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Governo Lula passa da metade sem ter descido do palanque

Estamos na metade do governo Lula 3, mas a sensação é de estar assistindo a um daqueles filmes intermináveis. Você pensa estar nos cinco minutos finais mas descobre que a história mal começou. O problema é que, enquanto o tempo passa, o governo parece mais perdido do que cego em tiroteio. É um espetáculo de promessas, discursos e palanque. Ação mesmo, pouquíssima coisa. O Lula 3 está sendo descrito por muitos como pior do que o Dilma 2. E o motivo é claro: ele nem começou a governar.

O Brasil vive um governo que ainda não desceu do palanque. Lula continua falando, prometendo e não fazendo. Enquanto isso, o país segue com uma economia fragilizada, um dólar fora de controle, e um Executivo que simplesmente não se encontra.

Para piorar, estamos passando vergonha internacional com uma figura que não tem cargo, função ou responsabilidade, mas aparece em eventos oficiais porque casou com o presidente. Janja, ao invés de simbolizar algo novo, apenas reforça uma lógica machista: a mulher que é enfiada em espaços de poder por causa do marido. E aí vem o discurso de ressignificação do papel de primeira-dama, como se isso fosse algo positivo. Ressignificar o quê? A falta de vergonha na cara?

O grande problema do governo Lula não é apenas a inércia, mas o fato de ser liderado por uma figura que sempre evitou sucessores. Lula é a clássica liderança pé de manga: onde ele está, nada cresce à sua sombra. Ao longo dos anos, o PT foi perdendo quadros capacitados, muitos deles envolvidos em escândalos como o Mensalão e o Petrolão. E o que sobrou? Um partido sem novas lideranças e um país que entregou o poder de volta a um político que tem vivido de fazer campanha permanente.

Olhando para frente, o cenário não é mais animador. Lula vai continuar no palanque. Sem um sucessor à vista, o plano parece ser repetir a fórmula em 2026. Mesmo que isso signifique o país afundar mais dois anos no caos e na estagnação.

Enquanto isso, a estratégia será transformar qualquer crítico em extremista. Já começou: se você não apoia Lula ou Janja, é automaticamente jogado no rótulo de “extrema-direita”. Reputações estão sendo atacadas, como no caso de Ângela Gandra, recém-nomeada para uma secretaria em São Paulo, que foi alvo de críticas absurdas, pintada pela esquerda psiquiátrica como se fosse uma extremista.

Essa narrativa já está desgastada. A popularidade de Janja, por exemplo, segue em queda livre. Quanto mais ela aparece, mais rejeição enfrenta. E o governo, que mal conseguiu vencer a última eleição, está repetindo os erros que levaram à desconfiança popular. O foco continua em atacar opositores enquanto o Brasil aguarda ações concretas.

Os próximos dois anos prometem ser complicados. Depois de dois anos de incerteza, podemos estar à beira de dois anos de inferno político. Um governo sem direção, somado à militância mais barulhenta tentando coagir o debate público e direcionar as próximas eleições, forma uma combinação perigosa. A pergunta que fica é: até quando o Brasil vai aceitar essa lógica de palanque eterno? 2026 está chegando, e é hora de começar a pensar em como evitar que essa história se repita.

Foto: Bruno Peres / Agência Brasil.

Não haverá nenhum golpe de Estado no Brasil

Atenção! Uma farsa está em curso. Querem transformar uma tentativa de golpe de 2022 em uma espécie de ameaça presente. Que os culpados sejam punidos. Mas não podemos polarizar ainda mais a sociedade insinuando que há ameaça atual de golpe de Estado no Brasil quando não há.

A manipulação das notícias sobre o atentado meia-bomba do suicida Tiü França em Brasília e as tentativas de dizer que as articulações de um golpe militar tramado durante o governo Bolsonaro continuam ocorrendo, são tão grosseiras, as versões divulgadas por uma mídia chapa branca tão combinadas e as interpretações de seus analistas tão enviesadas, que só alguém muito idiotizado ou polarizado não percebe uma clara intenção de instrumentalização política do ocorrido.

Não há nenhum risco de golpe no Brasil atual. Nenhuma ameaça crível de abolição do nosso Estado democrático de direito. Atos tresloucados de fanáticos, frustrados com as promessas vãs e as tentativas mal-sucedidas de golpes passados, não são mais uma ameaça real ao regime democrático. A maioria da população, a maioria dos parlamentos e governos e das demais instituições, do Estado e da sociedade, em todos os níveis, não querem isso. Por exemplo, os partidos de centro (como o PSD e o MDB) que venceram as eleições de 2024 – navegando por fora da polarização – não querem isso. Nem o chamado “centrão” quer isso, pois acabaria com seu ganha-pão.

O que pode haver é uma derrota eleitoral do atual governo, como vimos em 2024 e poderemos ver novamente em 2026. Mas isso faz parte da democracia. Tirar o PT dos governos e derrotá-lo nos parlamentos, por meios legais e eleitorais, não é golpe.

Claro que os que, no passado, tentaram dar um golpe de Estado, devem ser processados pela justiça, observado o devido processo legal – o que, infelizmente, parece não estar ocorrendo. Transplantar para o presente uma ameaça passada parece ter o objetivo de justificar procedimentos judiciais de exceção, como decretar sigilo e adotar medidas de força. Além disso, um ministro da suprema corte que teria sido vítima de uma articulação passada não pode ser juiz do caso, sobretudo se não há ninguém com foro privilegiado envolvido.

O que não se pode é criar um clima de resistência com base na hipótese de que há um golpe em curso. Houve, embora muito desarticulada. Não há mais. Os que deveriam resistir naquela época, não o fizeram. Não aderiram nem a um movimento pelo impeachment de Bolsonaro, preferindo correr o risco de mantê-lo para derrotá-lo mais facilmente nas urnas – o que conseguiram, mas com altíssimo risco, por apenas 1,8% de vantagem. Sem a ajuda dos eleitores situados no centro do espectro político, fora da polarização, não teriam conseguido.

Repetindo. Não haverá nenhum golpe de Estado no Brasil, vindo da direita ou da esquerda. O que haverá é um investimento continuado na polarização e um desgaste crescente até 2026. O governo Lula e o PT sabem que é grande o risco de uma derrota eleitoral nas próximas eleições. Então têm que manter viva a “defesa da democracia” contra os golpistas que “ainda estão aí” – e que vêm a ser todos aqueles que não votarão em Lula ou em quem ele mandar. Eles não hesitarão em continuar usando os veículos profissionais de comunicação como assessoria de imprensa e tentarão aprovar uma regulamentação das mídias sociais que corte o oxigênio de quem discorde. Isso poderá acelerar o processo de autocratização do nosso regime democrático, mas não será um golpe em termos clássicos.

Desgraçadamente, porém, estaremos cada vez mais longe de ser uma democracia liberal ou plena.