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Márcio Coimbra

Sobre Márcio Coimbra

Márcio Coimbra é Presidente do Instituto Monitor da Democracia. Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.

A Erosão da “Opção Nuclear”: O Caso Moraes e o Futuro da Lei Magnitsky

A Lei Global Magnitsky de Responsabilidade de Direitos Humanos é frequentemente descrita nos corredores de Washington como a “opção nuclear” da diplomacia americana moderna. Desenhada para ser uma ferramenta cirúrgica e devastadora contra indivíduos que operam na impunidade, a legislação permite aos Estados Unidos projetar poder moral e financeiro para além de suas fronteiras. No entanto, o recente e tumultuado episódio envolvendo o Ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro, Alexandre de Moraes — cuja inclusão na lista de sanções em julho de 2025 foi revertida apenas meses depois, em dezembro — levanta uma questão existencial para a eficácia desta política. Se uma lei criada para punir torturadores e cleptocratas passa a ser utilizada e recolhida como moeda de troca em disputas político-ideológicas, ela corre o risco iminente de perder sua capacidade de dissuasão global.

Para compreender a gravidade desse cenário, é fundamental retomar a gênese trágica da legislação. A lei carrega o nome de Sergei Magnitsky, um advogado e auditor russo que, em 2008, expôs uma fraude fiscal massiva de 230 milhões de dólares perpetrada por oficiais do próprio governo russo. Em vez de ser condecorado, Magnitsky foi preso, torturado e teve assistência médica negada até sua morte em uma prisão de Moscou, em 2009. A indignação global, liderada pelo financista Bill Browder, culminou na assinatura da lei pelo presidente Barack Obama em 2012, focada inicialmente na Rússia, e sua expansão global pelo Congresso em 2016. Desde então, a lei serve como um aviso de que as fronteiras nacionais não protegem violadores de direitos humanos do alcance do sistema financeiro americano.

A aplicação da Lei Magnitsky não é meramente simbólica; ela impõe uma “morte cível” econômica ao sancionado. Quando um indivíduo é incluído na lista de Cidadãos Especialmente Designados (SDN) do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), as consequências são imediatas e catastróficas. Primeiramente, todos os bens e interesses em propriedade do alvo que estejam nos Estados Unidos ou em posse de cidadãos americanos são bloqueados e congelados. Isso vai muito além de imóveis em Miami ou Nova York, afeta qualquer ativo financeiro que transite pelo sistema bancário americano.

Ainda mais grave é o isolamento do sistema financeiro global. Embora a lei seja americana, a onipresença do dólar torna a sanção extraterritorial na prática. Bancos internacionais, temendo multas secundárias ou a perda de acesso ao mercado americano, cortam laços com o sancionado quase instantaneamente. O indivíduo perde a capacidade de realizar transações via SWIFT, o sistema de mensagens que sustenta as transferências internacionais, tornando-se um pária financeiro incapaz de manter contas bancárias, cartões de crédito internacionais ou realizar comércio exterior. Adicionalmente, a lei impõe restrições severas de visto, impedindo a entrada do sancionado e, frequentemente, de seus familiares imediatos nos Estados Unidos.

Diante desse poder de fogo, a aplicação da lei contra um juiz de uma suprema corte de uma democracia ocidental, como ocorreu com Alexandre de Moraes, foi um evento sem precedentes. A sanção foi impulsionada por alegações de censura e violação da liberdade de expressão, pautas fortemente defendidas por uma ala do Congresso americano. Contudo, a rápida retirada do nome de Moraes da lista, após ajustes nas políticas de plataformas digitais e negociações diplomáticas, sugere uma flexibilização perigosa dos critérios da lei. Ao remover a sanção tão rapidamente, os Estados Unidos enviaram um sinal de que a inclusão na lista Magnitsky pode ser revertida não necessariamente por uma mudança fundamental de caráter ou justiça, mas por realinhamentos políticos e concessões estratégicas.

Esse movimento de “vai e vem” alimenta o argumento de críticos e autocratas de que a lei é, na verdade, uma ferramenta de coerção política seletiva, e não um instrumento imparcial de justiça. Desde 2017, o programa Global Magnitsky sancionou mais de 740 entidades e indivíduos em mais de 50 países. A lista inclui figuras notórias, desde oficiais chineses envolvidos na repressão aos Uigures em Xinjiang até os assassinos do jornalista Jamal Khashoggi na Arábia Saudita, passando pelos irmãos Gupta na África do Sul. A eficácia da lei contra esses alvos reside na percepção de que a sanção é técnica e baseada em evidências robustas de atrocidades ou corrupção sistêmica.

