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Em defesa de Israel contra a teocracia islâmica e o antissemitismo de esquerda

Protótipo de atraso e opressão, o regime teocrático do Irã, que apedreja, chicoteia e estupra mulheres rebeldes, além de enforcar homossexuais, vem sendo acolhido entusiasticamente por parte significativa da esquerda.

No Brasil, partidos políticos e intelectuais marxistas estendem-se em incontidos devaneios, quando chegam a proclamar a tenebrosa teocracia dos aiatolás como farol de uma revolução mundial libertadora e progressista.

Essa febre ideológica da esquerda pró-Irã abre-se na linha de uma regurgitação antissemita que se alastra no mundo desde o massacre brutal perpetrado pelos terroristas do Hamas em solo israelense, em 7 de outubro de 2023.

Desde então, a esquerda antissemita, animada pela ousadia cruel do Hamas, tem se fixado no objetivo da extinção do Estado de Israel; o que só pode acontecer através do extermínio de milhões de judeus; ou seja: um novo holocausto.

O Irã é a Pérsia. Os persas já foram aliados dos judeus, durante a Antiguidade, quando desempenharam um papel central na libertação do povo hebreu do exílio na Babilônia e apoiaram a reconstrução do templo em Jerusalém.

Na contemporaneidade, durante o reinado de Mohammad Reza Pahlavi, o último xá do Irã (1941–1979), a relação entre o Irã e Israel era estreita, cooperativa e estratégica, embora não oficialmente reconhecida.

O motivo principal do afastamento e hostilidade do Irã em relação a Israel é o fundamentalismo islâmico. Desde a Revolução Islâmica de 1979, os aiatolás do Irã expressam abertamente seu objetivo de destruir Israel.

O perverso desiderato não fica apenas no plano das ideias, mas busca efetivar-se através do armamento e financiamento de grupos terroristas localizados em outros países e que agem diretamente contra Israel; é o caso do Hamas em Gaza, do Hezbollah no Líbano e dos Houthis no Iêmen.

O Irã lidera hoje o eixo do terror para destruição de Israel. Nenhuma pessoa de razoável compreensão deixará de entender que o empenho extraordinário do Irã para ter uma bomba nuclear tem por objetivo usar tal artefato na consecução da sua estratégia político-militar maior: a destruição de Israel.

A luta de Israel contra o Irã é claramente uma luta pela sua própria sobrevivência. Sem exagero retórico, trata-se de uma guerra existencial para os judeus. Israel não pode, sob hipótese alguma, permitir que o Irã tenha uma bomba atômica.

Essa questão tem sido intensamente exposta e comentada. Repito aqui o que já se sabe por entender que seja imperioso, nesse momento, uma tomada de posição clara por parte de todos aqueles que têm voz no debate público.

Embora o governo brasileiro e todos os seus tentáculos de cooptação formem uma linha de frente dos partidários da tirania dos turbantes, cabe a nós outros que discordamos da diplomacia do mal levada a cabo por Lula, deixarmos claro nosso posicionamento.

Quando Hitler ascendeu ao poder e ameaçou o mundo, importava menos teorizar sobre sua personalidade doentia do que confrontar o nazismo e seus apoiadores.

Embora a ideologia nazista tenha brotado no interior do Ocidente, o restante da Europa e os Estados Unidos souberam, naquela época, confrontar o mal quando o mal se mostrou assim tão patente. Hoje em dia, porém, parte do Ocidente parece ter esquecido seus valores e estar desprovido de bússola moral.

Entre a tirania dos aiatolás que espalha o terror no mundo e mantém seu próprio povo sob o jugo das leis islâmicas fundamentalistas, abusivas e cruéis e um minúsculo país democrático que luta pela sua existência cercado terroristas por todos os lados, parte da população dos países livres e democráticos optou por apoiar e torcer pelo lado mais trevoso.

Talvez estejamos vivendo tempos ainda mais sombrios do que o período da segunda guerra mundial, justamente por essa obtusidade moral disfarçada de pensamento crítico que criou teia de aranha nos cérebros de colunistas, comentaristas e acadêmicos que acham que estão sendo muito inteligentes e progressistas quando questionam grandiloquentes por que, afinal, Israel pode ter uma bomba atômica e o Irã não.

Por mais que se tente dissociar uma coisa da outra esse ódio todo a Israel nada mais é que a expressão contemporânea de um antissemitismo milenar.

O covarde antissemitismo de esquerda, que tenta negar seu nome, usa como mote geral da sua perfídia a orgulhosa confissão de antissionismo, alegando que este seria um mal inquestionável.

Eis aí: o sionismo não é um mal; trata-se do movimento legítimo que permitiu aos judeus, secularmente dispersos, perseguidos e tantas vezes sacrificados, construir um lar, reconquistar uma pátria.

Anular e difamar preliminarmente o significado e valor histórico e simbólico do sionismo evidencia insopitável inclinação antissemita.

Essas pessoas que optaram por tomar o lado do islamo-fascismo contra Israel, fazem um jogo retórico no qual deixam momentaneamente de lado o fato de que se trata aí da nação judaica, ou seja, do braço forte, do poderoso escudo de um povo que já foi massacrado e que prometeu para si mesmo que a barbárie do holocausto jamais iria se repetir.

