foi convidada a se tornar membro pleno em 2023, mas sua adesão ainda não foi oficialmente confirmada, embora algumas fontes indiquem que ela já participa como membro.

Não há nenhuma democracia liberal (V-Dem) no BRICS. Não há nenhuma democracia plena (The Economist Intelligence Unit) no BRICS.

Entre os 10 membros plenos do BRICS, 8 (80%) são ditaduras.

Países Parceiros do BRICS

Os países parceiros são uma categoria criada em 2024, durante a Cúpula de Kazan, na Rússia, para integrar nações em um estágio preliminar antes da possível adesão como membros plenos. Esses países participam de cúpulas e reuniões temáticas, mas não têm direito a voto ou aprovação de documentos. Os atuais países parceiros, confirmados a partir de janeiro de 2025, são:

Belarus – Autocracia eleitoral.

Bolívia – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed, parasitada por governo neopopulista.

Cazaquistão – Autocracia eleitoral.

Cuba – Autocracia fechada.

Malásia – Democracia eleitoral, flawed.

Nigéria (confirmada como parceira em 17 de janeiro de 2025) – Autocracia eleitoral.

Tailândia – Autocracia eleitoral.

Uganda – Autocracia eleitoral.

Uzbequistão – Autocracia fechada.

Entre os 9 membros parceiros do BRICS, 7 (78%) são ditaduras.

Nota sobre outros países convidados

Durante a Cúpula de Kazan, em outubro de 2024, 13 países foram convidados a se tornarem parceiros, mas apenas os nove listados acima confirmaram sua participação até janeiro de 2025. Os outros quatro países convidados — Argélia (Autocracia eleitoral), Turquia (Autocracia Eleitoral), Vietnã (Autocracia fechada) e Nigéria (antes de sua confirmação em janeiro) — não haviam respondido formalmente até o final de 2024, e Argélia, Turquia e Vietnã ainda não confirmaram sua adesão como parceiros até abril de 2025.

Nenhuma democracia liberal, nenhuma democracia plena

Mais de 30 países expressaram interesse em participar do BRICS, seja como membros ou parceiros. Nenhuma democracia liberal (V-Dem) se interessou. Nenhuma democracia plena (The Economist Intelligence Unit) se interessou.

Conclusão

O BRICS é uma articulação política (inicialmente disfarçada de bloco econômico) composta majoritariamente por ditaduras (79%). O BRICS é hoje um instrumento do eixo autocrático contra as democracias liberais.

Um programa para o centro democrático

Uma coisa é certa. O centro democrático definirá o resultado da próxima eleição. Tenha ou não candidato.

Mas se o centro democrático não tiver candidato em 2026 será obrigado a votar em um dos polos populistas para evitar a vitória do outro polo populista. Ou a se abster, votar branco ou nulo.

Se o centro democrático apresentar um candidato em 2026 e ele não for ao segundo turno, deverá ser alguém com um programa democrático, articulado com partidos ou setores políticos de centro e com extensas camadas da sociedade, disposto a continuar construindo a alternativa não-populista para 2030. Se esse candidato não passar ao segundo turno, não deve aderir a um governo populista vencedor, seja ele qual for, por medo de perder holofotes.

Em todo caso, 2030 passa por 2026. Se uma alternativa não-populista não se apresentar em 2026, o horizonte estratégico dos democratas vai se deslocar para 2034. Pois se já não estiver ativo um movimento democrático em 2026, não dará tempo para articular uma alternativa para 2030. Na boca da urna de 2030 é que isso não ocorrerá.

Todavia, 2026 é para valer. Está longe de ser certo que Lula (ou alguém indicado por ele) vá vencer as próximas eleições. As tendências estão agora mais claras. Essa é a posição da maioria dos brasileiros hoje: nem Bolsonaro, nem qualquer bolsonarista-raiz; nem Lula, nem qualquer lulopetista-raiz. Quem duvidar disso deve analisar as pesquisas. Essa realidade estatística, entretanto, ainda não foi transformada em uma realidade política.

Repetindo. Se Bolsonaro não será eleito (está inelegível, não será anistiado e sim, provavelmente, preso), um bolsonarista raiz também não deve ser eleito. Da mesma forma, Lula não deve ser reeleito ou um lulopetista indicado por ele também não deve ser eleito. Essa é a única maneira de escapar dos populismos que parasitam a nossa democracia e acabar com a polarização.

Não adianta instrumentalizar a justiça para desmoralizar politica e moralmente Bolsonaro e o bolsonarismo. Ao que tudo indica Lula, se perder, não perderá a eleição de 2026 para o bolsonarismo. Perderá para o antilulismo e para o antipetismo, que são hoje muito mais amplos.

Dificilmente Lula vencerá as eleições no Sul, no Centro-Oeste e no Sudeste do país. Se vencer no Norte e no Nordeste será por uma margem muito menor do que nas eleições passadas. Logo, nas condições normais de temperatura e pressão, Lula tende a perder as próximas eleições. O problema é que elas podem ocorrer em condições anormais. Neste momento, há uma clara interferência política – proveniente do judiciário e de parte da imprensa (chapa-branca) atuando como partidos políticos – para antecipar a campanha eleitoral, tentando tornar inimigo da democracia qualquer um que venha a herdar os votos de Bolsonaro, mesmo que não seja bolsonarista raiz e não tenha cometido qualquer crime. Querem vender a ideia de que se Lula (ou alguém do PT) não for eleito será um golpe dos fascistas. Sem essa interferência indevida, o mais provável é que Lula não seja reeleito.

