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A última flor da Primavera Árabe

O regime cruel do ditador sírio Bashar Al-Assad foi derrubado, no final de 2024, pelo grupo militante  Hayat Tahrir al-Sham (HTS), após longa guerra civil, que teve seus início na onda de protestos da chamada Primavera Árabe. Quando uma série de protestos se espalhou pelo mundo árabe levando às ruas milhares de pessoas fartas dos abusos de diversas ditaduras que se espalhavam pelo chamado mundo árabe.

A primavera como esperança de governos mais democráticos e do rule of law como norma nas relações entre cidadãos e os diversos estados da região, não logrou seus resultados. Ditaduras caíram, mas logo o vácuo causado pela queda dos “homens fortes” resultou em conflitos sectários explorados pelo jogo das potências mundiais e dos líderes regionais. E novas autocracias foram se construindo.

Quando a pressão dos protestos da primavera começou a ameaçar Assad, ele construiu uma intrincada rede de apoio interna e balanceou e usou a seu favor interesses geopolíticos de outros atores, como Irã, Hezbollah e Rússia. Criando condições de sustentar o lado do regime na guerra civil.

Essa aliança de sustentação dotou o regime de meios operacionais e capacidade bélica para se manter no poder e enfrentar inimigos como o ISIS, Al-Qaeda e a oposição síria, isso para resumir os muitos atores numa guerra civil que começou, em 2011. Estimativas colocam os números de mortos neste conflito em mais de 600 mil pessoas.

O status-quo da guerra civil na Síria começou a se alterar por uma série de fatores externos e internos. No campo externo a capacidade logística da Rússia e principalmente sua capacidade coordenação e controle tem sido esgarçada no prolongado conflito na Ucrânia, diminuindo consideravelmente sua capacidade de investir na preservação do regime de Assad.

Outro aliado importante o Irã sofreu uma série de baixas importantes em sua liderança militar para a região e sofreu ataques importantes em Israel, que mostraram fragilidades reais cujo discurso e propaganda do regime persa pretendia manter encoberto. A liderança do Hezbollah foi dizimada por Israel.

Apesar desse cenário, a velocidade da queda do governo de Al-Assad, o avanço não contestado do grupo militante Hayat Tahrir al-Sham (HTS), um dos diversos grupos militantes. Esse grupo nasceu de uma célula da Al-Qaeda que rompeu com o movimento principal, mas ainda é mantido nas listas de terroristas de Estados Unidos e União Europeia.

Até aqui o grupo HTS tem se mostrado favorável a construir um governo de conciliação, mas muitas variáveis ainda se mantêm ocultas para uma avaliação esperançosa para o futuro da governabilidade Síria, ainda mais por que a fraturas continua existindo, ainda há a questão curda e como esse grupo militante foi se manter em locais cosmopolitas como Damasco. E ainda há conflitos e outros grupos com apoio Turco, que geram muitas incertezas para a região.

Uma Síria fragmentada apresenta um dilema de segurança para Israel que intensificou seus ataques aéreos à Síria na tentativa de negar recursos bélicos, como mísseis, armas químicas, para o grupo militante HTS. E aumentou a presença militar nas colinas de Golã.

A perda da Síria como base para sua frota no mediterrraneo e como parte de sua rede logística em ações na Líbia apresenta um problema complicado para a estratégia russa no Oriente Médio e Norte da África.

A queda de Assad é provavelmente a última flor da primavera árabe, regada pelo sangue de centenas de milhares de pessoas e com muitos espinhos, alguns ainda ocultos.

Foto: Divulgação/Flickr White House

O Negociador

Apesar de Donald Trump ainda não ter assumido formalmente a presidência dos EUA, seu governo claramente já começou. Desde a indicação dos novos secretários, passando pelos encontros com líderes de outras nações e finalmente enviando recados pelas redes sociais, vemos que seu protagonismo político já está presente no cotidiano dos americanos e se faltam as formalidades da posse, de maneira informal, já assumiu o comando do país.

O Presidente que chegará à Casa Branca é muito diferente daquele de 2017. Ele agora possui controle pleno do Partido Republicano, maioria na Câmara, Senado e também na Suprema Corte. Ajudou os candidatos de seu partido a saírem vencedores nas disputas pelos governos da maioria dos estados em 2024 e lidera um movimento que transcende as fronteiras da política, fornecendo voz e vez a uma legião de americanos que se sentiam esquecidos. Trump tornou-se símbolo de um contramovimento que encontra ressonância em diversas partes do mundo.

Uma das razões que levaram o empresário a vencer as duas disputas presidenciais, tanto de 2016, quanto em 2024, foi o fato de que ele jamais participou ativamente da política partidária. Jamais ocupou qualquer cargo público ou envolveu-se em disputas eleitorais. Disputou apenas a Presidência. Sua trajetória é marcada pela vida empresarial e postura midiática, algo que sempre foi um traço de seu comportamento no mundo dos negócios. Este é Donald Trump. Um operador agressivo que gosta de assumir riscos, empresário midiático que usa sua exposição e figura pública como elemento central na arte da negociação.

