Nesta semana, um colapso energético sem precedentes deixou milhões de pessoas no escuro em pelo menos 12 países europeus, em especial Portugal e Espanha. O apagão, considerado o maior da última década, paralisou transportes, hospitais e redes de comunicação, além de causar prejuízos econômicos estimados em bilhões de euros.
As causas apontadas até o momento falam de um incêndio em uma subestação crítica na Alemanha, passando por um ataque cibernético e até um fenômeno atmosférico raro devido a variações extremas de temperatura no interior da Espanha. Em suma, ninguém até o momento consegue apontar com exatidão o que pode ter acontecido.
Isto nos leva a um ponto que começa a ser discutido em várias nações e recentemente chegou até o Brasil. Por necessidade de investimento, muitos países estão entregando partes significativas de suas infraestruturas para investidores internacionais, inclusive para países que confundem o conceito empresarial com uma espécie de capitalismo de Estado. O resultado é que a infraestrutura de diversas nações hoje repousa sob domínio de países que possuem interesses e agenda próprios.
Em Portugal, a REN (Redes Energéticas Nacionais) é a empresa responsável pela gestão das redes de transporte de eletricidade e gás natural. Funciona como operadora do sistema energético nacional, garantindo a segurança e eficiência do abastecimento de energia no país. Desde 2012, a China State Grid detém 25% de suas ações. Na Espanha, epicentro do apagão, a Red Eléctrica de España, operadora do sistema elétrico nacional espanhol, tem 24,36% de suas ações repousando nas mãos da mesma China State Grid, que desde 2017 tornou-se a maior acionista privada da empresa.
Tanto em um caso como no outro, foram intensos os debates sobre a influência estrangeira em setores estratégicos. O dinheiro chinês, entretanto, falou mais alto. Foram pagos 2,1 bilhões de euros pela Red Eléctrica de España em 2017 e 387 milhões de euros pela participação na Redes Energéticas Nacionais portuguesas em 2012. Isto sem falar na EDP, que gera e distribui eletricidade (com forte presença da China Three Gorges) e na participação acionária chinesa na espanhola Iberdrola S.A.
No Brasil, a China State Grid controla cerca de 14% da rede de transmissão nacional, com o domínio de linhas no Norte e Nordeste e projetos no Centro-Oeste e Sudeste, sem contar com linhas de 1.500 km no Pará e Maranhão e parcerias com Furnas. Desde 2017 também controla 54,64% da CPFL Energia, adquirida por R$ 25,8 bilhões, atuando em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná.
No intuito de evitar a sobrecarga de um país ou companhia em setores sensíveis, o parlamento começou a se mobilizar com a proposta de criação do criação do Comitê de Triagem e Cooperação para Investimentos Estrangeiros Diretos, um órgão responsável por avaliar e monitorar aportes estrangeiros em setores estratégicos da economia nacional, como já acontece nos Estados Unidos, Alemanha e China em áreas como energia, defesa e tecnologia. A proposta poderá equilibrar abertura econômica e segurança nacional, posicionando o Brasil como um destino atrativo e responsável para investimentos internacionais. Ao diminuir nossa vulnerabilidade, é possível que possamos nos proteger dos riscos enfrentados pela Europa nesta semana. Mais do que ficar sem energia, tudo indica que estes países vivem um apagão em suas soberanias.
Sabe o que o Lula vai fazer com Carlos Lupi, ministro da Previdência, e com o Frei Chico, irmão dele, depois do escândalo dos descontos ilegais em aposentadorias? Nada. E sabe por quê? Porque ele não precisa. Pode até trocar o ministro, mas a aliança política permanece. Não vai faltar espaço no governo para os envolvidos.
Lula não precisa punir ninguém porque, para o lulofetivo, ele pode tudo. O lulofetivo é assim: não precisa de argumento, só de uma desculpa. E a desculpa que encontraram já está circulando. Dizem que na época do Bolsonaro roubaram mais. Mentira. Metade do rombo de seis bilhões de reais aconteceu só no ano passado, no governo do PT. A fraude começou em 2016.
O escândalo é tão baixo que nem os petistas conseguem defender de forma direta. Estamos falando de dinheiro tirado de velhinhos, de aposentados, de pensionista. É o tipo de crime que mexe até com quem já se acostumou com escândalo. Os petistas saem correndo para achar alguma narrativa que possa funcionar, mas não cola porque este é um daqueles escândalos que atingem o fundo moral de qualquer sociedade.
E o mais revoltante é que quem comandava o INSS até a semana passada não era político indicado. Era funcionário de carreira, há mais de vinte anos no órgão. Ganhava bem. Tinha estabilidade. Era alguém que conhecia o sistema por dentro e mesmo assim se envolveu ou permitiu que o esquema acontecesse.
Isso já aconteceu antes. A geração dos anos 1990 lembra da Jorgina de Freitas, que deu o maior golpe da história do INSS até então. Foi presa, solta, e ainda teve a coragem de reclamar da cobertura do caso na imprensa. E mesmo com aquele escândalo enorme, ninguém aprendeu. Ou, pior: quem aprendeu entendeu que compensava delinquir.
É esse o país que a gente tem. Um país em que ser honesto parece coisa de trouxa. Em que funcionário concursado, com salário garantido, resolve roubar porque sabe que dificilmente será punido. E, mesmo se for, não terá a vida destruída como tem qualquer cidadão comum que comete um deslize.
Mas o mais revoltante deste caso é que agora querem que cada aposentado lesado entre sozinho na Justiça para tentar reaver o valor perdido. Não existe uma devolução automática. O aposentado vai ficar na fila. Vai morrer na fila. E o dinheiro não vai voltar.
Por que os sindicatos, muitos deles envolvidos na origem dos desvios, não se organizam para devolver esse dinheiro? Ganharam de volta o imposto sindical no governo do PT. Muitos se beneficiaram diretamente desse esquema. Se ainda existe algum sindicato sério no Brasil, agora é a hora de mostrar. Organizem a devolução. Criem um fundo. Corram atrás dos responsáveis. Se algum sindicato fizer isso, sou capaz de passar a defender sindicato.
Sobre esse novo escândalo de corrupção federal, dessa vez no âmbito do INSS, uma das manchetes que corre na cobertura televisiva é esta: “Tirando de quem mais precisa”.
A eficácia antigovernamental dessa manchete vem, claro, do fato muito conhecido de que em todos os governos petistas uma das retóricas mais usadas é que tais governos trazem benefícios, especialmente, “para os que mais precisam”.
O escândalo do roubo de aposentados e pensionistas escancara a hipocrisia petista. Roubar velhinhos é o fim da picada.
O marqueteiro Sidônio Palmeira não conseguiu ainda engendrar uma narrativa verossímil capaz de limpar a barra do governo.
A forma como o governo Lula busca se afastar do escândalo é frágil. De modo geral, apresenta-se, com apoio da mídia chapa branca, como agente desarticulador de um esquema de corrupção que teria começado no governo Bolsonaro.
Ocorre que a averiguação dos anos em que foram celebrados os convênios fraudulentos com INSS mostra que alguns são de antes do governo Bolsonaro e outros realizados já neste atual governo.
Além disso, do montante de pouco mais de RS$ 6 bilhões subtraídos dos aposentados e pensionistas, nada menos que 63,75% se deram entre 2023 e 2024; ou seja, na alvorada do governo Lula.