Todavia, as chances são enormes de interferência indevida do judiciário e dos meios de comunicação alinhados ao governo no processo eleitoral (nas TVs amigas a campanha antecipada Lula 2026 já está em curso há tempos, diariamente). Por isso não se pode cravar que Lula (ou alguém indicado por ele) vai perder a eleição de 2026.

O centro democrático é contra a anistia aos golpistas bolsonaristas do final de 2022. Mas não tem a covardia de não lembrar que, na prática, o STF concedeu recentemente anistia a Lula, Dirceu e a outros petistas envolvidos no mensalão ou no petrolão. Seus processos foram anulados. Para todos os efeitos, isso equivale a esquecer os crimes que cometeram. Anistia geral e irrestrita. Nem o Emílio Odebrecht ficou preso.

De qualquer modo, só há uma solução democrática para o Brasil. Impedir que populistas ocupem novamente o governo para continuar parasitando nosso regime. Isso vale para os populistas de direita (bolsonaristas) e para os populistas de esquerda (lulopetistas).

Sim, nós – respaldados pela vontade política de mais metade dos brasileiros e brasileiras – apostamos nessa solução e vamos trabalhar para concretizá-la.

Para começar sugerimos os seguintes pontos programáticos que devem ser discutidos, aperfeiçoados e desenvolvidos a partir do diálogo com os partidos e setores políticos do centro democrático e com a sociedade.

• O parlamentarismo e o voto distrital misto

• O voto facultativo e as candidaturas independentes (ou avulsas)

• O municipalismo, baseado no localismo cosmopolita e o aumento do protagonismo das cidades (por meio da promoção do desenvolvimento local sustentável)

• A democratização da política e das suas instituições, sobretudo dos partidos (com o fim da partidocracia)

• Mudanças das regras eleitorais, inclusive para evitar a captura das eleições pelos populismos e o seu hackeamento pelos extremismos (com a introdução de inovações como, por exemplo, o voto em mais de um candidato, o voto ranqueado ou o voto negativo)

• A construção de novos mecanismos de interação democrática dos cidadãos (não-plebiscitários e não-assembleísticos) para influir no Estado

• A sustentabilidade como grande referencial para o desenvolvimento

• Uma economia de mercado, competitiva, que não queira impor à sociedade a sua racionalidade (ou seja, que parta da ideia de que a economia é que deve ser de mercado e competitiva, não a sociedade, que deve ser cada vez mais colaborativa)

• A redução das desigualdades socioeconômicas e o enfrentamento da pobreza pela via da promoção do desenvolvimento social e, emergencialmente, pela adoção de uma renda mínima cidadã, mas sobretudo por meio de outros mecanismos de inclusão baseados no investimento em capital humano e em capital social

• A defesa intransigente da ciência diante do ressurgimento de crenças que querem desacreditá-la e o investimento prioritário em ciência básica e aplicada e em tecnologia

• Uma nova educação para o século 21, que não pode ser repetição ou mero aperfeiçoamento da educação praticada nos séculos passados, baseada no desenvolvimento de uma inteligência tipicamente humana (que não será substituída pela inteligência artificial, mas a ela se somará)

• A saúde focada em prevenção e na criação de ambientes físicos e sociais saudáveis e o fortalecimento e expansão do sistemas públicos de saúde

• A promoção dos direitos humanos tendo como referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos e seus necessários aperfeiçoamentos

• A segurança pública como ação social e policial, não como guerra contra o crime

• Uma política externa orientada para paz e pela defesa da democracia e não por visões ideológicas, que vise buscar um novo lugar para o Brasil no mundo: o lugar de grande parceiro dos povos que se articulam para alcançar o bem comum para a humanidade em todas as áreas (científicas, tecnológicas, comerciais, de defesa dos direitos humanos em escala global e de preparação para o enfrentamento das mudanças globais que afetam a vida e a convivência social das populações do planeta, como as pandemias e epidemias, as doenças endêmicas e as catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas, pelo aquecimento global ou pela predação do meio ambiente).

Onde a democracia não funciona bem

Versão preliminar. Sem revisão, sem notas, sem referências e ainda sem conclusão.

RESUMO

Este estudo pretende mostrar que não conformam ambientes favoráveis à democracia: 1 – países que têm sistemas de governo presidencialistas plenos; 2 – países muito grandes (com mais de 100 milhões de habitantes); 3 – países cujas populações são majoritariamente fundamentalistas religiosas; 4 – países em guerra; e 5 – países com regimes parasitados por governos populistas.

Temos hoje no mundo 65 países com sistemas de governo presidencialistas plenos. Desses, só temos dois países com democracia plena (The Economist Intelligence Unit), ou seja, 3%; e cinco países com democracia liberal (V-Dem), ou seja, 7,7%. A maioria dos países com sistemas de governo presidencialistas plenos é composta por autocracias.

