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Marionete de Caracas

Enganam-se aqueles que acreditam estarmos diante de um governo ditatorial clássico liderado por Maduro na Venezuela. Geralmente ditadores são dotados de poderes despóticos e irrestritos, assim como ocorre na Rússia de Putin, na Cuba de Miguel Díaz-Canel ou na China de Xi Jinping e na Coréia de Norte de Kim Jong-un. Na Venezuela tudo é um pouco diferente. Maduro é o Presidente de um país autoritário, porém não reside nele a concentração total de poder que se imagina de um ditador.

O modelo bolivariano implantado pelo antecessor Hugo Chávez está calcado em uma grande casta que sustenta o regime, basicamente formada por militares que controlam todos os setores importantes ou estratégicos do país. Maduro é seu fantoche e uma espécie de para-raios de um regime militar que usa sua imagem como líder nacional. Maduro não é elemento essencial para continuidade do chavismo, porém se tornou uma peça importante ao aceitar o papel de preposto do sistema executando de maneira fiel a cartilha bolivariana.

Isto significa que o país na verdade é governado por uma casta militar com um rosto civil, onde se destacam nomes como os Generais Padrino López, Néstor Reverol, Efraín Velasco e Diosdado Cabello, entre outros, todos servis e leais ao chavismo que os enriqueceu ao longo de décadas no poder. Chávez entendeu que para sobreviver, especialmente depois da tentativa de deposição sofrida em 2002, teria de incorporar os militares em funções políticas e sociais rentáveis. Assim, as principais estatais foram para as mãos dos militares, como, por exemplo, a PDVSA e a linha que separava militares e políticos foi cortada com autorização para que fardados assumissem cargos eletivos. Formas de cooptação que sedimentaram o apoio da caserna.

Ao mesmo tempo, o sistema de promoções na esfera militar cresceu na medida que a parceria com Cuba se intensificou. Hoje a Venezuela conta com 2,5 mil generais, dentro de um contingente entre 95 mil a 150 mil oficiais. Os cubanos se infiltraram e montaram um serviço robusto de vigilância dentro dos quartéis que sustenta a lealdade dos militares. Hugo Chávez e Fidel Castro fizeram um acordo para monitorar chavistas e não chavistas e detectar possíveis pontos de dissidência. Em troca, o petróleo que jorra dos poços venezuelanos alimentaria o regime cubano.

Ao mesmo tempo, o governo chavista fez alianças militares com Moscou e econômicas com Pequim. Com a Rússia existe uma aliança sedimentada, que tornou a Venezuela a principal porta de entrada para seu armamento na América Latina, aproveitando o país também para fazer girar a máquina de desinformação russa no continente. Com a China, Caracas optou pela dependência tradicional e os chineses compraram grande parte da dívida do país, que reside hoje nas mãos de Xi Jinping.

Isto significa que uma mudança de regime na Venezuela é um movimento bastante difícil, beirando o improvável. Estamos falando de um regime respaldado por ditaduras e assentado em uma estável casta militar corrupta que detém o controle da força e monitorada de forma sistemática pelo modelo de inteligência cubano. Tudo isso, financiado pelo petróleo. Entretanto, se a pressão internacional se tornar insuperável, nada impede que o regime rife a figura de Maduro, substituindo-o por outra marionete, mediante uma operação de maquiagem política com vistas a sobrevivência do sistema. Como vemos, as raízes do problema são muito mais profundas do que imaginamos.

A Venezuela continuará a viver dias difíceis enquanto esta intrincada teia não se desfizer.

Crônica de uma Fraude Anunciada

Não foi uma surpresa quando, na madrugada de 29 de julho, o presidente da CNE, Elvis Amoroso, anunciou falsamente que Maduro tinha vencido as eleições com 51,20%. A Ata em mãos da oposição demonstrou o contrário ao apontar uma vitória esmagadora de Edmundo González.

María Corina Machado, líder do movimento de oposição, negou publicamente a mentira do partido no poder Elvis Amoroso, respondendo-lhe “Temos um Presidente eleito. É Edmundo González Urrutia. Vencemos e todos sabem disso. “Vencemos em todos os estados do país.” Quando levantou triunfalmente a mão ao vencedor, estava acompanhada pelos mais proeminentes líderes da Plataforma Unitária. No seu discurso concluiu “A verdade é que Edmundo obteve 70% dos votos enquanto Maduro apenas 30%”.

O resultado obtido pela oposição não foi uma surpresa, mas confirmou o que já se sabia e que foi confirmado pela presença massiva nas mobilizações espontâneas durante a campanha, pelas sondagens sérias e pelos resultados obtidos à saída. Tudo isto é o resultado da formação de um fenómeno político e espiritual de unidade num arco-íris democrático formado a partir das bases de independentes, liberais, socialistas, democratas-cristãos, chavistas dissidentes, militantes de partidos históricos de esquerda, centro e direita.

No dia 28 de Julho e nos dias seguintes, nem os abusos nem as ameaças do Regime de incutir o medo atingiram o seu objectivo. A esperança de alcançar a desejada mudança pacífica após 25 anos de dominação autoritária e empobrecedora esteve presente em todos os momentos.

O anúncio do militante do PSUV Elvis Amoroso, proclamando Maduro como Presidente, desviando a verdade eleitoral, é o mesmo representante que como Controlador desqualificou ilegalmente María Corina, para continuar a persegui-la nas suas funções no Poder Eleitoral.

O inaceitável ataque contra Edmundo González e María Corina em 28 de julho e nos dias seguintes, por parte da CNE, do Procurador, do Supremo Tribunal de Justiça, da Assembleia Nacional, mostra como as instituições dominadas pelo Presidente reeleicionista seguem incondicionalmente o objetivo que permanece em poder por “gancho ou bandido”. A partir de 29 de julho, eles demonstraram sua decisão de se apegar ao poder “da maneira mais difícil”.

A resposta internacional exigindo transparência esteve presente antes e depois das eleições. Para a oposição, foi encorajador ver que os governos de esquerda democrática na América Latina – que antes – se identificavam como aliados internacionais de Maduro, desta vez não quiseram retratar-se incondicionalmente. com um modelo que repetia que não sairia do poder de forma alguma, com uma narrativa inaceitável de ameaças de guerra civil, banhos de sangue, perseguições, intimidações e outras artimanhas muito distantes dos princípios eleitorais democráticos estabelecidos na Constituição Bolivariana e nos Acordos Internacionais subscrito.