Esta é uma leitura que falta aos analistas e jornalistas políticos de um modo geral, algo que acaba por limitar o entendimento de seus gestos ou o encaminhamento de suas estratégias. Trump jamais será moldado pelo Salão Oval, bastidores do Capitólio ou salões diplomáticos, pelo contrário, moldará a Casa Branca a sua imagem e semelhança, impondo seu tom e dinâmica ao cargo. Isto significa que temos no comando dos EUA um negociador agressivo do mercado imobiliário de Nova York, nascido no bairro do Queens, filho de um empresário do ramo da construção civil, originário do Bronx, longe dos quatrocentões que formaram tradicionalmente a elite da cidade e a política do país.

Exatamente por estas características, Trump soube dar voz a uma legião de americanos, criando algo muito além de uma vitória eleitoral, mas o molde de um movimento que pode mudar profundamente os alicerces da política americana, segundo ele, longe dos vícios do sistema. O trumpismo já delineou os contornos do novo Partido Republicano e busca levar sua mensagem muito além destas fronteiras.

Ao falar em retomar o Canal do Panamá, renomear o Golfo do México, tornar o Canadá o 51º estado americano ou comprar a Groenlândia, Trump está levando seu estilo de negociador empresarial agressivo do mercado imobiliário para a arena internacional, algo pedido pelo eleitor nas últimas eleições. Como resultado de sua pressão inicial pré-posse, o governo dinamarquês já propôs o aumento da presença militar dos EUA na Groenlândia a fim de cessar as falas do republicano sobre tomar a região. Como vemos, melhor do que ser um bom jogador, talvez seja possuir a habilidade de mudar as regras do jogo, um traço característico no novo Presidente dos EUA.

Lula não desmente fake news de Maduro

O episódio envolvendo Nicolás Maduro deixa claro que a luta do governo Lula contra a desinformação não passa de um pretexto. O que o governo quer, na verdade, é calar quem não se submete à cartilha da esquerda. E a prova está aí: enquanto memes são investigados pela Polícia Federal, uma declaração internacionalmente absurda do ditador venezuelano foi recebida com silêncio pela diplomacia brasileira.

Maduro, que há anos governa a Venezuela por meio de repressão, prisões políticas e desaparecimentos forçados, soltou uma declaração bizarra: afirmou que o exército brasileiro seria seu aliado em um ataque a Porto Rico. A reação do governo brasileiro? Nenhuma. Nem uma nota para desmentir, nenhum comentário que afastasse o Brasil dessa declaração surreal.

“Mas é tão absurdo que nem precisa desmentir”, dizem alguns. Discordo. Se o governo se dá ao trabalho de investigar memes criados com inteligência artificial, vídeos humorísticos e piadas de grupos de WhatsApp, por que ignorar uma declaração feita por um chefe de Estado? Essa omissão diz muito mais do que qualquer comunicado oficial. Quem cala consente.

Não é como se o Brasil fosse um mero espectador no cenário internacional. Fomos um dos poucos países a enviar representantes à posse recente de Maduro, consolidando o apoio a uma eleição amplamente considerada fraudulenta. Esse gesto, aliado ao silêncio diplomático diante da fala sobre o ataque a Porto Rico, transmite ao mundo a mensagem de que o Brasil está alinhado às ações do ditador venezuelano.

O que temos aqui é uma contradição gritante. Enquanto o governo Lula alega liderar uma aliança internacional contra a desinformação, ignora desinformações graves e internacionais como a de Maduro. Esse comportamento expõe uma estratégia antiga: usar o discurso contra fake news como uma desculpa para controlar o que se diz internamente, sufocando qualquer voz que não se alinhe ao PT.

Isso não é novidade. Desde que o partido chegou ao poder, a desinformação foi usada como ferramenta política. Assassinatos de reputação, narrativas distorcidas e rotulações estão no manual de operação. Quem não elogia Janja e quem não celebra Lula é automaticamente rotulado como extremista, bolsonarista, ou qualquer outro termo conveniente para deslegitimar o adversário.

Enquanto isso, a narrativa de que o governo luta contra a desinformação desmorona quando se observa sua seletividade. É prioritário investigar um meme de quinta série, mas não desmentir uma declaração que implica o Brasil em uma guerra internacional. Isso demonstra que a preocupação não é com a verdade, mas com o controle do discurso.

No final, fica claro que a estratégia do governo não está funcionando. Cada vez que tenta calar vozes críticas internamente mas se ajoelha diante de ditadores lá fora, o governo Lula perde ainda mais legitimidade. E o brasileiro já percebeu: não há como liderar uma luta pela verdade enquanto se ignora as mentiras que realmente importam.

