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Ambiguidade Inaceitável

A recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia levanta sérias preocupações quanto ao posicionamento do Brasil no cenário internacional. Ao se reunir com Vladimir Putin em meio à guerra na Ucrânia — um conflito desencadeado por uma invasão militar amplamente condenada pela comunidade internacional — Lula opta por ignorar os princípios democráticos e de autodeterminação dos povos que historicamente pautaram a diplomacia brasileira. A presença do líder brasileiro ao lado de um chefe de Estado amplamente considerado autoritário e responsável por crimes de guerra lança sombras sobre o compromisso do Brasil com os direitos humanos e com a ordem internacional.

Ao se aproximar de líderes como Putin, Lula reforça uma aliança simbólica com regimes que atentam contra liberdades fundamentais. Sua postura ambígua em relação à guerra na Ucrânia, marcada por tentativas de “equidistância” entre o agressor e o agredido, deslegitima o sofrimento do povo ucraniano e relativiza uma invasão armada de um país soberano. Ao não condenar com clareza e firmeza a violação territorial promovida pelo Kremlin, o presidente brasileiro passa a mensagem de que o pragmatismo geopolítico se sobrepõe aos princípios democráticos que deveriam guiar a política externa de qualquer nação que se pretende civilizada.

A visita também mina a credibilidade internacional do Brasil. Ao se colocar ao lado de ditadores e regimes autoritários — não apenas na Rússia, mas também em interações com governos como os da Venezuela, Nicarágua e Irã — Lula enfraquece o potencial do Brasil de atuar como mediador legítimo em crises internacionais. Países democráticos e alinhados ao direito internacional veem com desconfiança essa postura dúbia, que enfraquece coalizões em defesa da paz e da justiça. O Brasil, que poderia ser uma voz influente pelo diálogo e pelo multilateralismo, se arrisca a ser percebido como conivente com agressões inaceitáveis.

Além disso, a escolha de Lula contrasta com o discurso que sustenta em outras frentes, como a defesa da democracia doméstica e a crítica ao autoritarismo de adversários políticos internos. Essa contradição desmoraliza sua retórica, enfraquece a confiança internacional em sua liderança e alimenta críticas legítimas sobre a coerência de sua política externa. A política internacional não pode ser um campo onde os princípios são negociáveis — especialmente quando estão em jogo vidas humanas, soberanias nacionais e o futuro da ordem global.

Em suma, a visita de Lula à Rússia, sem uma crítica clara à agressão militar contra a Ucrânia, representa um retrocesso diplomático e moral. Ao lado de líderes autoritários, o presidente brasileiro se afasta dos valores democráticos e da solidariedade internacional com vítimas de regimes opressores. O Brasil precisa decidir se será um defensor da liberdade e da paz, ou apenas mais um ator disposto a sacrificar princípios em nome de interesses imediatos.

Reequilíbrio Comercial, Corte De Impostos, Desregulamentação: O Novo ‘Sonho Americano’ De Trump2

No meu mais recente podcast para o portal do Instituto Monitor da Democracia, em entrevista ao nosso presidente Márcio Coimbra, procurei lançar um pouco de luz sobre a aparentemente errática e sem dúvida volátil política econômica externa do segundo governo Donald Trump. No presente artigo, pretendo prosseguir  nessa reflexão, se possível aliviando o debate de sua forte carga emocional sempre que vem à baila a figura do polêmico presidente que promete fazer a América grande novamente….

Durante os 100 primeiros dias de Trump2, o stop-and-go da sua política alfandegária elevou escalonadamente os direitos de importação sobre as mercadorias  vendidas aos Estados Unidos por todos os seus parceiros comerciais, para, logo em seguida, suspender temporariamente essa majoração, na expectativa de uma ‘pausa para negociações, com a solitária e notável exceção da China,  cujas exportações ao mercado norte-americano continuam taxadas em 145% e que retaliou na mesma moeda, chutando para cima suas tarifas sobre produtos americanos.

O vaivém produziu um frenesi nos mercados, ora derretendo bilhões de dólares em ativos, ora impulsionando  recuperações de preços não menos espetaculares. Até o dia 5 deste mês de maio, as ações das empresas integrantes do índice S&P 500 — quinhentas maiores companhias de capital aberto listadas nas bolsas de valores dos Estados Unidos — acumularam nove dias seguidos em alta, algo inédito desde 2004. O crescimento de 10% em tão pouco tempo cancelou as perdas decorrentes do anúncio do tarifaço por Trump em 2 de abril, data que o presidente batizou de “Dia da Libertação”. Os sinais contraditórios emitidos pela nova política tarifária e a contração do PIB norte-americano em 0,3% no primeiro trimestre de 2025 projetaram um sombra de incerteza sobre os planos de investimentos das empresas, ao mesmo tempo em que reacenderam os temores de uma estagflação.

Para reavivar o otimismo dos empresários e consumidores, Trump e a bancada Republicana no Capitólio negociam um novo pacote de redução permanente de impostos e corte de gastos públicos. Fontes do governo também acenam com a possibilidade de atenuação das pressões tributárias sobre a China, em troca da cooperação de Pequim com a cruzada de Trump contra o ingresso ilegal de fentanyl produzido pela indústria farmacêutica chinesa,  princípio ativo dos opióides que alimentam uma epidemia mortal no seio das camadas mais pobres da sociedade americana.

Com a palavra, o secretário Bessent — Em artigo para o Wall Street Journal, Scott Bessent, o secretário do Tesouro que fez fortuna no mercado de capitais,  procura substanciar a estratégia de relações públicas de seu chefe Trump, visando à restauração da confiança dos agentes econômicos.