Durante mais de dois anos do governo Lula, os aposentados e pensionistas continuaram a ser roubados descaradamente por associações de classe conveniadas com o INSS com o alegado propósito de lhes prestar serviços.
Dentre os sindicatos e associações envolvidas no escândalo, contam-se velhas aliadas do lulopetismo; uma delas dirigida por Frei Chico, irmão do presidente Lula.
Lula mandou demitir o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, mas não teve coragem de demitir o titular do Ministério da Previdência Social, órgão ao qual o INSS está subordinado.
Esse poderoso ministro é Carlos Lupi (PDT), que, em entrevista ao lado do ministro da Justiça Lewandowski, assumiu total responsabilidade pela nomeação de Stefanutto, a quem elogiou como sendo pessoa “exemplar”.
Tem muita gente exigindo a cabeça de Lupi, inclusive alguns lulistas tarimbados. Diante da dimensão do escândalo, sua permanência seria uma desmoralização para o governo Lula.
Ocorre que, para um governo que conseguiu se eleger mesmo depois de ter protagonizado o escândalo de corrupção da Petrobrás, aparentar moralidade pública pode ser menos importante do que manter alianças partidárias.
Até o momento em que escrevo, Lupi declara que fica, e Lula não declara nada.
Luiz Inácio Lula da Silva é um político resiliente; porém, tudo tem limite e tudo chega ao fim, inclusive a passividade dos brasileiros diante de tais descalabros.
Lula chegou ao seu outono; na idade e na política. É imprescindível que o Brasil prepare sua aposentadoria política compulsória para 2026.
Sua aposentadoria, claro, não vai ser como a de milhões de brasileiros: um salário mínimo com desconto de algumas dezenas de reais surrupiados por convênios de fachada. Será algo mais nababesco.
Que volte, pois, para casa com sua Janja, usufruindo do que milhares de outros idosos não têm condições de usufruir, mas que liberte a vida política brasileira da sua danosa presença.
Desde sua eleição em 2013 como o primeiro papa jesuíta e latino-americano, o pontificado de Francisco foi marcado por um estilo pastoral inovador e um compromisso com a transformação institucional da Igreja Católica. Com ênfase na misericórdia, justiça social e reforma da Cúria Romana, seu papado buscou equilibrar tradição e modernidade, promovendo uma Igreja mais inclusiva e voltada para as “periferias existenciais”. No entanto, sua condução também enfrentou críticas de setores conservadores e desafios persistentes, como os escândalos de abuso sexual e polarização dentro da Igreja. Analisar seu legado exige considerar tanto seus avanços simbólicos quanto tensões entre reforma e continuidade no catolicismo.
Sua ênfase renovada na justiça social e pastoral ficou refletida em suas encíclicas e ações. Documentos como Laudato Si’ (2015) e Fratelli Tutti (2020) reposicionaram a Igreja Católica como voz ativa em debates globais, desde a crise ambiental até a desigualdade econômica. Internacionalmente, Francisco redefiniu o papel diplomático do Vaticano, mediando conflitos, contudo, sua abordagem a regimes autoritários (China, Rússia) foi considerada excessivamente conciliatória em momentos cruciais. Seu legado, em síntese, é o de um reformista político pragmático.
Ele também promoveu mudanças internas significativas, como a constituição Praedicate Evangelium (2022), que reestruturou a Cúria Romana e ampliou a participação de leigos, incluindo mulheres, em cargos de decisão. Seu foco na descentralização buscou equilibrar poder entre o Vaticano e conferências episcopais locais. A criação de mecanismos de transparência financeira, como a Secretaria para a Economia (2014), respondeu a escândalos de corrupção, apesar de ainda vista como incompleta.
No campo da moral e doutrina, adotou postura pastoral mais flexível, especialmente em questões familiares (Amoris Laetitia, 2016), permitindo maior integração de divorciados recasados. Seus gestos, como a abertura a uniões civis e sua ênfase na misericórdia sobre o rigor doutrinal, geraram esperanças de reformas, mas também tensões com tradicionalistas. Apesar de manter a proibição do sacerdócio feminino, nomeou mulheres para posições de liderança inéditas no Vaticano, como a francesa Nathalie Becquart no Sínodo dos Bispos (2021).
A resposta aos escândalos de abuso sexual revela tanto avanços quanto limitações. Francisco estabeleceu normas mais rígidas para responsabilizar bispos (Vos estis lux mundi, 2019) e revogou o sigilo pontifício em casos de abuso. No entanto, é possível ver falhas na aplicação dessas medidas, como a lentidão em processos canônicos e a falta de transparência em casos envolvendo cardeais influentes. Seu legado nessa área permanece ambíguo: reconhecido por ações sem precedentes, mas ainda questionado por vítimas e reformistas.
Ao fim e ao cabo, o Papa que se despede deixa um legado importante para o catolicismo, tendo conseguido mover suas estruturas parcialmente, porém, em pontos basilares. Aquele que virá encontrará um ambiente muito diferente daquele com que Francisco se deparou e podemos considerar isso um sinal positivo, algo que aproximou os católicos da Igreja de Pedro.
Uma coisa é certa. O centro democrático definirá o resultado da próxima eleição. Tenha ou não candidato.
Mas se o centro democrático não tiver candidato em 2026 será obrigado a votar em um dos polos populistas para evitar a vitória do outro polo populista. Ou a se abster, votar branco ou nulo.
Se o centro democrático apresentar um candidato em 2026 e ele não for ao segundo turno, deverá ser alguém com um programa democrático, articulado com partidos ou setores políticos de centro e com extensas camadas da sociedade, disposto a continuar construindo a alternativa não-populista para 2030. Se esse candidato não passar ao segundo turno, não deve aderir a um governo populista vencedor, seja ele qual for, por medo de perder holofotes.
Em todo caso, 2030 passa por 2026. Se uma alternativa não-populista não se apresentar em 2026, o horizonte estratégico dos democratas vai se deslocar para 2034. Pois se já não estiver ativo um movimento democrático em 2026, não dará tempo para articular uma alternativa para 2030. Na boca da urna de 2030 é que isso não ocorrerá.
Todavia, 2026 é para valer. Está longe de ser certo que Lula (ou alguém indicado por ele) vá vencer as próximas eleições. As tendências estão agora mais claras. Essa é a posição da maioria dos brasileiros hoje: nem Bolsonaro, nem qualquer bolsonarista-raiz; nem Lula, nem qualquer lulopetista-raiz. Quem duvidar disso deve analisar as pesquisas. Essa realidade estatística, entretanto, ainda não foi transformada em uma realidade política.
Repetindo. Se Bolsonaro não será eleito (está inelegível, não será anistiado e sim, provavelmente, preso), um bolsonarista raiz também não deve ser eleito. Da mesma forma, Lula não deve ser reeleito ou um lulopetista indicado por ele também não deve ser eleito. Essa é a única maneira de escapar dos populismos que parasitam a nossa democracia e acabar com a polarização.
Não adianta instrumentalizar a justiça para desmoralizar politica e moralmente Bolsonaro e o bolsonarismo. Ao que tudo indica Lula, se perder, não perderá a eleição de 2026 para o bolsonarismo. Perderá para o antilulismo e para o antipetismo, que são hoje muito mais amplos.