Foto: Frederico Brasil/TheNews2/Estadão Conteúdo.

Lula: um abraço na democracia, outro em Maduro

Tudo o que eu tenho escrito e dito de relativamente importante a propósito de filosofia política pode ser resumido em uma tentativa de mostrar a necessidade de nos recolocarmos no fluxo da evolução de uma tradição democrática, liberal e humanista que se iniciou na Grécia como um anelo, um anseio, um elã por justiça e por liberdade.

A configuração social, o regime político, o sistema de governo que mais se aproxima da concretização desse anseio é a democracia.

O ter que qualificar tal modelo ao qual me refiro como democracia liberal seria desnecessário se a palavra democracia não tivesse sido deturpada, manipulada e instrumentalizada para defender justamente o seu oposto, dando ares de legitimidade a ações que lhe defraudam os princípios.

Essa manipulação maquiavélica daquilo que, para além de um mero conceito, é também um valor, atingiu níveis estratosféricos de cinismo, no Brasil, na semana passada, marcada pela patética cerimônia lulista em lembrança dos dois anos do 8 de janeiro de 2023, pela presença de representantes brasileiros e dirigentes petistas na posse de um ditador e pela histeria censora em torno da decisão da Meta de descentralizar a checagem de postagens nas redes sociais.

Abraço de amante na democracia relativa

Como foi bem pontuado por alguns poucos editoriais e artigos de quem prefere exercer o senso crítico à bajulação, Lula se apropriou do 8 de janeiro para posar, mais uma vez, de grande defensor da democracia. Nada mais distante da verdade.

Em um discurso que deveria ser solene, o presidente largou essa pérola: não sou nem marido, eu sou um amante da democracia. Porque, a maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pelas amantes do que pelas mulheres.”

Ah, a linguagem! Essa dama que os mal-intencionados tentam manipular, acabando presos nas suas complexas redes de sentido. Ao tentar exagerar o seu suposto ardor amoroso pela democracia, Lula apenas entregou a baixeza do seu caráter como homem: um homem vulgar, para quem é normal ter amantes e amá-las mais que a própria esposa.

Depois da tosca improvisação do discurso, Lula deu continuidade ao cerimonial patético: partiu rumo ao evento “abraço à democracia” onde minguadas centenas de militantes de esquerda deram as mãos e simbolizaram um abraço em torno da palavra democracia, escrita com flores que estavam em vasos no chão da Praça dos Três Poderes.

Lula X Maria Corina Machado

Em 9 de janeiro, um dia depois da encenação novelesca do suposto amor lulista pela democracia, dava-se, no país vizinho, um ato de genuína coragem e zelo democrático: milhões de venezuelanos saíam mais uma vez às ruas para cobrar respeito à vontade popular, que elegeu o ex-diplomata Edmundo González Urrutia como presidente da República.

A intimorata líder Maria Corina Machado saiu da clandestinidade e foi ter com o povo. Antes disso, já havia declarado: “se alguma coisa acontecer comigo, a instrução é muito clara para a minha equipe, para os venezuelanos: ninguém vai negociar a liberdade da Venezuela por minha causa.”

Como brilha a virtude para quem tem olhos para discerni-la! Como a força e grandeza dessa mulher ofusca e apequena ainda mais certas figuras que desempenham o papel de liderança política! Lula, por exemplo, jamais citou o seu nome. Certa feita, comparou-se a ela sem citar seu nome e, em tom de deboche, asseverou não ter ficado chorando quando ele próprio foi impedido de se candidatar…

Ah, a inveja! Como sofre a alma que dela padece…como se contorce o indivíduo vaidoso e moralmente débil, fustigado no seu orgulho ao ser confrontado por um indivíduo valoroso, portador da honra de que ele carece. Sobra-lhe isso: o deboche.

Ao sair da grandiosa manifestação, Corina Machado teve a moto que a conduzia interceptada pela Guarda Nacional Bolivariana. Ela foi, então, forte e bruscamente arrancada do seu veículo e colocada em outra moto entre dois homens.

Graças às redes sociais (essa ferramenta de interação global que a esquerda lulista está fortemente empenhada em censurar), a notícia do seu sequestro se espalhou rapidamente e, em questão de minutos, autoridades de diversos países mandaram duros recados exigindo sua imediata liberação. O Brasil de Lula, claro, permaneceu em silêncio.

“Amante secreto de Maduro”

No dia seguinte, 10 de janeiro, como se nada tivesse ocorrido, Lula enviou à Venezuela uma embaixadora brasileira para, ao lado dos ditadores de Cuba e da Nicarágua, participar do teatro que consumou o autogolpe de Estado com o qual Nicolás Maduro pretende se perpetuar no poder e continuar matando seu povo de terror e de fome.