O Presidente Boric foi claro desde o início em relação aos direitos humanos e à democracia na Venezuela. A advertência do presidente Lula, recomendando que Maduro não continue com as ameaças e respeite os resultados, coincidiu com a proposta do presidente Petro da Colômbia ou do ex-presidente Mujica do Uruguai, que deram lições de alto nível sobre a necessidade de reconhecer o resultado eleitoral sem armadilhas . Cristina Kirschner exigiu, em memória de Chávez, que Maduro cumprisse entregando a Ata, enquanto o inesperado “desconvite” como observador do ex-presidente da Argentina Alberto Fernández, por exigir transparência, seguiu o mesmo padrão do “desconvite” da União delegação da União Europeia e dos observadores do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil que, devido aos insultos de Maduro ao sistema eleitoral do país vizinho, decidiram não comparecer. Ex-presidentes como Michelle Bachelet, Ernesto Samper e Leonel Fernández também marcaram o seu distanciamento do totalitarismo.

Se estes confrontos foram dirigidos contra governos e líderes de esquerda, com maior veemência atacaram convidados do candidato da oposição e de María Corina do centro ou da direita, que vieram simplesmente como convidados para acompanhá-los neste momento histórico. A fúria excessiva do Regime foi contraproducente porque deu mais visibilidade ao nervosismo prevalecente.

Descumprimento da cortesia internacional ao impedir a presença dos ex-presidentes Vicente Fox (México) Tuto Quiroga (Bolívia) Miguel Ángel Rodríguez (Costa Rica) Mireya Moscoso (Panamá) da ex-vice-presidente da Colômbia, Marta Lucia Ramírez. A expulsão da delegação de 10 senadores, deputados e eurodeputados do PP, bem como da ex-prefeita de Bogotá Claudia López, dos senadores chilenos José Edwards e Felipe Kast, da senadora colombiana Angélica Lozano, e dos senadores argentinos Francisco Paoltroni e do político Bongiovanni. O parlamentar da VOX Victor Gonzalez, que entrou como turista, foi revistado pelos serviços de inteligência do Hotel, assediado, despojado e expulso no dia seguinte, o que mostra o espírito totalitário e primitivo das autoridades. Por sua vez, presidentes como Luis Lacalle Pou, ou ex-presidentes como o paraguaio Mario Abdo Benitez e seu ex-chanceler Luis Alberto Castiglioni, ou personalidades peruanas dos mais variados partidos, ou o Senado chileno, condenaram estes acontecimentos, apresentando claramente a realidade .

Perante estas escandalosas expulsões de personalidades ilustres, o Presidente da CNE e outros dirigentes tiveram a audácia de salientar que tinham sido expulsos por serem traficantes de droga e corruptos, insultando descaradamente personalidades proeminentes apenas pelo facto de aceitarem o convite de o binômio Maria-Edmundo.

Poucos dias depois, a arrogância madurista também expulsou sete missões diplomáticas da América Latina, pelo simples fato de seus Governadores não aceitarem o resultado fraudulento até que os resultados fossem publicados com base nas Atas estabelecidas pela Lei Eleitoral Venezuelana. Desde aquele momento não existem Embaixadas da Argentina, Chile, Costa Rica, Equador, Panamá, Peru, República Dominicana, além daquelas que já estavam proibidas como Estados Unidos, Canadá e Paraguai.

A firme reação de 17 Líderes Latino-Americanos na Sessão da OEA convocada para decidir sobre as eleições na Venezuela ficou evidenciada em suas intervenções, e se junta a outras posições adotadas pelo G7, pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, pelo Center Carter, pela União Europeia e outras instituições que demonstram o repúdio ao que foi anunciado pelo Sr. Amoroso e pelas autoridades do Regime.

A pesar de no lograr la mayoría requerida por la abstención de algunos países del Caribe, y por la posición de Brasil, México y Colombia, quienes han suscrito una declaración que muestra el papel “negociador” que aspira jugar esta Troika, especialmente como interlocutor con os Estados Unidos. A importância destes três países é inegável, mas a influência do Fórum de São Paulo ou do Grupo de Puebla, ou do PT que já se manifestaram a favor de Maduro, e que podem influenciar os seus governantes a procurarem uma “paz” que, em essência, seria garantir o “status quo” da permanência no poder dos perdedores. Igualmente preocupantes são as posições de alguns conselheiros daquela Troika, que procuram excluir María Corina, a grande dirigente e estrategista da oposição, de futuras “negociações” que a separem da bem-sucedida parceria com Edmundo, o que estaria repetindo a desqualificação ilegítima, desta vez a nível internacional, o que seria inaceitável para os venezuelanos, porque ela é a grande líder eleita com 93% dos votos nas sessões plenárias e o grande fenômeno político do país.

A proposta da falsa solução “institucional” baseada no que decidem os órgãos controlados pelo PSUV não é aceitável, porque já se conhece a sua total submissão à permanência de Maduro no poder, e por outro lado, pela corajosa resposta popular de apoio para Maria Corina e Edmundo, que se repetiu no dia 3 de agosto em toda a Venezuela apesar dos assassinatos, das ordens de prisão da dupla vencedora, das ameaças a dirigentes ou simples trabalhadores, da repressão e de mais de mil detidos, e que mesmo assim, milhares de os manifestantes responderam ao apelo para exigir que a veracidade do resultado eleitoral fosse conhecida.

A situação continua muito fluida e é prematuro saber como evoluirá a grave situação venezuelana. Mas o que é certo é que a mudança é irreversível e que esta é uma “corrida de resistência” e não uma “corrida de velocidade”.

Alckmin ladeado por terroristas e Lula dizendo que “eleição” do Maduro é normal

A recente visita de Geraldo Alckmin, vice-presidente do Brasil, ao Irã trouxe à tona questões delicadas e preocupantes sobre a postura do governo brasileiro em relação a líderes terroristas e teocracias. Alckmin foi fotografado e filmado ao lado de líderes de grupos terroristas como Hamas, Hezbollah, Houthis e Jihad Islâmica. Este evento, por si só, já fala bastante sobre as alianças e as companhias que o governo brasileiro está disposto a manter.

A situação se agrava com a declaração do presidente Lula, afirmando que as eleições na Venezuela, conduzidas por Nicolás Maduro, foram “normais”. Esta afirmação contrasta fortemente com a observação de organismos internacionais, como o Carter Center, que caracterizou o processo eleitoral na Venezuela como não democrático e profundamente problemático. A Organização dos Estados Americanos (OEA) também criticou duramente o processo, destacando a falta de transparência e a violência associada às eleições.

A foto de Alckmin em Teerã, ladeado exclusivamente por terroristas, não deixa dúvidas sobre a postura do governo brasileiro em relação aos direitos humanos e ao terrorismo. Não se trata de uma foto com uma mistura de líderes internacionais respeitáveis e alguns elementos controversos, talvez num plano mais aberto fosse assim. Ocorre que Alckmin ficou num ângulo em que foi fotografado apenas entre figuras de grupos conhecidos por suas atividades terroristas. Esta escolha de companhia envia uma mensagem clara sobre onde o Brasil se posiciona no cenário internacional.