Dificilmente Lula vencerá as eleições no Sul, no Centro-Oeste e no Sudeste do país. Se vencer no Norte e no Nordeste será por uma margem muito menor do que nas eleições passadas. Logo, nas condições normais de temperatura e pressão, Lula tende a perder as próximas eleições. O problema é que elas podem ocorrer em condições anormais. Neste momento, há uma clara interferência política – proveniente do judiciário e de parte da imprensa (chapa-branca) atuando como partidos políticos – para antecipar a campanha eleitoral, tentando tornar inimigo da democracia qualquer um que venha a herdar os votos de Bolsonaro, mesmo que não seja bolsonarista raiz e não tenha cometido qualquer crime. Querem vender a ideia de que se Lula (ou alguém do PT) não for eleito será um golpe dos fascistas. Sem essa interferência indevida, o mais provável é que Lula não seja reeleito.
Todavia, as chances são enormes de interferência indevida do judiciário e dos meios de comunicação alinhados ao governo no processo eleitoral (nas TVs amigas a campanha antecipada Lula 2026 já está em curso há tempos, diariamente). Por isso não se pode cravar que Lula (ou alguém indicado por ele) vai perder a eleição de 2026.
O centro democrático é contra a anistia aos golpistas bolsonaristas do final de 2022. Mas não tem a covardia de não lembrar que, na prática, o STF concedeu recentemente anistia a Lula, Dirceu e a outros petistas envolvidos no mensalão ou no petrolão. Seus processos foram anulados. Para todos os efeitos, isso equivale a esquecer os crimes que cometeram. Anistia geral e irrestrita. Nem o Emílio Odebrecht ficou preso.
De qualquer modo, só há uma solução democrática para o Brasil. Impedir que populistas ocupem novamente o governo para continuar parasitando nosso regime. Isso vale para os populistas de direita (bolsonaristas) e para os populistas de esquerda (lulopetistas).
Sim, nós – respaldados pela vontade política de mais metade dos brasileiros e brasileiras – apostamos nessa solução e vamos trabalhar para concretizá-la.
Para começar sugerimos os seguintes pontos programáticos que devem ser discutidos, aperfeiçoados e desenvolvidos a partir do diálogo com os partidos e setores políticos do centro democrático e com a sociedade.
• O parlamentarismo e o voto distrital misto
• O voto facultativo e as candidaturas independentes (ou avulsas)
• O municipalismo, baseado no localismo cosmopolita e o aumento do protagonismo das cidades (por meio da promoção do desenvolvimento local sustentável)
• A democratização da política e das suas instituições, sobretudo dos partidos (com o fim da partidocracia)
• Mudanças das regras eleitorais, inclusive para evitar a captura das eleições pelos populismos e o seu hackeamento pelos extremismos (com a introdução de inovações como, por exemplo, o voto em mais de um candidato, o voto ranqueado ou o voto negativo)
• A construção de novos mecanismos de interação democrática dos cidadãos (não-plebiscitários e não-assembleísticos) para influir no Estado
• A sustentabilidade como grande referencial para o desenvolvimento
• Uma economia de mercado, competitiva, que não queira impor à sociedade a sua racionalidade (ou seja, que parta da ideia de que a economia é que deve ser de mercado e competitiva, não a sociedade, que deve ser cada vez mais colaborativa)
• A redução das desigualdades socioeconômicas e o enfrentamento da pobreza pela via da promoção do desenvolvimento social e, emergencialmente, pela adoção de uma renda mínima cidadã, mas sobretudo por meio de outros mecanismos de inclusão baseados no investimento em capital humano e em capital social
• A defesa intransigente da ciência diante do ressurgimento de crenças que querem desacreditá-la e o investimento prioritário em ciência básica e aplicada e em tecnologia
• Uma nova educação para o século 21, que não pode ser repetição ou mero aperfeiçoamento da educação praticada nos séculos passados, baseada no desenvolvimento de uma inteligência tipicamente humana (que não será substituída pela inteligência artificial, mas a ela se somará)
• A saúde focada em prevenção e na criação de ambientes físicos e sociais saudáveis e o fortalecimento e expansão do sistemas públicos de saúde
• A promoção dos direitos humanos tendo como referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos e seus necessários aperfeiçoamentos
• A segurança pública como ação social e policial, não como guerra contra o crime
• Uma política externa orientada para paz e pela defesa da democracia e não por visões ideológicas, que vise buscar um novo lugar para o Brasil no mundo: o lugar de grande parceiro dos povos que se articulam para alcançar o bem comum para a humanidade em todas as áreas (científicas, tecnológicas, comerciais, de defesa dos direitos humanos em escala global e de preparação para o enfrentamento das mudanças globais que afetam a vida e a convivência social das populações do planeta, como as pandemias e epidemias, as doenças endêmicas e as catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas, pelo aquecimento global ou pela predação do meio ambiente).
Trump chamou de Liberation Day, mas o tarifaço que ele propôs contra a China pode muito bem ser chamado de Make China Great Again. Ainda não está claro para ninguém o que exatamente vai sair disso. Eu recomendo matricular os filhos em aulas de Mandarim.
Quem está dizendo que já entendeu tudo são os doidinhos de sempre, os fugitivos do CAPS da política. Aquela turma que não estuda o tema, não trabalha com o tema, não trabalha com política mas acha que sabe tudo. Estão no mesmo nível de quem assiste futebol e se acha técnico.
Quem realmente acompanha política com seriedade ainda está tentando entender as motivações e, principalmente, as consequências das tarifas. As bolsas do mundo inteiro estão em pânico. Isso porque ninguém conseguiu calcular ainda o prejuízo, nem as maiores empresas americanas.
Hoje, para fazer um lápis, o grafite vem de um lugar, a madeira de outro, a tinta de outro, a montagem de outro. A cadeia produtiva é mundial. Serviços também. Tem empresa americana com atendimento ao consumidor feito por call centers na Índia. Isso vai ser tributado como? Vai ser tarifado como Índia ou como Estados Unidos? A conta está sendo refeita. E ninguém sabe ainda o tamanho do estrago.
Aqui no Brasil, como sempre, temos políticos sem o menor respeito pela população. E o brasileiro aceita. Vive num relacionamento abusivo com a classe política. Sabe aquela situação em que a pessoa te maltrata, você vai cobrar, e no final é você que sai pedindo desculpa? É assim.
Tem político que finge que nada está acontecendo. E tem os que dizem: “Vamos retaliar!”. É risível. É como se, numa briga de rua, um brutamontes de 1,90 m sacasse um estilete, e você entregasse um estilete para sua filha de 3 anos dizendo: “Vai lá, enfrenta ele!”. Essa é a ideia do Brasil “retaliar” os EUA. Mesmo instrumento, nenhuma chance.
E, no meio disso tudo, o Lula aparece com aquele tom de sempre: “tá tudo certo, tá tudo bem”. Vi um pronunciamento do primeiro-ministro de Singapura. Ele disse, com serenidade: “Ainda não sabemos o tamanho do impacto. Mas a ordem mundial está mudando. Aquela estabilidade criada após a Segunda Guerra está ruindo”. Mesmo que revogue todas as tarifas, Donald Trump já queimou um ativo valioso dos Estados Unidos: previsibilidade.
Em Singapura explicaram com calma e transparência ao povo, dizendo que os impactos negativos e também positivos acontecerão e ainda não podem ser previstos. Aqui? Nada. Não teremos esse tipo de esclarecimento. E, pior, ninguém vai cobrar. Porque o brasileiro já aceita tanto absurdo de político que nem exige mais que eles se comportem feito gente grande.