A proximidade dos dois eventos – o “abraço da democracia” na Praça dos três poderes, em 8 de janeiro, e o endosso do Brasil ao golpe do ditador vizinho, no dia 10 – explicitou ainda mais a incoerência, a hipocrisia, o cinismo e até a maldade de quem se vale do nome democracia para fazer avançar a tirania, que é o seu exato oposto.

Dentre os vários comentários e trocadilhos aos quais o discurso improvisado de Lula, em 8 de janeiro, deu ensejo, foi do senador Sergio Moro o mais certeiro. Lula não é amante da democracia; “Lula é o amante secreto de Maduro.”

Por que precisamos de comunidades políticas democráticas

Do ponto de vista da democracia como modo-de-vida, não há como alguém exercer o papel de agente democrático sem comunidade política. Sem a prática da continuada conversação democrática, a democracia fenece. Sem ambientes favoráveis à realização de projetos comuns democratizantes, a partir da congruência de desejos dos interagentes, a democracia falece.

É em comunidades políticas que pode se exercer a prática da continuada e recorrente conversação democrática, que gera circularidades inerentes, dando nascimento a novas culturas políticas, usinando padrões de apreensão do mundo e de ação sobre o mundo capazes de se replicar. É em comunidades políticas que se pode realizar projetos comuns democratizantes – e isso define a própria ideia de comunidade política democrática.

Uma vez experimentado por um número suficiente de seres humanos, um modo-de-vida pode tornar-se um padrão que se replica, inspirando agires (comportamentos) conexos em outras regiões do tempo. O que se replica são caminhos sulcados no espaço-tempo dos fluxos, modos recorrentes de interagir, de ver e de interpretar.

No caso da autocracia, comportamentos compatíveis com ideias míticas, sacerdotais e hierárquicas, de ordem como sentido da política – e de luta contra inimigos (guerra ou política como continuação da guerra por outros meios) para implantar essa ordem – que conformam padrões autocráticos.

No caso da democracia, comportamentos compatíveis com ideias de liberdade como sentido da política – de que a nossa liberdade não termina, mas começa onde começa a liberdade do outro (quer dizer, de que ninguém pode ser livre sozinho) –, com ideias de autonomia, com ideias colaborativas, de auto-organização e de rede (mais distribuída do que centralizada), que conformam padrões democráticos. Mas nada disso é possível sem comunidade política.

Partidos políticos tradicionais (hierárquicos) configuraram ambientes de reprodução de padrões mais autocráticos do que democráticos. Líderes conduzindo grandes massas compostas por indivíduos, também reproduziram padrões mais autocráticos do que democráticos. As chamadas “bolhas” que surgiram com as mídias sociais e os programas de mensagens, espécies de “partidos digitais” compostos por seguidores de líderes, igualmente estão reproduzindo padrões mais autocráticos do que democráticos. Só comunidades políticas democráticas (redes mais distribuídas do que centralizadas) poderão gerar padrões mais democráticos do que autocráticos.

Os democratas que tomam a democracia não apenas como as regras do jogo, mas como o próprio jogo; quer dizer, não apenas como modo político de administração do Estado, mas também como modo de vida (experimentando a democracia em não-países), não têm outro caminho a não ser articular comunidades políticas. Essas comunidades podem ser grandes ou pequenas – na maioria dos casos, sobretudo no começo, tendem a ser pequenas. Podem ser presenciais ou virtuais – em geral, nos tempos que correm, serão virtuais. O que importa é a sua estrutura ou padrão de organização (distribuído) e sua dinâmica ou modo de funcionamento (amistoso ou não-adversarial).


Nota

Juntamente com vários amigos e amigas, depois de uma longa trajetória investigativa e reflexiva e de vários ensaios de articulação de redes para vários propósitos nos últimos quinze anos, formamos algumas comunidades desse tipo chamando-as de Casas da Democracia. Mas o nome pouco importa. As pessoas podem chamá-las como quiserem. Podem encará-las como sua pólis, micropólis ou “pólis paralelas” – como fez Václav Benda (1978) no contexto do regime pós-totalitário da Tchecoslováquia. Alias, a polis onde nasceu a primeira democracia não era a cidade-Estado (de Atenas) e sim a comunidade (koinonia) política. Como notou Hannah Arendt (1958) em A Condição Humana, “a pólis não era Atenas e sim os atenienses”. A comunidade política democrática é uma nova “entidade” que surge quando as pessoas passam a viver a sua convivência. É assim que nasce e renasce, continua ou intermitentemente, a democracia como modo-de-vida.

Desafios da Geopolítica

Estamos diante de um inédito movimento de abalo das placas tectônicas da estabilidade internacional construídas no pós-guerra. Os níveis de democracia nunca foram tão baixos e governos antidemocráticos nunca foram tão robustos. O risco de mudança real no equilíbrio de forças mundial nunca foi tão presente, em grande parte pelo perfil das lideranças que comandam importantes nações, e a reorganização gerada pelos recentes conflitos. Todo este contexto se tornou peça central para entender o mundo e seu desenho geopolítico em tempos recentes.