Além disso, a declaração de Lula sobre as eleições venezuelanas normaliza um processo que foi amplamente condenado por sua falta de legitimidade. Observadores internacionais relataram prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados e assassinatos de fiscais eleitorais. Mesmo diante dessas evidências, o governo brasileiro continua a pedir a validação das cédulas eleitorais de um regime que não permite nenhuma forma de escrutínio independente.

José Dirceu, um importante membro histórico da esquerda brasileira, fez uma comparação perturbadora entre a eleição de Maduro e a de Lula, sugerindo que as contestações à legitimidade eleitoral em ambos os casos são equivalentes. Isso implica uma admissão de que as eleições na Venezuela, mesmo com todas as irregularidades e fraudes, são vistas sob o mesmo prisma que as eleições no Brasil, um ponto de vista que deslegitima o próprio processo democrático brasileiro.

Os candidatos do PT pagarão este ano nas urnas o preço dessas declarações. A questão não é apenas uma divergência de opinião, mas um desafio direto à democracia e aos valores democráticos que o Brasil, teoricamente, defende. O alinhamento com ditaduras e regimes opressivos como o de Maduro, assim como a proximidade com grupos terroristas, coloca em risco a credibilidade e a posição do Brasil no cenário internacional.

A resposta do governo brasileiro às críticas internacionais e a sua insistência em validar eleições fraudulentas terão repercussões duradouras. Se a administração de Lula continuar nesse caminho, o Brasil poderá enfrentar sanções econômicas e políticas, além de uma crescente desconfiança internacional. A sociedade brasileira, independentemente de sua posição política, precisa reconhecer a gravidade dessas ações e unir-se para exigir uma postura mais firme e democrática do governo.

As eleições municipais em outubro serão um termômetro crucial para medir a reação popular a essas políticas. A maneira como os eleitores responderem será decisiva para determinar se Lula pode continuar a avançar com suas agendas controversas ou se precisará recalibrar suas alianças e declarações. A credibilidade do Brasil como uma democracia está em jogo, e a resposta a esses desafios será fundamental para o futuro do país.

Lula vai romper com Maduro ou ser cúmplice de uma carnificina?

A fraude na eleição de domingo passado, 28 de julho, na Venezuela não foi nenhuma surpresa, mas apenas a conclusão de um projeto criminoso que vinha transcorrendo a olhos vistos: olhares espantados, ingênuos ou cúmplices.

Meu olhar esteve sempre com os espantados; incluindo o espanto com a ingenuidade de democratas que insistiam em confiar nos bons propósitos do ditador candidato, mesmo diante de fraudes e violências escancaradas.

O presidente Lula e o PT não estão entre os ingênuos, são cúmplices.

O Brasil foi um dos fiadores do Acordo de Barbados, pactuado em outubro de 2023 entre o governo Maduro e grupos de oposição da Venezuela, que abriu caminho para a eleição presidencial de 2024.

Tratava-se de um acordo de boas intenções eleitorais. Uma das partes sendo um tirano – embora de uma tirania enfraquecida –, imponha-se muita cautela, mas também cabia alguma esperança e, de modo geral, achou-se que valia a pena tentar.

Rapidamente, porém, Maduro começou a exacerbar em seus métodos escusos: fraude após fraude, violência após violência, o ditador tentou acabar com as chances da oposição muito antes do pleito. Essa oposição, liderada pela corajosa María Corina Machado, resistiu. E resistiu, mesmo prevendo a monumental fraude em que se iria concluir o processo eleitoral, afinal, esta era a forma de luta política que lhe estava posta.

Agora, estando já escancarada a fraude, tornada oficial pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), essa luta política prossegue, com desdobramentos já assustadores e ainda mais imprevisíveis.

Cinismo e cumplicidade de Celso Amorim

Neste momento gravíssimo do povo venezuelano, tanto o governo brasileiro quanto o partido do presidente Lula assumem atitudes de cinismo e se prestam ao papel sujo de validação do projeto criminoso do ditador Maduro.

O governo brasileiro, diga-se, depois que Maduro ameaçou o povo venezuelano com um “banho de sangue”, passou a expressar sua cumplicidade bolivariana com alguma manha diplomática, como que se acautelando.

No domingo eleitoral, já no avançado das votações, falando de Caracas, o enviado de Lula, assessor especial Celso Amorim, saiu-se com uma fala enviesada da qual destaco os trechos seguintes:

“Estou acompanhando de perto o processo eleitoral venezuelano. Ainda há mesas de votação abertas. É motivo de satisfação que a jornada tenha transcorrido com tranquilidade, sem incidentes de monta;

“O presidente Lula vem sendo informado ao longo do dia. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos”.

Antes do fim do dia, tiros disparados contra eleitores mataram uma pessoa na cidade de Guásimos, do estado de Táchira. Um dia depois já eram registradas mais de 10 mortes pela ação da repressão policial e de milícias chavistas.

Nesta terça-feira, 30, o Procurador Geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou a prisão de 749 oposicionistas em protestos, acrescentando que foram presos por “terrorismo”.

Esse mesmo Saab prepara a prisão de María Corina, tendo acusado ela e mais dois líderes opositores – Leopoldo López e Lester Toledo – de serem responsáveis pelo “ataque ao sistema de transmissão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE)”.

Sobre tais atrocidades não se tem notícia de qualquer manifestação do “tranquilo” Celso Amorim. Nem de Lula, que, segundo Amorim, está sendo informado sobre tudo.

A cumplicidade do PT

Se a cumplicidade do governo Lula se expressa com alguma cautela, a cumplicidade do PT revela-se ansiosa e apressada. Em nota, o PT diz que a escandalosa fraude do ditador venezuelano foi uma “jornada pacífica, democrática e soberana”; e destila lá outras tantas despudoradas sabujices.

No plano internacional, a fraude de Maduro teve apoio de ditaduras: Nicarágua, Cuba, China, Rússia, além da terrível teocracia iraniana e mais alguns regimes autoritários.

Quanto aos países democráticos, a maioria já denuncia a fraude; enquanto alguns permanecem na cautela da desconfiança e exigem transparência. O mesmo acontece com organismos multilaterais, como a ONU.

A OEA, por sua vez, avançou em uma condenação duríssima; bastando que se destaque o seguinte trecho:

“Ao longo de todo este processo eleitoral assistimos à aplicação, por parte do regime venezuelano, do seu esquema repressivo complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição das mais aberrantes manipulações”.

Tensão nas ruas

No momento em que concluo este artigo, início da noite de terça-feira, 30 de julho, a situação na Venezuela é tensa, grave, quase explosiva.

Há manifestações chamadas tanto pela oposição quanto pelo regime ditatorial de Maduro. A oposição pediu manifestação pacífica, mas a repressão policial e as milícias chavistas irão armadas até os dentes.