Ao ler as notícias do dia, me deparei com a seguinte manchete: “Lobista cobrou 20% para liberar emendas de empresários investigados, diz PF”. Ao abrir a matéria pude perceber que não se tratava de um lobista, mas alguém que exercia, sem cerimônias, a prática de tráfico de influência. Me senti aliviado, afinal de contas, nada mais longe do exercício diário da vida de um lobista do que a ação denunciada pela matéria.
Antes de qualquer coisa é preciso deixar algo muito claro: lobby não é tráfico de influência. Pelo contrário, são conceitos antagônicos. Mais do que isso, lobby somente existe onde há um sistema democrático e transparente, enquanto tráfico de influência é uma prática comum em regimes autocráticos e autoritários, onde existe concentração arbitrária de poder. Nosso país, uma jovem democracia, somente foi apresentada ao lobby em tempos recentes e ainda possui dificuldade em entender sua legitimidade.
O lobby é uma prática tão antiga quanto a democracia, pois se estamos diante de um regime com plenas liberdades, talvez a mais importante delas seja aquela que garante à sociedade o direito de ser ouvida pelos seus representantes. Ao isolar-se e rejeitar a necessidade de ouvir, um governo torna-se autoritário. Ao fechar as portas para os pleitos dos eleitores, um parlamento perde legitimidade. Ao deixar de ouvir as partes, um juiz se torna despótico. Limitar o direito ao lobby é limitar o direito ao exercício mais básico de cidadania em uma democracia.
O termo lobby nasceu nos Estados Unidos, país que moldou o conceito moderno de democracia como conhecemos. No início de sua república, os parlamentares passavam longos períodos em Washington, hospedados no hotel Willard, localizado entre o Congresso e a Casa Branca. No lobby do hotel era comum encontrar representantes do setor privado à espera dos parlamentares para que estes pudessem ouvir sobre o impacto das leis que estavam por analisar. Desta atividade surgiu o termo lobby.
Os lobistas tornaram-se elemento central do processo legislativo e pilar essencial da democracia, uma vez que se tornou essencial ouvir os setores da sociedade afetados pelas leis que eram debatidas no Capitólio. A prática cresceu em importância e relevância na medida que aperfeiçoava diplomas legais mediante diálogo direto com a sociedade. As leis passaram a ser debatidas ouvindo a realidade do cidadão, contribuindo para que a legislação ajudasse o país a prosperar.
No Brasil, o termo passou a fazer parte de nosso cotidiano durante o mais recente período autoritário, quando não havia eleições e o parlamento permanecia fechado. Mais do que isso, passou a designar aqueles que conseguiam arrancar favores e políticas favoráveis do regime militar, uma clara situação que configurava tráfico de influência.
Com a redemocratização e o nascimento da prática de lobby como instrumento legítimo da sociedade, o termo, usado de forma equivocada para designar tráfico de influência, foi internalizado erroneamente em nossa língua. Para remediar esta confusão, o primeiro grande passo seria ver nosso Congresso Nacional aprovar a lei que regulamenta esta atividade. Uma ação tardia, com mais de dois séculos de atraso, porém relevante e necessária para introdução de mecanismos éticos e transparentes para esta atividade que é um dos pilares da democracia.
Versão preliminar. Sem revisão, sem notas, sem referências e ainda sem conclusão.
RESUMO
Este estudo pretende mostrar que não conformam ambientes favoráveis à democracia: 1 – países que têm sistemas de governo presidencialistas plenos; 2 – países muito grandes (com mais de 100 milhões de habitantes); 3 – países cujas populações são majoritariamente fundamentalistas religiosas; 4 – países em guerra; e 5 – países com regimes parasitados por governos populistas.
Temos hoje no mundo 65 países com sistemas de governo presidencialistas plenos. Desses, só temos dois países com democracia plena (The Economist Intelligence Unit), ou seja, 3%; e cinco países com democracia liberal (V-Dem), ou seja, 7,7%. A maioria dos países com sistemas de governo presidencialistas plenos é composta por autocracias.
Temos hoje no mundo 16 países muito grandes, com mais de 100 milhões de habitantes. Na lista de todos os (dezesseis) países com mais de 100 milhões de habitantes só temos uma democracia plena (segundo a EIU): o Japão (o que dá 6%). E só temos duas democracias liberais (segundo o V-Dem): os EUA e o Japão (ou seja, 12,5%). Da lista toda temos 11 autocracias, ou seja, quase 70% (68,75%).
Temos hoje no mundo 48 países cuja população é majoritariamente muçulmana e 1 país (Myanmar) cuja maioria da população é budista (theravada) com traços significativos de intolerância às demais religiões. Se usarmos a classificação do V-Dem, de 48 países de maioria islâmica só escapam quatro que não têm regimes autocráticos: Albânia, Gâmbia, Nigéria, Senegal (sendo que na Nigéria a população muçulmana é pouco mais de 50%). Claro que não há nenhuma democracia liberal ou plena. Mais de 90% (91,6%) são ditaduras (autocracias eleitorais ou autocracias fechadas). Myanmar, por sua vez, também é uma autocracia fechada.
Temos hoje no mundo 51 países em guerra (considerando conflitos armados com mais de mil mortes anuais ou crises humanitárias graves) ou estado de guerra persistente. Desses, 41 são autocracias (ou seja, mais de 80%). Só há uma democracia liberal (V-Dem). Não há nenhuma democracia plena (EIU).
Temos hoje no mundo, pelo menos, cerca de 21 países com regimes eleitorais parasitados por governos populistas, sejam neopopulistas (ditos de esquerda), sejam populistas-autoritários ou nacional-populistas (ditos de direita ou extrema-direita). São 10 governos neopopulistas e 10 governos populistas-autoritários, sendo que 1 ainda não se enquadra bem nas duas categorias (o governo da Argentina). Da lista inteira a metade é de ditaduras e só há 1 democracia liberal (EUA), sendo que o V-Dem, no seu relatório de 2025, incluiu também a África do Sul (que não vamos considerar aqui, pois deve ter sido um erro – na interpretação mais benévola). Segundo a The Economist Intelligence Unit, não há nenhuma democracia plena na lista.
INTRODUÇÃO
Por óbvio, a democracia não se aplica a regimes não-eleitorais e a regimes eleitorais autocráticos (pois seria uma contradição em termos: democracia é o oposto de autocracia).
Tomamos como referência para o presente estudo as classificações de regimes políticos das três mais conceituadas instituições que monitoram os regimes políticos no mundo: a The Economist Intelligence Unit (EIU), o Varieties of Democracy (V-Dem) e a Freedom House (FH).
O V-Dem classifica os regimes em quatro tipos: Liberal Democracy (Democracia Liberal), Electoral Democracy (Democracia Eleitoral), Electoral Autocracy (Autocracia Eleitoral) e Closed Autocracy (Autocracia Fechada). O regime brasileiro é classificado como Electoral Democracy. O V-Dem adota seis índices: Democracia Liberal (uma espécie de síntese, chamado LDI), Democracia Eleitoral, Componente Liberal, Componente Igualitário, Componente Participatório, Componente Deliberativo. Isso significa que, para o V-Dem, existem democracias não-liberais (que ele chama de democracias eleitorais), posto que, se fossem liberais, estariam na primeira categoria.