Bessent inicia sua argumentação lembrando que, desde a década de 1980, quando teve início a atual etapa de globalização, as desigualdades socioeconômicas na América se acentuaram entre uma minoria de vencedores (empreendedores tecnológicos, banqueiros de investimentos e segmentos profissionais de nível superior nos litorais do Atlântico e do Pacífico) e uma maioria de perdedores (classes média e trabalhadora,  empobrecidas pela liberalização comercial e pela desindustrialização no coração continental dos Estados Unidos). Trump se elegeu para ampliar a participação desses setores desfavorecidos, hoje a espinha  dorsal do seu eleitorado, nas riquezas acumuladas por Wall Street. O tarifaço é visto por Bessent como instrumento essencial  para o reequilíbrio do comércio exterior e a revitalização da base industrial do País, com a criação de mais e melhores postos de trabalho.

O autor cita um paper de 2016, elaborado por três economistas (“China shock”, de David Autor; David Dorn; e Gordon Hanson) que mediram o impacto socioeconômico da liberalização comercial na ‘América profunda’, durante o mesmo período que a China se transformou na fábrica do mundo e superpotência exportadora: os trabalhadores dos Estados Unidos perderam 3,7 milhões de empregos. Nas palavras de Bessent, “milhões de americanos sofreram um declínio absoluto da sua renda real”.

Para virar esse jogo, o secretário do Tesouro propõe uma tríplice estratégia:

( a ) renegociar os termos do comércio global. Isso inclui o tarifaço, mas também a redução das barreiras alfandegárias dos outros países ,  de modo a abrir mercados externos e, ao mesmo tempo, “trazer de volta milhares de postos de trabalho na indústria de transformação”;

( b ) tornar permanentes os cortes de impostos de 2017 (governo Trump1), acrescidos de inovações como a isenção de tributos sobre gorjetas, horas extras e Seguridade Social. Isso significa deixar mais dinheiro nos bolsos dos empresários para investir e dos consumidores para gastar. Lembra Bessent que a lei tributária de 2017 aumentou a renda de 50% dos domicílios da América mais rapidamente do que para os 10% mais ricos.  

Ele calcula que, se os cortes de impostos, programados para expirar no final deste ano, não forem perenizados, a família mediana dos Estados Unidos perderá US$ 4 mil em renda. O novo pacote propõe, ainda, deduções sobre financiamentos para a compra de automóveis _made in USA_, bem como incentivos fiscais para a construção de novas fábricas; e

( c ) desregulamentar/desburocratizar de forma a estimular a produção de tudo na América — de materiais de construção a _chips_ (semicondutores) de inteligência artificial.

Paralelamente ao impulso que dará à prosperidade de patrões e empregados, acredita Bessent, que essa nova estratégia também vai assegurar a dianteira militar dos Estados Unidos vis à vis a China.

As primeiras medidas desburocratizantes decretadas por Trump2, cancelando regulamentos da era Biden, teriam economizado US$ 2.100 para uma família norte-americana com quatro pessoas. Mais: a eliminação de requisitos de compliance, considerados excessivos, para pequenos bancos locais facilitará o acesso ao crédito do consumidor de bens duráveis. Outro objetivo dessa desregulamentação/desburocratização é tornar mais abundante a oferta de energia. Por isso, Trump recentemente decretou “emergência energética” e abriu 1,53 milhões de acres à exploração no Alasca. O preço da gasolina já caiu 50 cents em relação ao ano passado.

Scott Bessent busca contagiar com seu entusiasmo todo o público norte-americano informando que, por dois meses seguidos, as contratações de mão de obra no setor não rural superaram as expectativas, com a incorporação de 177 mil empregos ao mercado de trabalho.

Em suma, a política econômica de Trump2, formatada pelo secretário do Tesouro, promete um forte e duradouro ciclo virtuoso, com mais empregos, reindustrialização acelerada, menores custos de energia, robustecimento da segurança nacional e vitória na competição econômica e militar com os chineses.

Basta agora aguardar o que os parceiros e adversários da América farão para reagir e/ou se adaptar a todas essas mudanças decretadas pelo segundo governo Trump e pela estreita maioria Republicana no Congresso….

Em tempo: no fim de semana de 10 e 11 de maio, em Genebra, Suíça, a China e os Estados Unidos se reuniram pela primeira vez para negociar alternativas ao mútuo tarifaço. O lado norte- americano foi representado por Bessent e pelo embaixador Jamieson Greer (representante comercial da Casa Branca); e o lado chinês, pelo premiê He Lifeng. Do encontro resultou um acordo no sentido de reduzir, drasticamente, por 90 dias as tarifas recíprocas impostas desde o “Dia da Libertação”: os Estados Unidos,  de 145% para 30% sobre os produtos chineses; a China, de 125% para 10% sobre os produtos norte-americanos.

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( * ) Cientista político e _fellow_ do Instituto Monitor da Democracia.

Democracia: não estamos falando da mesma coisa

Quando falamos de democracia é bom ver se estamos falando da mesma coisa. Vamos ver alguns exemplos.

Alguém pode pensar que é democrata porque lutou contra a ditadura militar.

Alguém pode pensar que é democrata porque é antifascista.

Alguém pode pensar que é democrata porque é contra o bolsonarismo.

Alguém pode pensar que é democrata porque é contra o populismo de direita e as ditaduras de extrema-direita.

Nada disso, porém, basta para qualificar um ator ou força política como democratas.

Alguém pode ter lutado contra a ditadura militar para implantar outra ditadura (por exemplo, a ditadura do proletariado).

Ser antifascista não garante nada em termos democráticos (os ditadores Canel, Maduro, Ortega, Xi Jinping e Putin são declaradamente antifascistas).