Não se deve esquecer que Maduro prometeu um “banho de sangue”. Se há algo que talvez possa coibir a intenção sanguinária do tirano será a mais forte pressão internacional para que seja feita uma transição de regime e o poder seja entregue para o presidente verdadeiramente escolhido pelos venezuelanos: Edmundo González Urrutia.

O governo brasileiro não pode mais permanecer em acovardada cautela; tem de se decidir pela firme condenação do ditador aliado ou pela definitiva cumplicidade com a carnificina.

Quantas ditaduras no mundo de hoje são de extrema-direita?

Eis um levantamento de pouco mais de quarenta principais (incluindo todas as mais crueis) ditaduras atuais do mundo para verificar quantas podem ser consideradas de extrema-direita. É uma refutação da falsa alegação de que a extrema-direita é a única (ou a maior) ameaça atual à democracia no mundo.  O assunto já foi tratado em outro artigo desta revista, intitulado A extrema-direita como único inimigo da democracia.

Por certo os populistas-autoritários ou nacional-populistas iliberais (como Orbán, Erdogan, Trump, Vance e Bannon, Salvini e Meloni, Le Pen, Wilders, Farage e os ex-militantes do Brexit, Chrupalla, Weidel e Gauland, Riikka Purra, Abascal, Ventura, Bukele, Bolsonaro etc.) – a maioria dos quais dita de extrema-direita – são, sim, uma ameaça à democracia, mas não a única (nem a principal). Ademais, só três deles (Bukele, Erdogan e Orbán) governam países que têm regimes que podem ser considerados autoritários. Não tem nem comparação com o número de governantes de ditaduras que se declaram de esquerda ou estão na órbita de influência de regimes que se declaram de esquerda.

Trump, Vance e Bannon são nacional-populistas (de extrema-direita) mas ainda não estão no governo dos EUA, que seguem sendo uma democracia. Se Trump vencer as eleições de 2024 haverá uma significativa mudança na correlação de forças no âmbito mundial, mas os EUA continuarão sendo – nos curto e médio prazos – uma democracia.

Le Pen é nacional-populista, mas não governa a democracia liberal francesa. Wilders, idem, mas não governa a democracia liberal holandesa.

Farage e os ex-militantes do Brexit aumentaram sua representação política nas ultimas eleições, mas estão longe do governo no Reino Unido, uma democracia liberal.

Chrupalla, Weidel e Gauland, da Alternativa para a Alemanha, não estão no governo da Alemanha, uma democracia liberal.

Rikka Purra, do Partido dos Finlandeses, que pode ser considerado de extrema-direita, não governa a Finlândia, uma democracia liberal.

Abascal e Ventura não governam as democracias espanhola e portuguesa.

Por fim, Bolsonaro já saiu do governo do Brasil e está inelegível até 2030.

Além de Bukele, Erdogan e Orbán sobrou apenas Meloni, que poderia ser considerada nacional-populista e governa de fato a Itália, cujo regime, entretanto, continua sendo democrático liberal.

A seguir vamos mostrar que as ameaças concretas à democracia partem muito mais das ditaduras do que de forças políticas nacional-populistas de oposição que parasitam democracias liberais. Isso é tão óbvio que nem seria necessário argumentar. Ditaduras (autocracias fechadas ou eleitorais, regimes autoritários ou não-livres) são o oposto de democracias.

Partimos da classificação do V-Dem (Universidade de Gotemburgo) de todas as autocracias fechadas (incluindo algumas autocracias eleitorais) que é, em grande parte, coincidente com os países não-livres da Freedom House e com os regimes autoritários da The Economist Intelligence Unit. Esses são os três mais reconhecidos centros de pesquisa que monitoram os regimes políticos no mundo.

Abaixo vai a lista de ditaduras (em ordem alfabética), seus governantes atuais, os partidos a que pertencem e suas percebidas orientações políticas:

Afeganistão | Hibatullah Azhundzada e seu partido fundamentalista Talibã não podem ser considerados de extrema-direita. O jihadismo ofensivo islâmico não pode, a rigor, ser considerado de direita ou esquerda – ainda que seja um adversário das democracias liberais.

Arábia Saudita | Mohammad bin Salman é o chefe da corte real da Casa de Saud. Não há partidos políticos no país. O staff do Estado é fundamentalista islâmico, influenciado pela seita dos wahhabbis, uma corrente sunita geralmente conhecida pelo nome salafista. Não tem sentido classificar tal regime como de direita ou de esquerda, embora o fundamentalismo islâmico seja contrário às democracias liberais. A Arábia Saudita também está no BRICS, uma articulação política de autocratas e populistas de esquerda disfarçada de bloco econômico.

Azerbaijão | Ilham Aliev e seu Partido Novo Azerbaijão orbitam na esfera de influência da ditadura russa. Mas não podem ser classificados como extrema-direita.

Barein| Salman bin Hamad bin Isa Al Khalifa é o primeiro-ministro do Barein, uma monarquia islâmica sem partidos. O regime não pode ser classificado como de esquerda ou de direita.

Bielorrússia | Aleksandr Lukashenko e seu Partido Independente da Bielorússia não são de extrema-direita. O regime da Bielorrússia  faz parte do eixo autocrático (Rússia, China, Coreia do Norte, Irã etc.) articulado contra as democracias liberais.

Burkina Faso | Ibrahim Traoré e seu Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (a junta militar que governa o país depois de um golpe de Estado de 2022) não podem ser classificados como direita ou esquerda.

Camboja | Hun Sen – um ex-comandante do Khmer Vermelho que mudou de lado – que governa o Camboja há quatro décadas, e o seu Partido Popular do Camboja, alinharam a sua ditadura à ditadura chinesa. Obviamente, não são de extrema-direita.

Catar | Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani é uma monarquia absolutista islâmica. Não tem partidos. A família Al Thani governa o país com mão de ferro desde 1825. Não tem o menor sentido classificar esse regime como extrema-direita. Aliás, o Catar dá abrigo à direção atual do Hamas e financia esse grupo terrorista.

Chade | Mahamat Déby é o chefe da junta militar que governa o Chade. Ele e seu Movimento de Salvação Patriótica estão sendo capturados pela ditadura russa de Vladimir Putin. Tal como no caso da Rússia, não faz sentido classificá-los como direita ou esquerda.

China | Xi Jinping e seu Partido Comunista da China não são de extrema-direita. Eles se declaram de esquerda. E o nome e a história do partido estão dizendo por quê. A China também está no BRICS, uma articulação política de autocratas e populistas de esquerda disfarçada de bloco econômico.

Coreia do Norte | Kim Jong-un e seu Partido dos Trabalhadores da Coreia não são de extrema-direita.Eles se declaram de esquerda. E o nome e a história do partido estão dizendo por quê.