The Economist Intelligence Unit classifica os regimes em quatro tipos: Full Democracy (Democracia Plena), Flawed Democracy (Democracia Defeituosa), Hybrid Regime (Regime Híbrido) e Authoritarian Regime (Regime Autoritário). O regime brasileiro é classificado como Flawed Democracy. A EIU adota cinco índices: Processo Eleitoral e Pluralismo, Funcionamento do Governo, Participação Política, Cultura Política e Liberdades Civis.
A Freedom House classifica os regimes em três tipo: Free (Livres), Partly Free (Parcialmente Livres) e Not Free (Não Livres). Basicamente a FH adota dois índices: Direitos Políticos e Liberdades Civis.
Para começar seria interessante dizer onde, inequivocamente, a democracia funciona bem (como regime político instalado em Estados-nações, pois não vamos tratar aqui da democracia como modo-de-vida em não-países).
Vamos tomar como referência o cruzamento das democracias plenas (full democracies) da The Economist Intelligence Unit (EIU), segundo o relatório Democracy Index 2024 (intitulado “What’s wrong with representative democracy?”), com as democracias liberais (liberal democracies) do V-Dem, segundo o relatório V-Dem 2025 (intitulado “25 Years of Autocratization – Democracy Trumped?”). Obviamente, todos os países resultantes desse cruzamento, segundo o relatório Freedom in the World 2025 (intitulado “The uphill battle to safeguard rights”), da Freedom House (FH), são considerados livres (free countries). A lista resultante desse cruzamento, de 19 países, é a seguinte (em ordem alfabética):
Alemanha
Austrália
Chequia
Costa Rica
Dinamarca
Espanha
Estônia
Finlândia
Holanda
Irlanda
Islândia
Japão
Luxemburgo
Noruega
Nova Zelândia
Suécia
Suíça
Taiwan
Uruguai
Consideramos, portanto, como países com regimes inequivocamente democráticos, onde a democracia funciona bem, os 19 países que são, simultaneamente, democracias plenas (EIU), democracias liberais (V-Dem) e livres (FH).
Isso não significa, entretanto, que apenas esses 19 países têm regimes que possam ser considerados democráticos. Se, em vez da interseção, considerarmos a conjunção das 25 democracias plenas (da EIU), com as 29 democracias liberais (do V-Dem), a lista resultante, de 34 países (excluída a África do Sul), seria mais abrangente:
África do Sul
Alemanha
Australia
Austria
Barbados
Bélgica
Canadá
Chequia
Chile
Costa Rica
Dinamarca
Espanha
Estônia
EUA
Finlândia
França
Grécia
Holanda
Irlanda
Islândia
Itália
Jamaica
Japão
Letônia
Luxemburgo
Maurício
Noruega
Nova Zelândia
Portugal
Reino Unido
Seicheles
Suécia
Suíça
Taiwan
Uruguai
Claro que se incluirmos os 85 regimes livres (da FH), a lista ficaria imensa, mas os critérios da Freedom House são muito mais lassos, chegando a incluir, como livres, regimes híbridos (EIU), como a Romênia e democracias claramente não-liberais (V-Dem), talvez tendentes a virarem autocracias, como a Eslováquia. Então é melhor não.
1 – Democracia em sistemas de governo fortemente presidencialistas
O chamado “presidencialismo imperial” é um obstáculo ao bom funcionamento da democracia. É o que estamos vendo agora nos Estados Unidos sob um presidente que segue um plano de exacerbação da sua autoridade monocrática: Donald Trump.
Vejamos a lista de países com sistemas presidencialistas plenos (que exclui sistemas semipresidencialistas, como França e Portugal, onde há um primeiro-ministo com poderes significativos ao lado do presidente). A classificação dos regimes na lista abaixo é a do V-Dem 2025.
Afeganistão – Sob o atual regime talibã, o sistema é presidencialista em estrutura, embora autoritário. Autocracia Fechada.
Angola – Presidente eleito lidera o executivo. Autocracia Eleitoral.
Argentina – Eleição direta do presidente desde 1853, com poderes executivos fortes. Democracia Eleitoral.
Benim – Sistema presidencialista desde a transição democrática em 1991. Autocracia Eleitoral.
Bolívia – Presidente eleito diretamente com amplo controle executivo. Democracia Eleitoral.
Brasil – Presidencialismo adotado desde 1889, com eleição direta. Democracia Eleitoral.
Burundi – Presidente como chefe de Estado e governo, eleito diretamente. Autocracia Eleitoral.
Camarões – Sistema presidencialista com forte centralização no presidente. Autocracia Eleitoral.
Chade – Presidente domina o executivo, eleito por voto popular. Autocracia Eleitoral.
Chile – Presidencialismo com eleição direta desde o século XIX. Democracia Liberal.
Colômbia – Sistema presidencialista consolidado desde 1886. Democracia Eleitoral.
Comores – Presidente eleito diretamente como líder do executivo. Autocracia Eleitoral.
Congo, República do – Sistema presidencialista com eleição direta. Autocracia
Congo, República Democrática do – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
Coreia do Sul – Presidencialismo desde 1948, com eleição direta. Democracia Eleitoral.
Costa Rica – Um dos presidencialismos mais antigos e estáveis das Américas. Democracia Liberal.
Costa do Marfim – Presidente eleito diretamente com poderes executivos. Autocracia Eleitoral.
Chipre – Sistema presidencialista pleno, sem primeiro-ministro. Democracia Eleitoral.
Djibouti – Presidente domina o governo, eleito pelo povo. Autocracia Fechada.
Dominicana, República – Presidencialismo com eleição direta. Democracia Eleitoral.
El Salvador – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
Equador – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Eleitoral.
Estados Unidos – Modelo clássico de presidencialismo desde 1787. Democracia Liberal.
Filipinas – Inspirado no modelo americano, com eleição direta. Autocracia Eleitoral.
Gabão – Presidente eleito com forte controle executivo. Autocracia Fechada.
Gâmbia – Sistema presidencialista desde a independência. Democracia Eleitoral.
Gana – Presidencialismo adotado na transição democrática dos anos 1990. Democracia Eleitoral.
Guatemala – Presidente eleito diretamente como líder do executivo. Democracia Eleitoral.
Guiné – Sistema presidencialista, embora com instabilidade política. Autocracia Fechada.
Guiné-Bissau – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
Guiné Equatorial – Presidencialismo autoritário com eleição formal. Autocracia Eleitoral.
Haiti – Sistema presidencialista, apesar de crises frequentes. Autocracia Fechada.
Honduras – Presidente eleito diretamente com poderes executivos. Democracia Eleitoral.
Indonésia – Presidencialismo pleno desde reformas pós-1998. Autocracia Eleitoral.
Irã – Presidencialismo combinado com teocracia; presidente eleito diretamente. Autocracia Eleitoral.
Quênia – Sistema presidencialista consolidado desde 2010. Democracia Eleitoral.
Libéria – Presidencialismo inspirado no modelo americano. Democracia Eleitoral.
Malawi – Presidente eleito como chefe de Estado e governo. Democracia Eleitoral.
Maldivas – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Eleitoral.
México – Presidencialismo desde o século XIX, com eleição direta. Democracia Eleitoral.
Moçambique – Presidente como líder do executivo, eleito diretamente. Autocracia Eleitoral.
Namíbia – Sistema presidencialista desde a independência em 1990. Democracia Eleitoral.
Nicarágua – Presidente eleito com forte controle executivo. Autocracia
Nigéria – Presidencialismo federal com eleição direta. Democracia Eleitoral.