Na verdade, todo o Ocidente democrático e livre já bradou um “nunca mais”. Como bem escreveu Andreas Scheiner, em artigo no jornal suíço Neue Zürcher Zeitung (NZZ), é um desalento, uma desilusão constatar que o mundo “abandonou o Estado judeu após o maior massacre em massa contra judeus desde a Shoah. Em vez de combater a ideologia genocida do islamismo, acusações de genocídio são direcionadas contra Israel”.

No referido artigo, diz-se o óbvio: não se trata de retirar de ninguém o direito de criticar o atual governo de Israel ou a forma como está sendo conduzida, por exemplo, a guerra em Gaza contra o Hamas. Qualquer crítica nesse sentido seria legítima.

O que vemos rotineiramente na mídia, porém, é mais que isso: é uma manipulação grosseira dos fato, uma distorção das coisas em desfavor de Israel, um uso retórico e carregado de linguagem que resulta da sua demonização.

Enquanto frequentemente se fala da ´guerra agressiva de Putin´ contra a Ucrânia, fala-se do ´genocídio israelense´”, nota Scheiner e continua:

No New York Times, Israel foi associado ao termo “genocídio” nove vezes mais frequentemente do que Ruanda, seis vezes mais frequentemente do que Darfur. Entretanto, nas situações mencionadas, as intenções genocidas eram cristalinas. Pode-se apontar muitas críticas à condução da guerra israelense. Mas falar em genocídio enquanto Israel – mesmo que insuficientemente – envia ajuda humanitária para Gaza não faz sentido. Sem mencionar que a população palestina cresceu de quase dois milhões para cinco milhões e meio desde 1990”.

O mesmo artigo nos traz ainda uma reflexão importante: os israelenses não estão muito preocupados com o que o militante ocidental woke de esquerda pensa do seu país. Eles estão mais ocupados com a sua defesa real que com a sua defesa retórica:

A incapacidade de conter o ataque da Hamas lembrou dolorosamente ao país que não pode se dar ao luxo da fraqueza. […] No estado judeu pouco se importa com os julgamentos do mundo. A segurança própria tem prioridade”, escreve o articulista suíço.

Para desespero de ativistas anti-Israel como a sueca Greta Thunberg, a euro-deputada franco palestina Rima Hassan, o brasileiro Thiago Ávila e milhares de outros que pensam e militam como eles, os judeus não estão passivos ante a ameaça do Hamas, do Hezbollah, dos Houthis e do Irã. Eles têm um poderoso exército, um Instituto de Inteligência e Operações Especiais invejável e eles vão se defender.

Alguns se irritam bastante ao constatarem que os judeus só se ajoelharão para seu Deus, permanecendo impávidos diante dos inimigos que almejam a sua aniquilação.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) e o Mossad revivem hoje um “judaísmo guerreiro e armado” que remete ao líder rebelde Simon Bar Kochba, o qual ousou a revolta judaica contra os romanos.

E assim tem que ser. Os israelenses não podem se dar ao luxo de contemporizar com inimigos que invadem suas terras, estupram suas mulheres, degolam seus bebês e metralham seus jovens.

A operação Rising Lion é um levante do povo judeu contra a teocracia perversa que o ameaça. Não é o primeiro; senão mais um dos muitos sem os quais Israel já teria deixado de existir.

O Caminho para a Paz: Reconhecimento Mútuo e Coexistência entre Israel e Palestina

Por décadas, o conflito entre Israel e os palestinos tem sido um dos mais persistentes e emocionalmente carregados do cenário internacional. A narrativa dominante frequentemente responsabiliza Israel pela ausência de um Estado palestino, mas uma análise histórica mais equilibrada mostra que a realidade é mais complexa e exige, acima de tudo, responsabilidade e vontade política de ambos os lados.

Israel já ofereceu aos palestinos a criação de um Estado independente em cinco ocasiões distintas: em 1937 (Comissão Peel), 1947 (Plano de Partilha da ONU), 1967 (com discussões pós-Guerra dos Seis Dias), 2000 (Cúpula de Camp David) e 2008 (negociações com Olmert). Em todas essas oportunidades, os líderes palestinos rejeitaram as propostas, algumas delas extremamente generosas, como o plano que previa 94% da Cisjordânia e Gaza com Jerusalém Oriental como capital.

Essas recusas, frequentemente acompanhadas de episódios violentos, mostram que o entrave não foi a falta de propostas israelenses, mas a insistência em uma narrativa que não reconhece o direito de existência do Estado de Israel. Em 1967, a Liga Árabe declarou os infames “Três Nãos”: não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel e não às negociações com Israel. É impossível construir qualquer solução viável sob esse tipo de intransigência.

Isso não significa, porém, que os palestinos não tenham direitos legítimos. Eles têm. O sofrimento, a ocupação prolongada e a dificuldade de construir uma identidade nacional plena merecem reconhecimento e resposta internacional. Mas esse reconhecimento não pode ignorar o outro lado da equação: Israel também tem o direito de existir, de se defender e de buscar paz com segurança.

A coexistência não só é possível, como é necessária. Nenhum povo deve ser condenado a viver eternamente em guerra, sob bombardeios ou em guetos geopolíticos. O reconhecimento mútuo – de que os dois povos têm direito a uma pátria – é o primeiro passo essencial. Nenhuma solução duradoura será construída sem que os palestinos reconheçam o direito de Israel à existência como Estado judeu, assim como Israel deve continuar trabalhando por condições dignas e justas para a população palestina.