A retirada de nomes da lista de sanções, conhecida como delisting, é historicamente rara e desenhada para ser difícil. Ela geralmente exige provas concretas de que o comportamento do sancionado mudou, que houve erro na designação original ou a morte do indivíduo. O precedente mais notório de volatilidade antes do caso brasileiro foi o do bilionário israelense Dan Gertler, sancionado por corrupção na República Democrática do Congo. Em um movimento controverso nos últimos dias do governo Trump, Gertler recebeu uma licença que suspendia as sanções, apenas para tê-las reimpostas semanas depois pela administração Biden, que citou a inconsistência da licença com os valores anticorrupção americanos.

O episódio de Alexandre de Moraes, somado ao precedente de Gertler, cria uma jurisprudência de instabilidade. Se ditadores e violadores de direitos humanos ao redor do mundo perceberem que a Lei Magnitsky é permeável ao lobby e à pressão política momentânea, o medo de serem sancionados diminuirá drasticamente. A força da lei reside na sua certeza e na sua perenidade; ao transformá-la em um interruptor que pode ser ligado e desligado conforme a temperatura política de Washington, os Estados Unidos correm o risco de embotar uma das armas mais importantes já criadas para a proteção dos direitos humanos globais. Para que a lei mantenha sua relevância e capacidade de pressão, sua aplicação deve permanecer blindada contra disputas ideológicas passageiras, focando-se estritamente naqueles crimes universais que a inspiraram: a tortura, a execução extrajudicial e o roubo massivo de recursos públicos.

Os muros invisíveis do protecionismo europeu

A saga do Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia, negociado há mais de duas décadas, atingiu um ponto de inflexão decisivo. Em 2025, o bloco sul-americano e Bruxelas enfrentam um verdadeiro “agora ou nunca” antes que a janela política se feche novamente, talvez por tempo indeterminado. A análise do cenário atual aponta para uma negociação complexa, tensa e repleta de contradições, especialmente após recentes diálogos em Bruxelas com as partes envolvidas, algo que acompanhei pessoalmente na Bélgica. A pergunta que paira, portanto, é crucial para o futuro do comércio exterior brasileiro: existe chance de assinatura ainda neste ano e, se sim, o acordo nas condições atuais será realmente bom para o Brasil?

A pressão para fechar o acordo em 2025 é palpável e ditada por um calendário político estrito. O Parlamento Europeu entrará em recesso no final do ano, e os próximos ciclos políticos, tanto na Europa quanto no Mercosul, trazem consigo o risco de uma mudança de prioridades que poderia levar o acordo de volta à estaca zero. Do lado do Mercosul, existe um consenso, liderado pelo Brasil, de que é preciso aproveitar o mandato da atual Comissão Europeia, que demonstrou o máximo empenho na conclusão, antes que o quadro político se altere. O que falta, contudo, é a superação de barreiras protecionistas internas na Europa, frequentemente disfarçadas de preocupações ambientais e sanitárias. Desde o ano passado, o principal entrave não é mais o texto principal de 2019, mas a chamada “Carta Adicional” (Side Letter), proposta pela UE em 2023. Esta carta visa reforçar o compromisso do Mercosul com o Acordo de Paris e introduzir sanções em caso de descumprimento de metas ambientais, sobretudo no que tange ao desmatamento. O Mercosul, em sua resposta, aceitou a maioria dos pontos ambientais, mas exigiu um compromisso recíproco: que a UE forneça apoio financeiro e tecnológico para o desenvolvimento sustentável. A negociação está hoje centrada em achar um meio-termo para esta reciprocidade.

Em meio a essas discussões, o Comitê de Comércio Internacional (INTA) do Parlamento Europeu aprovou, nos últimos dias, uma medida que pode ser o golpe mais duro contra o espírito do acordo até agora. A decisão visa facilitar a adoção de medidas protecionistas contra produtos agrícolas do Mercosul por meio da reformulação das cláusulas de salvaguarda. As cláusulas de salvaguarda existem em qualquer acordo de livre-comércio para permitir que um país suspenda temporariamente a redução de tarifas em caso de um aumento repentino e significativo de importações que ameace seu setor produtivo. A manobra do INTA é sutil, mas perigosa. Primeiramente, propõe-se reduzir o limite para iniciar uma investigação de salvaguarda. Ao baixar o patamar de aumento de importações necessário para acionar a medida, a Europa torna quase automático o bloqueio temporário de produtos sensíveis, como a carne bovina e as aves do Mercosul, mesmo em condições normais de mercado. Em segundo lugar, o novo texto busca encurtar drasticamente o tempo necessário para a aplicação das medidas de proteção. Isso limita a capacidade do Mercosul de se defender ou de negociar soluções antes que as barreiras sejam impostas. Essa ação, vista em Bruxelas como uma forma de aplacar a forte oposição dos agricultores europeus (principalmente franceses), desvirtua o propósito de um acordo de livre-comércio. O que é vendido como uma rede de segurança vira, na prática, uma barreira não-tarifária flexível e de fácil aplicação.