No Oriente Médio, uma reação em cadeia desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 impulsionou um ano de mudanças impressionantes. Israel enterrou o Hamas sob escombros, degradou a rede regional de representantes não estatais dos aiatolás, demoliu as próprias defesas de Teerã, e, inadvertidamente, preparou o cenário para que rebeldes islâmicos derrubassem a ditadura de meio século da família Assad na Síria.

Na Ásia, onde a China compete com os Estados Unidos e seus aliados pela primazia, os pontos críticos no Mar da China Meridional, as águas e os céus ao redor de Taiwan e a Península Coreana parecem cada vez mais desafiadores. O ataque da Rússia à Ucrânia é, a julgar pelas ameaças do presidente Vladimir Putin, parte de uma luta para revisar os arranjos pós-Guerra Fria, e ameaça levar a um confronto mais amplo na Europa.

Em outros lugares, uma onda de conflitos — incluindo a guerra civil de Mianmar, uma rebelião apoiada por Ruanda no leste da República Democrática do Congo, uma tomada de poder por gangues que deixou milhões de haitianos em condições de guerra, além da devastação no Sudão — está aumentando a contagem global de pessoas mortas, deslocadas e famintas devido aos combates, que é maior do que em qualquer outro momento em décadas.

Estamos também diante de blocos antidemocráticos mais unidos. Falar de um eixo formal entre China, Rússia, Coreia do Norte e Irã pode soar exagerado. Porém, é preciso pontuar que estamos falando de governos que cada vez atuam em cooperação estreita. Armas iranianas e norte-coreanas, componentes de uso duplo da China, e agora tropas norte-coreanas ajudam a sustentar a ofensiva do Kremlin na Ucrânia. O pacto de defesa que Putin assinou com o líder norte-coreano Kim Jong Un em novembro, vincula Pyongyang, e potencialmente a segurança peninsular, à guerra na Europa.

Aconteça o que acontecer, a queda para a ilegalidade parece destinada a continuar. Os beligerantes darão ainda menos atenção ao sofrimento civil. Outros líderes podem testar se podem tomar pedaços do território de um vizinho. A maioria das guerras de hoje parece destinada a continuar, talvez em alguns casos pontuadas por cessar-fogo que duram até que os ventos geopolíticos mudem ou surjam outras oportunidades para acabar com os rivais.

À medida que o ritmo da mudança acelera, o mundo parece se movimentar para uma nova mudança de paradigma. A questão é se isso acontecerá na mesa de negociações ou no campo de batalha.

A formação do Ocidente

Guerras no Oriente Médio, invasão da Ucrânia, a ameaça do fundamentalismo islâmico, o imperialismo russo e a estupidez woke/identitária.

Esses foram alguns temas que abordei nos artigos que escrevi ao longo de 2024.

Neste novo texto, gostaria de focar mais no significado do Ocidente, a fim de salientar o que está em jogo com tais ameaças.

Passo a expor, portanto, de forma resumida, o conteúdo do livro O que é o Ocidente, do filósofo político francês, Philippe Nemo.

A tese central desse livro é que, no Ocidente, “foram alcançadas certas figuras do universal cujo desaparecimento ou enfraquecimento afetaria a humanidade como um todo.”

Segundo o autor, a civilização ocidental pode se definir “pelo Estado de Direito, pela democracia, pelas liberdades intelectuais, pela racionalidade crítica, pela ciência e por uma economia de liberdade baseada na propriedade privada”.

Tais valores e instituições foram o fruto de uma longa luta de construção histórica e de determinados acontecimentos essenciais.

Grécia e Roma

O princípio do governo da lei e o princípio da liberdade individual, por exemplo, foram uma inovação grega, herdada pelos romanos e posteriormente reformulada pelos filósofos políticos ingleses na forma do rule of law, um governo de leis e não de homens, cerne do ideal liberal moderno.

Os gregos inventaram o governo de lei, mas foram os magistrados e jurisconsultos romanos que o aperfeiçoaram no período da República Romana.

Os filósofos estoicos já haviam elaborado a teoria do cosmopolitismo, estabelecendo que a humanidade constitui uma comunidade única partilhando uma natureza humana idêntica.

As relações sociais no seio da comunidade deveriam, portanto, ser regradas tendo por referência uma lei natural, racional, da qual as leis positivas de cada cidade seriam uma aproximação.

O arcabouço conceitual trabalhado pelo direito romano procurou definir a propriedade privada, delimitando juridicamente o “meu” e o “teu” nas diversas situações possíveis.

Ao definir assim o domínio próprio de cada um, assegurando os seus direitos, o conceito de indivíduo ganhou relevância.