O caminho para a paz está, portanto, menos em novas ofertas territoriais e mais em um compromisso sincero com a realidade, a responsabilidade histórica e o futuro compartilhado. Paz verdadeira não se constrói apenas com diplomacia, mas com coragem moral e política para reconhecer que coexistir é não só possível, mas urgente.

Em Defesa de Israel

No fatídico dia 7 de outubro de 2023, Israel foi vítima de um ataque terrorista premeditado, coordenado e de uma brutalidade chocante, perpetrado pelas mãos do Hamas e da Jihad Islâmica. Terroristas invadiram deliberadamente comunidades israelenses ao longo da fronteira com Gaza, aldeias pacíficas e até um festival de música. Seu objetivo declarado era o máximo de morte e destruição. Os terroristas cometeram atrocidades indescritíveis: massacraram civis indefesos em suas casas, executaram famílias inteiras, queimaram pessoas vivas e sequestraram mais de 240 reféns.

Por trás dessa onda de terror está a República Islâmica do Irã. O país persa é o principal patrocinador estatal do terrorismo na região, fornecendo centenas de milhões de dólares anualmente, além de armas, treinamento militar, tecnologia de mísseis e foguetes e apoio logístico. Os principais beneficiários são os Houthis no Iêmen, Hamas em Gaza, Hezbollah no Líbano e Jihad Islâmica com base na Síria. Líderes iranianos, incluindo altos comandantes da Guarda Revolucionária, têm proclamado publicamente seu apoio e orientação a esses grupos, incitando-os constantemente à destruição de Israel. O ataque de 7 de outubro não foi um ato isolado, sendo o ápice de anos de investimento iraniano e doutrinação ideológica, projetado para infligir o máximo de sofrimento a Israel e desestabilizar toda a região.

O Irã, sob o regime dos aiatolás, ainda avançou agressivamente em seu programa nuclear ilegal, enriquecendo urânio a níveis perigosamente próximos do necessário para uma bomba atômica. Relatórios da AIEA e inteligência ocidental confirmam que o país possui urânio suficiente para múltiplas ogivas nucleares e poderia produzir material bélico em questão de semanas usando tecnologia avançada instaladas em locais clandestinos. Diante das reiteradas ameaças genocidas de líderes iranianos é evidente que este arsenal nuclear seria direcionado prioritariamente contra o Estado judeu. Israel entende que a bomba iraniana não é instrumento de dissuasão, mas uma arma de aniquilação, portanto, permitir que o regime dos aiatolás adquira tal poder seria uma condenação à existência de Israel e uma catástrofe para a segurança global.

Diante das esmagadoras evidências de que o Irã não apenas financia, arma e coordena grupos terroristas, responsáveis por décadas de derramamento de sangue israelense — mas também avança a passos acelerados rumo à bomba atômica, ignorando inspeções internacionais, o direito de autodefesa preventiva de Israel não é apenas legítimo: é um imperativo moral e estratégico. Permitir que o regime de Teerã concretize suas ambições nucleares seria assinar a sentença de morte do Estado judeu, transformando uma máquina genocida em potência atômica. Assim, neutralizar as instalações nucleares iranianas e decapitar sua estrutura terrorista não é uma opção, mas uma necessidade de sobrevivência — um ato de coragem para proteger não apenas civis israelenses sob constante ameaça, mas a estabilidade global, interrompendo o epicentro do terror que alimenta o ódio e a destruição em todo o Oriente Médio. Israel, como nação que carrega o fardo de defender sua existência diante de inimigos que desejam aniquilar seu povo, tem o direito inalienável de agir antes que a calamidade se torne irreversível.

Estamos em guerra

Nesta terceira década do século 21 o mundo está imerso numa terceira grande guerra. E não é possível escapar dela.

A guerra mundial atual é uma guerra fria. Guerra fria é guerra. Estamos numa segunda guerra fria movida pelo eixo autocrático contra as democracias liberais – e não apenas uma guerra EUA x China, como se fosse um repeteco da primeira guerra fria EUA (e Ocidente) x URSS.

A guerra atual é uma netwar: não apenas uma ciberguerra, mas uma guerra social, que atravessa todas as fronteiras e divide as sociedades nacionais.

A netwar já é a terceira guerra mundial – que também não é um repeteco da primeira e da segunda guerras quentes mundiais.

Teremos ainda muitos episódios de guerras quentes regionais, mas o evento mais importante é a guerra global que já se instalou. É por isso, por exemplo, que a guerra de Gaza não é em Gaza, mas no mundo todo. Em Gaza, Israel vai vencendo. No mundo, o Hamas já venceu.

As guerras quentes regionais cumprem um papel alimentador e detonador da netwar global. Assim ocorre com a guerra do Irã (integrante do eixo autocrático) contra Israel (que era uma democracia liberal), seja via uma dúzia de grupos terroristas (Hamas, Jihad Islâmica, Hezbollah, Houthis etc.), seja, agora, diretamente. Em todas as sociedades ditaduras e democracias parasitadas por governos populistas se levantam contra Israel (e, mais do que isso, espalham o antissemitismo).

Assim ocorre com a guerra da Rússia (integrante do eixo autocrático e na vanguarda da netwar) contra a Ucrânia, na verdade, contra as democracias europeias, ameaçando imediatamente a Moldávia, a Estônia, a Letônia, a Lituânia, a Finlândia, a Geórgia e até a Suécia e a Polônia. Novamente, se colocam a favor da Rússia as ditaduras e setores das democracias parasitadas por governos populistas.

Assim também ocorrerá, em breve, na guerra da China (integrante do eixo autocrático) contra Taiwan (uma democracia liberal).