Além das cláusulas de salvaguarda, um ponto técnico que muitas vezes escapa ao olhar do grande público é o impacto das regras de origem. A UE, por meio de seus regulamentos, é meticulosa sobre como um produto do Mercosul deve ser fabricado para ser considerado verdadeiramente “nosso” e, assim, se beneficiar da tarifa reduzida. Em setores complexos, como autopeças e químicos, as regras de origem europeias tendem a ser rígidas, exigindo um alto percentual de conteúdo regional do Mercosul para que o produto se qualifique. Esse rigor burocrático e técnico, somado às novas salvaguardas, pode criar um efeito cascata. Mesmo que a tarifa de importação seja zero no papel, a dificuldade em comprovar a origem, que alimenta a burocracia, ou o risco de ter a tarifa preferencial suspensa, a aplicação da salvaguarda, atua como um desincentivo para as empresas do Mercosul, limitando o potencial de crescimento das exportações. Na prática, a UE está construindo um muro invisível de burocracia e proteção legalista em torno do seu mercado agrícola, enquanto abre as portas apenas onde tem vantagens competitivas claras.

A resposta estratégica do Mercosul a essas manobras europeias deve ser firme, mas pragmática. A estratégia não pode ser simplesmente abandonar a mesa, dada a relevância do mercado europeu e a sinalização que o acordo daria ao mundo sobre a abertura de ambos os blocos. O Brasil precisa insistir que as salvaguardas permaneçam dentro dos parâmetros acordados originalmente e que a reciprocidade na Carta Adicional seja significativa. Um ponto de alavancagem para o Mercosul é o avanço de negociações comerciais com outros grandes blocos, como o Canadá e Cingapura. Esses acordos alternativos dão ao Mercosul a credibilidade necessária para dizer à UE quetemos outras opções. A Europa sabe que, se o Mercosul continuar a se abrir para parceiros que oferecem termos mais justos no comércio agrícola, a relevância estratégica e econômica do acordo com a UE diminuirá. É nesse jogo de xadrez diplomático que o Brasil deve usar sua experiência, transformando a pressão protecionista europeia em um catalisador para exigir um acordo que seja verdadeiramente equilibrado, em vez de uma mera formalização de vantagens assimétricas para o bloco europeu.

A conclusão é inequívoca: um acordo assinado sob estas condições será um acordo de livre-comércio “pela metade” para o Mercosul, onde a UE assegura seus ganhos industriais e tecnológicos, enquanto seu setor agrícola obtém um “seguro” robusto contra a principal vantagem comparativa do bloco sul-americano. O Brasil e seus parceiros do Mercosul devem usar a força de sua posição—o acordo é tão importante para a Europa quanto para o bloco sul-americano—para resistir a esta tentativa de protecionismo velado. O acordo só será bom se for equilibrado, e a abertura industrial brasileira deve ser compensada por um acesso agrícola genuíno e seguro, livre de gatilhos artificiais. O tempo urge, mas a pressa não pode comprometer a qualidade e a equidade do resultado final.

País dos Privilégios

Frédéric Bastiat foi categórico ao descrever a expoliação legal: o uso da lei para pilhar o contribuinte. No Brasil, essa pilhagem atingiu níveis de obscenidade fiscal. A máquina pública, que deveria ser servidora da nação, transformou-se em oligarquia financiada compulsoriamente pelo setor produtivo. A inação diante da urgência de reforma não é um erro gerencial, mas uma escolha deliberada de manutenção de poder e privilégio.

Os números não admitem eufemismos. Levantamento do  Movimento Pessoas à Frente e República.org revelou que 53 mil servidores públicos recebem acima do teto constitucional. O custo anual dessa farra é de R$ 20 bilhões. Este montante não representa apenas um rombo, mas transferência regressiva de renda onde trabalhador e empresário, que geram a riqueza, são espoliados para financiar o luxo governamental.

A disparidade salarial é o indicador mais contundente da falência do modelo. Enquanto a maioria dos brasileiros luta contra a estagnação econômica, estudos do Banco Mundial indicam que o salarial do servidor federal atinge uma média 96% maior em comparação com pares do setor privado. Uma distorção que desincentiva os mais capazes talentos de gerar riqueza no setor privado para se acomodar no setor público, refugiados na estabilidade de seus vultosos proventos. 

O Judiciário, em particular, lidera esse festim fiscal. O custo do sistema de justiça brasileiro atinge alarmantes 1,6% do Produto Interno Bruto, um patamar que é quatro vezes maior do que a média dos países da OCDE. Pagamos um dos Judiciários mais caros do planeta para, ironicamente, termos um dos processos mais lentos e uma segurança jurídica questionável, com seus mais altos membros viajando de carona em jatinhos de investigados, ao mesmo tempo que enterram as mais importantes operação que miram combater a corrupção. Um escárnio.