O Direito Romano foi não apenas uma das colunas principais sobre as quais se estruturaram os sistemas jurídicos modernos, mas também uma das fontes do humanismo ocidental.

Junto ao civismo grego, o progresso feito por Roma no Direito imprimiu na cultura ocidental o valor do Eu, fornecendo as bases sobre as quais o cristianismo se apoiou para afirmar o valor absoluto da pessoas humana, livre, moralmente responsável, criada e amada por Deus, dotada de uma dignidade intrínseca a despeito de quaisquer fatores contingentes como raça, condição social, gênero, etc.

A moral cristã

Embora se apoie na tradição moral e jurídica herdada da antiguidade pagã, a moral evangélica a supera e transforma por meio do sublime sentimento da compaixão, da caridade.

À exigência de justiça já presente no profetismo judaico, Jesus junta a misericórdia e uma elevada exigência de ação em direção ao outro, ao sofredor, ao próximo.

Trata-se de uma ética da superabundância, que não se esgota no dar a cada um o que é devido, mas alarga-se como doação de si no dever do amor.

“Ama o teu próximo como a ti mesmo”, eis a máxima.

Porque Jesus realizou na Terra o supremo sacrifício, o apelo cristão tornou-se um móbil para a própria sociedade que, insuflada e impulsionada pelos imitadores do Cristo, progrediu gradativamente no caminho da fraternidade universal.

A César o que é de César

Embora tenha havido momentos de confusão entre o poder religioso e o poder temporal, é possível defender a tese de que a dessacralização do poder na Europa foi fruto da religião judaica e da religião cristã, sendo a noção de laicidade depreendida do próprio texto bíblico.

No judaísmo e no cristianismo, o poder espiritual não se curva ao poder temporal; a salvação depende da conversão interior dos homens, nas quais trabalhavam os profetas e os santos.

A missão do Estado, por sua vez, era garantir a ordem social. A frase de Jesus “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, sanciona essa separação de papéis.

Essa cisão ou irredutibilidade entre os dois mundos, que será uma das fontes de nascimento das democracias modernas, também se expressa quando, ao ser confrontado por Pilatos acerca da sua realeza (Tu és rei?), Jesus responde: “Meu reino não é deste mundo”.

A mensagem bíblica, portanto, é uma mensagem de dessacralização do Estado. O Ocidente acostumou-se com essa mensagem e por ela se deixou moldar.

Não obstante, houve diversas tentativas de “ressacralização do Estado, seja sob uma forma autoritária ou absolutista (Maquiavel, Hobbes, Rousseau, Hegel…seja sob uma forma totalitária”.

À esquerda ou à direita, encontram-se inimigos da sociedade aberta, que é a sociedade de direito e de livre mercado, a sociedade que preza a ordem espontânea.

Democracias liberais

Segundo Philippe Nemo, “a democracia é o nome especial dado ao liberalismo político e ao pluralismo nos procedimentos de nomeação de governantes e da tomada de decisões políticas.”

Ela não se desenvolveu, porém, de modo contínuo, mas foi um ideal lançado que precisou contornar inúmeros obstáculos e desvios a fim de reencontrar seu elã inicial e continuar o processo de abertura da sociedade.

Apesar de ter se configurado no Ocidente, a sociedade aberta concerne direta ou indiretamente a toda a espécie humana. Houve um avanço real na organização social e abrir mão desse avanço é uma escolha clara pelo retrocesso.

Adversários externos e internos

Na medida em que o Islã é uma das religiões do livro, há algum aspecto de proximidade do mundo árabe-muçulmano com o Ocidente.

Mas o Islã transformou e descaracterizou profundamente a ética recebida do judaísmo e do cristianismo.

Além disso, o mundo islâmico não assimilou os princípios do civismo grego e do direito romano.

Durante séculos, a educação do Ocidente formou a juventude com seus valores, ideais e normas.

As escolas e universidade formaram mentalidades ocidentais que, por sua vez, asseguravam a perpetuação dessas mesmas instituições.

Esse movimento circular foi rompido.

Tal rompimento, porém, não configurou progresso, mas retrocesso.

A cultura de cada geração é, de modo geral, o resultado da forma como foi educada a geração anterior.

O que hoje se convencionou chamar “cultura woke” é a consequência de décadas de uma educação ocidental marcada pelo desprezo dos seus próprios valores.

Nesse contexto, a excêntrica e perigosa aliança entre a esquerda woke (identitária) e o islamismo faz com que a atual disputa política deixe de ser um debate interno saudável e legítimo dentro do contexto de uma democracia para se tornar uma clivagem civilizacional que ameaça o próprio Ocidente.