Cuba | Díaz-Canel e seu Partido Comunista de Cuba não são de extrema-direita. Eles se declaram de esquerda. E o nome e a história do partido estão dizendo por quê.

El Salvador | Nayib Bukele e seu partido Nuevas Ideas são nacional-populistas ou populistas-autoritários que podem, sim, ser classificados como de extrema-direita. Antes Bukele integrou a FMLN, Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, de extrema-esquerda.

Emirados Árabes Unidos | Xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum é um monarca absolutista de uma ditadura islâmica (sunita). Como em outros casos de regimes autoritários islâmicos não faz muito sentido classificá-lo como de direita ou de esquerda. Mas os EAU estão no BRICS, uma articulação política de autocratas e populistas de esquerda disfarçada de bloco econômico.

Eritreia | Isaias Afewerki governa um Estado de partido único na Eritréia. Ainda que não faça muito sentido classificar seu regime totalitário como sendo de direita ou de esquerda, o ditador está na esfera de influência de autocracias (como a Turquia e a Venezuela) e de regimes eleitorais parasitados por governos populistas (como o Brasil).

Essuatini | Mswati II (o rei), Ntfombi (a rainha-mãe) e Russell Diamini (o primeiro-ministro) governam essa ditadura africana. Os partidos políticos são proibidos no reino de Essuatini (antiga Suazilândia). Não há política propriamente dita no país. Não faz sentido classificar o regime como de direita ou de esquerda.

Gaza | Ismail Haniya e Yahya Sinwar e seu partido, o Hamas, embora de orientação sunita, estão a serviço do regime teocrático xiita iraniano na sua ofensiva contra as democracias liberais (em especial as de Israel e dos EUA). São hoje teleguiados pelo eixo autocrático para fazer o serviço sujo de inflamar as populações contra a democracia. Não podem ser classificados como de extrema-direita, pelo contrário: são apoiados pela esquerda (populista, classista e identitarista) em todo o mundo.

Guiné Equatorial | O ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo e seu Partido Democrático da Guiné Equatorial estão sendo caputurados pela ditadura chinesa. Obviamente não pode ser classificado como de extrema-direita.

Haiti | É uma autocracia mergulhada no caos político e social. Não se sabe exatamente quem governa o país.

Hungria | Viktor Orbán e seu partido Fidesz governam a autocracia eleitoral húngara, chamada de “democracia iliberal”. Aliadas de Vladimir Putin, as forças políticas dominante na Hungria são, claramente, populistas-autoritárias ou nacional-populistas de extrema-direita.

Iémen | O Iémen é um país em guerra civil onde se configura dualidade de poder. Os terroristas Houthis, financiados pelo Irã, controlam parte significativa do país. Mohammed Ali al-Houthi, chefe do comitê revolucionário supremo, é um vassalo do eixo autocrático na sua investida contra as democracias liberais.

Irã | Ali Khamenei e seu partido Associação dos Clérigos Combatentes não podem ser considerados de extrema-direita. O Irã faz parte do eixo autocrático (juntamente com Rússia, China, Coreia do Norte – todos autodeclarados de esquerda), articulado contra as democracias liberais. O Irã também está no BRICS, uma articulação política de autocratas e populistas de esquerda disfarçada de bloco econômico.

Jordânia | O rei Abdullah II bin Al Hussein controla a monarquia jordaniana de devoção islâmica sunita. Não faz sentido classificar o regime como de extrema-direita.

Kuwait | Mishal Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah é o atual Emir do Kuwait, uma ditadura islâmica. Não faz sentido classificar o regime monárquico como extrema-direita.

Laos | Sonexay Siphandone e seu Partido Popular Revolucionário do Laos (PPRL) que governam essa república socialista de partido único estão bem longe de ser de extrema-direita. Pelo contrário, historicamente são de esquerda.

Líbia | Mohamed al-Menfi e Abdul Hamid Mohammed al-Dabaib com seu movimento Libya al-Mustakbal tentam controlar o país. É uma ditadura islâmica (sunita). Vários grupos jihadistas e tribais controlam partes do país. Não cabe classificar o regime como extrema-direita.

Mali | Choguel Kokalla Maïga e seu Movimento Patriótico pela Renovação governam o país. O Mali está sendo capturado pela ditadura russa (o que também está ocorrendo com Mauritânia e Niger).

Marrocos | O rei Maomé VI e o primeiro-ministro Aziz Akhannouch e seu Partido Nacional dos Independentes controlam essa monarquia islâmica.

Myanmar | Min Aung Hlaing e seu Partido de Solidariedade e Desenvolvimento da União (USDP), ligado aos militares que desfecharam um golpe de Estado, controlam essa ditadura asiática.

Nicarágua | Daniel Ortega e seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional, não são de extrema-direita. Eles se declaram de esquerda. E o nome e a história do partido estão dizendo por quê.

Omã | Haitham bin Tariq Al Said é o sultão da monarquia absolutista islâmica que governa Omã.

Rússia | Vladimir Putin e seu partido Rússia Unida são nacional-populistas, mas não podem ser considerados de extrema-direita. Pela simples razão de que apoiam todas as ditaduras que se declaram de esquerda. A Rússia também está no BRICS, uma articulação política de autocratas e populistas de esquerda disfarçada de bloco econômico.

Síria | Bashar al-Assad e seu Partido Socialista Árabe Baath não podem ser considerados de extrema-direita. O regime ditatorial sírio é apoiado ostensivamente pela Rússia e faz parte do eixo autocrático articulado contra as democracias liberais.

Somália | Hassan Sheikh Mohamud e seu Partido da União para Paz e Desenvolvimento, anterior Partido Paz e Desenvolvimento (ligado à Irmandade Muçulmana), são operadores de um regime islâmico.

Sudão | O general Abdel Fattah al-Burhan e seu partido Independente são islâmicos militarizados.

Sudão do Sul | Salva Kiir Mayardit e seu partido Movimento Popular de Libertação do Sudão são aliados da ditadura de Angola, que se declara de esquerda (do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola). Não podem ser considerados de extrema-direita.

Tajiquistão | Emomali Rahmon, Kokhir Rasulzoda e seu Partido Democrático Popular do Tajiquistão são nacionalistas, estatistas e autoritários. Orbitam na área de influência da ditadura russa e se alinham ao Partido Comunista Chinês. Nada, portanto, de extrema-direita.

Turquemenistão | Serdar Berdimuhamedow e seu Partido Democrático do Turquemenistão – no poder  há mais de trinta anos – têm profundas raízes comunistas. O partido foi liderado pelo ex-líder do Partido Comunista, Saparmyrat Nyýazow, desde a dissolução da União Soviética. São populistas que orbitam na área de influência da ditadura russa. Nada de direita.