O aspecto mais nefasto dessa crise é a covardia política que a sustenta. O governo Lula e sua base aliada demonstram uma inércia estratégica. A ausência de movimento pela Reforma Administrativa não se deve à complexidade técnica, mas à captura corporativista. Enfrentar os supersalários e a estabilidade desmedida significa confrontar sindicatos e corporações estatais que são bases de sustentação do governo. A prioridade é clara: aumentar a receita via impostos para acomodar a despesa para colher votos, em vez de racionalizar o gasto e confrontar os privilégios.

Vale lembrar que a manutenção de uma máquina pública extrativista e ineficiente não é apenas uma questão de números fiscais, é um atentado à equidade social. Os bilhões que irrigam os supersalários são subtraídos do investimento em saúde básica, educação de qualidade e infraestrutura. Urge, portanto, reposicionar o debate. A reforma administrativa não deve ser encarada meramente como um corte de gastos, mas como um imperativo moral e econômico para desarmar as armadilhas que fazem do Brasil um país subdesenvolvido. Enquanto bilhões forem drenados anualmente para sustentar excessos de uma elite burocrática, o país continuará a operar muito aquém de seu potencial, preso a um modelo onde alguns privilegiados servem-se do trabalho duro de uma legião de brasileiros que carregam a nação nas costas.

Cartel de Caracas

Sob a perspectiva técnica da inteligência corporativa e da análise de riscos geopolíticos, classificar a Venezuela de Maduro apenas como uma ditadura é um erro de categoria. O que observamos hoje não é uma crise política convencional, mas a consolidação de um “narco-estado de exceção”. A Venezuela deixou de operar sob a lógica de um Estado-nação para funcionar como uma organização criminosa transnacional que representa uma ameaça existencial à segurança hemisférica.

Os indicadores macroeconômicos e sociais descrevem um país em processo de extermínio deliberado. Com uma retração do PIB superior a 80% na última década e a destruição completa do poder de compra pela hiperinflação, o regime instrumentalizou a miséria. A fome não é um acidente de gestão, é uma política de Estado para o controle social. Contudo, o que mantém Maduro no Palácio de Miraflores não é a ideologia, é o terror. Relatórios da Missão Internacional da ONU documentam, com precisão forense, a arquitetura da repressão: o uso sistemático de tortura, violência e desaparecimentos forçados executados pelo SEBIN e pela DGCIM. O Helicoide, em Caracas, tornou-se o monumento de um sistema onde a dissidência é tratada com choques elétricos e asfixia.

Caracas representa a fusão entre Estado e crime organizado. A Venezuela tornou-se o principal hub logístico para o escoamento de drogas nas Américas. O denominado Cartel de los Soles não é uma máfia que corrompeu o governo, ele é o governo. Altas patentes militares utilizam a infraestrutura estatal — portos, aeroportos e radares — para exportar drogas para os EUA e Europa. Ainda mais alarmante é a cessão de soberania territorial a grupos terroristas. A presença ativa do ELN, de dissidentes das FARC e de células operacionais ligadas ao Hezbollah e ao Irã transforma a Venezuela em um porto seguro para o terrorismo global e inteligência hostil no continente.

Diante desse cenário, a tese da “solução interna” tornou-se uma ilusão. A sociedade civil está desarmada e desnutrida, a oposição política, encarcerada ou exilada. Uma intervenção externa coordenada deixa de ser uma opção radical e passa a ser a única via pragmática para estancar a sangria. Tratar Maduro não como um chefe de Estado, mas como o líder de uma organização criminosa, é vital. O relaxamento dessa pressão seria um erro de cálculo catastrófico, validando a impunidade de um regime que zomba da diplomacia. Para além disso, é preciso lembrar que a mera troca de comando, preservando a estrutura militar corrompida, perpetuaria um narco-estado sob fachada democrática. A mudança exige o desmantelamento total do aparelhamento chavista, sob pena de criar uma soberania tutelada pelo crime.

Para o Brasil, a neutralidade diplomática é negligência estratégica. O risco de contágio é iminente. A organização criminosa venezuelana Tren de Aragua já infiltrou suas operações em Roraima e outros estados, estabelecendo alianças táticas com facções locais como o PCC e o CV. Nossas fronteiras são permeáveis ao fluxo de fuzis e drogas que o regime vizinho fomenta. Apoiar uma intervenção internacional robusta e a refundação institucional em Caracas não é ingerência, é uma medida urgente de legítima defesa da soberania e da segurança pública brasileira.

A voz de Tóquio

A ascensão de Sanae Takaichi ao cargo de Primeira-Ministra marca o encerramento da era da timidez diplomática do Japão. Ao declarar inequivocamente que uma agressão chinesa a Taiwan constituiria “situação de ameaça à sobrevivência” do seu país, Takaichi alinhou a política externa japonesa à dura realidade do século XXI: a segurança de Taiwan é, de fato e indissociavelmente, a segurança da Ásia. Esta postura não deve ser lida como belicismo, mas como um necessário realismo geográfico e estratégico.