Governo Lula passa da metade sem ter descido do palanque

Estamos na metade do governo Lula 3, mas a sensação é de estar assistindo a um daqueles filmes intermináveis. Você pensa estar nos cinco minutos finais mas descobre que a história mal começou. O problema é que, enquanto o tempo passa, o governo parece mais perdido do que cego em tiroteio. É um espetáculo de promessas, discursos e palanque. Ação mesmo, pouquíssima coisa. O Lula 3 está sendo descrito por muitos como pior do que o Dilma 2. E o motivo é claro: ele nem começou a governar.

O Brasil vive um governo que ainda não desceu do palanque. Lula continua falando, prometendo e não fazendo. Enquanto isso, o país segue com uma economia fragilizada, um dólar fora de controle, e um Executivo que simplesmente não se encontra.

Para piorar, estamos passando vergonha internacional com uma figura que não tem cargo, função ou responsabilidade, mas aparece em eventos oficiais porque casou com o presidente. Janja, ao invés de simbolizar algo novo, apenas reforça uma lógica machista: a mulher que é enfiada em espaços de poder por causa do marido. E aí vem o discurso de ressignificação do papel de primeira-dama, como se isso fosse algo positivo. Ressignificar o quê? A falta de vergonha na cara?

O grande problema do governo Lula não é apenas a inércia, mas o fato de ser liderado por uma figura que sempre evitou sucessores. Lula é a clássica liderança pé de manga: onde ele está, nada cresce à sua sombra. Ao longo dos anos, o PT foi perdendo quadros capacitados, muitos deles envolvidos em escândalos como o Mensalão e o Petrolão. E o que sobrou? Um partido sem novas lideranças e um país que entregou o poder de volta a um político que tem vivido de fazer campanha permanente.

Olhando para frente, o cenário não é mais animador. Lula vai continuar no palanque. Sem um sucessor à vista, o plano parece ser repetir a fórmula em 2026. Mesmo que isso signifique o país afundar mais dois anos no caos e na estagnação.

Enquanto isso, a estratégia será transformar qualquer crítico em extremista. Já começou: se você não apoia Lula ou Janja, é automaticamente jogado no rótulo de “extrema-direita”. Reputações estão sendo atacadas, como no caso de Ângela Gandra, recém-nomeada para uma secretaria em São Paulo, que foi alvo de críticas absurdas, pintada pela esquerda psiquiátrica como se fosse uma extremista.

Essa narrativa já está desgastada. A popularidade de Janja, por exemplo, segue em queda livre. Quanto mais ela aparece, mais rejeição enfrenta. E o governo, que mal conseguiu vencer a última eleição, está repetindo os erros que levaram à desconfiança popular. O foco continua em atacar opositores enquanto o Brasil aguarda ações concretas.

Os próximos dois anos prometem ser complicados. Depois de dois anos de incerteza, podemos estar à beira de dois anos de inferno político. Um governo sem direção, somado à militância mais barulhenta tentando coagir o debate público e direcionar as próximas eleições, forma uma combinação perigosa. A pergunta que fica é: até quando o Brasil vai aceitar essa lógica de palanque eterno? 2026 está chegando, e é hora de começar a pensar em como evitar que essa história se repita.

Mecanismos de Verificação

Todos sabem o que deve ser feito. A pergunta é se o governo está disposto a sacrificar sua popularidade com as medidas que necessariamente devem ser tomadas. É preciso cortar gastos, equilibrar as contas públicas e enviar sinais claros de que em Brasília existe compromisso fiscal. Entretanto, é preciso ir além e trabalhar em uma série de reformas capazes de devolver confiabilidade ao Brasil.

Esta é a lição de casa que os brasileiros esperam do governo em 2025. Para isso é necessário mirar no médio prazo, acreditando que uma economia equilibrada é capaz de produzir mecanismos de bem-estar por meio da geração de empregos e renda. Algo necessário para ajustar os rumos do Brasil.

Para além disso, é preciso trabalhar em um arcabouço de reformas que tornem o país atrativo para o investimento estrangeiro limpo, seguro e de qualidade. A adoção de alguns mecanismos já provados como efetivos por outras nações podem ajudar, como aqueles já implementados por países que integram a OCDE. O primeiro, que deveria ser prioridade para o governo brasileiro, é uma legislação que crie um ambiente propício para a entrada de investimentos sadios, reposicionando o Brasil na esfera internacional.

A legislação ideal para esta recolocação internacional do país é a adoção de mecanismos de verificação ou instrumentos de avaliação de investimento estrangeiro. O estudo mais recente realizado pela OCDE registra que nos últimos três anos houve aumento de 50% na implementação deste tipo de arcabouço legal ao redor do mundo. O impacto global desta medida é arrebatador: países com algum tipo de instrumento de avaliação de investimento estrangeiro controlam atualmente mais da metade do fluxo global de investimento direto e 3/4 do seu estoque total. Desde 2005, 101 países passaram a adotar este tipo de legislação. Infelizmente o Brasil ainda não faz parte deste grupo.