Turquia | Recep Tayyip Erdoğan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) poderiam, com algum esforço, ser considerados de extrema-direita (ou seja, nacional-populistas ou populistas-autoritários). O AKP é defensor do neo-otomanismo e do nacionalismo econômico. Politicamente, se alinha ao eixo autocrático contra as democracias liberais.

Uzbequistão | Shavkat Mirziyayev e seu Partido Liberal Democrático do Uzbequistão são nacionalistas que orbitam na área de influência da ditadura russa. Têm uma ideologia que se poderia considerar de direita na medida em que esposa o liberalismo-econômico, mas não o liberalismo político, quer dizer, a democracia. Esse partido surgiu de um movimento de empreendores e empresários para dar a aparência de multipartidarismo, mas na verdade é controlado pelo Partido Democrático Popular.

Venezuela | Nicolás Maduro e seu Partido Socialista Unido da Venezuela não são de extrema-direita. Eles se declaram de esquerda. E o nome e a história do partido estão dizendo por quê.

Vietnam | Pham Minh Chính é o chefe do Partido Comunista do Vietnam. Não é necessário dizer que não têm nada de direita. O Vietnam é uma ditadura socialista unitária unipartidária.

Um esboço de classificação

1 – De extrema-direita mesmo (entendendo-se por isso os populistas-autoritários ou nacional-populistas iliberais) temos três governantes de regimes autocráticos

Nayib Bukele (de El Salvador), Viktor Orbán (da Hungria) e Recep Erdoğan (da Turquia).

2 – De esquerda ou extrema-esquerda temos (historicamente ou de forma declarada) sete governantes de regimes autocráticos

Xi Jinping (da China), Kim Jong-un (da Coreia do Norte), Díaz-Canel (de Cuba), Sonexay Siphandone (do Laos), Daniel Ortega (da Nicarágua), Nicolás Maduro (da Venezuela), Pham Minh Chính (do Vietnam).

3 – Os ditadores na esfera de influência das ditaduras russa e chinesa (ou do eixo autocrático – incluindo o Irã) governam cerca de vinte regimes autocráticos

Além de todas as sete ditaduras declaradamente de esquerda, temos Ilham Aliev (do Azerbaijão), Aleksandr Lukashenko (da Bielorrússia), Hun Sen (do Camboja), Mahamat Déby (do Chade), Ismail Haniya e Yahya Sinwar (de Gaza), Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (da Guiné Equatorial), Choguel Kokalla Maïga (do Mali), Vladimir Putin (da Rússia), Bashar al-Assad (da Síria), Salva Kiir Mayardit (do Sudão do Sul), Emomali Rahmon e Kokhir Rasulzoda (do Tajiquistão), Serdar Berdimuhamedow (do Turquemenistão), Shavkat Mirziyayev (do Uzbequistão).

4 – Os ditadores islâmicos governam cerca de quatorze regimes autocráticos

Hibatullah Azhundzada (do Afeganistão), Mohammad bin Salman (da Arábia Saudita), Salman bin Hamad bin Isa Al Khalifa (do Barein), Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani (do Catar), Xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum (dos Emirados Árabes Unidos), Mohammed Ali al-Houthi (do Iémen), Ali Khamenei (do Irã), Abdullah II bin Al Hussein (da Jordânia), Mishal Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah (do Kuwait), Mohamed al-Menfi e Abdul Hamid Mohammed al-Dabaib (da Líbia), Maomé VI e Aziz Akhannouch (do Marrocos), Haitham bin Tariq Al Said (de Omã), Hassan Sheikh Mohamud (da Somália), Abdel Fattah al-Burhan (do Sudão).

Note-se que muitos ditadores islâmicos estão na esfera de influência do eixo autocrático e, portanto, são adversários ostensivos das democracias liberais.

5 – Ditaduras não-classificadas

Burkina Faso, Eritréia, Essuatini, Haiti, Myanmar.

Um esboço de conclusão

O eixo autocrático é tendencialmente de esquerda ou extrema-esquerda e não de extrema-direita, ainda que dele participem regimes ditatoriais dúbios (como o russo) e islâmicos (como a teocracia iraniana, suas ditaduras aliadas, como a Síria e seus braços terroristas no Oriente Médio, na Ásia e na África). Ora, esse eixo, hoje, é a principal ameaça à democracia no mundo e não a chamada “internacional fascista” de extrema-direita (embora essa última também seja uma ameaça, porém menor ou secundária em comparação com a primeira).

Lula e a “reeleição” de Maduro na Venezuela

A questão com Maduro representa o maior desafio diplomático que o governo Lula já enfrentou. A resposta de Lula à eleição de Maduro talvez não signifique muito para a Venezuela, onde a situação é complicada, mas é de extrema importância para o Brasil. A maneira como o governo Lula se posicionará indicará o que ele considera ser uma democracia.

É claro que muitos dirão que já sabiam, que Lula sempre demonstrou suas intenções. Mas a situação agora é diferente. Classificar situações diferentes como iguais é um erro, e precisamos evitar sermos dominados por políticos que se aproveitam dessa confusão. No momento, a questão é: o que o governo Lula fará?

Lula conseguiu enviar um emissário para observar as eleições na Venezuela, algo que outros líderes, como Boric, Milei e Lacalle Pou, não fizeram. Lula declarou que se esforçaria para que o processo fosse democrático. No entanto, se seu enviado disser que as eleições não foram democráticas, isso representará uma derrota gigantesca para Lula, colocando-o em uma sinuca de bico.

Até agora, o comunicado do Itamaraty afirmou que o processo foi pacífico, o que contradiz os relatos de prisões, desaparecimentos e mortes. Lula ainda está indeciso sobre qual caminho tomar. Se optar por apoiar Maduro, ele pode se alinhar às grandes ditaduras, mas isso terá um preço alto para o Brasil, incluindo consequências econômicas e políticas.

Os países ditatoriais enfrentam bloqueios e boicotes internacionais que afetam profundamente suas populações. Caso o Brasil se alinhe a essas ditaduras, a população brasileira também sofrerá as consequências, incluindo aqueles que fazem oposição ao governo.

Portanto, a declaração de Lula sobre a Venezuela é crucial para nós. Se ele aceitar a fraude eleitoral na Venezuela, isso indicará os movimentos futuros do Brasil. Não importará se você gosta ou não de Lula; todos nós estaremos nesse barco. A questão agora é: o povo brasileiro tem maturidade para pressionar o governo a não reconhecer como democrática uma eleição fraudada ou preferirá ver o circo pegar fogo apenas para dizer “eu avisei”?

Madurocracia

A eleição na Venezuela se tornou um capítulo do mais importante conflito vivido pelo mundo em tempos recentes: a batalha entre democracias e autocracias. A flagrante fraude cometida por Nicolás Maduro, preparada em detalhes, desde a impugnação de nomes da oposição, passando pelo fechamento das fronteiras e o impedimento de acesso de observadores internacionais, foi reconhecida como legítima pelas nações autocráticas, parceiros do modelo repressor implementado pelo governo de Caracas.