A decisão da Primeira-Ministra de abandonar a tradicional “ambiguidade estratégica” em favor de uma “clareza tática” foi recebida com a previsível fúria de Pequim. As retaliações chinesas, que variam desde a suspensão de importações de produtos japoneses até o congelamento do turismo e uma retórica inflamada sobre ultrapassar “linhas vermelhas”, acabam por expor a fragilidade dos argumentos do vizinho comunista. Quando uma nação soberana reage a uma postura defensiva de um vizinho com coerção econômica e ameaças veladas, ela apenas valida a necessidade urgente dessa defesa. A liderança de Takaichi, ao recusar-se a ceder a essa chantagem, envia uma mensagem crucial ao mundo: o Japão não será refém de seu maior parceiro comercial quando sua existência estiver em jogo.

Essa audácia política não ocorre no vácuo, encontrando forte ressonância na renovada aliança com Washington e no apoio de uma comunidade internacional cada vez mais cautelosa com o expansionismo chinês. A comunicação direta com a Casa Branca sugere que Washington vê em Takaichi a parceira ideal para a manutenção de um “Indo-Pacífico Livre e Aberto”. Ao verbalizar o que muitos líderes ocidentais pensam, mas hesitam em dizer por temor econômico, o Japão assume a liderança política que condiz com seu peso global. No centro desta disputa está a recusa em aceitar a ficção diplomática de que a ilha democrática de Taiwan seria apenas uma simples província rebelde.

A análise técnica e jurídica corrobora a posição japonesa, pois Taiwan opera como um país pleno sob qualquer critério objetivo de direito internacional. A ilha preenche todos os requisitos da clássica Convenção de Montevidéu para a personalidade jurídica de um Estado: possui uma população permanente de 23 milhões de habitantes com identidade própria, detém território definido com fronteiras claras e jurisdição efetiva, é gerida por um governo democrático, funcional e autônomo que cobra impostos, emite passaportes e demonstra plena capacidade de estabelecer relações com outras nações. Ao tratar Taiwan como parceiro estratégico, Takaichi não está inventando uma nova realidade, mas apenas reconhecendo a existência de um Estado que possui suas próprias leis, forças armadas, moeda e plena autonomia.

Em última análise, a atitude de Sanae Takaichi representa um divisor de águas na geopolítica asiática. Diante das ameaças de Pequim, a resposta do Japão sob sua liderança não foi o recuo habitual, mas a firmeza baseada em princípios. Ao defender o direito de Taiwan de existir livre de coerção, a Primeira-Ministra defende também a ordem internacional baseada em regras, lembrando que a complacência com regimes expansionistas historicamente apenas convida a maiores agressões. O Japão posiciona-se agora não apenas como um observador ansioso, mas como um guardião ativo da liberdade e da estabilidade no Pacífico.

Os Tentáculos de Teerã

Enquanto a atenção mundial se concentrava nos conflitos abertos no Oriente Médio, um plano ousado, gestado nos porões de Teerã, foi desmontado a tempo de evitar uma tragédia de proporções internacionais. Poucos meses atrás, o governo mexicano, em coordenação com agências de outros países, frustrou uma conspiração orquestrada pela Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã, para assassinar Einat Kranz-Neiger, Embaixadora de Israel no México. O caso, que recebeu escassa atenção da imprensa brasileira, serve como alerta contundente: a máquina de desestabilização iraniana não apenas permanece ativa, mas opera com audácia crescente em territórios distantes, mesmo após os reveses de seus aliados mais visíveis.

O modus operandi envolvia o recrutamento de um cidadão mexicano, seguindo ordens diretas de um agente iraniano. A estratégia de recrutamento local evidencia uma nova tática da Guarda Revolucionária dos aiatolás na América Latina, operando desde a Venezuela. O objetivo principal é minimizar riscos e aumentar as chances de sucesso em solo estrangeiro, demonstrando uma sofisticação funcional que vai além do teatro de guerra convencional.

Este episódio é um exemplo emblemático da doutrina de “guerra híbrida” iraniana. Num momento em que Hamas, Hezbollah e Houthis enfrentam significativa pressão militar e diplomática, Teerã responde estendendo seus tentáculos. Ao mirar uma alta figura diplomática em um terceiro país como o México, o regime sinaliza que sua campanha de antagonismo não conhece fronteiras. A escolha do alvo – uma mulher que representa Israel diplomaticamente – foi claramente calculada para infligir um golpe estratégico e simbólico, criando uma crise internacional de grandes proporções.

A contenção bem-sucedida deste complô, um triunfo silencioso da cooperação em inteligência, evitou uma catástrofe. No entanto, a tentativa em si é a mensagem mais alarmante. Ela desmente qualquer narrativa de que um Irã sob sanções (e com seus proxies enfraquecidos) estaria contido. Pelo contrário, revela um regime que, quando pressionado, pode tornar-se mais ousado e imprevisível, recorrendo a operações de alto risco em territórios alheios ao seu teatro de operações para projetar poder e vingança.