A polarização e a consequente divisão que a netwar instala nas sociedades de todos os países é parte da netwar global que, para todos os efeitos práticos, é uma campanha de exterminação das cerca de três dezenas de democracias liberais que ainda restam no mundo. Além disso, uma vez entrando em guerra quente regional, atacadas por algum integrante do eixo autocrático, as democracias liberais decaem. Segundo o V-Dem, depois do ataque terrorista e do início da guerra contra o Hamas, Israel deixou de ser uma democracia liberal e passou a ser uma democracia apenas eleitoral (um regime não-liberal). A Ucrânia deixou de ser uma democracia eleitoral e passou a ser uma autocracia eleitoral. O mesmo ocorrerá com Taiwan, quando a China começar a invadí-la.

Países com regimes democráticos não entram em guerra entre si. Mas uma vez atacados por países com regimes autocráticos, os países com regimes democráticos decaem: ou deixam de ser liberais ou, pior, passam a ser autocracias. Tudo isso acontece porque não é que países autocráticos façam guerra (entre si e contra países democráticos) e sim porque a guerra é a autocracia.

A guerra é o modo de ser da autocracia. Em outras palavras: o que chamamos de autocracia é um modo guerreiro de regulação de conflitos. Em geral há dificuldade de entender isso porque as pessoas acham que guerra é apenas guerra quente (com derramamento de sangue) e não veem que guerra fria também é guerra e que a política praticada como continuação da guerra por outros meios (na base do “nós contra eles”, como fazem todos os populismos, ditos de direita ou de esquerda) também é guerra. Não veem que guerra não é destruição violenta de inimigos e sim construção de inimigos, o que pode acontecer, inclusive, de forma não violenta.

As pessoas não veem que toda guerra é interna. Que o objetivo da guerra é instalar um estado de guerra que justifique a reorganização dos cosmos sociais para erigir padrões hierárquicos de organização regidos por modos autocráticos de regulação.

Como disse Larry Diamond (2020), ventos malignos (Ill Winds) estão soprando. E podem soprar ainda por muito tempo nesta terceira onda de autocratização que nos assola. Não há como se esconder deles.

Os brasileiros progressistas que defendem os aiatolás do Irã

Não existe justificativa possível para uma pessoa que se diz democrata apoiar o regime iraniano. Nenhuma. O que se vê por aí é uma mistura de ignorância e irresponsabilidade. No debate público, opiniões sobre conflitos armados, alianças geopolíticas e regimes autoritários estão sendo tratadas como se fossem brigas de torcida. E isso diz muito sobre o nível a que chegamos.

As pessoas que mais opinam são, em geral, as que menos entendem. Nunca viveram uma guerra, nunca estiveram em áreas de conflito, nunca estudaram geopolítica ou sequer buscaram entender as forças em jogo.

No Brasil, o horror à guerra é compreensível. Nossa experiência com ela é distante. Quando vemos uma imagem de bombardeio, de criança ferida, entramos automaticamente no modo emocional. Mas isso, por si só, não dá a ninguém autoridade para tomar partido sem compreender as implicações.

Quem se dispõe a discutir esse tipo de tema precisa, no mínimo, saber reconhecer seus próprios limites. O problema é que o senso de limite desapareceu. Tem gente desmentindo voluntário de ajuda humanitária no campo de Gaza, como se quem lê manchete soubesse mais do que quem está na linha de frente. É uma idiotização coletiva. E uma que silencia os que realmente sabem  porque os ignorantes são barulhentos.

A questão central é simples: o Irã é uma ditadura brutal. Apoiá-lo não é ter posição política. É renunciar à noção mais básica de direitos humanos. O regime iraniano persegue mulheres, homossexuais e opositores. Impõe um apartheid de gênero. Promove linchamentos morais e físicos em nome da religião. A população iraniana vive sob um terror cotidiano. São pessoas comuns, como nós, que até os anos 70 viviam em cidades abertas. Hoje, qualquer coisa considerada deslize de costumes pode ser punida com prisão ou morte.

É esse regime que parte da esquerda ocidental resolveu apoiar, por puro antiamericanismo. Como são contra os Estados Unidos, são contra Israel. E, como são contra Israel, são a favor de tudo que combate Israel,  mesmo que seja um governo teocrático que assassina mulheres por causa de um véu mal colocado. Isso não é política. Isso é moralmente indefensável.

O debate sobre guerra, armamentos e geopolítica é complexo. Mas há questões que não são. Apoiar um regime que mata mulheres por não se cobrirem o suficiente não exige complexidade para ser condenado. Exige apenas caráter. E o que falta, nesse caso, não é informação. É decência.

Brasil: a ordem dos privilégios e o império do crime

O debate sobre a democracia é permanente, estando particularmente aceso no momento, quando são detectadas graves crises em alguns países e apontada a baixa qualidade crônica das democracias de outros. No Brasil, a qualidade democrática está péssima.

A igualdade é um princípio democrático, mas, enquanto os melhores regimes democráticos estruturam modelos que possibilitam um crescimento contínuo da igualdade ao mesmo tempo em que preservam a liberdade, de modo contrário, os regimes totalitários, a pretexto de construírem a igualdade absoluta, destroem a liberdade absolutamente.

O avanço contra a liberdade de expressão, venha de onde vier, nada mais é que a pavimentação para a construção de um regime totalitário. 