Ser contra o bolsonarismo, o populismo de direita e as ditaduras de extrema-direita também não atesta conversão à democracia, a qual exige uma posição contrária a qualquer populismo, inclusive contra os populismos de esquerda e contra as ditaduras de esquerda.

Como resolver o problema de saber quais são os requisitos para caracterizar um ator ou força política como democratas? É preciso observar os critérios democráticos.

Os dez critérios para caracterizar um regime democrático em sua plenitude (liberal) são:

1 – Liberdade de associação, liberdade de expressão e liberdade de imprensa (existência de fontes alternativas de informação).

2 – Proteção dos direitos individuais e das minorias contra a tirania do Estado e a tirania da maioria (recusa ao majoritarismo e ao hegemonismo).

3 – Eleições limpas e periódicas, sufrágio universal, governos e parlamentos eleitos.

4 – Rotatividade ou alternância no governo (não apenas de pessoas, mas também de partidos ou forças políticas).

5 – Cultura política pluralista, oposições políticas democráticas reconhecidas e valorizadas como players legítimos e fundamentais para o bom funcionamento do regime.

6 – Publicidade ou transparência nos atos do governo (capaz de ensejar uma efetiva accountability).

7 – Instituições estáveis, equilíbrio entre os poderes e sistemas atuantes e efetivos de freios e contrapesos.

8 – Império da lei e judiciário independente.

9 – Forças armadas subordinadas ao poder civil.

10 – A sociedade controla o governo e não o contrário (a qualidade da democracia é medida pelos limites e condicionamentos impostos pela sociedade às instituições do Estado – o que pressupõe recusa ao estatismo).

Considerando o que se expôs acima podemos ver que muitas pessoas e forças políticas que se apresentam como estando no campo da democracia na verdade não estão. A não ser que tenham outro conceito de democracia, um conceito não-liberal.

É muito comum forças políticas se apresentarem como democráticas confundindo o conceito de democracia com o conceito de cidadania. Em geral, falam de cidadania para todos ofertada pelo Estado, quando “nas mãos certas”, quer dizer, comandado por forças políticas ditas progressistas. Cidadania universalizada é um bom propósito, é desejável, mas não é a mesma coisa que democracia. Isso pode ser ofertado por regimes não-democráticos, quer dizer, por autocracias.

Singapura, uma autocracia eleitoral (segundo o V-Dem), está fazendo isso. A China, uma autocracia fechada, diz que está fazendo isso a partir do seu próprio conceito de democracia: a chamada “democracia popular de processo integral”. Mas essa “democracia” chinesa não atende aos critérios acima.

Cuba, outra autocracia fechada, segundo Lula, faz isso. Para ele “o único país [na América Latina] que conseguiu dar um salto foi Cuba… eles resolveram o problema da cidadania”.

Certamente, em muitos casos não estamos falando da mesma coisa quando usamos a palavra democracia. Por isso os critérios acima são tão importantes. Deveriam ser impressos, emoldurados e pendurados, pelos democratas, nas paredes das instituições públicas e privadas, nas residências, nas escolas, nas igrejas, nas organizações da sociedade civil, nas empresas, em todo lugar.


P.S. É quase inútil discutir com lulopetistas sobre democracia. Eles capturaram a palavra democracia para designar outra coisa. O que Lula e o PT chamam de democracia não é o que se entende por democracia na Austrália, Áustria, Barbados, Bélgica, Canadá, Chequia, Chile, Costa Rica, Dinamarca, Espanha, Estônia, EUA, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Itália, Jamaica, Japão, Letônia, Luxemburgo, Maurício, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido, Seicheles, Suécia, Suíça, Taiwan e Uruguai – ou seja, as democracias liberais (V-Dem) ou plenas (EIU). Para alguns petistas democracia é o que a China chama de “democracia popular de processo integral”. Para outros é o regime vigente em Angola e Cuba. Há até quem chame de democracia o regime da República Popular Democrática da Coreia (do Norte). É difícil conversar quando as mesmas palavras não significam as mesmas coisas.

O milagre da segurança de Bukele não fez El Salvador prosperar

Após conquistar um segundo mandato como presidente de El Salvador em 2024, Nayib Bukele prometeu traduzir os ganhos em segurança em prosperidade para o país. Conseguir isso parecia razoável. Afinal, durante anos, a prevalência de extorsão e violência em El Salvador foi um grande impedimento ao crescimento, refletindo uma tendência mais ampla na América Latina, onde se estima que a insegurança prejudique as economias da região em quase 3,5% do PIB.

Mas, apesar da impressionante recuperação na segurança, ressaltada pela queda acentuada nos homicídios desde 2015, quando El Salvador tinha uma das maiores taxas de homicídio do mundo, El Salvador não conseguiu entrar em uma trajetória econômica positiva. A pobreza, na verdade, aumentou nos últimos anos, nos quais o país experimentou as melhorias mais drásticas em segurança. O Banco Mundial agora projeta que o crescimento de El Salvador em 2025 será o mais baixo da América Central.

Diante do alto desemprego, os salvadorenhos continuaram a migrar para os Estados Unidos em grande número — desacelerando apenas nos últimos meses devido às políticas de fronteira mais rígidas dos EUA — revelando uma falta de confiança na direção do país. A ambiciosa visão de Bukele de transformar El Salvador em uma versão centro-americana de Cingapura, um Estado de partido único com uma economia de mercado próspera, parece distante.

O sucesso de Bukele em restaurar a segurança nas ruas de El Salvador lhe rendeu imensa popularidade em El Salvador e reconhecimento internacional. No entanto, as medidas extremas que ele tomou para reprimir gangues de rua não deram lugar a qualquer flexibilização das políticas de mano dura. Em vez disso, El Salvador está entrando em seu quarto ano de “estado de exceção”, no qual a polícia pode prender suspeitos sem o devido processo legal. O país agora tem a maior taxa de encarceramento do mundo, e mais de 85.000 supostos criminosos estão detidos por tempo indeterminado, sem mandados ou datas de julgamento.