Temos hoje no mundo 16 países muito grandes, com mais de 100 milhões de habitantes. Na lista de todos os (dezesseis) países com mais de 100 milhões de habitantes só temos uma democracia plena (segundo a EIU): o Japão (o que dá 6%). E só temos duas democracias liberais (segundo o V-Dem): os EUA e o Japão (ou seja, 12,5%). Da lista toda temos 11 autocracias, ou seja, quase 70% (68,75%).

Temos hoje no mundo 48 países cuja população é majoritariamente muçulmana e 1 país (Myanmar) cuja maioria da população é budista (theravada) com traços significativos de intolerância às demais religiões. Se usarmos a classificação do V-Dem, de 48 países de maioria islâmica só escapam quatro que não têm regimes autocráticos: Albânia, Gâmbia, Nigéria, Senegal (sendo que na Nigéria a população muçulmana é pouco mais de 50%). Claro que não há nenhuma democracia liberal ou plena. Mais de 90% (91,6%) são ditaduras (autocracias eleitorais ou autocracias fechadas). Myanmar, por sua vez, também é uma autocracia fechada.

Temos hoje no mundo 51 países em guerra (considerando conflitos armados com mais de mil mortes anuais ou crises humanitárias graves) ou estado de guerra persistente. Desses, 41 são autocracias (ou seja, mais de 80%). Só há uma democracia liberal (V-Dem). Não há nenhuma democracia plena (EIU).

Temos hoje no mundo, pelo menos, cerca de 21 países com regimes eleitorais parasitados por governos populistas, sejam neopopulistas (ditos de esquerda), sejam populistas-autoritários ou nacional-populistas (ditos de direita ou extrema-direita). São 10 governos neopopulistas e 10 governos populistas-autoritários, sendo que 1 ainda não se enquadra bem nas duas categorias (o governo da Argentina). Da lista inteira a metade é de ditaduras e só há 1 democracia liberal (EUA), sendo que o V-Dem, no seu relatório de 2025, incluiu também a África do Sul (que não vamos considerar aqui, pois deve ter sido um erro – na interpretação mais benévola). Segundo a The Economist Intelligence Unit, não há nenhuma democracia plena na lista.

INTRODUÇÃO

Por óbvio, a democracia não se aplica a regimes não-eleitorais e a regimes eleitorais autocráticos (pois seria uma contradição em termos: democracia é o oposto de autocracia).

Tomamos como referência para o presente estudo as classificações de regimes políticos das três mais conceituadas instituições que monitoram os regimes políticos no mundo: a The Economist Intelligence Unit (EIU), o Varieties of Democracy (V-Dem) e a Freedom House (FH).

O V-Dem classifica os regimes em quatro tipos: Liberal Democracy (Democracia Liberal), Electoral Democracy (Democracia Eleitoral), Electoral Autocracy (Autocracia Eleitoral) e Closed Autocracy (Autocracia Fechada). O regime brasileiro é classificado como Electoral Democracy. O V-Dem adota seis índices: Democracia Liberal (uma espécie de síntese, chamado LDI), Democracia Eleitoral, Componente Liberal, Componente Igualitário, Componente Participatório, Componente Deliberativo. Isso significa que, para o V-Dem, existem democracias não-liberais (que ele chama de democracias eleitorais), posto que, se fossem liberais, estariam na primeira categoria.

The Economist Intelligence Unit classifica os regimes em quatro tipos: Full Democracy (Democracia Plena), Flawed Democracy (Democracia Defeituosa), Hybrid Regime (Regime Híbrido) e Authoritarian Regime (Regime Autoritário). O regime brasileiro é classificado como Flawed Democracy. A EIU adota cinco índices: Processo Eleitoral e Pluralismo, Funcionamento do Governo, Participação Política, Cultura Política e Liberdades Civis.

A Freedom House classifica os regimes em três tipo: Free (Livres), Partly Free (Parcialmente Livres) e Not Free (Não Livres). Basicamente a FH adota dois índices: Direitos Políticos e Liberdades Civis.

Para começar seria interessante dizer onde, inequivocamente, a democracia funciona bem (como regime político instalado em Estados-nações, pois não vamos tratar aqui da democracia como modo-de-vida em não-países).

Vamos tomar como referência o cruzamento das democracias plenas (full democracies) da The Economist Intelligence Unit (EIU), segundo o relatório Democracy Index 2024 (intitulado “What’s wrong with representative democracy?”), com as democracias liberais (liberal democracies) do V-Dem, segundo o relatório V-Dem 2025 (intitulado “25 Years of Autocratization – Democracy Trumped?”). Obviamente, todos os países resultantes desse cruzamento, segundo o relatório Freedom in the World 2025 (intitulado “The uphill battle to safeguard rights”), da Freedom House (FH), são considerados livres (free countries). A lista resultante desse cruzamento, de 19 países, é a seguinte (em ordem alfabética):

  1. Alemanha
  2. Austrália
  3. Chequia
  4. Costa Rica
  5. Dinamarca
  6. Espanha
  7. Estônia
  8. Finlândia
  9. Holanda
  10. Irlanda
  11. Islândia
  12. Japão
  13. Luxemburgo
  14. Noruega
  15. Nova Zelândia
  16. Suécia
  17. Suíça
  18. Taiwan
  19. Uruguai

Consideramos, portanto, como países com regimes inequivocamente democráticos, onde a democracia funciona bem, os 19 países que são, simultaneamente, democracias plenas (EIU), democracias liberais (V-Dem) e livres (FH).