Palau – Sistema presidencialista inspirado nos EUA.
Panamá – Presidente como chefe de Estado e governo. Democracia Eleitoral.
Paraguai – Presidencialismo com eleição direta. Democracia Eleitoral.
Peru – Sistema presidencialista com histórico de instabilidade. Democracia Eleitoral.
Ruanda – Presidente domina o executivo, eleito pelo povo. Autocracia Eleitoral.
Seichelles – Presidencialismo com eleição direta. Democracia Liberal.
Serra Leoa – Sistema presidencialista desde a independência. Autocracia Eleitoral.
Sri Lanka – Presidencialismo pleno desde a constituição de 1978. Democracia Eleitoral.
Sudão – Sistema presidencialista, embora com forte influência militar. Autocracia Fechada.
Sudão do Sul – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Fechada.
Suriname – Presidencialismo com eleição indireta pelo legislativo. Democracia Eleitoral.
Tajiquistão – Sistema presidencialista com características autoritárias. Autocracia Eleitoral.
Tanzânia – Presidente eleito diretamente como líder do executivo. Autocracia Eleitoral.
Togo – Presidencialismo com eleição direta, mas autoritário. Autocracia Eleitoral.
Uganda – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
Uruguai – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Liberal.
Uzbequistão – Presidencialismo autoritário com eleição formal. Autocracia Fechada.
Venezuela – Presidencialismo com eleição direta, mas contestado. Autocracia Eleitoral.
Zâmbia – Sistema presidencialista com eleição direta. Democracia Eleitoral.
Zimbábue – Presidente como chefe de Estado e governo. Autocracia Eleitoral.
A primeira evidência é que a maioria dos países com sistemas de governo presidencialistas plenos é composta por autocracias. A segunda evidência da lista acima é que nela só há duas democracias plenas (EIU): Costa Rica e Uruguai (o que corresponde a 3%); e só há cinco regimes considerados (pelo V-Dem) democracias liberais: Chile, Costa Rica, EUA, Seicheles e Uruguai (o que dá 7,7%).
2 – Democracia em países muito grandes
Países muito grandes, com mais de 100 milhões de habitantes, não constituem bons ambientes para o funcionamento de regimes democráticos.
Na lista de todos (os dezesseis) países com mais de 100 milhões de habitantes só temos uma democracia plena (segundo a EIU): o Japão. Nessa lista só temos duas democracias liberais (segundo o V-Dem): os EUA e o Japão. A maioria esmagadora é de ditaduras.
Examinemos os regimes políticos desses países grandes (considerando as classificações do V-Dem e da The Economist Intelligence Unit):
India 1,450,935,791 – Autocracia Eleitoral | Democracia Defeituosa.
China 1,419,321,278 – Autocracia Fechada | Regime Autoritário.
Estados Unidos 345,426,571 – Democracia Liberal | Democracia Defeituosa.
Indonésia 283,487,931 – Autocracia Eleitoral | Democracia Defeituosa.
Mas há ainda os países que crescem mais. Todos eles são ambientes desfavoráveis à democracia (e também ao desenvolvimento humano e social). Vejamos, na imagem abaixo, as previsões de crescimento para 2050 e 2100.
Entre os países cuja população vai crescer mais até 2100, temos Paquistão, Nigéria, Congo, Etiópia, Tanzania, Angola e Sudão – uma clara predominância de autocracias.
3 – Democracia em países cujas populações são majoritariamente fundamentalistas religiosas
Eis a lista dos 48 países cuja população é majoritariamente muçulmana e 1 país (Myanmar) cuja maioria da população é budista (theravada) com traços significativos de intolerância às demais religiões. Advirta-se que ser muçulmano não significa necessariamente ser fundamentalista ou intolerante com outras crenças: por exemplo, na Malásia há mais pluralismo do que na Mauritânia. A Índia não foi incluída na lista, mas o crescimento do hinduísmo Hindutva e de grupos como o RSS e BJP, sob o governo nacional-populista de Narendra Modi – que tenta emplacar seu projeto mítico e autocrático Bharat -, tem fortes traços fundamentalistas.
Afeganistão: Quase 99,7% da população é muçulmana, majoritariamente sunita, com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
Albânia: Aproximadamente 58-60% são muçulmanos, predominantemente sunitas, com uma minoria bektashi. Democracia Eleitoral.
Arábia Saudita: Cerca de 97-99% da população é muçulmana, majoritariamente sunita (wahhabita), com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
Argélia: Cerca de 99% são muçulmanos sunitas, com pequenas minorias xiitas e ibaditas. Autocracia Eleitoral.
Azerbaijão: Cerca de 96% são muçulmanos, majoritariamente xiitas, com uma minoria sunita. Autocracia Eleitoral.
Bahrein: Aproximadamente 70-75% são muçulmanos, com uma maioria xiita e uma minoria sunita. Autocracia Fechada.
Bangladesh: Cerca de 90% são muçulmanos, predominantemente sunitas. Autocracia Eleitoral.
Brunei: Aproximadamente 80-82% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Burkina Faso: Cerca de 60-62% são muçulmanos, majoritariamente sunitas. Autocracia Fechada.
Cazaquistão: Aproximadamente 70% são muçulmanos, predominantemente sunitas. Autocracia Eleitoral.
Chade: Cerca de 55-58% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com minorias xiitas. Autocracia Eleitoral.
Comores: Quase 98% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
Djibouti: Aproximadamente 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Egito: Cerca de 90% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com uma minoria copta cristã. Autocracia Eleitoral.
Emirados Árabes Unidos: Cerca de 76% são muçulmanos, predominantemente sunitas, com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
Gâmbia: Aproximadamente 95% são muçulmanos sunitas. Democracia Eleitoral.
Guiné: Cerca de 85% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Guiné-Bissau: Aproximadamente 50-55% são muçulmanos sunitas, com uma população religiosa diversa. Autocracia Eleitoral.
Indonésia: Cerca de 87% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, o maior país muçulmano em população. Autocracia Eleitoral.
Irã: Quase 99% são muçulmanos, com cerca de 90-95% xiitas e 5-10% sunitas. Autocracia Eleitoral.
Iraque: Aproximadamente 97% são muçulmanos, com cerca de 60-65% xiitas e 32-37% sunitas. Autocracia Eleitoral.
Jordânia: Cerca de 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Kuwait: Aproximadamente 75% são muçulmanos, com uma divisão entre sunitas (maioria) e xiitas. Autocracia Fechada.
Líbano: Cerca de 60% são muçulkanos, divididos quase igualmente entre sunitas e xiitas. Autocracia Fechada.
Líbia: Quase 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Malásia: Cerca de 61% são muçulmanos sunitas. Democracia Eleitoral.
Maldivas: Praticamente 100% são muçulmanos sunitas, com a cidadania restrita a muçulmanos. Democracia Eleitoral.
Mali: Aproximadamente 94% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Marrocos: Cerca de 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Mauritânia: Quase 100% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
Níger: Cerca de 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Myanmar: Mais de 80% da população é budista. Autocracia Fechada.
Nigéria: Aproximadamente 50-53% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com minorias xiitas (estimativas variam devido à população dividida com cristãos). Democracia Eleitoral.
Omã: Cerca de 86% são muçulmanos, com uma maioria ibadita, além de sunitas e xiitas. Autocracia Fechada.