São, em grande parte, as ações de Bukele que têm prejudicado a recuperação econômica. Bukele continuou a concentrar poder, eliminando quaisquer restrições ao seu estilo caprichoso de governar, inclusive substituindo juízes da Suprema Corte por membros leais em 2021. Além disso, ele desperdiçou capital político ao buscar iniciativas chamativas em vez de trabalhar nas reformas fundamentais de que o país precisa. Isso levantou preocupações sobre a estabilidade e o Estado de Direito a longo prazo do país, além de dúvidas sobre as prioridades de Bukele.

Embora tenha feito campanha como um outsider anticorrupção, o governo de Bukele agiu com crescente falta de transparência, e ele não conseguiu lidar significativamente com as redes de corrupção arraigadas em El Salvador. O governo concedeu contratos governamentais lucrativos a aliados políticos por meio de processos não competitivos. Bukele eliminou ou expulsou órgãos anticorrupção importantes, como a Secretaria de Transparência e Anticorrupção, a unidade anticorrupção do Ministério da Fazenda e a Comissão Internacional Contra a Impunidade, apoiada pelos EUA, em El Salvador.

Em vez de implementar reformas fundamentais para tornar El Salvador um lugar mais fácil para se fazer negócios, Bukele tem repetidamente adotado políticas questionáveis ​​com benefícios econômicos limitados. Sua adoção do bitcoin como moeda corrente em 2021 alienou investidores institucionais e desencadeou rebaixamentos de crédito, com o Fundo Monetário Internacional condicionando um novo programa de assistência financeira de US$ 1,4 bilhão à dissolução do Fundo de Reserva Estratégica de Bitcoin de El Salvador, no valor de US$ 500 milhões.

Da mesma forma, o cortejo de Bukele à China resultou em uma visita de Estado com o presidente Xi Jinping em 2019 e em alguns projetos de infraestrutura de alto nível — incluindo uma nova biblioteca nacional e um estádio de futebol com conclusão prevista para 2027 — mas não conseguiu mudar a dinâmica de uma relação comercial desequilibrada, na qual as exportações da China para El Salvador cresceram consistentemente, enquanto as exportações de El Salvador para a China diminuíram em grande parte. Apesar das discussões iniciais sobre um acordo de livre comércio em 2024, não há planos para a retomada das negociações.

Mais recentemente, Bukele direcionou seus instintos empreendedores para alugar a capacidade prisional de El Salvador para os Estados Unidos, a fim de abrigar migrantes deportados, por cerca de US$ 6 milhões, uma quantia irrisória considerando o risco legal e reputacional envolvido. O acordo de detenção, uma parceria de alto perfil que traz poucos benefícios para o seu país, mas o aproxima de um líder poderoso, é emblemático do estilo de governo de Bukele, que prioriza a imagem em detrimento da obtenção de benefícios aos salvadorenhos.

Os persistentes problemas econômicos de El Salvador ressaltam a fraqueza central das abordagens autoritárias ao crime. Uma vez que os governos optem por políticas de segurança que minam o Estado de Direito e corroem as instituições, o imperativo de manter os ganhos em segurança convida ao exercício cada vez mais irrestrito do poder, o que naturalmente impede o investimento e o desenvolvimento econômico.

Não espere que El Salvador se torne uma história de sucesso econômico. O poder e o estrelato que Bukele desfruta garantem que seu país permanecerá pobre, com Bukele no centro das atenções.

Educação Transformadora

A integração de tecnologias educacionais no Brasil é um passo crucial para reduzir desigualdades e melhorar a qualidade do ensino. Enquanto países como China, Coreia do Sul e Taiwan já colhem os frutos deste investimento, o Brasil ainda enfrenta desafios como infraestrutura desigual e falta de capacitação docente. Dados do PISA 2022 mostram que estudantes brasileiros estão até 3 anos atrás em matemática e ciências comparados aos alunos desses países asiáticos, onde plataformas adaptativas e inteligência artificial são comuns. Isso significa que a adoção de ferramentas modernas e soluções locais poderiam ajudar a diminuir essa lacuna, especialmente quando falamos em escolas públicas.

Na China, plataformas modernas são usadas para aulas remotas e programas de gestão escolar, enquanto a Coreia do Sul implementou sistemas de inteligência artificial para personalizar o ensino. O Brasil pode se inspirar nesses modelos, adotando tecnologias adaptativas que atendam às diversidades regionais e socioeconômicas do nosso país.

Enquanto isso, Taiwan se destaca pelo uso de realidade aumentada (RA) e gamificação em salas de aula, aumentando em 30% o interesse dos alunos por disciplinas como matemática e ciências. No Brasil, projetos-piloto com RA, como os realizados pelo SESI, já mostram resultados promissores, com aumento de 20% no desempenho em escolas testadas. Se expandidas, essas tecnologias poderiam revolucionar o ensino em áreas rurais e periféricas, onde a evasão escolar chega a 7,6% no ensino médio.

Os países escandinavos, como Finlândia e Suécia, oferecem outro modelo eficaz: a abordagem transversal, onde a tecnologia não é uma disciplina isolada, mas integrada a todas as matérias. Na Finlândia, 70% das escolas usam plataformas digitais para projetos colaborativos, resultando em altos índices de criatividade e resolução de problemas. Aqui, poderíamos adotar essa abordagem, utilizando plataformas não apenas para aulas remotas, mas como parte do currículo diário. Isso exigiria capacitação docente e infraestrutura, porém, os resultados—como mostram os escandinavos—são alunos mais preparados para os desafios do século XXI.  