Outro mecanismo essencial, este já em tramitação no parlamento, é a aprovação de lei que disciplina as regras de atuação da sociedade em seu direito de ser ouvida pelos poderes públicos, uma ferramenta legítima e necessária em qualquer democracia. Este instrumento, popularmente conhecido na esfera internacional como lobby, no Brasil se chama de relações institucionais e governamentais, profissão reconhecida pelo Ministério do Trabalho na Classificação Brasileira de Ocupações com 91 competências em oito diferentes áreas.

A OCDE sugere que transparência, integridade e eficácia são fatores que estimulam a adoção de leis do lobby, algo fundamental para atração de investimentos estrangeiros sadios. Empresas com eficazes sistemas de governança e compliance sentem-se muito mais protegidas em atuar em nações com arcabouços legais que disciplinam o lobby e que possuam sistemas de verificação de investimento estrangeiro, pois assim possuem a certeza de estarem atuando em locais com elevado grau de segurança jurídica. A aprovação de legislações neste sentido seriam um salto enorme para o país.

O caminho é nos transformarmos em um país confiável, com um sistema jurídico moderno, adequado aos melhores parâmetros internacionais, ao mesmo tempo que as contas públicas oferecem uma estabilidade sadia, produzindo confiança. Esta é a lição de casa para 2025.

Foto: AFP

Tristeza, incerteza e esperança na Venezuela de 2025

Enquanto o mundo começou o ano de 2025 com alegria, na Venezuela predominou ao mesmo tempo um sentimento de tristeza, incerteza e esperança. A alegria de final de ano que caracterizou a Venezuela do passado ao ritmo do tambor, da salsa e do merengue esteve ausente este ano. Ruas vazias, casas em luto, famílias empobrecidas. Nem mesmo o absurdo Decreto do Governo que obriga a celebração do Natal a começar no mês de Outubro conseguiu motivar um eleitorado que indicou claramente nas urnas de 28 de Julho que rejeitava a continuação de uma “revolução” falhada e repressiva.

As chamadas obrigatórias aos funcionários públicos em frente ao Palácio Miraflores para celebrar o novo ano não conseguiram esconder o nervosismo de um Regime que já não sabe o que oferecer porque tudo corre mal. Nem sequer o ajudou a apresentar-se como vítima da suposta “invasão estrangeira”. Para disfarçar o seu isolamento internacional, promove a presença no país de viajantes alegres, desconhecidos nos seus respectivos países, mas convidados de luxo para atender todos os tipos. de Congressos laudatórios.

Ao mesmo tempo, há um sentimento de incerteza. O Governo do PSUV sabe que perdeu o apoio popular mas agarra-se ao Poder porque não quer perder os seus “privilégios”. É por isso que em suas ações ele tenta gerar medo. Os principais líderes da oposição estão presos, exilados, clandestinos ou humilhados numa Embaixada que teve a electricidade e a água cortadas e o direito ao asilo violado. A polícia política e os grupos armados aterrorizaram indiscriminadamente a população em geral, maltratando mais de dois mil detidos sem qualquer justificação, incluindo crianças, mulheres e idosos. Os canais de televisão do Estado não denunciam estes abusos, uma vez que se tornaram emissões de propaganda oficial e plataforma de insultos e zombarias de todos aqueles que não cumprem o Regime.

Apesar de tudo isto, o sentimento de esperança não se perdeu. A vontade de mudar através de meios pacíficos parece irreversível. Ninguém sabe quando a mudança se concretizará, mas existe a convicção de que será alcançada em 2025. A história recente, como no caso da Síria, mostra que não existe uma ditadura eterna.

A partir de 10 de janeiro começa uma nova etapa dessa esperança. É a data em que o vencedor das eleições, Edmundo González, deverá assumir a Presidência. Da clandestinidade, a grande estrategista e estadista María Corina Machado dirige diariamente suas mensagens dentro e fora da Venezuela e mostra o caminho de um modelo de Unidade. É ela quem, em qualquer situação que surja no futuro, deverá ser a principal porta-voz que estabelece, com o apoio nacional e internacional, os alicerces da transição pacífica e democrática. A sua luta corajosa, lúcida e persistente é a melhor credencial.

Os sinais de solidariedade internacional são encorajadores. Os países democráticos e defensores dos direitos humanos são um incentivo para reconstruirmos juntos uma América Latina unida na sua diversidade. Soma-se a isso a expectativa de que a partir de 20 de janeiro o Presidente Trump, acompanhado de altos funcionários familiarizados com a realidade venezuelana, aprofunde ainda mais os passos da diplomacia de Biden, unindo a sua coordenação com a América Latina e com o Parlamento Europeu que permitirá à Venezuela alcançar a desejada mudança pacífica na democracia e na liberdade antes do final deste ano.