Com o resultado, a Venezuela se fecha ainda mais, afastando-se de nações livres e cada vez mais alinhando-se aos regimes mais duros e brutais do planeta. Afasta-se ainda mais das democracias tornando-se um regime parasitado por um ditador que realiza eleições de fachada com o simples objetivo de chancelar sua manutenção no poder, uma espécie de madurocracia, método similar ao adotado por Vladimir Putin na Rússia.

O inicial silêncio do governo brasileiro foi constrangedor, que mais uma vez optou por um chamado “distanciamento responsável”, como fazia habitualmente na Guerra Fria ao lado dos países não-alinhados, liderados por Tito, ditador da antiga Iugoslávia. Uma posição que, entretanto, tem um preço e uma linha muito tênue, que se for mal calculada, pode ser facilmente confundida com uma espécie de covardia diplomática. Neste caso, infelizmente ficava claro que o silêncio guardava apenas uma chancela velada ao regime antidemocrático madurista.

As atas divulgadas pela oposição, comprovadas pelos venezuelanos, mostram resultado completamente diferente daquele informado pelo Conselho Nacional Eleitoral. Com acesso a 73,5% das atas, o sistema mostra que Edmundo González levou 6,2 milhões de votos e Maduro obteve 2,7 milhões. Diante disso, diversas manifestações estão sendo convocadas. Pelo visto estamos diante de uma fraude de proporções vergonhosas.

Infelizmente uma insurgência da população é um tema delicado, uma vez que as forças repressivas do Estado estão ao lado de Maduro. Há cerca de 2.500 generais na Venezuela (mais do que em todos os países da Otan somados) e as Forças Armadas estão cooptadas. O êxodo também contribui. Mais de 8 milhões de venezuelanos já deixaram o país. Reagir para derrubar o governo é praticamente impossível para os civis. Maduro jamais entregará o poder de maneira pacífica e numa eleição limpa.

A presença de um narcoestado autoritário com alianças sedimentadas e profundas com outros regimes autocráticos e totalitários ao redor do mundo gera instabilidade na região e torna-se um enorme perigo para a América Latina. Delitos transnacionais, tráfico de drogas e corrupção desenfreada encobertas pelo manto da exploração e exportação do petróleo encaminham a Venezuela para a categoria de Estado falido, tomada pelo crime organizado e incapaz de gerir sua própria existência. Isto significa que a responsabilidade em buscar uma solução para o país está além de suas fronteiras, se tornando um problema internacional.

O Brasil, como maior país da América Latina, tem a responsabilidade de exercer seu papel de liderança, denunciando a fraude, exigindo o restabelecimento democrático sob pena de ser contaminado pela narcoautocracia que se estabeleceu em nossa fronteira. Chancelar a eleição de Maduro envergonha nosso povo, enfraquece nosso país e mancha nossa democracia.

O que esperar da farsa eleitoral na Venezuela?

Há muita gente especulando sobre a reação de Nicolás Maduro ao resultado da eleição presidencial prevista para este domingo, 28 de julho, na Venezuela.

As pesquisas independentes dão ampla vantagem ao candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. No Brasil e mundo afora, os mais otimistas esperam que Maduro aceite o resultado das urnas; os mais pessimistas acham que Maduro não aceitará o resultado.

O realismo impõe o pessimismo. Não por achar que Maduro não reconhecerá o resultado das urnas, mas por achar que ele acatará o resultado. Parece contraditório, mas é apenas uma conclusão óbvia: o resultado será acatado porque muito provavelmente já está decidido.

Uma ditadura brutal

Nicolás Maduro é um ditador brutal que se tem mantido no poder através de contínuas fraudes e violências. A eleição de que estamos tratando se desenrolou cercada de fraudes e violências por parte do regime chavista desde que foi anunciada, há quase cinco meses.

Deve-se considerar, inicialmente, que a principal líder oposicionista, María Corina Machado, foi impedida de concorrer, assim como a primeira pessoa que ela indicou para substituí-la.

Centenas de pessoas ligadas à Maria Corina foram presas de modo absolutamente arbitrário, pessoas comuns que lhe deram suporte sofreram represálias, ela e González Urrutia fizeram campanha de carro (pois ela foi impedida de usar companhias aéreas nacionais) , o carro da sua equipe de campanha sofreu sabotagem e o seu chefe de segurança foi detido.

Urrutia não teve acesso à propaganda na TV aberta e sua foto aparecerá apenas três vezes na cédula eleitoral, formatada para favorecer Maduro, que aparece 13 vezes, representando partidos reais e fictícios.

O regime de Maduro impediu 4,5 milhões de exilados venezuelanos — ou cerca de 21% do total de votantes, de se registrarem pra votar no exterior; os centros de votação foram manipulados e muitos deles estão em locais que fornecem subsídios sociais e em edifícios residenciais pagos pelo governo, onde pessoas sofrem intimidação para que votem em Maduro, sob pena de perderem seus benefícios.

Esses são só alguns exemplos das inúmeras arbitrariedades das quais se valeu o tirano nessa campanha. Por que, então, acreditar que o ditador, que fraudou e violou direitos políticos e civis durante toda a campanha agirá com idoneidade precisamente no Dia D do domingo eleitoral?

O cinismo maquiavélico de Celso Amorim

Isso só faz sentido na cabeça dos incautos e dos maquiavélicos, como o assessor especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim, enviado de Lula para acompanhar esse processo eleitoral “impecável” que transcorre no “ambiente de paz” de uma “democracia consolidada”, conforme as palavras do cínico diplomata brasileiro e do hipócrita chanceler venezuelano que o recebeu.

Se – contrariamente ao que o realismo impõe – ocorrer de a oposição vencer e o resultado ser oficialmente reconhecido, será porque o regime chavista, que vem apodrecendo a olhos vistos, apodreceu de vez e as forças que o sustentam concluíram que não vale mais a pena sustentá-lo.

O regime da Venezuela tem trazido tantas desgraças para seu povo que, na última década, cerca de 7 milhões de pessoas já fugiram da miséria socialista-bolivariana. Isto em um país de cerca de 29 milhões de habitantes. Ou seja, mais ou menos um quarto da população emigrou. Ainda assim, a ampla maioria dos que ficaram rejeitam o regime.

A ditadura de Maduro é só uma narrativa?

Há quem diga que tudo que se diz contra Maduro faz parte de uma narrativa ideológica de direita. Especialmente, quem disse isto foi o presidente Lula, que é o maior arrimo internacional da ditadura chavista.

Maduro, porém, é um ditador tão podre que até o presidente brasileiro se disse “assustado” quando o presidente da Venezuela ameaçou um “banho de sangue” no caso de vitória da oposição.