O impacto potencial do uso da tecnologia na educação seria enorme: estima-se que a implementação em larga escala de tecnologias educacionais poderia aumentar em 25% a proficiência em matemática (como visto em projetos locais) e reduzir a evasão em até 15%. Para isso, é essencial seguir exemplos globais, combinando políticas públicas robustas (como o Plano de Conectividade Escolar do MEC) com parcerias privadas. Se o país investir em infraestrutura, formação docente e inovações como IA e RA, poderá não apenas recuperar o atraso educacional, mas também se tornar um case de sucesso na América Latina. 

Em resumo, a tecnologia na educação não é um luxo, mas uma necessidade para reduzir desigualdades e preparar os estudantes brasileiros para um futuro globalizado. Inspirar-se em casos de sucesso internacional—seja na adoção de IA como na Ásia, seja na transversalidade escandinava—pode guiar o Brasil rumo a um ensino mais dinâmico e inclusivo. É uma chance real de virar o jogo onde mais precisamos.

“Adolescência”, uma tragédia contemporânea

Adolescência, a minissérie de quatro episódios, da Netflix, está fazendo sucesso. O motivo da grande repercussão pode ser o fato de que a produção toca em várias feridas abertas do mundo contemporâneo, vários pontos delicados, várias fissuras no tecido social com as quais aparentemente não estamos sabendo ainda como lidar.

Como, hoje em dia, quase nada passa incólume pelo estúpido processador dos cérebros ideológicos e militantes que costumam deturpar qualquer obra até transformá-las em teses favoráveis a seus limitados pontos de vistas, com Adolescência não foi diferente.

Inicialmente percebi, nas redes, o movimento de rejeição da série dentro da bolha da direita mais reacionária.

Nesse caso, a tentativa de cancelamento vinha acompanhada de pouca argumentação e uma fake news: a mesma Netflix, que costuma mudar a cor da pele de personagens icônicos, como fez com a branca de neve, por exemplo, teria retratado, dessa vez, o criminoso real negro (Hassan Sentamu, de 17 anos, que esfaqueou Elianne Andam, de quinze anos) como um menino branco de classe média e conservador.

Essa tentativa de desqualificar a série foi compartilhada por inúmeros perfis de direita, em vários países, inclusive no Brasil. A série, porém, não é um documentário sobre nenhum caso real específico, mas uma ficção que obviamente se inspira nos inúmeros casos reais de crimes violentos envolvendo adolescentes que aconteceram nos últimos anos no Reino Unido e no resto do mundo.

No outro extremo, temos a militância progressista, explorando exaustivamente a série como se se tratasse ali apenas da corroboração da ideia de uma “masculinidade tóxica”: o menino que esfaqueou a menina não é “mau”, é o resultado da sociedade estruturalmente machista, do pai bruto, brutalmente educado e da permissividade das redes sociais.

A série, porém, é maior do que o debate ideológico que se criou em torno dela. Li e assisti algumas das várias análises disponíveis por aí. Eis uma interpretação com a qual concordo: a série Adolescência, da Netflix, é uma tragédia contemporânea.

A tragédia, gênero literário clássico, que surgiu na Grécia, era profundamente marcada pela fatalidade, pelo confronto entre a vontade dos homens e a vontade dos deuses; esses últimos simbolizavam as forças desconhecidas, que estavam acima da compreensão humana, que não se deixavam racionalizar. Os conflitos entre razão e paixão, ética e desejo eram expostos em toda a sua crueza, induzindo à catarse do público, mas os dilemas morais apresentados não apresentavam uma solução clara.

Assim me parece que o enredo de Adolescência é trabalhado. Ou, pelo menos, foi assim que ele ressoou em mim. Um menino de 13 anos, Jamie, esfaqueou e matou uma sua colega de mesma idade. Durante todo o filme, nós, os espectadores, tentamos digerir, acomodar internamente esse fato.

Assim como Eddie, o pai do menino, passamos o começo do filme negando a realidade, acreditando nas palavras do garoto: “eu não fiz nada errado. Eu sou inocente”. Diante das provas cabais, passamos, então, a esperar uma explicação razoável, algo que justifique o ocorrido.

Muitos contextos são levantados: o bullying sofrido, a radicalização online, o ambiente escolar caótico e desrespeitoso, o machismo, o universo dos incels, a falta de vigilância, a agressividade latente do pai…todos esses contextos têm algum potencial explicativo, mas a conta não fecha. Parece faltar alguma peça nessa quebra-cabeça. De quem é afinal a culpa? Eis a questão.

Todos têm um pouco de culpa. A culpa é de todos. E se é de todos, não é de ninguém. Isso gera no espectador um profundo mal-estar. E por falar em mal-estar…Freud continua, em muitos aspectos, incontornável.

A civilização é um verniz, uma superfície. Nas suas entranhas, no psiquismo dos indivíduos que formam a coletividade, estão reprimidos instintos sexuais e agressivos profundos. Em “O mal-estar da civilização”, Freud trabalha o conceito de Thanatos, a pulsão de morte, o impulso destrutivo presente no ser humano.

A série deixa transparecer, principalmente na caracterização do ambiente escolar, uma sociedade fragilizada e neurótica. Jovens entrando em contato com seu universo interior em erupção sem encontrar nos adultos modelos, freios, valores claros, diretrizes morais firmes.

Mas esse caos é menos uma descrição do que vivenciamos do que a explicação que buscamos. Um jovem de treze anos, inteligente, de classe média e família normal esfaqueia a sua colega. Esperamos entender o porquê. Mas o mal é absurdo e o absurdo não tem explicação.

