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Foto: REUTERS/Orhan Qereman

A Queda de Assad, o ditador da Síria

Tiririca estava enganado. Pior do que está fica sim. E o brasileiro precisa aprender essa lição, ainda que ela se repita exaustivamente diante dos nossos olhos. É verdade que estamos longe das tragédias de proporções inimagináveis como as da Síria, um país que vive uma realidade de devastação completa. Mas será que aprendemos com a experiência? Ou continuamos na perigosa prática de querer “tirar tudo que está aí” sem refletir sobre o que colocar no lugar?

A Síria é um exemplo doloroso do que pode acontecer quando as mudanças são feitas sem rumo ou estratégia. Décadas de ditadura brutal dos Assad deixaram um legado de destruição, sofrimento e um fluxo migratório que supera os grandes desastres das últimas décadas, como o genocídio de Ruanda. Países vizinhos como o Líbano receberam tantos refugiados sírios que hoje uma em cada cinco pessoas no país é parte desse êxodo. No Brasil, as histórias dos refugiados que chegam são de cortar o coração, relatos de famílias destruídas, vidas desfeitas, um trauma humano que não se apaga.

Com a queda do regime de Assad, muitos celebram o fim de um ciclo de horror. Mas comemorar o fim não significa ter certeza de que o futuro será melhor. O que virá a seguir? Um grupo islâmico radical no poder? Uma guerra interna entre facções rebeldes? Talvez, na tentativa de sobreviver, o novo governo suavize seu discurso para manter alianças estratégicas com Rússia e China. A verdade é que ninguém sabe. Mesmo diante da barbárie, ainda pode haver um subsolo de terror, um degrau mais baixo no que a humanidade é capaz de fazer em crueldade e destruição.

E aqui no Brasil, o que temos? Não enfrentamos guerras ou terrorismo, mas convivemos com uma prática política desastrosa: trocar o ruim pelo pior. O brasileiro, cansado – e com razão – das mazelas do presente, frequentemente abraça soluções precipitadas e pensa pouco no que vem depois. O mantra de “tirar tudo o que está aí” tem sido recorrente, sem a preocupação de avaliar se o que será colocado no lugar resolverá, de fato, os problemas. E isso não é exclusividade de uma eleição ou de um partido. É um padrão.

O aprendizado que deveríamos tirar de exemplos como a Síria é simples, mas profundo: mudanças precisam de foco e planejamento. Não basta eliminar algo ruim, é preciso saber o que colocar no lugar. Nós não estamos em guerra nem lidamos com o terrorismo. Se realmente quisermos, conseguimos planejar mudanças.

Pense nisso. As escolhas de hoje determinam o futuro de 2026 e além. Se não formos cuidadosos, o Tiririca terá sua frase eternamente contestada pela nossa própria realidade. Pior do que está fica. E sempre pode ficar ainda mais.

Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

O governo Lula encontra-se em uma encruzilhada perigosa: a promessa de cortar gastos paira no ar como um mantra político, mas a ação parece eternamente adiada. A popularidade do presidente está em queda, conforme indicam as pesquisas, e o prazo para lidar com a crise econômica está se esgotando. Com um governo fragilizado, sem poder de barganha e refém de um Congresso pouco cooperativo, a pergunta central é clara: como será feito esse corte?

Os desafios são imensos. De um lado, há um funcionalismo público abarrotado de privilégios e salários desproporcionais, ironicamente defendidos por um Judiciário que consome uma fatia considerável do orçamento e exige ainda mais aumentos. Do outro, uma economia debilitada, onde as famílias brasileiras estão atoladas em dívidas enquanto o governo parece mais preocupado em ampliar benefícios para quem já tem demais.

Enquanto isso, a única ação concreta do governo foi escancarar a lista de empresas e influenciadores que usufruem de incentivos fiscais questionáveis. Nomes como Felipe Neto, Virgínia e gigantes empresariais figuram nessa lista, expondo isenções que somam centenas de milhões de reais. Esses privilégios fiscais, justificados originalmente pela pandemia, seguem sendo renovados como se fossem indispensáveis. É um deboche com o cidadão comum, que luta para comprar itens básicos enquanto assiste ao governo patrocinar luxos desnecessários.