Isso não significa, entretanto, que apenas esses 19 países têm regimes que possam ser considerados democráticos. Se, em vez da interseção, considerarmos a conjunção das 25 democracias plenas (da EIU), com as 29 democracias liberais (do V-Dem), a lista resultante, de 34 países (excluída a África do Sul), seria mais abrangente:

  1. África do Sul
  2. Alemanha
  3. Australia
  4. Austria
  5. Barbados
  6. Bélgica
  7. Canadá
  8. Chequia
  9. Chile
  10. Costa Rica
  11. Dinamarca
  12. Espanha
  13. Estônia
  14. EUA
  15. Finlândia
  16. França
  17. Grécia
  18. Holanda
  19. Irlanda
  20. Islândia
  21. Itália
  22. Jamaica
  23. Japão
  24. Letônia
  25. Luxemburgo
  26. Maurício
  27. Noruega
  28. Nova Zelândia
  29. Portugal
  30. Reino Unido
  31. Seicheles
  32. Suécia
  33. Suíça
  34. Taiwan
  35. Uruguai

Claro que se incluirmos os 85 regimes livres (da FH), a lista ficaria imensa, mas os critérios da Freedom House são muito mais lassos, chegando a incluir, como livres, regimes híbridos (EIU), como a Romênia e democracias claramente não-liberais (V-Dem), talvez tendentes a virarem autocracias, como a Eslováquia. Então é melhor não.

1 – Democracia em sistemas de governo fortemente presidencialistas

O chamado “presidencialismo imperial” é um obstáculo ao bom funcionamento da democracia. É o que estamos vendo agora nos Estados Unidos sob um presidente que segue um plano de exacerbação da sua autoridade monocrática: Donald Trump.

Vejamos a lista de países com sistemas presidencialistas plenos (que exclui sistemas semipresidencialistas, como França e Portugal, onde há um primeiro-ministo com poderes significativos ao lado do presidente). A classificação dos regimes na lista abaixo é a do V-Dem 2025.

  1. Afeganistão – Sob o atual regime talibã, o sistema é presidencialista em estrutura, embora autoritário. Autocracia Fechada.
  2. Angola – Presidente eleito lidera o executivo. Autocracia Eleitoral.
  3. Argentina – Eleição direta do presidente desde 1853, com poderes executivos fortes. Democracia Eleitoral.
  4. Benim – Sistema presidencialista desde a transição democrática em 1991. Autocracia Eleitoral.
  5. Bolívia – Presidente eleito diretamente com amplo controle executivo. Democracia Eleitoral.
  6. Brasil – Presidencialismo adotado desde 1889, com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  7. Burundi – Presidente como chefe de Estado e governo, eleito diretamente. Autocracia Eleitoral.
  8. Camarões – Sistema presidencialista com forte centralização no presidente. Autocracia Eleitoral.
  9. Chade – Presidente domina o executivo, eleito por voto popular. Autocracia Eleitoral.
  10. Chile – Presidencialismo com eleição direta desde o século XIX. Democracia Liberal.
  11. Colômbia – Sistema presidencialista consolidado desde 1886. Democracia Eleitoral.
  12. Comores – Presidente eleito diretamente como líder do executivo. Autocracia Eleitoral.
  13. Congo, República do – Sistema presidencialista com eleição direta. Autocracia
  14. Congo, República Democrática do – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
  15. Coreia do Sul – Presidencialismo desde 1948, com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  16. Costa Rica – Um dos presidencialismos mais antigos e estáveis das Américas. Democracia Liberal.
  17. Costa do Marfim – Presidente eleito diretamente com poderes executivos. Autocracia Eleitoral.
  18. Chipre – Sistema presidencialista pleno, sem primeiro-ministro. Democracia Eleitoral.
  19. Djibouti – Presidente domina o governo, eleito pelo povo. Autocracia Fechada.
  20. Dominicana, República – Presidencialismo com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  21. El Salvador – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
  22. Equador – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  23. Estados Unidos – Modelo clássico de presidencialismo desde 1787. Democracia Liberal.
  24. Filipinas – Inspirado no modelo americano, com eleição direta. Autocracia Eleitoral.
  25. Gabão – Presidente eleito com forte controle executivo. Autocracia Fechada.
  26. Gâmbia – Sistema presidencialista desde a independência. Democracia Eleitoral.
  27. Gana – Presidencialismo adotado na transição democrática dos anos 1990. Democracia Eleitoral.
  28. Guatemala – Presidente eleito diretamente como líder do executivo. Democracia Eleitoral.
  29. Guiné – Sistema presidencialista, embora com instabilidade política. Autocracia Fechada.
  30. Guiné-Bissau – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
  31. Guiné Equatorial – Presidencialismo autoritário com eleição formal. Autocracia Eleitoral.
  32. Haiti – Sistema presidencialista, apesar de crises frequentes. Autocracia Fechada.
  33. Honduras – Presidente eleito diretamente com poderes executivos. Democracia Eleitoral.
  34. Indonésia – Presidencialismo pleno desde reformas pós-1998. Autocracia Eleitoral.
  35. Irã – Presidencialismo combinado com teocracia; presidente eleito diretamente. Autocracia Eleitoral.
  36. Quênia – Sistema presidencialista consolidado desde 2010. Democracia Eleitoral.
  37. Libéria – Presidencialismo inspirado no modelo americano. Democracia Eleitoral.
  38. Malawi – Presidente eleito como chefe de Estado e governo. Democracia Eleitoral.
  39. Maldivas – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  40. México – Presidencialismo desde o século XIX, com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  41. Moçambique – Presidente como líder do executivo, eleito diretamente. Autocracia Eleitoral.
  42. Namíbia – Sistema presidencialista desde a independência em 1990. Democracia Eleitoral.
  43. Nicarágua – Presidente eleito com forte controle executivo. Autocracia
  44. Nigéria – Presidencialismo federal com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  45. Palau – Sistema presidencialista inspirado nos EUA.
  46. Panamá – Presidente como chefe de Estado e governo. Democracia Eleitoral.
  47. Paraguai – Presidencialismo com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  48. Peru – Sistema presidencialista com histórico de instabilidade. Democracia Eleitoral.
  49. Ruanda – Presidente domina o executivo, eleito pelo povo. Autocracia Eleitoral.
  50. Seichelles – Presidencialismo com eleição direta. Democracia Liberal.
  51. Serra Leoa – Sistema presidencialista desde a independência. Autocracia Eleitoral.
  52. Sri Lanka – Presidencialismo pleno desde a constituição de 1978. Democracia Eleitoral.
  53. Sudão – Sistema presidencialista, embora com forte influência militar. Autocracia Fechada.
  54. Sudão do Sul – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Fechada.
  55. Suriname – Presidencialismo com eleição indireta pelo legislativo. Democracia Eleitoral.
  56. Tajiquistão – Sistema presidencialista com características autoritárias. Autocracia Eleitoral.
  57. Tanzânia – Presidente eleito diretamente como líder do executivo. Autocracia Eleitoral.
  58. Togo – Presidencialismo com eleição direta, mas autoritário. Autocracia Eleitoral.
  59. Turcomenistão – Presidencialismo fortemente centralizado. Autocracia Fechada.
  60. Uganda – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
  61. Uruguai – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Liberal.
  62. Uzbequistão – Presidencialismo autoritário com eleição formal. Autocracia Fechada.
  63. Venezuela – Presidencialismo com eleição direta, mas contestado. Autocracia Eleitoral.
  64. Zâmbia – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Eleitoral.
  65. Zimbábue – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.