Deixaremos, porém, o complexo debate sobre os ataques à liberdade de expressão no Brasil para outra oportunidade e nos ateremos, por ora, na descrição da estranha democracia que os autoritários disfarçados de democratas se arrogam defender. 

Podendo ainda apenas formalmente ser considerada uma democracia, o Brasil constitui, na prática, um modelo disfuncional, uma espécie de “ordem dos privilégios”.

Dentro desta “ordem dos privilégios”, os três poderes da República Federativa do Brasil estão exemplarmente equilibrados.

É fato notório que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário arengam-se mutuamente, estranham-se, chamam nomes feios uns com os outros; mas tudo isso por coisas de somenos, sempre superadas em nome da causa maior dos privilégios.

Privilégios do Executivo

Dos vastos e muito conhecidos privilégios do Executivo, avanço apenas dois exemplos periféricos: o cartão corporativo e os jetons pagos a ministros de governo para atuarem em Conselhos de empresas estatais.

Pelo menos quatro ministros recebem jetons do Sistema S (como Sesc, Senac). Em 2024, Alexandre Padilha (Relações Institucionais) somou R$ 257 mil em jetons por apenas duas reuniões e Camilo Santana (Educação) R$ 129 mil por sete encontros. Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), por sua vez, somou jetons de R$ 129 mil por sete reuniões em 2024; já Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), também conselheiro no Sesc, tem recebimento previsto, mas sem valores divulgados no Portal da Transparência.

Quanto ao cartão corporativo, sabe-se que, entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, só em gastos sigilosos, a Presidência da República gastou um pouco mais de R$ 38 milhões, informação amplamente divulgada pela imprensa. Porém, não se deve perder a paciência, pois daqui a 100 anos o sigilo desses gastos será quebrado.

É bem verdade que as referidas gastanças estão dentro da legalidade. Mas nem tudo que é legal é moral. Um governo que se diz tão preocupado com as desigualdades sociais, que se diz em favor dos pobres, deveria ser o primeiro a cortar na carne os privilégios.

Em vez disso, aos já aberrantes privilégios, acrescenta-se rotineiramente a ostentação, como no caso das viagens internacionais do Presidente Lula e da Primeira-Dama, Janja, já popularmente conhecida como “Esbanja”, devido às suas notórias extravagâncias em viagens internacionais.

Privilégios do Legislativo

Dos privilégios do Legislativo, basta citar as já sobejamente conhecidas emendas parlamentares que, secretas ou não, são bilionárias.

Em tese, tais emendas deveriam servir ao atendimento de populações que só os parlamentares conheceriam suficientemente bem para lhes saber as necessidades. Seria razoável se os números fossem razoáveis.

Porém, R$ 52 bilhões, que foi o orçamento de 2024 para as emendas parlamentares, não é razoável; é um sequestro de dinheiro público para fins eleitoreiros (em alguns casos já comprovados ou em investigação, descambando para a corrupção pura e simples).

Na melhor das hipóteses, trata-se de um privilégio que visa garantir ao privilegiado a perpetuação da sua condição de casta superior.

Privilégios do Judiciário

Na plêiade de privilégios do Judiciário resplandecem penduricalhos que se elevam em forma de super-salários estelares.

O teto constitucional de salários para 2025 –que serve de limite máximo para a remuneração de servidores públicos federais – foi fixado em R$ 46.366,19 mensais, mas muito se engana quem pensa que os juízes cumprirão esse teto. Deveriam ser os mais ciosos em cumpri-lo, mas o desprezam majestaticamente.

Em 2024, em média, cada juiz recebeu aproximadamente R$ 270 mil extras. Entre novembro de 2023 e outubro de 2024, 125 magistrados receberam rendimentos líquidos superiores a R$ 500 mil em um único mês. A maior parte desses pagamentos ocorreu no Tribunal de Justiça de Rondônia, onde 114 juízes receberam até R$ 1,2 milhão líquidos em fevereiro de 2024.

Será ocioso dizer que todas essas enormidades estão revestidas de engenhosas camadas de legalidade.

Os valores elevados são atribuídos ao pagamento retroativo do Adicional por Tempo de Serviço (ATS), também conhecido como quinquênio, benefício extinto em 2006, mas restabelecido em 2022 para juízes federais.

Essa decisão gerou um efeito cascata, levando tribunais estaduais a reimplantá-lo, resultando no pagamento de valores retroativos desde 2006.

Não se vê, infelizmente, nenhuma efetiva organização da sociedade civil para se contrapor a esse estado de coisas. No Brasil, o potencial de uma valorosa reação política está adormecido.

A massa mobiliza-se muito mais para defender políticos do que para confrontar tais disfuncionalidades e prefere eleger demagogos em detrimento dos poucos que efetivamente se contrapõem a essa espúria ordem de privilégios.

O crime se organiza

Paralelamente a isso, assistimos ao crescimento assustador da violência. Vê-se e amplamente se comenta que, em algumas regiões do país, o chamado “crime organizado” atua já como governo paralelo, às vezes mais organizado que os próprios poderes legais.

No Brasil, o crime organizado está altamente estruturado e em expansão. Antes mais restrito a pequenos espaços densamente povoados nas favelas do Rio de Janeiro, agora avança por todo o país; e até pelo continente sul-americano.

Matérias jornalísticas dão conta de que o PCC já utiliza um “censo do crime” e coordena presença estadual e nacional de forma estratégica.