Bastou essa tímida reação de Lula para a “cabra louca” (que é como o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, chama Maduro) responder com uma mordida e uma patada: primeiro mandou Lula tomar chá de camomila, depois acusou o sistema eleitoral brasileiro de fraudulento.

Além de um banho de sangue sobre o povo da Venezuela, o ditador tem no seu alforje de planos sanguinários uma guerra de invasão contra o vizinho país da Guiana. Por enquanto, não conseguiu dar início à guerra de invasão. Atualmente, dá-se de barato que tenha sido um blefe; mas sempre será preciso se precaver contra blefes de tiranos.

Quanto ao “banho de sangue”, Celso Amorim, o conselheiro de Lula para assuntos de ditadura externa, disse que Maduro não se referia a um banho de sangue para breve, mas a longo prazo, no âmbito da luta de classes.

Esse conselheiro lulo-petista, que costuma passar seu pano sujo para as ditaduras aliadas, é o observador enviado por Lula para a Venezuela. Ninguém duvida que ele está lá para ver todas as fraudes de Maduro e fazer o seu papel sujo de validação.

Desafio de Kamala

Os últimos dias em Washington estão sendo de intensa movimentação, algo atípico para esta época do ano, tanto pelo calor que invade a capital, como pelas férias de verão que esvaziam a cidade nestes meses. Porém, tudo muda diante de um ano eleitoral como este que estamos presenciando. Nestas semanas estou imerso presencialmente na política americana discutindo cenários e colhendo informações sobre as campanhas.

Um atentado, uma desistência, uma nova candidata e um jovem senador de Ohio como companheiro de chapa. Nestes últimos dias aconteceu de tudo na campanha eleitoral. Os republicanos, ou melhor dizendo, o partido de Trump, que tomou o controle da estrutura partidária republicana, fizeram uma convenção na esteira do atentando contra seu candidato, que decidiu partir para o confronto e deixar de lado o discurso de união que poderia emergir depois dos tiros na Pensilvânia.

Trump escolheu como vice JD Vance, um jovem senador por Ohio, indicado por seus filhos, em especial Donald Jr, que enxergou em Vance um nome que pode entregar um estado essencial na disputa contra os democratas. Nenhum presidente até hoje venceu sem Ohio e ao assegurar um nome com enorme penetração política local, praticamente selou o apoio do estado na disputa eleitoral.

A mudança na chapa dos democratas diante da desistência de Biden em buscar a reeleição trouxe um elemento novo para o tabuleiro. Sua decisão já estava tomada e a comunicação foi realizada somente depois do partido costurar o apoio em torno de sua vice, algo que sugere a continuidade da sua presidência e sua chapa para reeleição. Em pouco tempo, todos os diretórios estaduais democratas selaram o apoio a Harris, assim como os principais cardeais do partido. A convenção em Chicago servirá apenas para sua consagração e formalização eleitoral.

A eleição americana será decidida mais uma vez em um pequeno punhado de estados que, ao votar com republicanos e democratas de forma pendular em cada eleição, podem fazer com que o resultado sofra variações, os chamados swing states. Flórida, Ohio, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Destes, Flórida e Ohio são considerados republicanos nesta eleição, especialmente por termos Trump e JD Vance na disputa. Kamala mira em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Sem eles, não há chance de vitória.

Isso explica porque a nova pré-candidata presidencial começou sua caminhada justo por Wisconsin, que sediou a convenção republicana. Nos outros dois estados, possui aliados de peso: no Michigan, a governadora Gretchen Whitmer e na Pensilvânia, o governador Josh Shapiro, ambos nomes com ambições presidenciais. Um deles certamente deve ser o companheiro(a) de chapa de Kamala Harris e a tendência, diante da busca de equilíbrio, é o governador Shapiro, um homem branco e centrista, que pode tirar votos de Trump, além de ser popular em um dos estados mais importantes desta eleição.

O desafio de Kamala está lançado. Sua candidatura foi bem articulada até aqui nos bastidores do partido. Biden e os cardeais democratas fecharam apoio irrestrito do partido em torno dela. A chance de vitória existe, porém, se acontecer será por uma margem muito estreita. O favoritismo ainda reside nos ombros de Trump e seu grupo político, porém, se Kamala Harris souber se movimentar há um pequeno espaço para virar o jogo. Washington segue fervendo nestas férias de verão.

Sem Biden, democratas conseguirão derrotar Trump?

O Partido Democrata dos Estados Unidos enfrenta um de seus maiores desafios históricos com a saída de Joe Biden da corrida presidencial. Era inevitável, considerando as crescentes preocupações sobre a saúde mental do presidente, algo amplamente discutido até mesmo entre democratas e antigos membros de sua campanha.

Nos EUA, a saúde de quem ocupa cargos públicos é uma questão séria, diferentemente do Brasil, onde figuras doentes já foram eleitas sem grande polêmica. Biden demonstrou publicamente sinais de desgaste, gerando questionamentos contínuos sobre sua capacidade de governar por mais quatro anos. Sua decisão de não concorrer novamente preserva seu legado e contrasta com a postura comum de políticos populistas, que se veem como os únicos representantes legítimos do povo.

A carta de Biden, anunciando sua retirada, é um exemplo de política madura e responsável, colocando o partido acima de suas ambições pessoais. A provável candidata democrata agora é Kamala Harris, embora a decisão final dependa da convenção nacional do partido, que reúne cerca de quatro mil delegados. Nomes influentes, como Nancy Pelosi, já endossaram Harris, indicando uma forte tendência a seu favor, apesar de seu desempenho modesto nas primárias anteriores.

A situação coloca os democratas em um dilema. Trocar Biden por outro candidato pode ser visto como fraqueza, enquanto mantê-lo seria arriscado devido às suas questões de saúde. A principal questão é: os democratas conseguirão encontrar alguém capaz de derrotar Donald Trump?

Vale lembrar que, no sistema eleitoral dos EUA, a vitória depende dos votos por estado, e não do total nacional. Trump venceu Hillary Clinton em 2016, apesar de ter menos votos totais, devido à sua vantagem em estados conservadores. A tendência é que essa dinâmica se repita, com Trump levando a melhor nos estados menores e mais conservadores.

Kamala Harris representa um progressismo elitista que podeser problemático com os eleitores norte-americanos, diferentemente de Biden, que não está nessa ala ideológica. Esta eleição será um teste significativo para os democratas.

O mais importante, no entanto, é que transcorra com serenidade. É preciso que a democracia dos EUA se mostre forte apesar da polarização. O resultado terá implicações globais, especialmente considerando a ascensão de potências como China, Irã e Rússia. A democracia mundial observará atentamente, ciente de que qualquer retrocesso nos Estados Unidos pode ter consequências internacionais profundas.