A primeira evidência é que a maioria dos países com sistemas de governo presidencialistas plenos é composta por autocracias. A segunda evidência da lista acima é que nela só há duas democracias plenas (EIU): Costa Rica e Uruguai (o que corresponde a 3%); e só há cinco regimes considerados (pelo V-Dem) democracias liberais: Chile, Costa Rica, EUA, Seicheles e Uruguai (o que dá 7,7%).

2 – Democracia em países muito grandes

Países muito grandes, com mais de 100 milhões de habitantes, não constituem bons ambientes para o funcionamento de regimes democráticos.

Na lista de todos (os dezesseis) países com mais de 100 milhões de habitantes só temos uma democracia plena (segundo a EIU): o Japão. Nessa lista só temos duas democracias liberais (segundo o V-Dem): os EUA e o Japão. A maioria esmagadora é de ditaduras.

Examinemos os regimes políticos desses países grandes (considerando as classificações do V-Dem e da The Economist Intelligence Unit):

  1. India 1,450,935,791 – Autocracia Eleitoral | Democracia Defeituosa.
  2. China 1,419,321,278 – Autocracia Fechada | Regime Autoritário.
  3. Estados Unidos 345,426,571 – Democracia Liberal | Democracia Defeituosa.
  4. Indonésia 283,487,931 – Autocracia Eleitoral | Democracia Defeituosa.
  5. Paquistão 251,269,164 – Autocracia Eleitoral | Regime Autoritário.
  6. Nigéria 232,679,478 – Autocracia Eleitoral | Regime Híbrido.
  7. Brasil 211,998,573 – Democracia Eleitoral | Democracia Defeituosa.
  8. Bangladesh 173,562,364 – Autocracia Eleitoral | Regime Híbrido.
  9. Russia 144,820,423 – Autocracia Eleitoral | Regime Autoritário.
  10. Etiópia 132,059,767 – Autocracia Eleitoral | Regime Autoritário.
  11. México 130,861,007 – Democracia Eleitoral | Regime Híbrido.
  12. Japão 123,753,041 – Democracia Liberal | Democracia Plena.
  13. Egito 116,538,258 – Autocracia Eleitoral | Regime Autoritário.
  14. Filipinas 115,843,670 – Autocracia Eleitoral | Democracia Defeituosa.
  15. DR Congo 109,276,265 – Autocracia Eleitoral | Regime Autoritário.
  16. Vietnam 100,987,686 – Autocracia Fechada | Regime Autoritário.

Mas há ainda os países que crescem mais. Todos eles são ambientes desfavoráveis à democracia (e também ao desenvolvimento humano e social). Vejamos, na imagem abaixo, as previsões de crescimento para 2050 e 2100.