O primeiro passo para combater o mal é admitir que ele existe. Santo Agostinho negou a existência ontológica do mal, mas admitiu a existência do mal moral ou pecado. Ele é resultado da má escolha da vontade humana; é a privação do bem causada pelo uso incorreto da vontade pelo ser humano.

Todos nós somos livres, imperfeitos e por isso vulneráveis ao mal. Os adolescentes são mais vulneráveis ainda. Eles precisam de nós para lhes apontar o certo e o errado, o bem e o mal, para ajudá-los a solidificar valores, lidar com frustrações, entender o mundo, moldar seu caráter, formarem-se a si mesmos.

Entendo a importância de se discutir, a partir da série, o problema da misoginia, do bullying, das redes sociais, da radicalização, do hiato que existe entre essa geração totalmente digital e nós que nos formamos em um mundo ainda analógico. 

O problema é que, no fundo, ninguém sabe muito bem como fazer isso e, normalmente, os especialistas que oferecem alguma panaceia para tantos problemas contemporâneos não são as pessoas mais confiáveis.

Não sei se há mérito ou demérito nisso, mas eu costumo optar por expor minha incipiência e limitação quando estou diante de algo que não consigo abarcar. Como mãe de adolescente, sinto-me, muitas vezes, perplexa e insegura diante da responsabilidade que essa função requer.

Abraço o meu filho muitas vezes, oriento, cuido, educo, brigo, beijo, vigio, alerto, mas sei que há muitas coisas que fogem ao meu controle. Preciso confiar nele, na sua força interior, na luz que ele traz em si e na luz que ele recebe do alto.

Apesar de todos os cuidados no ambiente doméstico, o futuro se abre diante de nós como um misto de ameaça e esperança. 

Somos constantemente tensionados pela expectativa em torno da felicidade de nossos filhos. Esses filhos, porém, são indivíduos. Maduros ou não, estão no mundo. Caberá a eles trabalharem em si suas potencialidades e suas limitações.

O aspecto social reflete os indivíduos que somos e somos o que fazemos de nós mesmos. Nossos pais fizeram o possível; nós também estamos fazendo o nosso melhor. Será suficiente? Não sabemos.

Estamos todos como Eddie, o pai de Jamie, na cena final da série: desesperadamente agarrados aos ursinhos dos nossos filhos adolescentes, tentando reter um pouco mais a infância, a ingenuidade, a inocência, a pureza que se esvai. 

Apertamos o ursinho contra o peito, querendo proteger com nosso corpo, com nossa própria vida aquele que agora precisaremos proteger à distância.

Para além da nossa presença física, a nossa proteção se dará doravante como eco das nossas palavras corretas em suas consciências, em um momento de dilema ético; como lembrança das nossas demonstrações inequívocas de afeto, em um momento de aguda angústia moral.

Eles sabem das nossas fragilidades e das nossas limitações. Eles perdoarão os nossos deslizes e nós deveríamos nos perdoar também. O nosso amor os acompanhará para sempre. Essa é a única proteção possível que estará sempre ao nosso alcance.

Conheça o novo submundo do crime digital: você sabe o que seu filho faz na internet?

É hora de uma reflexão honesta: você sabe mesmo o que seu filho faz na internet? A pergunta pode parecer exagerada, mas não é. O submundo do crime digital está dentro de casa, nos fones de ouvido dos adolescentes, nas telas dos jogos e nas conversas em grupos fechados. E a maioria dos adultos não faz ideia do que acontece ali.

O episódio recente da ameaça de bomba no show da Lady Gaga é um exemplo. A primeira reação foi pensar em crime de ódio, terrorismo, fanatismo. Mas não. O responsável fazia parte de um dos muitos grupos que se organizam online, não por ideologia, mas por pura perversão. Outro caso recente envolveu um grupo que planejava uma live no Discord durante o domingo de Páscoa para transmitir a tortura de um morador de rua e a morte de um coelho. Isso mesmo: live. Como se fosse entretenimento.

Esses grupos são transnacionais. Em uma aula sobre o tema para autoridades, que ministrei recentemente com um delegado da Polícia Federal, vimos o caso de um grupo brasileiro coordenado por um rapaz de 17 anos, preso em Portugal. Aqui, ele não poderia ser preso. Lá, foi. Aliás, nossas polícias têm tido um trabalho incrível prevenindo tragédias e punindo culpados.

Há outros casos. Tem o que alicia meninas em chats de games, que conquista pela conversa e pela promessa de pertencimento. Em posse de nudes ou senhas delas, elas viram o espetáculo macabro para os outros integrantes da panela. Geralmente são espetáculos de automutilação ou exibição sexual, às vezes com meninas de 12 ou 13 anos.

O nome disso? Paneleiro. Se você nunca ouviu essa palavra nesse contexto, é porque você não tem a menor ideia do que seu filho faz na internet. E isso é grave.

Pais e autoridades não estão de braços cruzados, estão preocupados. Mas talvez errando o alvo. Os pais, em geral, estão mais preocupados com o discurso do influencer no Instagram ou nas outras redes. As autoridades, quando se manifestam, vão atrás do vídeo de discurso de ódio, ou discutem se um conteúdo deve ser derrubado.

Não é disso que se trata. Não é o convencimento que recruta esses adolescentes. É o vínculo social. É a rede. E esses criminosos estão infiltrados em grupos de debate político, fingindo que são militantes. Estão em grupo de dica de livro, em grupo de coach, em fórum de vulneráveis emocionais. E de lá, vão levando os jovens a grupos em que eles se sintam acolhidos. Alguns revelarão suas perversões, outros serão feitos de vítimas.