Este evento não é um incidente isolado. Deve ser analisado em conjunto como uma prática já utilizada pelo regime dos aiatolás. A Austrália expulsou o embaixador iraniano após apontar envolvimento de Teerã em um ataque contra uma sinagoga em Melbourne e outro contra um restaurante kosher em Sydney. Na América Latina, o atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em 1994, em Buenos Aires, que deixou 85 mortos. Um ataque cometido pelo Hezbollah a pedido do Irã. 

A lição do atentado frustrado na Cidade do México é cristalina: a comunidade internacional não pode expor-se ao risco. Subestimar a resiliência e a capacidade de adaptação do regime iraniano é um erro estratégico perigoso. A abordagem ocidental não pode se limitar a conter grupos proxy, deve confrontar com vigor a fonte primária da instabilidade e regimes aliados, como em Caracas. É imperativo intensificar a pressão diplomática, ampliar a cooperação em inteligência e fechar as brechas nas sanções que permitem a Guarda Revolucionária financiar operações globais. Ignorar a persistência da ameaça iraniana é convidar a uma crise ainda mais severa no futuro. O perigo não se dissipou, simplesmente se transmutou e expandiu seu raio de ação.

COP30: Uma Reflexão Necessária

Enquanto o Brasil recebe a COP30, a narrativa de uma crise climática atinge seu ápice. No entanto, um exame mais aprofundado da história do planeta e dos dados disponíveis revela um quadro mais complexo e menos alarmista. A Terra é um organismo dinâmico, que passou por ciclos naturais de aquecimento e resfriamento ao longo de milênios, muito antes da industrialização. Logo, questionar o atual consenso absoluto não é negacionismo, mas um exercício de ceticismo científico saudável.

Climatologistas como Bjorn Lomborg, autor de “O Ambientalista Cético”, não negam as mudanças climáticas, mas colocam em perspectiva o papel da humanidade nelas. Lomborg argumenta que o discurso apocalíptico gera políticas ineficazes e custosas, desviando recursos de problemas globais mais prementes, como a pobreza, a má-nutrição e a falta de saneamento básico. Ele defende que a adaptação e a inovação tecnológica são respostas mais pragmáticas e humanas do que tentativas draconianas de descarbonizar a economia global à força.

Essa visão pragmática encontra eco em outros cientistas de renome. O físico atmosférico Richard Lindzen, do MIT, e a climatóloga Judith Curry, da Georgia Tech, já argumentaram que a sensibilidade do clima ao CO2 pode ser superestimada e que a variabilidade natural interna do planeta é um fator subestimado nos modelos atuais.

A ideia de que o clima era estático antes da atividade humana ignora evidências históricas. Períodos como o Ótimo Climático Medieval (séculos X-XIII), quando as temperaturas eram provavelmente mais altas que as atuais, permitiram a colonização viking na Groenlândia. Em contrapartida, a Pequena Idade do Gelo (séculos XIV-XIX) trouxe frio intenso e fome para a Europa. Esses eventos ocorreram sem a influência de combustíveis fósseis, demonstrando a variabilidade natural do sistema climático.

Surge, então, a pergunta crucial: até que ponto a ação humana é o fator determinante? Muitos cientistas, cujas vozes são muitas vezes abafadas, apontam para a influência de ciclos solares e oscilações oceânicas como os principais condutores do clima em escalas de tempo decenais e seculares. Culpar apenas o CO2 por todas as mudanças no clima é uma explicação simplista para um sistema que é complexo e imprevisível.

Não se pode ignorar, ainda, a dimensão econômica por trás da “agenda verde”. Criou-se uma poderosa indústria bilionária em torno das teses das “mudanças climáticas”. Fundos de investimento, corporações de energia “renovável” e uma vasta rede de ONGs são financiados para promover uma narrativa única. Esta, por sua vez, justifica pesados subsídios, regulamentações e taxações que redistribuem riqueza e concentram poder, muitas vezes com um impacto questionável na temperatura global.

Portanto, a COP30 deve ser um espaço não para o dogmatismo, mas para o debate aberto. É preciso escutar os cientistas céticos, avaliar os custos reais das políticas de net-zero e priorizar a resiliência e a prosperidade humana. O planeta sempre mudou. O grande desafio não é frear um processo natural, mas sim aprender a lidar com ele com inteligência, sem renunciar ao nosso progresso e qualidade de vida em razão de um alarmismo financiado por interesses políticos.

Crime Sem Fronteiras

A operação deflagrada no Rio de Janeiro expôs com violência o caráter transnacional do crime organizado brasileiro. Ao enfrentar o Comando Vermelho, facção que controla rotas de cocaína da Amazônia à Europa, a polícia estava também atingindo pontos nevrálgicos de uma organização criminosa transnacional. A letalidade da ação, portanto, não é apenas um drama local. Estamos diante de um sistema que alimenta redes globais de tráfico, lavagem e violência que demandam respostas coordenadas além de nossas fronteiras. Sem integração plena de inteligência, operações como essa combatem sintomas enquanto o ilícito se reorganiza em tempo real.