Paquistão: Aproximadamente 96-97% são muçulmanos, com cerca de 80% sunitas e 15-20% xiitas. Autocracia Eleitoral.
Palestina (Cisjordânia e Gaza): Cerca de 98% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral e Autocracia Fechada.
Qatar: Aproximadamente 68-70% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com uma minoria xiita. Autocracia Fechada.
Quirguistão: Cerca de 88% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
Senegal: Aproximadamente 96% são muçulmanos sunitas. Democracia Eleitoral.
Serra Leoa: Cerca de 78% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
Somália: Quase 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Sudão: Cerca de 97% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Síria: Aproximadamente 87% são muçulmanos, com cerca de 74% sunitas e 13% alauitas/xiitas. Autocracia Fechada.
Tadjiquistão: Cerca de 96% são muçulmanos, majoritariamente sunitas, com uma minoria ismaelita. Autocracia Eleitoral.
Tunísia: Quase 99% são muçulmanos sunitas. Autocracia Eleitoral.
Turcomenistão: Aproximadamente 93% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Turquia: Cerca de 98% são muçulmanos, predominantemente sunitas, com uma minoria alevita. Autocracia Eleitoral.
Uzbequistão: Aproximadamente 88% são muçulmanos sunitas. Autocracia Fechada.
Iêmen: Quase 99% são muçulmanos, com cerca de 65% sunitas e 35% xiitas (principalmente zaiditas). Autocracia Fechada.
Se usarmos a classificação do V-Dem, de 48 países de maioria islâmica só escapam quatro que não têm regimes autocráticos: Albânia, Gâmbia, Nigéria, Senegal (sendo que na Nigéria a população muçulmana é pouco mais de 50%). Claro que não há nenhuma democracia liberal ou plena. Mais de 90% (91,6%) são ditaduras (autocracias eleitorais ou autocracias fechadas). Myanmar, por sua vez, também é uma autocracia fechada.
4 – Democracia em países em guerra
Países em guerra (ou estado de guerra prolongado, mesmo que sem derramamento de sangue) não são bons ambientes para a democracia. Os dois exemplos mais recentes são a Ucrânia (que depois de ter sido invadida pela Rússia decaiu de democracia eleitoral para autocracia eleitoral) e Israel (que era democracia liberal antes da guerra em Gaza e agora virou democracia apenas eleitoral) – tudo segundo o V-Dem.
Eis a lista dos 51 países em guerra (considerando conflitos armados com mais de mil mortes anuais ou crises humanitárias graves) ou estado de guerra persistente. Desses, 41 são autocracias (ou seja, mais de 80%). Só há uma democracia liberal (V-Dem): os Estados Unidos. Não há nenhuma democracia plena (EIU).
Afeganistão: Guerra civil e insurgência terrorista | Autocracia Fechada.
China: Preparação para invasão e anexação de Taiwan e disputas no Mar do Sul da China. | Autocracia Fechada.
Colômbia: Guerra civil e guerra contra o narcotráfico. | Democracia Eleitoral.
Coreia do Norte: Tensões com os EUA e testes de armas. | Autocracia Fechada.
Costa do Marfim: Insurgência terrorista. | Autocracia Fechada.
Equador: Conflito civil e guerra contra gangues. | Democracia Eleitoral.
Estados Unidos: Ameaças de violação da soberania territorial da Groelândia (Dinamarca) e do Panamá (Canal). Ameaça de bombardeio ao Irã. Ameaça de expulsão da população palestina de Gaza e de anexação (ou apropriação) da Faixa. Guerra direta contra o Iêmem (Houthis). Guerra comercial global contra o mundo exterior, em especial contra as nações democráticas e contra algumas ditaduras, sobretudo a da China (mas não contra as ditaduras da Rússia, Bielorrússia, Coreia do Norte, Cuba). | Democracia Liberal.
Etiópia: Conflitos étnicos e políticos. | Autocracia Eleitoral.
Filipinas: Disputas no Mar do Sul da China. | Autocracia Eleitoral.
Haiti: Guerra civil e violência de gangues. | Autocracia Fechada.
Iêmen: Guerra civil. Guerra contra Israel e EUA (Houthis) | Autocracia Fechada.
Índia: Conflito em Kashmir. | Autocracia Eleitoral.
Irã: Guerra contra Israel por meio de uma dúzia de organizações terroristas coordenadas pela IRGC. Netwar contra o mundo democrático, sobretudo os EUA. | Autocracia Eleitoral
Iraque: Insurgência terrorista e instabilidade política. | Autocracia Eleitoral.
Israel: Guerra contra o Irã e seus braços terroristas na Palestina (Hamas e Jihad Islâmica), no Líbano (Hezbollah), no Iraque, na Síria, no Iêmem (Houthis). Guerra aberta contra Gaza e estado de guerra com Cisjordânia.
Líbano: Conflitos com Israel e instabilidade interna. | Democracia eleitoral (Decaiu de democracia liberal após o início da guerra em Gaza).
Líbia: Insurgência terrorista e conflitos entre facções. | Autocracia Fechada.
Palestina (Gaza): Guerra aberta contra Israel | Autocracia Fechada.
Palestina (Cisjordânia): Estado de guerra com Israel. | Autocracia Eleitoral.
Paquistão: Conflitos com o Afeganistão e instabilidade interna. | Autocracia Eleitoral
República Centro-Africana: Guerra civil. | Autocracia Fechada.
República Democrática do Congo: Insurgência terrorista. | Autocracia Eleitoral.
Rússia: Guerra contra a Ucrânia. Ameaça de invasão da Polônia, da Estônia, da Letônia, da Lituânia, da Moldávia, da Georgia, da Finlândia e até da Suécia. Liderança da netwar global contra o mundo democrático. | Autocracia Eleitoral.
Sérvia: Tensões com o Kosovo. | Autocracia Eleitoral.
Síria: Guerra civil e intervenções externas. | Autocracia Fechada.
Somália: Guerra contra o Al-Shabaab. | Autocracia Fechada.
Sudão do Sul: Violência étnica e conflitos políticos. | Autocracia Fechada.
Venezuela: Instabilidade política e crise de refugiados. Ameaça de violação da soberania territorial da Guiana (Essequibo). | Autocracia Eleitoral.
Aqui há um conhecimento importante corroborado pela presente investigação: o de que autocracia é guerra (ou vice-versa). Dos 51 países hoje em guerra fria ou quente (considerando conflitos armados com mais de mil mortes anuais ou crises humanitárias graves), 41 são autocracias (ou seja, mais de 80%).
5 – Democracia em regimes eleitorais parasitados por governos populistas
Não há nenhuma base de dados onde seja possível identificar regimes eleitorais parasitados por populismos (inclusive porque não há consenso entre os pesquisadores sobre o que significa populismo e sobre quais os seus tipos). Eis uma lista (parcial) de 21 países com regimes eleitorais parasitados por governos populistas, sejam neopopulistas (ditos de esquerda), sejam populistas-autoritários ou nacional-populistas (ditos de direita ou extrema-direita) com os nomes de seus respectivos governantes atuais. A classificação dos regimes é a do V-Dem.
África do Sul | Democracia Liberal? | Governo neopopulista (Ramaphosa).
Angola | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Lourenço).
Argentina | Democracia Eleitoral | Governo populista (Milei).
Bielorrússia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Lukashenko).
Bolívia | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Evo e Arce).
Brasil | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Lula).