A questão mais amarga é que, mesmo diante dessa pressão, o governo parece incapaz de enfrentar os problemas estruturais do país. Prometer reforma administrativa é quase um esporte olímpico entre os políticos brasileiros, mas tirá-la do papel significa mexer com interesses instalados em todas as esferas do poder. Quem está “mamando” nas benesses do Estado dificilmente abrirá mão de seus privilégios. Assim, a reforma administrativa segue sendo uma ideia platônica: admirada, mas jamais realizada.

O problema vai além da inação. Existe uma narrativa conveniente de que cortar gastos equivale, automaticamente, a retirar recursos dos mais pobres. Esse discurso, embora popular, é utilizado para mascarar a incapacidade de mexer nas estruturas que realmente consomem o orçamento público. Não é uma questão de prejudicar programas sociais, mas de enfrentar privilégios profundamente enraizados. No entanto, essa tarefa hercúlea parece estar fora da agenda do governo Lula.

Enquanto isso, a economia cobra seu preço. A avaliação de um presidente é inevitavelmente atrelada ao bolso do povo. Quando os brasileiros estão viajando, comprando eletrodomésticos ou fazendo churrasco, o governante é visto como um sucesso, mesmo que ele tenha pouco a ver com essa prosperidade. Mas quando os preços disparam e até o iogurte vira item de luxo no carrinho de compras, o cenário muda rapidamente. O atual governo está sentindo esse impacto: a promessa de picanha e cerveja na mesa se transformou em um símbolo de decepção.

A grande ironia é que o governo Lula conta com um escudo poderoso: o silêncio de boa parte da imprensa. Se fosse Bolsonaro, certamente haveria um massacre midiático diário. Dois anos prometendo cortes que não chegam seriam motivo de editoriais inflamados e críticas incessantes. Para Lula, entretanto, a paciência parece infinita. Essa blindagem, no entanto, não engana o povo, que sente na pele os efeitos da falta de ação.

Resta saber se o corte de gastos sairá do campo das promessas antes que a conta chegue. E ela sempre chega. Caso contrário, não será apenas a popularidade de Lula a desabar. Será o brasileiro comum que pagará, mais uma vez, pelos erros de um governo que insiste em adiar o inevitável.

Lula e a “reeleição” de Maduro na Venezuela

A questão com Maduro representa o maior desafio diplomático que o governo Lula já enfrentou. A resposta de Lula à eleição de Maduro talvez não signifique muito para a Venezuela, onde a situação é complicada, mas é de extrema importância para o Brasil. A maneira como o governo Lula se posicionará indicará o que ele considera ser uma democracia.

É claro que muitos dirão que já sabiam, que Lula sempre demonstrou suas intenções. Mas a situação agora é diferente. Classificar situações diferentes como iguais é um erro, e precisamos evitar sermos dominados por políticos que se aproveitam dessa confusão. No momento, a questão é: o que o governo Lula fará?

Lula conseguiu enviar um emissário para observar as eleições na Venezuela, algo que outros líderes, como Boric, Milei e Lacalle Pou, não fizeram. Lula declarou que se esforçaria para que o processo fosse democrático. No entanto, se seu enviado disser que as eleições não foram democráticas, isso representará uma derrota gigantesca para Lula, colocando-o em uma sinuca de bico.

Até agora, o comunicado do Itamaraty afirmou que o processo foi pacífico, o que contradiz os relatos de prisões, desaparecimentos e mortes. Lula ainda está indeciso sobre qual caminho tomar. Se optar por apoiar Maduro, ele pode se alinhar às grandes ditaduras, mas isso terá um preço alto para o Brasil, incluindo consequências econômicas e políticas.

Os países ditatoriais enfrentam bloqueios e boicotes internacionais que afetam profundamente suas populações. Caso o Brasil se alinhe a essas ditaduras, a população brasileira também sofrerá as consequências, incluindo aqueles que fazem oposição ao governo.

Portanto, a declaração de Lula sobre a Venezuela é crucial para nós. Se ele aceitar a fraude eleitoral na Venezuela, isso indicará os movimentos futuros do Brasil. Não importará se você gosta ou não de Lula; todos nós estaremos nesse barco. A questão agora é: o povo brasileiro tem maturidade para pressionar o governo a não reconhecer como democrática uma eleição fraudada ou preferirá ver o circo pegar fogo apenas para dizer “eu avisei”?