Em um mundo onde o crime ignora soberanias, a cooperação policial internacional é imperativa. A Interpol, com seu canal I-24/7, processa 1,2 milhão de consultas diárias, ou seja, cada segundo de atraso é uma rota de fuga. Ainda assim, a rede apresenta vazios criados por critérios políticos, não técnicos. Cidades do porte de Hong Kong e países como Kosovo e Taiwan poderiam estar mais integrados ao sistema internacional. Apesar da expertise, permanecem fora das reuniões, treinamentos e do I-24/7 – uma exclusão ditada por pressões externas, não por incapacidade. As forças de segurança de Taipei, por exemplo, desmantelaram em 2024 uma plataforma de exploração infantil com 5.000 membros, rastreando criptomoedas e operadores transfronteiriços.

Taiwan não é um caso isolado. Hong Kong, antes membro pleno, foi rebaixado a “escritório de ligação” após 1997 e Kosovo, reconhecido por mais de cem países, ainda luta por acesso. Todas essas jurisdições possuem forças policiais operacionais e registros de cooperação bilateral exitosa, mas são mantidas à margem por vetos políticos. A resolução da 53ª Assembleia Geral da Interpol, em 1984, não impôs barreiras à participações como a de Taiwan; o artigo 2º da Constituição da organização exige “a mais ampla assistência mútua”. Logo, subordinar essas missões a disputas diplomáticas é escolher ideologia em vez de resultados reais que podem salvar vidas.

Países como Nova Zelândia, Austrália e Japão já trocam inteligência cibernética com Taipei sem criar precedentes políticos. Formalizar canais multilaterais – via status de observador – ampliaria o alcance da rede sem custos de soberania. Da mesma forma, em outras jurisdições excluídas, a inclusão técnica contribui para fortalecer a rede global. No Rio, cada quilo de droga apreendido tem origem em cadeias que passam por múltiplos continentes e sem todos os elos, a resposta é fragmentada.

A segurança internacional não tolera pontos cegos. Na 93ª Assembleia Geral da Interpol, em 2025, priorizar capacidade técnica e poder de cooperação sobre política é medida de pragmatismo e de segurança, não de cortesia. Conceder acesso aos países capazes de ajudar a combater o crime organizado em outras jurisdições é essencial, evitando lacunas que podem ser exploradas por organizações que operam nas sombras da lei.

A inclusão de todas as jurisdições competentes na Interpol é reforço operacional que beneficia diretamente o Brasil. Em um contexto de crime organizado transnacional, defender a cooperação técnica com essas nações é imperativo que deve ser cobrado de nossa diplomacia, uma vez que fortalece nossa segurança interna, fecha brechas na rede global de inteligência e prioriza resultados concretos acima de vetos ideológicos. É preciso combater o crime em todas as frentes e com todos os mecanismos possíveis.

Mexicanização Brasileira

O poderio do crime que motivou a ação policial no Rio de Janeiro não é um caso isolado. É a tradução de uma doença metastática que consome o Brasil. O que se vê no Rio hoje é apenas o ensaio geral, a prévia mais avançada do que todo o país experimentará amanhã se não acordarmos para a realidade brutal: o crime não mais opera à margem do Estado: ele se infiltrou em suas veias e diversificou seus negócios em escala industrial.

O conceito de crime organizado transcende em muito aquele já conhecido como ilícito comum. Estamos falando de um conglomerado infiltrado nas instituições públicas, com gestão corporativa, que sistematicamente corrompe e coopta o Estado para garantir a impunidade e expandir seus impérios. Esta não é uma teoria conspiratória. É a prática documentada de facções como o PCC e o Comando Vermelho, que hoje controlam cadeias inteiras do poder público. A infiltração é a nova arma, agora eficaz e silenciosa. As fraudes em concursos públicos, criminosos eleitos para parlamentos e um judiciário leniente são as provas cabais de êxito desta estratégia.

Além disso, é um erro reduzir o poder do crime apenas ao tráfico de drogas. Atualmente uma vasta e complexa teia econômica lava seus recursos e financia sua expansão. Facções dominam o contrabando de cigarros, comercialização de vapes, adulteração de combustíveis em escala nacional e, de forma mais visível, parcelas do lucrativo mundo das apostas que envolvem influenciadores. Segundo a Receita Federal, apenas 27 das 134 empresas do setor possuem registro regular, criando um ambiente fértil para lavagem de dinheiro.