Muitos desses jovens agem como se estivessem em um jogo. Não têm empatia. E quando são presos parecem inofensivos. São chorões. Estudam. Falam línguas. Têm aparência cuidada. É a nova cara do crime.Um dos envolvidos na ameaça do show da Lady Gaga já está solto.

E enquanto isso, os pais continuam acreditando que os perigos estão na rua. Mas, hoje, a rua está dentro de casa. E se chama internet.

Na infância, nossos pais nos preparavam para os perigos da rua: cuidado com desconhecidos, não aceite carona, desconfie de estranhos. Hoje, a criança não sai mais de casa, só que os perigos entraram pela porta e os pais não sabem reconhecê-los. Proibir um adolescente de estar na internet é como proibir alguém de sair de casa em 1980. Não funciona. Vai fazer com permissão ou sem, são jovens. O que funciona é informação, conversa e vigilância real. Os tempos mudaram. A criminalidade também. Os pais e autoridades precisam acordar. A conscientização é urgente.

É uma vergonha democratas não criticarem o BRICS 

É inacreditável – e inaceitável – que não haja uma oposição democrática no Brasil criticando o governo Lula por participar e querer até liderar o BRICS.

O BRICS, originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China em 2009 (com a adesão da África do Sul em 2010), expandiu-se significativamente em 2024 e 2025. Deixou de lado o disfarce de bloco econômico e assumiu seu objetivo político de aumentar a influência do Sul Global (uma espécie de terceiro-mundismo requentado) no combate ao imperialismo norte-americano e o neocolonialismo europeu, quer dizer, em oposição à ordem internacional liberal e às democracias liberais.

QUEM SÃO OS PAÍSES BRICS

Em 2025, o BRICS é composto por membros plenos e países parceiros, conforme detalhado abaixo, com base em informações recentes e confiáveis:

Membros Plenos do BRICS

Os países que atualmente são membros plenos do BRICS, com direito a participar de todas as reuniões e tomar decisões por consenso, são:

Brasil – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed, parasitada por governo neopopulista.

Rússia – Autocracia eleitoral.

Índia – Autocracia eleitoral.

China – Autocracia fechada.

África do Sul – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed, parasitada por governo neopopulista. (Por erro ou vezo ideológico o V-Dem promoveu a África do Sul à democracia liberal no seu relatório de 2025, mas é melhor ignorar esse percalço).

Egito (aderiu em 2024) – Autocracia eleitoral.

Etiópia (aderiu em 2024) – Autocracia eleitoral.

Irã (aderiu em 2024) – Autocracia fechada.

Emirados Árabes Unidos (aderiu em 2024) – Autocracia fechada.

Indonésia (aderiu em janeiro de 2025) – Autocracia eleitoral.

Nota: A Arábia Saudita (Autocracia fechada) foi convidada a se tornar membro pleno em 2023, mas sua adesão ainda não foi oficialmente confirmada, embora algumas fontes indiquem que ela já participa como membro.

Não há nenhuma democracia liberal (V-Dem) no BRICS. Não há nenhuma democracia plena (The Economist Intelligence Unit) no BRICS.

Entre os 10 membros plenos do BRICS, 8 (80%) são ditaduras.

Países Parceiros do BRICS

Os países parceiros são uma categoria criada em 2024, durante a Cúpula de Kazan, na Rússia, para integrar nações em um estágio preliminar antes da possível adesão como membros plenos. Esses países participam de cúpulas e reuniões temáticas, mas não têm direito a voto ou aprovação de documentos. Os atuais países parceiros, confirmados a partir de janeiro de 2025, são:

Belarus – Autocracia eleitoral.

Bolívia – Democracia eleitoral (não-liberal), flawed, parasitada por governo neopopulista.

Cazaquistão – Autocracia eleitoral.

Cuba – Autocracia fechada.

Malásia – Democracia eleitoral, flawed.

Nigéria (confirmada como parceira em 17 de janeiro de 2025) – Autocracia eleitoral.

Tailândia – Autocracia eleitoral.

Uganda – Autocracia eleitoral.

Uzbequistão – Autocracia fechada.

Entre os 9 membros parceiros do BRICS, 7 (78%) são ditaduras.

Nota sobre outros países convidados

Durante a Cúpula de Kazan, em outubro de 2024, 13 países foram convidados a se tornarem parceiros, mas apenas os nove listados acima confirmaram sua participação até janeiro de 2025. Os outros quatro países convidados — Argélia (Autocracia eleitoral), Turquia (Autocracia Eleitoral), Vietnã (Autocracia fechada) e Nigéria (antes de sua confirmação em janeiro) — não haviam respondido formalmente até o final de 2024, e Argélia, Turquia e Vietnã ainda não confirmaram sua adesão como parceiros até abril de 2025.

Nenhuma democracia liberal, nenhuma democracia plena

Mais de 30 países expressaram interesse em participar do BRICS, seja como membros ou parceiros. Nenhuma democracia liberal (V-Dem) se interessou. Nenhuma democracia plena (The Economist Intelligence Unit) se interessou.

Conclusão

O BRICS é uma articulação política (inicialmente disfarçada de bloco econômico) composta majoritariamente por ditaduras (79%). O BRICS é hoje um instrumento do eixo autocrático contra as democracias liberais.

Apagão de Soberania

Nesta semana, um colapso energético sem precedentes deixou milhões de pessoas no escuro em pelo menos 12 países europeus, em especial Portugal e Espanha. O apagão, considerado o maior da última década, paralisou transportes, hospitais e redes de comunicação, além de causar prejuízos econômicos estimados em bilhões de euros.

As causas apontadas até o momento falam de um incêndio em uma subestação crítica na Alemanha, passando por um ataque cibernético e até um fenômeno atmosférico raro devido a variações extremas de temperatura no interior da Espanha. Em suma, ninguém até o momento consegue apontar com exatidão o que pode ter acontecido.