Com força até aqui incontrolável, o crime organizado já domina vastas áreas da Amazônia. Estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que 260 dos 772 municípios da Amazônia Legal tinham atuação de facções em 2024 — um aumento de 46% em relação a 2023.

As maiores organizações — PCC, Comando Vermelho (CV) e a Família do Norte (FDN) — disputam rotas de tráfico e controle territorial, muitas vezes em áreas estratégicas de mineração e fronteiras.

No Ceará, a facção Guardiões do Estado (GDE), responsável pelos grandes atentados de 2019, ampliou sua presença nos últimos anos.

Assim, enquanto os poderes legalmente constituídos ocupam-se de seus próprios interesses e de seus sempre crescentes privilégios, os poderes ilegais vão constituindo no Brasil o seu império do Crime.

Invasão Silenciosa

A recente descoberta, por técnicos do governo dos EUA, de que controladores fabricados por empresas chinesas e usados em painéis solares em território americano possuem canais secretos de comunicação, acende um alerta global sobre os riscos da dependência tecnológica estrangeira, especialmente de países com regimes autoritários e estratégias geopolíticas expansionistas, como a China. O fato de esses equipamentos conterem funções não documentadas, capazes de permitir acesso remoto fora dos sistemas de segurança, levanta sérias preocupações de cibersegurança e soberania nacional. Isso revela como a infraestrutura crítica de um país pode ser comprometida por vulnerabilidades inseridas deliberadamente por fornecedores estrangeiros.

Esse episódio norte-americano é apenas um exemplo de um problema muito mais amplo: o uso do investimento chinês como ferramenta de influência estratégica. A China, por meio de seu ambicioso projeto de expansão econômica global — incluindo a Nova Rota da Seda — tem investido maciçamente em setores essenciais de diversos países, como energia, mineração, telecomunicações e transporte. Em muitos casos, esses investimentos vêm acompanhados de cláusulas contratuais e exigências que comprometem a autonomia regulatória dos países receptores. A dependência excessiva de capital chinês pode tornar essas nações vulneráveis a pressões políticas e econômicas incompatíveis com seus interesses soberanos.

O Brasil, embora em um cenário distinto dos EUA, não está imune a esses riscos. Empresas chinesas já têm participação relevante em áreas estratégicas como energia elétrica (caso da State Grid), telecomunicações (Huawei) e mineração (MMG, CMOC). A ausência de mecanismos de triagem e análise de segurança nacional em investimentos estrangeiros diretos expõe o país a riscos latentes. A longo prazo, a concentração de ativos críticos nas mãos de atores estrangeiros pode limitar a capacidade de reação do Estado brasileiro frente a eventuais conflitos de interesse ou crises geopolíticas.

Nesse contexto, ganha relevância o Projeto de Lei nº 1051 de 2025, de autoria do deputado Luiz Carlos Hauly, que propõe a criação do Comitê de Triagem e Cooperação para Investimentos Estrangeiros Diretos (CTIE). Inspirado em modelos já implementados em países como Estados Unidos (CFIUS), Alemanha e Austrália, o comitê teria a responsabilidade de avaliar, condicionar ou até vetar investimentos que possam afetar a segurança nacional, a ordem pública ou setores estratégicos da economia. Adotar esse tipo de mecanismo não significa fechar as portas ao capital estrangeiro, mas garantir que investimentos recebidos estejam alinhados aos interesses de longo prazo do Brasil.

A institucionalização de um sistema de triagem de investimentos estrangeiros é uma medida preventiva necessária diante do cenário internacional. É uma forma de proteger a soberania nacional, garantir a resiliência das cadeias produtivas estratégicas e manter a capacidade de autodeterminação do país em temas sensíveis. O caso americano com os painéis solares evidencia que vulnerabilidades ocultas podem se transformar em poderosos instrumentos de coerção. A aprovação do PL 1051/2025 colocaria o Brasil em sintonia com as melhores práticas internacionais, inclusive recomendadas pela OCDE, e fortaleceria nossa segurança nacional em tempos de crescente competição geopolítica.

Trump2 quer uma ‘Guerra nas Estrelas’ para chamar de sua

Em 1983, nos estertores da Guerra Fria, quando o presidente Ronald Reagan lançou a Iniciativa de Defesa Estratégica (logo popularizada pela imprensa como “Guerra nas Estrelas”), o estágio de desenvolvimento da tecnologia armamentista da época  ainda estava aquém da aspiração do estadista que passou para a História como o “Grande Comunicador”. Além disso, os custos estimados ultrapassavam as disponibilidades orçamentárias. Hoje, porém, no contexto do recrudescimento da rivalidade entre as grandes potências, Donald Trump retoma essa proposta e promete instalar até o fim do seu mandato uma rede de interceptação de ataques nucleares inimigos, com satélites baseados no espaço e estações terrestres, capaz de proteger o território dos Estados Unidos de mísseis chineses, russos e norte-coreanos.

A tecnologia balística hipersônica que os adversários da América estão desenvolvendo torna as atuais defesas, baseadas no Alasca e na Califórnia e que visam prevenir ataques oriundos da Coreia do Norte, claramente insuficientes. Os Estados Unidos tampouco dispõem de defesa suficientemente eficaz contra drones e mísseis de cruzeiro, que voam a baixas altitudes fora do alcance dos radares.