Enquanto o Rio de Janeiro chama a atenção pela visibilidade, vastas regiões do Norte e Nordeste do país já vivem sob um silencioso e férreo controle das facções. Inúmeras cidades têm seu comércio, transporte e até a vida social ditados pelo crime. Prefeitos governam sob a tutela de grupos criminosos ou fazem parte deles, enquanto a população vive sob a lei do silêncio, sabendo que o Estado, quando aparece, é muitas vezes apenas uma extensão do poder do tráfico e das milícias. Segundo o Monitor da Violência, 15% dos municípios brasileiros relataram episódios de guerra entre facções em 2023, um aumento de 40% em relação a 2020. São batalhas pelo domínio territorial.

Este cenário é a materialização do que especialistas chamam de “mexicanização”. Não se trata de uma simples importação cultural, mas da adoção de um modus operandi onde os cartéis não apenas disputam mercados ilícitos, mas contestam o monopólio estatal da força e controlam porções significativas do território e da economia formal e informal.  O destino lógico e aterrador deste caminho é o nascimento de um modelo de narcoestado, onde as decisões de política pública, as nomeações para cargos-chave e a agenda econômica são influenciadas pelos interesses escusos que, além do crime, controlam parcelas do comércio, política, entretenimento, energia e outros setores. 

A ação no Rio é um sintoma de uma guerra civil assimétrica, um conflito armado onde o Estado reage à superfície do problema, mas perde a guerra silenciosa nos corredores do poder e no campo econômico. Enquanto não houver uma estratégia nacional, unindo inteligência, investigação financeira, combate implacável à lavagem de dinheiro e, sobretudo, a desinfecção da máquina pública cooptada por essas milícias e facções, estaremos apenas enxugando gelo. O Brasil está caminhando a passos largos para se tornar o que o Rio já é: a tradução de um Estado falido.

Risco Chinês

O Quarto Plenário do 20º Comitê Central do Partido Comunista Chinês (PCCh), que teve início a portas fechadas no Hotel Jingxi, em Pequim, não é apenas um evento rotineiro do ciclo político nacional. É um momento de engenharia estratégica de alto risco que visa redefinir o caminho do país num cenário global crescentemente hostil. Reunindo mais de 350 dirigentes, o foco central não é a governança partidária, mas a sobrevivência econômica e segurança nacional, materializada nas propostas para o 15º Plano Quinquenal (2026-2030).

O teor central do Plenário, realizado em um momento de acentuada desaceleração econômica (com PIB abaixo das expectativas) e de colapso no investimento estrangeiro, foi a mudança brusca de prioridade: do crescimento a todo custo para segurança e autossuficiência. Sob a liderança de Xi Jinping, o Partido Comunista busca construir uma China menos vulnerável às pressões externas. 

O objetivo passa por investimentos massivos em inteligência artificial, tecnologia quântica, semicondutores e energia limpa, enquanto a modernização de indústrias tradicionais busca competitividade global. Contudo, a alocação seletiva de recursos para setores estratégicos, em detrimento de uma recuperação econômica ampla, repete os erros de planos passados, que frequentemente sacrificaram resiliência em favor de prioridades políticas. A crise da dívida local e o colapso do setor imobiliário, problemas herdados do 14º Plano, continuam a desafiar a estabilidade chinesa, e a insistência do regime em soluções centralizadas revela uma incapacidade real de promover reformas estruturais profundas, sufocando a inovação genuína.

Ao fim e ao cabo, vemos que longe da retórica de “modernização socialista”, a estratégia adotada esconde riscos sistêmicos e geopolíticos de longo prazo que merecem uma análise crítica no Brasil e no mundo. O redirecionamento massivo de crédito dos setores tradicionais (como a construção civil, em crise) para a manufatura avançada, sem um consumo interno que absorva essa produção, pode simplesmente transferir e agravar a sobrecapacidade industrial, desestabilizando os mercados globais.

Além disso, ao forçar a autossuficiência em tecnologias sensíveis, a China acelera a fragmentação dos padrões tecnológicos globais. Isso não apenas dificulta o comércio, mas também pode forçar empresas estrangeiras a escolherem entre o mercado chinês e o resto do mundo, dividindo as cadeias de valor e aumentando os custos logísticos e de produção para todos os países, incluindo o Brasil.

O comunicado final consolida diretrizes inquestionáveis, mas a visão do PCCh, ancorada em controle rígido, levanta sérias dúvidas sobre sua sustentabilidade. A centralização excessiva, que reprime vozes dissidentes e inovações não sancionadas, contrasta com a promessa de prosperidade e expõe a fragilidade de um sistema que teme a abertura. Comparado aos planos quinquenais do passado, que, apesar de falhas, beneficiaram-se de um ambiente global mais favorável, o 15º Plano enfrenta um mundo mais hostil, onde a desconfiança gerada pelo autoritarismo do PCCh mina a cooperação internacional. O custo dessa abordagem — isolamento econômico, tensões geopolíticas e erosão da coesão social interna — pode superar as ambições do regime, revelando um modelo que, sob a fachada de força, camufla profundas vulnerabilidades, aquilo que se transformou no verdadeiro risco chinês.