Colômbia | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Petro).
El Salvador | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Bukele).
Eslováquia | Democracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Fico).
Estados Unidos | Democracia Liberal | Governo populista-autoritário (Trump).
Honduras | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Manuel e Xiomara Zelaya).
Hungria | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Orbán).
Índia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Modi).
Indonésia | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Subianto).
Itália | Democracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Salvini e Meloni).
Israel | Democracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Netanyahu).
México | Democracia Eleitoral | Governo neopopulista (Obrador e Sheinbaum).
Nicarágua | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Ortega e Murillo).
Rússia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Putin).
Turquia | Autocracia Eleitoral | Governo populista-autoritário (Erdogan).
Venezuela | Autocracia Eleitoral | Governo neopopulista (Maduro).
Na lista acima temos 10 governos neopopulistas e 10 governos populistas-autoritários, sendo que 1 ainda não se enquadra bem nas duas categorias (o governo da Argentina). Da lista inteira a metade é de ditaduras e só há 1 democracia liberal (EUA), sendo que o V-Dem, no seu relatório de 2025, incluiu também a África do Sul (o que deve ser um erro). Segundo a The Economist Intelligence Unit, não há nenhuma democracia plena na lista.
Mas há ainda, pelo menos, 9 países com oposições populistas mais relevantes: 1 com oposição neopopulista e 8 com oposições populistas-autoritárias (ou nacional-populistas). Eis uma lista (parcial) com os nomes de seus principais líderes oposicionistas:
Alemanha | Oposição populista-autoritária (Chrupalla e Weidel).
Brasil | Oposição populista-autoritária (Bolsonaro).
Equador | Oposição neopopulista (Luísa González e Rafael Correa).
Político brasileiro rouba tanto que agora roubou até a manifestação do povo. Quem lembra das passeatas de 2013 a 2016 sabe do que estou falando. Aquelas sim eram do povo. Político tentava entrar e era escorraçado. Teve até cena famosa: Aécio Neves sendo expulso da passeata pelo impeachment da Dilma. Era espontâneo, era indignação real. E teve efeito.
Político tem medo de povo na rua. E povo só bota medo se não tiver político liderando. Passeata com político na frente não mete medo em ninguém. A manifestação do Boulos não bota medo na direita. E a do Bolsonaro, mesmo cheia, também não bota medo na esquerda. Por quê? Porque político não tem medo de outro político. Medo eles têm é do povo sozinho. O povo que não aceita ser comandado, que não aceita ser paquita de político.
O que a gente vê hoje é que o brasileiro cansou. As ruas agora são das torcidas organizadas de político. É gente que sempre quis ser cadelinha de alguém. Que sempre precisou de um dono. Porque, se não fosse assim, o Brasil não estava na lama em que está. A verdade é essa.
Muita gente fala que é pelos presos do 8 de janeiro. Porque as penas foram desproporcionais, porque aquilo foi um absurdo. E eu digo: se você acreditou nisso, te fizeram de otária. A manifestação é para salvar a pele dos políticos, que estão virando réus agora. Passaram dois anos e ninguém foi pra rua pedir anistia. Justo agora que os políticos estão no alvo é que virou urgência? Coincidência não é.
E ainda tem outra: anistia não é para pessoa. Não existe anistia para os presos do 8 de janeiro. O que existe é anistiar a conduta. Ou seja, dizer que tudo aquilo pelo que foram condenados não é mais crime. E por que agora? Porque agora os políticos vão ser julgados pelas mesmas coisas. Eles não estão nem aí para o povo que foi preso. Estão se protegendo.
Se quisessem justiça para o povo do 8 de janeiro, fariam outra coisa. Lembrariam que esses processos têm que ser julgados na primeira instância. Que cada um deve responder pelo que fez. Que o STF não é o foro adequado pra julgar esses casos. Isso seria o certo. Isso seria o que o cidadão de bem quer. Mas isso não atende aos interesses dos políticos.
E é por isso que eu digo: manifestação puxada por político é perda de tempo. Reivindicação se faz com povo organizado e demandas claras, sem tutela política. Estão confundindo isso com micareta de homenagem a populista.
“Tarifas podem funcionar por um curto período, entretanto o que invariavelmente ocorre é que as indústrias nacionais começam a depender desta proteção do governo. Ao mesmo tempo, param de competir e investir em inovação e gestão tecnológicas. Além disso, a adoção de tarifas leva inevitavelmente à retaliação de países estrangeiros e ao desencadeamento de guerras comerciais. O resultado é devastador: cada vez menos concorrência e barreiras comerciais cada vez maiores. Tarifas subsidiam a ineficiência e a má gestão e as pessoas param de comprar por causa dos preços artificialmente altos. Então o pior acontece: os mercados encolhem e entram em colapso, empresas e indústrias fecham e milhões de pessoas perdem seus empregos”.
A passagem acima é o trecho de um discurso do Presidente Ronald Reagan sobre tarifas, suas consequências e a lógica econômica deste tipo de decisão. Sua adoção afeta de forma direta a liberdade econômica e o livre mercado, tornando as nações reféns de ajuda governamental, inibindo a inovação e modernização da gestão, criando reservas de mercado, menos concorrência, e ao final, uma crescente onda de desemprego.
Este é o caminho que o Brasil optou ao longo dos anos, aquele responsável por financiar a ineficiência e o atraso, jogando o país em uma espiral de altos custos, qualidade baixa, produtos ineficientes, mão-de-obra pouco qualificada e uma nação com economia decadente. Ainda lembramos com clareza da famigerada reserva de mercado na área de informática, uma decisão que impõe até os dias de hoje suas consequências em nosso cotidiano. Como disse à época o economista Roberto Campos em tom profético, “o Brasil nunca perde a oportunidade de perder uma oportunidade”. Ele estava certo.
Ao adotar uma política de alta de tarifas, o governo Trump surge trilhando um caminho antagônico daquele percorrido pelo seu país ao longo do último século. Ao defender os mecanismos do livre-comércio, os americanos foram responsáveis por liderar o século mais importante em termos de prosperidade baseado na abertura dos mercados e suas relações comerciais como o sustentáculo de democracias capazes de prover estabilidade alicerçada em um mercado livre e cadeias globais de valor interdependentes.
Surpreende, entretanto, que países como o Brasil, que optaram pelo triste caminho do protecionismo ao longo da história, façam agora, de forma conveniente, a defesa de uma política de livre-comércio que jamais adotaram em relação a sua própria economia. Mais do que isso, ao aprovar no parlamento a chamada “Lei da Reciprocidade”, que autoriza o governo a retaliar com aumento de tarifas esta guerra comercial, percebemos que pouco aprendemos sobre os mecanismos da economia global.
O movimento mais inteligente, entretanto, seria fazer o oposto. Ao invés de dobrar a aposta, o Brasil deveria derrubar suas tarifas, abrindo o país para um mundo de oportunidades e concorrência, algo que faria um bem enorme para nossas empresas e nossa população. Taiwan, um exemplo de inteligência comercial, optou por este caminho, começando a negociação por ‘tarifas zero’ bilaterais, aumentando inclusive as importações dos EUA. A expressão usada por seu Presidente, William Lai, é inspiradora: “prosperidade compartilhada”.
Toda crise oferece oportunidades. O Brasil tem diante de si mais uma chance de provar que a famosa frase do economista Roberto Campos faz parte de nosso passado.