Para superar essas limitações, Trump assinou, logo no início desse seu segundo mandato, em 27 de janeiro último, uma ordem executiva orientando o establishment de defesa para, entre outras providências, a construção de um ‘escudo’, que, numa referência ao  sistema israelense do “Domo de Ferro”, já é conhecido como “Domo de Ouro” (ou “Domo Dourado”). Custo anunciado: 175 bilhões de dólares.

Recentemente, Ucrânia e Israel provaram, na prática, sua capacidade de neutralizar ofensivas balísticas da Rússia e do Irã, respectivamente.

Breve retrospectiva — Na segunda metade do século passado, os sistemas de defesa antimísseis davam seus primeiros passos, mas já atemorizavam os líderes das duas superpotências de então, Estados Unidos e União Soviética, com a perspectiva de uma descontrolada corrida armamentista em busca de mísseis mais modernos e potentes a fim de neutralizar aqueles sistemas. No início da década de 1970, essa preocupação recíproca possibilitou a assinatura dos acordos Salt (Strategic Arms Limitation Talks) e ABM (Anti-Ballistic Missiles). Em 1991, esse compromisso foi renovado pelos presidentes Mikhail Gorbachev e George H. W. Bush, com a assinatura do Start (Strategic Arms Reduction Treaty). Este tem prazo de validade até o próximo ano.

De lá para cá, a República Popular da China aumentou seu arsenal nuclear em ritmo acelerado. Segundo estimativas do Pentágono, até 2035, Pequim disporá de 1.500 ogivas nucleares, em comparação com apenas 200 há cinco anos. A Rússia, que tinha 30 mil ogivas nucleares durante a Guerra Fria, deve hoje possuir cerca de 6 mil.

O anúncio do Domo Dourado provocou duras respostas dos adversários da América: russos, chineses e norte-coreanos temem a desestabilização do atual paradigma estratégico, baseado na deterrência (dissuasão) e consagrado na sigla MAD-Destruição Mútua Assegurada, o equilíbrio do terror.

Armas hipersônicas — Chineses e russos estão na dianteira do desenvolvimento de vetores balísticos, capazes de voar a uma velocidade bem superior a cinco vezes a velocidade do som e que podem desviar-se de obstáculos até atingirem seus alvos. Em 2021, a China testou um desses novos mísseis, o qual voou a mais de 15 mil milhas por hora e orbitou em volta do planeta antes de explodir seu alvo em território chinês. Em 2018, o presidente Vladimir Putin já havia revelado ao mundo o programa russo de armas hipersônicas, proclamando orgulhoso que os Estados Unidos não teriam possibilidade de proteger sua costa Oeste desse tipo de ataque. Os hipersônicos da Rússia viam a uma velocidade relativamente mais baixa quando são lançados, e isso facilita a sua interceptação. Já no caso dos ICBMs (mísseis balísticos intercontinentais), a dificuldade para interceptá-los é maior porque seus propulsores o elevam rapidamente à estratosfera. Isso significa que, para detê-los, os Estados Unidos teriam que colocar em órbita satélites cobrindo cada um dos 11 fusos horários porque se estende o vasto território russo.

Quanto à Coreia do Norte, a inteligência militar norte-americana já descobriu que o regime de Pyongyang já possui mísseis de alcance suficiente para atingir o território dos Estados Unidos. O ditador da hora, Kim Jong Un, quer construir vetores que voem cada vez mais longe, carreguem ogivas cada vez maiores e possam ser lançados cada vez mais rapidamente. Em fase ainda experimental estão os drones submarinos portadores de cargas nucleares.

Os Estados Unidos, além das já mencionadas estações no Alasca e na Califórnia, operacionais desde o início deste século, já realizaram testes de interceptação através do sistema Aegis (escudo, em grego) contra mísseis intercontinentais. O sistema também foi usado pelos destroieres da Marinha norte-americana contra mísseis do Irã lançados sobre o território de Israel no ano passado. Versões terrestres do Aegis estão instaladas nos territórios de dois membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan): Romênia e Polônia. De alcance mais curto, mísseis da classe “Patriot” e o sistema Thaad-“Territorial High Altitude Area Defense se acham instalados na Coreia do Sul e em Guam.

Custos — Parcialmente graças às inovações introduzidas pela firma SpaceX, de Elon Musk, os custos de lançamento dos satélites interceptadores caíram hoje dramaticamente (de 30% a 40% em comparação com estimativas de 2004 e 2012, para o desenvolvimento de uma constelação de armas espaciais em condições de derrubar um ou dois ICBMs). De acordo com a American Physical Society, a derrubada de 10 ICBMs necessitaria de 36 mil unidades de interceptação, número que deveria ser multiplicado de várias vezes no cenário de um ataque maciço chinês ou russo. A modernização integral das forças nucleares ofensivas norte-americanas, até 2035, não ficará por menos de 946 bilhões de dólares.

Essa é mais uma razão pela qual, a par das complicações tecnológicas, os experts não acreditam que o “Domo Dourado” possa estar pronto para ser instalado em menos de três anos, como promete Donald Trump. Um os observadores mais pessimistas é Pavel Podvig, pesquisador-sênior do Instituto das Nações Unidas para Pesquisas sobre Desarmamento. Ouvido pelo Wall Street Journal, ele considera que qualquer sistema de defesa antimísseis ofereceria proteção contra, no máximo, 85% dos foguetes lançados pelos inimigos da América, o que, na sua opinião, fomentaria um falso (e perigoso) sentimento de segurança.

Lula vai quebrar o Brasil por uma estratégia de campanha para 2026?