A chart of the country's number

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Entre os países cuja população vai crescer mais até 2100, temos Paquistão, Nigéria, Congo, Etiópia, Tanzania, Angola e Sudão – uma clara predominância de autocracias.

3 – Democracia em países cujas populações são majoritariamente fundamentalistas religiosas

Eis a lista dos 48 países cuja população é majoritariamente muçulmana e 1 país (Myanmar) cuja maioria da população é budista (theravada) com traços significativos de intolerância às demais religiões. Advirta-se que ser muçulmano não significa necessariamente ser fundamentalista ou intolerante com outras crenças: por exemplo, na Malásia há mais pluralismo do que na Mauritânia. A Índia não foi incluída na lista, mas o crescimento do hinduísmo Hindutva e de grupos como o RSS e BJP, sob o governo nacional-populista de Narendra Modi – que tenta emplacar seu projeto mítico e autocrático Bharat -, tem fortes traços fundamentalistas.

  1. Afeganistão: Quase 99,7% da população é muçulmana, majoritariamente sunita, com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
  2. Albânia: Aproximadamente 58-60% são muçulmanos, predominantemente sunitas, com uma minoria bektashi. Democracia Eleitoral.
  3. Arábia Saudita: Cerca de 97-99% da população é muçulmana, majoritariamente sunita (wahhabita), com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
  4. Argélia: Cerca de 99% são muçulmanos sunitas, com pequenas minorias xiitas e ibaditas. Autocracia Eleitoral.
  5. Azerbaijão: Cerca de 96% são muçulmanos, majoritariamente xiitas, com uma minoria sunita. Autocracia Eleitoral.
  6. Bahrein: Aproximadamente 70-75% são muçulmanos, com uma maioria xiita e uma minoria sunita. Autocracia Fechada.
  7. Bangladesh: Cerca de 90% são muçulmanos, predominantemente sunitas. Autocracia Eleitoral.
  8. Brunei: Aproximadamente 80-82% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  9. Burkina Faso: Cerca de 60-62% são muçulmanos, majoritariamente sunitas. Autocracia Fechada.
  10. Cazaquistão: Aproximadamente 70% são muçulmanos, predominantemente sunitas. Autocracia Eleitoral.
  11. Chade: Cerca de 55-58% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com minorias xiitas. Autocracia Eleitoral.
  12. Comores: Quase 98% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
  13. Djibouti: Aproximadamente 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  14. Egito: Cerca de 90% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com uma minoria copta cristã. Autocracia Eleitoral.
  15. Emirados Árabes Unidos: Cerca de 76% são muçulmanos, predominantemente sunitas, com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
  16. Gâmbia: Aproximadamente 95% são muçulmanos sunitas. Democracia Eleitoral.
  17. Guiné: Cerca de 85% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  18. Guiné-Bissau: Aproximadamente 50-55% são muçulmanos sunitas, com uma população religiosa diversa. Autocracia Eleitoral.
  19. Indonésia: Cerca de 87% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, o maior país muçulmano em população. Autocracia Eleitoral.
  20. Irã: Quase 99% são muçulmanos, com cerca de 90-95% xiitas e 5-10% sunitas. Autocracia Eleitoral.
  21. Iraque: Aproximadamente 97% são muçulmanos, com cerca de 60-65% xiitas e 32-37% sunitas. Autocracia Eleitoral.
  22. Jordânia: Cerca de 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  23. Kuwait: Aproximadamente 75% são muçulmanos, com uma divisão entre sunitas (maioria) e xiitas. Autocracia Fechada.
  24. Líbano: Cerca de 60% são muçulkanos, divididos quase igualmente entre sunitas e xiitas. Autocracia Fechada.
  25. Líbia: Quase 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  26. Malásia: Cerca de 61% são muçulmanos sunitas. Democracia Eleitoral.
  27. Maldivas: Praticamente 100% são muçulmanos sunitas, com a cidadania restrita a muçulmanos. Democracia Eleitoral.
  28. Mali: Aproximadamente 94% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  29. Marrocos: Cerca de 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  30. Mauritânia: Quase 100% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
  31. Níger: Cerca de 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  32. Myanmar: Mais de 80% da população é budista. Autocracia Fechada.
  33. Nigéria: Aproximadamente 50-53% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com minorias xiitas (estimativas variam devido à população dividida com cristãos). Democracia Eleitoral.
  34. Omã: Cerca de 86% são muçulmanos, com uma maioria ibadita, além de sunitas e xiitas. Autocracia Fechada.
  35. Paquistão: Aproximadamente 96-97% são muçulmanos, com cerca de 80% sunitas e 15-20% xiitas. Autocracia Eleitoral.
  36. Palestina (Cisjordânia e Gaza): Cerca de 98% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral e Autocracia Fechada.
  37. Qatar: Aproximadamente 68-70% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
  38. Quirguistão: Cerca de 88% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
  39. Senegal: Aproximadamente 96% são muçulmanos sunitas. Democracia Eleitoral.
  40. Serra Leoa: Cerca de 78% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
  41. Somália: Quase 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  42. Sudão: Cerca de 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  43. Síria: Aproximadamente 87% são muçulmanos, com cerca de 74% sunitas e 13% alauitas/xiitas. Autocracia Fechada.
  44. Tadjiquistão: Cerca de 96% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com uma minoria ismaelita. Autocracia Eleitoral.
  45. Tunísia: Quase 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
  46. Turcomenistão: Aproximadamente 93% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  47. Turquia: Cerca de 98% são muçulmanos, predominantemente sunitas, com uma minoria alevita. Autocracia Eleitoral.
  48. Uzbequistão: Aproximadamente 88% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
  49. Iêmen: Quase 99% são muçulmanos, com cerca de 65% sunitas e 35% xiitas (principalmente zaiditas). Autocracia Fechada.