Isto nos leva a um ponto que começa a ser discutido em várias nações e recentemente chegou até o Brasil. Por necessidade de investimento, muitos países estão entregando partes significativas de suas infraestruturas para investidores internacionais, inclusive para países que confundem o conceito empresarial com uma espécie de capitalismo de Estado. O resultado é que a infraestrutura de diversas nações hoje repousa sob domínio de países que possuem interesses e agenda próprios.

Em Portugal, a REN (Redes Energéticas Nacionais) é a empresa responsável pela gestão das redes de transporte de eletricidade e gás natural. Funciona como operadora do sistema energético nacional, garantindo a segurança e eficiência do abastecimento de energia no país. Desde 2012, a China State Grid detém 25% de suas ações. Na Espanha, epicentro do apagão, a Red Eléctrica de España, operadora do sistema elétrico nacional espanhol, tem 24,36% de suas ações repousando nas mãos da mesma China State Grid, que desde 2017 tornou-se a maior acionista privada da empresa.

Tanto em um caso como no outro, foram intensos os debates sobre a influência estrangeira em setores estratégicos. O dinheiro chinês, entretanto, falou mais alto. Foram pagos 2,1 bilhões de euros pela Red Eléctrica de España em 2017 e 387 milhões de euros pela participação na Redes Energéticas Nacionais portuguesas em 2012. Isto sem falar na EDP, que gera e distribui eletricidade (com forte presença da China Three Gorges) e na participação acionária chinesa na espanhola Iberdrola S.A.

No Brasil, a China State Grid controla cerca de 14% da rede de transmissão nacional, com o domínio de linhas no Norte e Nordeste e projetos no Centro-Oeste e Sudeste, sem contar com linhas de 1.500 km no Pará e Maranhão e parcerias com Furnas. Desde 2017 também controla 54,64% da CPFL Energia, adquirida por R$ 25,8 bilhões, atuando em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná.

No intuito de evitar a sobrecarga de um país ou companhia em setores sensíveis, o parlamento começou a se mobilizar com a proposta de criação do criação do Comitê de Triagem e Cooperação para Investimentos Estrangeiros Diretos, um órgão responsável por avaliar e monitorar aportes estrangeiros em setores estratégicos da economia nacional, como já acontece nos Estados Unidos, Alemanha e China em áreas como energia, defesa e tecnologia. A proposta poderá equilibrar abertura econômica e segurança nacional, posicionando o Brasil como um destino atrativo e responsável para investimentos internacionais. Ao diminuir nossa vulnerabilidade, é possível que possamos nos proteger dos riscos enfrentados pela Europa nesta semana. Mais do que ficar sem energia, tudo indica que estes países vivem um apagão em suas soberanias.

O que Lula fará com Lupi e Frei Chico?

Sabe o que o Lula vai fazer com Carlos Lupi, ministro da Previdência, e com o Frei Chico, irmão dele, depois do escândalo dos descontos ilegais em aposentadorias? Nada. E sabe por quê? Porque ele não precisa. Pode até trocar o ministro, mas a aliança política permanece. Não vai faltar espaço no governo para os envolvidos.

Lula não precisa punir ninguém porque, para o lulofetivo, ele pode tudo. O lulofetivo é assim: não precisa de argumento, só de uma desculpa. E a desculpa que encontraram já está circulando. Dizem que na época do Bolsonaro roubaram mais. Mentira. Metade do rombo de seis bilhões de reais aconteceu só no ano passado, no governo do PT. A fraude começou em 2016.

O escândalo é tão baixo que nem os petistas conseguem defender de forma direta. Estamos falando de dinheiro tirado de velhinhos, de aposentados, de pensionista. É o tipo de crime que mexe até com quem já se acostumou com escândalo. Os petistas saem correndo para achar alguma narrativa que possa funcionar, mas não cola porque este é um daqueles escândalos que atingem o fundo moral de qualquer sociedade.

E o mais revoltante é que quem comandava o INSS até a semana passada não era político indicado. Era funcionário de carreira, há mais de vinte anos no órgão. Ganhava bem. Tinha estabilidade. Era alguém que conhecia o sistema por dentro e mesmo assim se envolveu ou permitiu que o esquema acontecesse.

Isso já aconteceu antes. A geração dos anos 1990 lembra da Jorgina de Freitas, que deu o maior golpe da história do INSS até então. Foi presa, solta, e ainda teve a coragem de reclamar da cobertura do caso na imprensa. E mesmo com aquele escândalo enorme, ninguém aprendeu. Ou, pior: quem aprendeu entendeu que compensava delinquir.

É esse o país que a gente tem. Um país em que ser honesto parece coisa de trouxa. Em que funcionário concursado, com salário garantido, resolve roubar porque sabe que dificilmente será punido. E, mesmo se for, não terá a vida destruída como tem qualquer cidadão comum que comete um deslize.

Mas o mais revoltante deste caso é que agora querem que cada aposentado lesado entre sozinho na Justiça para tentar reaver o valor perdido. Não existe uma devolução automática. O aposentado vai ficar na fila. Vai morrer na fila. E o dinheiro não vai voltar.

Por que os sindicatos, muitos deles envolvidos na origem dos desvios, não se organizam para devolver esse dinheiro? Ganharam de volta o imposto sindical no governo do PT. Muitos se beneficiaram diretamente desse esquema. Se ainda existe algum sindicato sério no Brasil, agora é a hora de mostrar. Organizem a devolução. Criem um fundo. Corram atrás dos responsáveis. Se algum sindicato fizer isso, sou capaz de passar a defender sindicato.