Esses dias li no X que o governo Lula 3 criou o novo tripé macroeconômico: imposto, censura e endividamento. O tripé macroeconômico clássico consiste  em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Agora temos, na economia uma foi engenharia de desequilíbrio: mais carga tributária, menos controle da informação e mais crédito para quem menos tem como pagar, com juros de constranger agiota.

O exemplo mais recente é a fala de Lula sobre conceder linha de crédito para motoristas de aplicativo. A maioria está endividada, sem emprego fixo, sem poupança. Em vez de pensar em soluções estruturais, o governo prefere distribuir crédito como se não houvesse amanhã. O objetivo? Garantir votos, criar vínculos de dependência, montar o palanque de 2026. Isso não é política social. É estratégia eleitoral.

A oferta desenfreada de bolsas e auxílios pode parecer uma resposta emergencial. Mas a quantidade, o ritmo e a falta de planejamento mostram que o foco não é resolver problemas reais, e sim fabricar fidelidade. O gasto com essas políticas subiu mais de 10 vezes com relação aos primeiros governos de Lula.

O PT sempre teve uma ideia muito particular de democracia: gosta de eleições, desde que ganhe todas. Quando perde, grita golpe. Quando ganha, demoniza a oposição. Alternância de poder? Só se for dos outros.

O voto raramente vem pelo que o candidato promete. Vem pelo medo de perder o que já tem. O medo de perder a bolsa, o direito, a escola, o benefício. É com isso que o PT trabalha. O partido sabe que voto é emocional e o medo é um motor potente. Por isso, o discurso é sempre o mesmo: se o outro ganhar, você perde tudo. E, por enquanto, vai concedendo tudo o que puder.

O que está em jogo é maior. A estrutura que o governo está montando não se sustenta. O nível de gasto atual é muito superior até mesmo aos picos dos governos anteriores do próprio PT. Não há como manter isso nem no médio prazo. E quando a conta chegar, o mesmo governo que disse estar colocando o pobre no orçamento vai tirá-lo de lá à força.

A pergunta que fica é: a oposição vai enfrentar esse modelo ou vai continuar no debate raso, ideológico, periférico? A campanha de 2026 já começou. Ao que tudo indica, vai ser bem mais cara que as outras. Seria Lula capaz de quebrar o Brasil para se manter no poder?

Deslocamento de Poder

A última década testemunhou uma significativa transferência de poder no Brasil, especialmente no controle do orçamento federal, do Palácio do Planalto para o Congresso Nacional. Este processo, iniciado durante o governo Dilma, consolidou-se nos anos seguintes, gerando uma presidência com poderes drasticamente reduzidos. Isto explica as razões de Lula conduzir um governo de poderes altamente esvaziados. Em outras palavras, o Brasil já vive em um sistema semipresidencialista de fato.

O governo Dilma foi certamente o marco zero deste processo. Enfrentando uma grave crise política e econômica, com base parlamentar frágil e buscando evitar o impeachment, Dilma viu-se seduzida a ceder espaço sem precedentes ao Legislativo na definição de emendas e alocação de recursos orçamentários com o objetivo de salvar seu mandato. A barganha por sobrevivência política minou a capacidade do Executivo de planejar e executar o orçamento conforme suas prioridades, enfraquecendo sua autoridade presidencial. O resultado foi o inverso do esperado. Ao empoderar-se, o parlamento se livrou de sua presença na presidência da República.

Este processo acelerou-se e cristalizou-se após o impeachment. Temer, um político forjado nos bastidores do parlamento, aprofundou a prática, entregando efetivamente parte significativa do orçamento aos congressistas. Paralelamente, a Emenda Constitucional do Teto de Gastos (EC 95/2016) restringiu severamente a capacidade do Executivo de criar despesas, aumentando o valor político do espaço fiscal controlado pelo Congresso. Bolsonaro levou essa lógica ao ápice com a expansão exponencial do chamado “orçamento secreto” – emendas de relator com execução obrigatória e sigilo inicial. O Congresso tornou-se o gestor de fato das verbas mais relevantes, reduzindo o Executivo à condição de refém para aprovar sua agenda básica.

O terceiro governo Lula herdou essa nova realidade institucional. Apesar da vitória eleitoral, ele encontrou uma Presidência com sua capacidade orçamentária e de implementação de políticas severamente limitada. Porém, custou a entender que o Brasil que governava em 2023 era muito diferente daquele de 2003. Agora, o controle efetivo sobre os recursos e a agenda governamental cotidiana residia majoritariamente no Congresso, uma realidade muito distinta dos seus dois primeiros mandatos. A dificuldade do Presidente se adequar aos novos tempos, entretanto, tem cobrado um preço muito alto do país.

A percebida fraqueza do terceiro governo Lula está ligada ao cansaço de um Presidente já em idade avançada, aliada a um desinteresse em governar diante da perda estrutural e irreversível de poder orçamentário. Sem o controle efetivo da principal ferramenta de política e com a dependência de negociações exaustivas com uma base fragmentada, a Presidência vê-se reduzida a administrar concessões. Assim, Lula vestiu o traje de Chefe de Estado, abstendo-se de conduzir efetivamente o governo, que hoje surge sem comando, rumo ou liderança.

O deslocamento de poder tornou-se fato concreto. O Brasil precisa de um Presidente com habilidade para lidar com esta nova dinâmica, sob pena de tornar-se apenas um “pato manco” na condução do governo, como ocorre com Lula. O semipresidencialismo já é uma realidade em Brasília.