Se usarmos a classificação do V-Dem, de 48 países de maioria islâmica só escapam quatro que não têm regimes autocráticos: Albânia, Gâmbia, Nigéria, Senegal (sendo que na Nigéria a população muçulmana é pouco mais de 50%). Claro que não há nenhuma democracia liberal ou plena. Mais de 90% (91,6%) são ditaduras (autocracias eleitorais ou autocracias fechadas). Myanmar, por sua vez, também é uma autocracia fechada.

4 – Democracia em países em guerra

Países em guerra (ou estado de guerra prolongado, mesmo que sem derramamento de sangue) não são bons ambientes para a democracia. Os dois exemplos mais recentes são a Ucrânia (que depois de ter sido invadida pela Rússia decaiu de democracia eleitoral para autocracia eleitoral) e Israel (que era democracia liberal antes da guerra em Gaza e agora virou democracia apenas eleitoral) – tudo segundo o V-Dem.

Eis a lista dos 51 países em guerra (considerando conflitos armados com mais de mil mortes anuais ou crises humanitárias graves) ou estado de guerra persistente. Desses, 41 são autocracias (ou seja, mais de 80%). Só há uma democracia liberal (V-Dem): os Estados Unidos. Não há nenhuma democracia plena (EIU).

  1. Afeganistão: Guerra civil e insurgência terrorista | Autocracia Fechada.
  2. Argélia: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  3. Bangladesh: Crise de governança e conflitos civis. | Autocracia Eleitoral.
  4. Benim: Insurgência terrorista. | Autocracia (sem classificação V-Dem).
  5. Burkina Faso: Insurgência terrorista. | Autocracia Fechada.
  6. Camarões: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  7. Chade: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  8. China: Preparação para invasão e anexação de Taiwan e disputas no Mar do Sul da China. | Autocracia Fechada.
  9. Colômbia: Guerra civil e guerra contra o narcotráfico. | Democracia Eleitoral.
  10. Coreia do Norte: Tensões com os EUA e testes de armas. | Autocracia Fechada.
  11. Costa do Marfim: Insurgência terrorista. | Autocracia Fechada.
  12. Equador: Conflito civil e guerra contra gangues. | Democracia Eleitoral.
  13. Estados Unidos: Ameaças de violação da soberania territorial da Groelândia (Dinamarca) e do Panamá (Canal). Ameaça de bombardeio ao Irã. Ameaça de expulsão da população palestina de Gaza e de anexação (ou apropriação) da Faixa. Guerra direta contra o Iêmem (Houthis). Guerra comercial global contra o mundo exterior, em especial contra as nações democráticas e contra algumas ditaduras, sobretudo a da China (mas não contra as ditaduras da Rússia, Bielorrússia, Coreia do Norte, Cuba). | Democracia Liberal.
  14. Etiópia: Conflitos étnicos e políticos. | Autocracia Eleitoral.
  15. Filipinas: Disputas no Mar do Sul da China. | Autocracia Eleitoral.
  16. Gana: Insurgência terrorista. | Democracia Eleitoral.
  17. Haiti: Guerra civil e violência de gangues. | Autocracia Fechada.
  18. Iêmen: Guerra civil. Guerra contra Israel e EUA (Houthis) | Autocracia Fechada.
  19. Índia: Conflito em Kashmir. | Autocracia Eleitoral.
  20. Irã: Guerra contra Israel por meio de uma dúzia de organizações terroristas coordenadas pela IRGC. Netwar contra o mundo democrático, sobretudo os EUA. | Autocracia Eleitoral
  21. Iraque: Insurgência terrorista e instabilidade política. | Autocracia Eleitoral.
  22. Israel: Guerra contra o Irã e seus braços terroristas na Palestina (Hamas e Jihad Islâmica), no Líbano (Hezbollah), no Iraque, na Síria, no Iêmem (Houthis). Guerra aberta contra Gaza e estado de guerra com Cisjordânia.
  23. Líbano: Conflitos com Israel e instabilidade interna. | Democracia eleitoral (Decaiu de democracia liberal após o início da guerra em Gaza).
  24. Líbia: Insurgência terrorista e conflitos entre facções. | Autocracia Fechada.
  25. Mali: Insurgência terrorista. | Autocracia Fechada.
  26. Marrocos: Insurgência terrorista. | Autocracia Fechada.
  27. Mauritânia: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  28. México: Guerra contra o narcotráfico. | Democracia Eleitoral.
  29. Moçambique: Guerra civil. | Autocracia Eleitoral.
  30. Moldávia: Tensões com a Rússia. | Democracia Eleitoral.
  31. Myanmar: Guerra civil. | Autocracia Fechada.
  32. Níger: Insurgência terrorista. | Autocracia Fechada.
  33. Nigéria: Insurgência terrorista. | Democracia Eleitoral.
  34. Palestina (Gaza): Guerra aberta contra Israel | Autocracia Fechada.
  35. Palestina (Cisjordânia): Estado de guerra com Israel. | Autocracia Eleitoral.
  36. Paquistão: Conflitos com o Afeganistão e instabilidade interna. | Autocracia Eleitoral
  37. República Centro-Africana: Guerra civil. | Autocracia Fechada.
  38. República Democrática do Congo: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  39. Rússia: Guerra contra a Ucrânia. Ameaça de invasão da Polônia, da Estônia, da Letônia, da Lituânia, da Moldávia, da Georgia, da Finlândia e até da Suécia. Liderança da netwar global contra o mundo democrático. | Autocracia Eleitoral.
  40. Sérvia: Tensões com o Kosovo. | Autocracia Eleitoral.
  41. Síria: Guerra civil e intervenções externas. | Autocracia Fechada.
  42. Somália: Guerra contra o Al-Shabaab. | Autocracia Fechada.
  43. Sudão do Sul: Violência étnica e conflitos políticos. | Autocracia Fechada.
  44. Sudão: Guerra civil. | Autocracia Fechada.
  45. Tanzânia: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  46. Togo: Insurgência terrorista.| Autocracia Eleitoral.
  47. Tunísia: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  48. Turquia: Conflitos com grupos curdos e vizinhos. | Autocracia Eleitoral.
  49. Ucrânia: Guerra com a Rússia. | Autocracia Eleitoral (decaiu de Democracia Eleitoral após o início da guerra).
  50. Uganda: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
  51. Venezuela: Instabilidade política e crise de refugiados. Ameaça de violação da soberania territorial da Guiana (Essequibo). | Autocracia Eleitoral.

Aqui há um conhecimento importante corroborado pela presente investigação: o de que autocracia é guerra (ou vice-versa). Dos 51 países hoje em guerra fria ou quente (considerando conflitos armados com mais de mil mortes anuais ou crises humanitárias graves), 41 são autocracias (ou seja, mais de 80%).

5 – Democracia em regimes eleitorais parasitados por governos populistas

Não há nenhuma base de dados onde seja possível identificar regimes eleitorais parasitados por populismos (inclusive porque não há consenso entre os pesquisadores sobre o que significa populismo e sobre quais os seus tipos). Eis uma lista (parcial) de 21 países com regimes eleitorais parasitados por governos populistas, sejam neopopulistas (ditos de esquerda), sejam populistas-autoritários ou nacional-populistas (ditos de direita ou extrema-direita) com os nomes de seus respectivos governantes atuais. A classificação dos regimes é a do V-Dem.

  1. África do Sul | Democracia Liberal? | Governo neopopulista (Ramaphosa).
  2. Angola | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Lourenço).
  3. Argentina | Democracia Eleitoral | Governo populista (Milei).
  4. Bielorrússia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Lukashenko).
  5. Bolívia | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Evo e Arce).
  6. Brasil | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Lula).
  7. Colômbia | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Petro).
  8. El Salvador | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Bukele).
  9. Eslováquia | Democracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Fico).
  10. Estados Unidos | Democracia Liberal | Governo populista-autoritário (Trump).
  11. Honduras | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Manuel e Xiomara Zelaya).
  12. Hungria | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Orbán).
  13. Índia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Modi).
  14. Indonésia | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Subianto).
  15. Itália | Democracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Salvini e Meloni).
  16. Israel | Democracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Netanyahu).
  17. México | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Obrador e Sheinbaum).
  18. Nicarágua | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Ortega e Murillo).
  19. Rússia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Putin).
  20. Turquia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Erdogan).
  21. Venezuela | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Maduro).

Na lista acima temos 10 governos neopopulistas e 10 governos populistas-autoritários, sendo que 1 ainda não se enquadra bem nas duas categorias (o governo da Argentina). Da lista inteira a metade é de ditaduras e só há 1 democracia liberal (EUA), sendo que o V-Dem, no seu relatório de 2025, incluiu também a África do Sul (o que deve ser um erro). Segundo a The Economist Intelligence Unit, não há nenhuma democracia plena na lista.

Mas há ainda, pelo menos, 9 países com oposições populistas mais relevantes: 1 com oposição neopopulista e 8 com oposições populistas-autoritárias (ou nacional-populistas). Eis uma lista (parcial) com os nomes de seus principais líderes oposicionistas:

  1. Alemanha | Oposição populista-autoritária (Chrupalla e Weidel).
  2. Brasil | Oposição populista-autoritária (Bolsonaro).
  3. Equador | Oposição neopopulista (Luísa González e Rafael Correa).
  4. Espanha | Oposição populista-autoritária (Abascal).
  5. Finlândia | Oposição populista-autoritária (Purra).
  6. França | Oposição populista-autoritária (Le Pen e Bardella).
  7. Holanda | Oposição populista-autoritária (Wilders).
  8. Portugal | Oposição populista-autoritária (Ventura).
  9. Reino Unido | Oposição populista-autoritária (Farage).

CONCLUSÃO

Em breve. Aguardando reações dos leitores.